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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

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COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

domingo, 16 de agosto de 2020

Nos meus anos de criança eram poucos os automóveis na cidade.

Por: António Orlando dos Santos (Bombadas)
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")


Eram poucos mas tinham um “estilo” que lhes falta hoje, dado que as facilidades em adquirir viatura são incomparáveis com as que se punham nesse tempo. Depois era interessante que nós como que atribuíamos uma identidade a cada veículo pois eles eram dissemelhantes entre si e eram poucos os seus proprietários.
Recordo alguns que pelo seu aspecto robusto mas elegante, guardei para mim como paradigma da beleza transposta para um artefacto que ainda era novidade em Bragança nos anos 50 do século XX. Guardado numa garagem de madeira, no Largo do Tombeirinho, quase sempre, saía à rua um Opel antigo de cor predominantemente verde que pegava de manivela.
Este carro que não irei pormenorizar era pertença do Senhor Clemente, homem já entrado na idade quando eu lhe admirava o Opel que para nós era o símbolo da beleza automóvel e que tinha umas cornetas de tamanho médio feitas em borracha e a boca e corpo em latão amarelo ,que quando se premia a borracha fazia Boooooooo!
Havia um outro também muito antigo, mais escuro e pesado, pertença do Dr. Mós. Médico com consultório na Avenida João da Cruz, onde mais das vezes o carro estava estacionado.
Também o Reis da Caleja teve sempre carros antigos possantes como era o caso do Ford modelo T cuja matrícula ainda faz parte das minhas memórias, UU-03-86 e que era a máquina mais poderosa de todas as suas equivalentes naquele tempo em Bragança. Havia carros na Rua Almirante Reis que eram carros de aluguer com letra A que era como se designavam os Táxis e creio que ainda se designam. Havia carros grandes de marca americana, como Dodge,  Chevrolet, Buick e outros "carrões yanks” que consumiam quantidades de gasolina impensáveis nos dias de hoje.
Nos anos 60's houve uma remodelação na frota e substituíram-se estes veículos por Mercedes Benz que pintados de preto e verde passaram a dominar de longe as estatísticas dos táxis ou letra A, numa percentagem elevadíssima. Creio que na Praça de Bragança no tempo em que se situava na Almirante Reis, havia apenas um Austin Cambridge que era do Senhor Carneiro. Os restantes eram do Cura, do Aniceto e alguns em nome individual, mas mais da marca Mercedes Benz que dominava o mercado literalmente e ganhava prestígio. Retirados com ou sem reforma foram afastados destas lides, o Senhor Armando Reis, O Zé Espada e alguns outros que por doença ou outras razões plausíveis deram lugar ao Sr. Albino Carneiro da Rua do Paço, que me parece ser naquele tempo o mais antigo taxista na Praça de Bragança, pois já lá estava com os antigos que agora se afastavam.
Durante décadas foi incontornável na praça brigantina um homem pequeno mas de uma fibra inquebrantável, vindo do Porto chamado David, mais conhecido por Camone. Foi motorista do Aniceto durante décadas juntamente com outro fulano que morava no Loreto e faleceu ainda novo deixando viúva e filhos. Esqueci o seu nome, mas não faltará quem mo recorde pois era um homem bom trabalhador e amigo da família.
O Cura também tinha dois motoristas o Senhor Toninho (do Cura) assim lhe chamávamos e o ( ) que mais tarde foi para a França, como emigrante e que tinha fama de bom volante e bom companheiro. O quadro que eu recordo com mais precisão não é este mas sim o anterior quando ainda rodavam os carros americanos. O Zé Espada sendo grande e tendo um vozeirão de trovão era aquele que mais me seduzia por ser muito amigo dos garotos aos quais dispensava uma ternura insuspeita num homem daquele tamanho, grande e corpulento que era de uma bonomia contagiante, mas que quando lhe chegava a mostarda ao nariz levava tudo raso.
Não estou preparado para discorrer sobre conforto, elegância e segurança do chassis ou da firmeza dos freios, nem tão pouco da qualidade das caixas de velocidades, embraiagens ou pistons. Os carros para mim naquele tempo eram entidades que eu associava ao proprietário e que se transformavam em parte das pessoas e do que elas faziam. Dou o exemplo das camionetas do Tita comparadas com as outras que circulavam em Bragança. Aquelas eram meras transportadoras de mercadoria de um ponto para outro. A Volvo vermelha do Tita em contrário transportava pedra ou outros materiais particularmente para a construção civil, mas mantinha-se sempre limpa e bem oleada. Claro que o responsável era o Tita e a sua prole que era grande mas ativa e fazia ponto de honra em manter o material que lhe ganhava o pão "tiradinho de uma caixa". Há anos estive na Normandia em casa do Zé Tó meu colega de escola e filho do Tita. Só vos digo que a garagem que tem edificada no jardim é um exemplo de limpeza e organização. Tem-no na massa do sangue, mas ele contrapôs que era o efeito das lições aprendidas quando miúdo na oficina dos Nogueiros, onde trabalhou.
Os taxistas num aspecto e os motoristas de camião noutro, foram de diferentes formas nos tempos da minha criação, essenciais ao movimento e direcionamento de pessoas e mercadorias. Eram homens que eu conhecia e que sempre respeitei pelo esforço titânico que fizeram na condução destas máquinas que rodaram dia e noite, em condições de pouca segurança, debaixo de chuva e neve, de sol e vento por estradas de milhentas curvas e acentuada inclinação para que não faltasse ao cidadão comum o peixe fresco, a carne nos talhos e o pão nas padarias. Também toda a espécie por mais exótica de mercadoria foi transportada de cá para lá e de lá para cá por estes homens que honradamente puseram o mundo em movimento.
O parque automóvel de Bragança não era grande mas havia já bastantes oficinas e empresas de transportes que foram ferramentas essenciais para o desenvolvimento da Região. 
Aquilo que hoje relato era já o passado dos tempos primeiros que eu não vi, mas foi ainda assim um tempo de solidificação do projecto de motorização da sociedade brigantina. 
Os dois primeiros carros mencionados eram naquele tempo já duas relíquias e não levou muitos anos, deixei de vê-los e não tenho ideia do que lhes aconteceu. Este é um tema no qual me sinto pouco à vontade já que a cronologia me causa confusão. Tudo é nítido mas o ordenamento é confuso na minha mente. Tentei ser o mais fiel possível no relato mas há muito mais a dizer e devo obter mais informação que me avive a memória. Pena que o meu amigo Albino Carneiro filho do mencionado, está longe e não posso consultá-lo. Ele nos contaria tudo sobre a vida motorizada de Bragança tim tim por tim tim. Fica para outra vez.




Bragança 12/07/2020
A. O. dos Santos
(Bombadas)

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