quinta-feira, 14 de janeiro de 2021

Tutti Fratelli

Padre Sobrinho Alves, Diocese de Bragança-Miranda
11 de janeiro de 2021

Já desde a revolução de 1789 
que se fala em fraternidade, alicerçada na igualdade e liberdade.
Daí as ciências empíricas e sociais, proporem uma sociedade bem diferente, do absolutismo reinante, uma sociedade totalmente outra, onde os pobres ganharam voz.
Abençoada revolução de pensamento!
Mas distorcida dos encantos primeiros porque endeusou o homem como centro do mundo e da história.
Estava assim criado o antropocentrismo.
Expulsou Deus do centro.
E deu no que deu…
Relativizou-se Deus absolutizou-se o homem.
Mas já no século zero do tempo.
Jesus de Nazaré, o Messias prometido, ao povo da Aliança, não através de filosofias, muito menos de ideologias, mas com acções concretas e gestos de amor para com os últimos dos últimos mas também com pregação clara e destemida mais forte que as pirâmides de Gizé
e mais deslumbrantes que os salgueirais da Babilónia. Gritava:

Perante Deus
todos somos iguais:
não há senhor nem servo
nem dono nem escravo.
Todos somos filhos,
todos somos irmãos.

Os autores da revolução oitocentista sintetizaram a sua utopia em 3 palavras apenas;
Mas hoje já há gente que quer substituir “fraternidade” por dignidade.
É menos comprometedor… pode ficar-se apenas no mundo das palavras…
É mais cómodo…
Tem menos implicações é que fraternidade supõe ver no outro um irmão igual a mim, que faz parte de mim, que sou responsável por ele, que não o posso deixar para trás, que tenho que escutar os seus anseios, distribuir por ele a parte que lhe pertence da herança deixada da propriedade privada, do salário a que tem direito, de acordo com o seu trabalho e as suas necessidades.
A encíclica do Papa Francisco não é apenas retórica, não é catecismo social dos novos tempos.
É condição para que o mundo não rebente da tentação de estar sempre no palco em redemoinho espiral.
São oito capítulos com 207 números que nos dizem:
Não podemos ignorar, não podemos calar a fome do outro a dor do outro a enfermidade do outro.
É sobretudo um grito de justiça e paz arrancado do seu coração de pastor.
É Profecia de que é preciso mudar, mudar de ideias e hábitos e comportamentos, a que a pandemia já nos obrigou, mudar de lógica e economia, mudar de política e acção, mudar de mentalidade e oração.
Mudar o coração!!
Porque todos somos irmãos!

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