Por: Fernando Calado
(colaborador do Memórias...e outras coisas...)
Todos os dias passava junto dos cerdeiros da estrada. Os cantoneiros já foram descansar para o cantão mais bonito do céu… e o senhor diretor das Estradas também não tem aparecido por estes lados… só os cerdeiros envelheceram com dignidade oferecendo aos transeuntes as cerejas pequeninas…. mas doces como o mel.
… a natureza cumpre-se. E todos os anos sonhava em avisar a garotada da minha aldeia que o cerdeiro de cerejas pretas está carregadinho…. Só que na minha aldeia já quase não há crianças… e os que há não ligam às míseras cerejas da estrada na fartura de tantos cerejais e pomares de tantas frutas.
… a mãe bem se consumia… olha-me para essa cara… olha.me para essas mãos… e a camisa toda manchada da porcaria das cerejas pretas… vai-me lavar essas mãos e essa cara… quero ver, agora, quem lava a camisa!
… depois a mãe sorria… e as cerejas eram tão doces e tudo serenava…
Mas desta vez reparei que os frondosos cerdeiros foram abatidos, um a um, dolorosamente, levando consigo tantas gerações e memórias… o mínimo que se exigia é que no lugar dos velhos cerdeiros fossem repostas novas árvores. Mas não, a estrada agora é um longo deserto, sem alma e só os imensos cardos e as ervas daninhas testemunham que a vida ainda é possível… que falta me fazem os velhos cantoneiros… saudades… tantas…
… no próximo verão não haverá cerejas pretas e vermelhas… e o senhor diretor das estradas, onde estiver, deve estar muito triste…
… não me ralhe, minha mãe!… afinal já não há cerejas pretas… nem vermelhas… e só os cardos secos povoam a nossa alma.
… a natureza cumpre-se. E todos os anos sonhava em avisar a garotada da minha aldeia que o cerdeiro de cerejas pretas está carregadinho…. Só que na minha aldeia já quase não há crianças… e os que há não ligam às míseras cerejas da estrada na fartura de tantos cerejais e pomares de tantas frutas.
… a mãe bem se consumia… olha-me para essa cara… olha.me para essas mãos… e a camisa toda manchada da porcaria das cerejas pretas… vai-me lavar essas mãos e essa cara… quero ver, agora, quem lava a camisa!
… depois a mãe sorria… e as cerejas eram tão doces e tudo serenava…
Mas desta vez reparei que os frondosos cerdeiros foram abatidos, um a um, dolorosamente, levando consigo tantas gerações e memórias… o mínimo que se exigia é que no lugar dos velhos cerdeiros fossem repostas novas árvores. Mas não, a estrada agora é um longo deserto, sem alma e só os imensos cardos e as ervas daninhas testemunham que a vida ainda é possível… que falta me fazem os velhos cantoneiros… saudades… tantas…
… no próximo verão não haverá cerejas pretas e vermelhas… e o senhor diretor das estradas, onde estiver, deve estar muito triste…
… não me ralhe, minha mãe!… afinal já não há cerejas pretas… nem vermelhas… e só os cardos secos povoam a nossa alma.
Fernando Calado nasceu em 1951, em Milhão, Bragança. É licenciado em Filosofia pela Universidade do Porto e foi professor de Filosofia na Escola Secundária Abade de Baçal em Bragança. Curriculares do doutoramento na Universidade de Valladolid. Foi ainda professor na Escola Superior de Saúde de Bragança e no Instituto Jean Piaget de Macedo de Cavaleiros. Exerceu os cargos de Delegado dos Assuntos Consulares, Coordenador do Centro da Área Educativa e de Diretor do Centro de Formação Profissional do IEFP em Bragança.
Publicou com assiduidade artigos de opinião e literários em vários Jornais. Foi diretor da revista cultural e etnográfica “Amigos de Bragança”.
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