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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

sexta-feira, 2 de julho de 2021

Guerra Junqueiro: "Reconhecimento e ingratidão"

 Os vossos filhos serão para vós como vós tiverdes sido para vossos pais. E é natural. As crianças veem diariamente o que fazem seus pais, e imitam-nos. Justifica-se desta maneira o provérbio que diz que a bênção ou a maldição de um pai cai sobre a cabeça de seus filhos, terminando sempre por se realizar. Citaremos dois exemplos, que merecem ser meditados.

Um príncipe, passeando no campo, viu um pobre homem, que andava muito satisfeito, a lavrar a terra. Pôs-se a conversar com ele. Depois de algumas perguntas, soube que o campo não pertencia ao homem, mas que trabalhava nele mediante um salário de doze vinténs por dia. O príncipe, que para as suas despesas de administração e representação necessitava de quantias avultadas, custou-lhe ao princípio a perceber, como se vivia com doze vinténs diários, andando-se ainda por cima satisfeito. Manifestou o seu espanto ao aldeão, que lhe respondeu:

“Gasto diariamente comigo a terça parte dessa quantia; outro terço é para pagar as minhas dividas; e o resto é para ir juntando algumas economias.”

Era um novo enigma para o príncipe. Mas o alegre camponês explicou-lhe deste modo.

“Reparto quanto ganho com os meus velhos pais, que já não podem trabalhar, e com os meus filhos, que ainda não têm força para isso. Aos primeiros pago-lhes o amor de que me deram tantas provas na minha infância; e espero que os segundos não me abandonem, quando os anos tiverem pesado sobre mim.”

O príncipe, ouvindo isto, quis premiar o honrado camponês; encarregou-se da educação de seus filhos; e a benção que lhe deram os seus velhos pais, os seus filhos merecerem-na depois pela sua vez, rodeando igualmente a sua velhice de cuidados piedosos e da mais terna dedicação.

Mas posso desgraçadamente citar-vos outro filho, que procedeu de uma maneira tão indigna com seu velho pai doente e aleijado, que este teve de pedir que o levassem para o hospital da misericórdia. O filho ingrato recebeu com alegria o desejo do infeliz velho, que nessa mesma tarde foi conduzido ao hospital. Como este estabelecimento de caridade fosse muito pobre, decidiu-se o velho a mandar pedir a seu filho, como última esmola, um par de lençóis, para cobrir a palha que lhe servia de leito. O mau filho escolheu os lençóis mais usados, e disse ao seu pequeno, de dez anos de idade, que os fosse levar a esse velho rabugento. Mas notou que a criança ao partir tinha escondido um dos lençóis a um canto, atrás da porta.

Quando voltou perguntou-lhe o pai, porque fizera aquilo.

Foi, respondeu a criança desabridamente, para me servir mais tarde deste lençol, quando pela minha vez te mandar também para o hospital.

Fonte:
Guerra Junqueiro: "Contos para a Infância", Publicado originalmente em 1877.

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