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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

terça-feira, 22 de junho de 2021

… AINDA DOS CERDEIROS DA ESTRADA

 Por: Fernando Calado
(colaborador do Memórias...e outras coisas...)

Todos os dias passava junto dos cerdeiros da estrada. Os cantoneiros já foram descansar para o cantão mais bonito do céu… e o senhor diretor das Estradas também não tem aparecido por estes lados… só os cerdeiros envelheceram com dignidade oferecendo aos transeuntes as cerejas pequeninas…. mas doces como o mel.
 … a natureza cumpre-se. E todos os anos sonhava em avisar a garotada da minha aldeia que o cerdeiro de cerejas pretas está carregadinho…. Só que na minha aldeia já quase não há crianças… e os que há não ligam às míseras cerejas da estrada na fartura de tantos cerejais e pomares de tantas frutas.
 … a mãe bem se consumia… olha-me para essa cara… olha.me para essas mãos… e a camisa toda manchada da porcaria das cerejas pretas… vai-me lavar essas mãos e essa cara… quero ver, agora, quem lava a camisa!
 … depois a mãe sorria… e as cerejas eram tão doces e tudo serenava…
Mas desta vez reparei que os frondosos cerdeiros foram abatidos, um a um, dolorosamente, levando consigo tantas gerações e memórias… o mínimo que se exigia é que no lugar dos velhos cerdeiros fossem repostas novas árvores. Mas não, a estrada agora é um longo deserto, sem alma e só os imensos cardos e as ervas daninhas testemunham que a vida ainda é possível… que falta me fazem os velhos cantoneiros… saudades… tantas… 
 … no próximo verão não haverá cerejas pretas e vermelhas… e o senhor diretor das estradas, onde estiver, deve estar muito triste…
 … não me ralhe, minha mãe!… afinal já não há cerejas pretas… nem vermelhas… e só os cardos secos povoam a nossa alma.

Fernando Calado
nasceu em 1951, em Milhão, Bragança. É licenciado em Filosofia pela Universidade do Porto e foi professor de Filosofia na Escola Secundária Abade de Baçal em Bragança. Curriculares do doutoramento na Universidade de Valladolid. Foi ainda professor na Escola Superior de Saúde de Bragança e no Instituto Jean Piaget de Macedo de Cavaleiros. Exerceu os cargos de Delegado dos Assuntos Consulares, Coordenador do Centro da Área Educativa e de Diretor do Centro de Formação Profissional do IEFP em Bragança. 
Publicou com assiduidade artigos de opinião e literários em vários Jornais. Foi diretor da revista cultural e etnográfica “Amigos de Bragança”.

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