(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")
Dizem que D. Pedro do Brasil, quando invadiu Portugal, desembarcou em Mindelo, e sentiu fome. Distanciou-se um pouco dos militares e chegou a pequena povoação, onde havia boteco.
Entrou, e perguntou ao taberneiro o que havia de comer:
- Fanecas, fritas e frescas! …
D. Pedro abancou-se e comeu as fanecas com boa broa, regadas com bom vinho verde.
Na hora de pagar, verificou que não trazia dinheiro.
Não se atrapalhou. Dirigiu-se ao tasqueiro, e disse-lhe:
- “Agora as fanecas têm mais um “ F”: fanecas, fritas, frescas e fiadas…”
Desconheço a reação do homem…Nem se o Imperador chegou a pagar a ligeira refeição….
Quando era moço – e mesmo muito mais velho, – havia o hábito de dizer, que Salazar, era o homem dos três “Fs”.
Os detratores do Presidente do Conselho, afirmavam, que o estadista, alienava o povo, com: Fátima. Fado e Futebol.
Como se sabe, a religião, é muitas vezes paliativo para as dores deste mundo. O Fado, convida à resignação, e o Futebol, é o ópio do povo: a arena dos gladiadores da velha Roma.
E se havia exagero, havia, também, fundo de razão.
Ora o tempo passou. Passaram, igualmente, os detratores do Homem, que governou, com mão de ferro, Portugal. Chegou: a liberdade, a democracia, e o direito à indignação. Não passaram, porém, os Fs…
Se a religião perdeu interesse, para os políticos (pelo menos em Portugal,) já o Fado, transformou-se em festivais, onde a juventude dá larga ao entusiasmo; e de Futebol… nem é bom falar…
Se outrora, Eusébio, brilhava, agora é o Cristiano. Só que Salazar (seria por economia?) não colocava ecrãs de TV, na via pública, nem “adormecia” o povo, como agora se faz, com o desporto, em muitos países.
Quem não tinha aparelho de TV, ia à cafetaria ou ao clube, assistir ao jogo. Que era mestre, em dar aquilo que o povo gosta, para esquecer as angústias da vida, é verdade incontestável.
Mas, agora, (talvez aprendessem com ele) os três “Fs” continuam em voga; e continuam com força, que não há memória…
E há-de continuar, porque quem governa, desde tempos ancestrais, precisa sempre de: circo e instrumentos para apaziguar os ânimos exaltados…
Infelizmente ou felizmente, poucos conseguem ver isso; a maioria não atinge o que se esconde por trás das palavras inflamadas, dos gestos teatrais e dos atos conciliadores…
A bacoquice e a pacovice andam de mãos dadas…
Humberto Pinho da Silva nasceu em Vila Nova de Gaia, Portugal, a 13 de Novembro de 1944. Frequentou o liceu Alexandre Herculano e o ICP (actual, Instituto Superior de Contabilidade e Administração). Em 1964 publicou, no semanário diocesano de Bragança, o primeiro conto, apadrinhado pelo Prof. Doutor Videira Pires. Tem colaboração espalhada pela imprensa portuguesa, brasileira, alemã, argentina, canadiana e USA. Foi redactor do jornal: “NG”. e é o coordenador do Blogue luso-brasileiro "PAZ".
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