Uma pessoa queda-se um pouco e dá por si situada aqui num pontinho minúsculo, ínfimo, do universo, olha com as vistas ou com a imaginação, e mentalmente é capaz de conceber a ideia do longe.
Vivemos na era em que tudo é mais possível do que nunca e com toda a facilidade se vai sem que se vá. No entanto, também facilmente se vai e se volta em jornadas sem grande desconforto e sem grande perigo, ainda que momentaneamente as coisas estejam complicadas por causa daquilo que bem sabemos.
À medida que fomos descobrindo tecnologias e adquirindo conhecimento, a nossa noção do que é o longe no mundo foi-se enriquecendo e alargando, ao ponto de quase sermos todos vizinhos. Com o século XXI a iniciar os seus anos vinte, o globo é uma aldeia quase se percorrer ao pé chochinho.
No entanto, não se passaram muitos anos desde que quando não era assim, nem sequer a fingir ou na imaginação. Ainda sou do tempo em que a ideia do longe era muito mais abstrata que concreta. Sentava-se um homem na varanda, estendia e olhar em frente, e via desenharem-se as montanhas lá ao fundo. Assim se encontrava o longe.
De algumas só se viam os cumes. As de mais perto vislumbravam-se com tons de castanho e quase inteiras, as de mais para lá, eram de cor azul muito vivo em dias de céu limpo. Escondidas pelas irmãs mais pequenas e mais perto de quem olhava, só se lhes conseguia ver os cumes.
Parte do que se via era de muito se imaginar. Não se sabia as léguas de um ponto ao outro. Mas sentia-se como de muito longe o que se via. Ir lá, nem pensar, ou se calhar um dia. Enquanto não, e por falta de rodas nos pés, soltava-se o pensamento nas suas asas, já que para tal não havia nem há limites nem proibições.
O quotidiano desenrolava-se por entre os limites das aldeias e de oras em quando da vila em deslocações para bastar as precisões. No meu caso, andava-se coisa de meia hora a pé, e encontrava-se o primeiro sinal de alcance do longe, porta de outras realidades.
Os pés deparavam-se com a estrada de piche, sem início nem fim conhecido para quem se ficava pelos arredores. Era o primeiro sinal de outros modos de vida. Os mais mentalmente desabridos, sabiam que não sabiam, e que havia pontas e laços entre as coisas. Queriam ir e voltar até um dia. Os outros, pensavam que sabiam tudo sem mais. Não queriam ir, queriam voltar e ficar.
Pode não parecer, mas tudo mudou. Num repente, em dez anos que parecem cem, o longe modificou-se. Ficou mesmo à mão-de-semear. O horizonte expandiu-se empurrado pelo nosso caminhar. Saímos e regressamos com as colagens que a nossa alma registou por entre o que encontrou.
Não sei é se estamos mais perto uns dos outros. Quase não levantamos o olhar das mãos por onde nos entra o mundo. Cada vez mais estamos onde não nos sentámos. Pisamos o chão, mas não reparámos em quem está mesmo ao lado em igual azáfama e em semelhante ausência.
Não nos toca o azul do longe. Só se nos entranha o cinzento dos dias porque não ouvimos, não lemos e não erguemos as pálpebras por entre se infiltram o sentir.
Perdemos a capacidade de ouvir o som do silêncio que vibra no esvoaçar de nós pelos areais da vida, onde o azul do mar é só mais uma cor.
Vivemos na era em que tudo é mais possível do que nunca e com toda a facilidade se vai sem que se vá. No entanto, também facilmente se vai e se volta em jornadas sem grande desconforto e sem grande perigo, ainda que momentaneamente as coisas estejam complicadas por causa daquilo que bem sabemos.
À medida que fomos descobrindo tecnologias e adquirindo conhecimento, a nossa noção do que é o longe no mundo foi-se enriquecendo e alargando, ao ponto de quase sermos todos vizinhos. Com o século XXI a iniciar os seus anos vinte, o globo é uma aldeia quase se percorrer ao pé chochinho.
No entanto, não se passaram muitos anos desde que quando não era assim, nem sequer a fingir ou na imaginação. Ainda sou do tempo em que a ideia do longe era muito mais abstrata que concreta. Sentava-se um homem na varanda, estendia e olhar em frente, e via desenharem-se as montanhas lá ao fundo. Assim se encontrava o longe.
De algumas só se viam os cumes. As de mais perto vislumbravam-se com tons de castanho e quase inteiras, as de mais para lá, eram de cor azul muito vivo em dias de céu limpo. Escondidas pelas irmãs mais pequenas e mais perto de quem olhava, só se lhes conseguia ver os cumes.
Parte do que se via era de muito se imaginar. Não se sabia as léguas de um ponto ao outro. Mas sentia-se como de muito longe o que se via. Ir lá, nem pensar, ou se calhar um dia. Enquanto não, e por falta de rodas nos pés, soltava-se o pensamento nas suas asas, já que para tal não havia nem há limites nem proibições.
O quotidiano desenrolava-se por entre os limites das aldeias e de oras em quando da vila em deslocações para bastar as precisões. No meu caso, andava-se coisa de meia hora a pé, e encontrava-se o primeiro sinal de alcance do longe, porta de outras realidades.
Os pés deparavam-se com a estrada de piche, sem início nem fim conhecido para quem se ficava pelos arredores. Era o primeiro sinal de outros modos de vida. Os mais mentalmente desabridos, sabiam que não sabiam, e que havia pontas e laços entre as coisas. Queriam ir e voltar até um dia. Os outros, pensavam que sabiam tudo sem mais. Não queriam ir, queriam voltar e ficar.
Pode não parecer, mas tudo mudou. Num repente, em dez anos que parecem cem, o longe modificou-se. Ficou mesmo à mão-de-semear. O horizonte expandiu-se empurrado pelo nosso caminhar. Saímos e regressamos com as colagens que a nossa alma registou por entre o que encontrou.
Não sei é se estamos mais perto uns dos outros. Quase não levantamos o olhar das mãos por onde nos entra o mundo. Cada vez mais estamos onde não nos sentámos. Pisamos o chão, mas não reparámos em quem está mesmo ao lado em igual azáfama e em semelhante ausência.
Não nos toca o azul do longe. Só se nos entranha o cinzento dos dias porque não ouvimos, não lemos e não erguemos as pálpebras por entre se infiltram o sentir.
Perdemos a capacidade de ouvir o som do silêncio que vibra no esvoaçar de nós pelos areais da vida, onde o azul do mar é só mais uma cor.
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