Zenão |
Ernesto Rodrigues dedica-lhe um dos textos mais extensos e completos. Analisa não só a obra do autor argentino mas também vários ensaios entretanto publicados sobre ele, bem como alguns aspetos da sua vida, nomeadamente, as suas vindas a Portugal, com especial destaque para a de 1984, presenciada pelo mirandelense, tendo sido visitado por uma delegação de moncorvenses que lhe levou o título de Cidadão Honorário de Torre de Moncorvo e a quem terá dito a famosa frase «Mi bisabuelo vos saluda!»
Entre algumas “revelações” ressalta uma expressão usada pelo ficcionista sobre o maior romancista português «yo no sé português y he leído a Eça de Queiroz. Cuando no entendia una frase la leia en voz alta y el sonido me revelava su sentido.» Desconhecia completamente esta afirmação borgiana, contudo foi exatamente o que eu disse ao saudoso Amadeu Ferreira quando me defrontei com dificuldades para compreender os seus escritos, em mirandês.
Ernesto evidencia algumas das características relevantes de quem António Alçada Baptista disse ser (na altura) «o maior escritor vivo», nomeadamente e a par com a sua cultura enciclopédica, a sua atração pelo infinito, consagrada na incomensurável Biblioteca de Babel, concentrado no Aleph, no Livro Infinito e, mais ainda, no vocábulo sem medida mas de um poder tal que, uma vez pronunciado faz desaparecer o objeto (um palácio) que descreve e é, ao mesmo tempo, uma sentença de morte para quem o pronuncia, pois com essa expressão esgota todas as razões possíveis, para viver!
Revela-nos ainda um estudioso das ciências exatas, explorando alguns paradoxos matemáticos, nomeada e curiosamente o uso do conceito de infinito invocando Zenão no seu célebre Paradoxo de Aquiles e da Tartaruga.
Surpreendeu-me a revelação de uma afirmação feita no Salão Palmela do Hotel Estoril-Sol em 1980 «Os superlativos são uma forma de terrorismo cultural que se prestam à polémica».
José Mário Leite
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