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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira..
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

terça-feira, 26 de maio de 2020

TIA SUCA COMPLETOU UM SÉCULO CHEIO DE VIDA E SUPERAÇÃO

Olá minha boa e ilustre gente. O calor já está aí a bombar,  a Primavera emprestou uns dias ao Verão pois já estamos com temperaturas altas. Mirandela já chegou à máxima de 35 graus e agora as mínimas também já subiram. Diz o povo “em Maio o calor a todo o ano dá valor.”

A tia Maria Zé de Ousilhão, (Vinhais) disse “agora madruga-se mais: o olho de boi (sol) lá para as 6 e pico começa a abrir e durante a tarde já faz derreter o sebo.”

Nestes dias os escritórios da terra têm muito movimento. A tia Carla, de Gralhós (Macedo de Cavaleiros), diz “quem não semeia não vai lá ver se nasce.”

Quem já anda de gadanha em punho, a segar os lameiros, é o nosso tio Rebelo, de Valpaços, pois, segundo ele, este é ano de muita erva.

No dia vinte e um de Maio foi quinta feira da Ascensão, dia da espiga. Dizem os de mais idade que era feriado, fazendo-se a festa à Primavera.

O povo, nos seus provérbios, diz que da Páscoa à Ascensão quarenta dias são e o vento que soprar na quinta feira da Ascensão soprará todo o Verão. Então, se o proverbio está certo, no Verão não será um incómodo . 

A tia Bina, de Carrazedo de Montenegro (Valpaços), disse-nos mais uma vez que mantém a tradição, no dia da espiga, de fazer um ramo de três espigas e uma papoila e colocá-lo atrás da porta com o objectivo de trazer abundância à casa, alegria, saúde, sorte e afastar as trovoadas. Já a nossa tia Chanqueira, de Sendim (Miranda do Douro), diz que para os  seus lados é típico nesses dias comer uma arrozada de pássaros .

Nestes últimos dias festejaram connosco os aniversários os irmãos Paulo Jorge (16) e Ana Luísa (22), de Bragança; Ilda Alves (61), Sarzeda (Bragança); Leopoldina Santos (46), Grijó (Bragança); Manuel Teixeira (75), Montezinho (Bragança); Maria Augusta (88), Caravela (Bragança); Aniceto Pires (70), Samil (Bragança); Fátima Ferreira (29), Edroso de Lomba (Vinhais); Luís Pereira (51) Gostei, (Bragança); Ângela Cabral (62) Bragança; Gil Lisboa( 44), Parada (Bragança) e também Maria da Assunção Carvalho (100), Alfaião (Bragança). Para todos muita saúde e paz que o resto a gente faz. É com muito gosto que vou dedicar esta página a mais uma centenária, com  a ajuda do neto,Vítor Pereira e  a filha Domicilia Pereira, embora ela fisicamente ainda esteja bem a memória já não ajuda. 

Maria da Assunção Carvalho, mais conhecida por “tia Suca”, celebrou na passada segunda-feira, 19 de Maio, um século de existência. Nasceu no Rio de Janeiro, Brasil, e foi baptizada na igreja de Sant’Anna. Mas, ainda numa tenra idade, com cerca de três anos, viajou de barco com os pais para a aldeia de Alfaião, freguesia do concelho de Bragança. A vida nem sempre foi um mar de rosas, Maria ficou órfã muito cedo, perdendo os pais pouco depois de ter chegado a Portugal. Não teve uma infância fácil, foi criada pelos tios na freguesia de Alfaião e desde muito nova começou a trabalhar como empregada doméstica na casa dum chefe da polícia.

A “Suca”, alcunha que lhe foi atribuída pelo pai pela beleza que lhe era característica, segundo a filha mais nova, vem da expressão brasileira “suco da beleza” que deu origem a um nome de sobremesa. Foi casada duas vezes,.No primeiro casamento passou por uma etapa complicada, ficou grávida do marido e ao oitavo mês de gravidez o marido de Maria faleceu, devido à doença do tifo. Sozinha, com um filho nos braços, passado um ano, conheceu um novo amor. Casou pela segunda vez e deste casamento resultaram oito filhos, sendo que dois morreram precocemente. A partir desse momento passou a viver da agricultura, trabalhando juntamente com o esposo, conhecido como o “foguete”, por ter uma elevada estatura física e ser magro. A Senhora Assunção sempre encarou a realidade com muita frontalidade e de forma bastante versátil, lidou com muita gente, teve gados de cabras, ovelhas, vacas e mulas, chegando também a vender peixes que o marido apanhava nos rios de Alfaião e ainda produzia vinho para comércio. Os filhos homens participaram na guerra colonial.

Depois da guerra, todos emigraram para França, incluindo as filhas, tendo apenas contacto com eles no Verão. Infelizmente, o marido já partiu há 31 anos. Para o genro, com quem mora há largos anos, “foi uma mulher muito corajosa, uma verdadeira guerreira, com a vida repleta de histórias para contar aos netos” Apesar da casa onde morou a maior parte do tempo ficar perto da escola básica da aldeia, nunca frequentou o ensino, porém era muito boa em matemática, não falhava uma conta, principalmente nos trocos.

Durante a vida acolheu e deu de comer a muitos pobres, nomeadamente a desconhecidos que, por vezes, apareciam na aldeia. Segundo a filha mais nova, “sempre foi uma pessoa cheia de energia, disposta a ajudar o próximo. Uma verdadeira fonte de inspiração”.

Uma das peripécias mais hilariantes da vida de Assunção foi que “uma vez vinha acompanhada pelo meu marido e trazia o burro à beira rio, com a carroça carregada de lenha e com alguns peixes que tínhamos pescado. Veio repentinamente uma rajada de vento, que empurrou o animal para a corrente do rio, onde andou tipo um barco mais de 100 metros… felizmente a história teve um final feliz e o animal conseguiu sair do rio”. Segundo a tia Suca, quem a ajudou a sair deste embaraço foi uma prece feita à Nossa Senhora da Veiga, santa de Alfaião.

No centenário, os bombeiros voluntários de Bragança e um grupo musical fizeram-lhe uma visita na casa onde vive há 26 anos, com a filha mais nova, para a felicitar pelos 100 anos. Maria da Assunção ainda deu um pezinho de dança com a filha com quem vive, com as devidas medidas profiláticas, coisa que adorava fazer quando era mais jovem. A filha mais velha afirma “que era a verdadeira rainha do baile, uma bailarina autêntica”.

A tia Suca, no momento, conta com sete filhos, 12 netos (tinha 13, mas infelizmente uma neta partiu com 33 anos, em 2006) e 14 bisnetos. O filho primogénito tem 78 anos e a mais nova conta 59 anos. A neta mais velha tem 50 anos e o neto mais novo tem 22 anos.

Tio João

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