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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

sábado, 31 de julho de 2021

O que procurar no Verão: a salgueirinha

 Fique a conhecer esta bonita planta, cujas flores embelezam agora as margens ribeirinhas de muitos cursos de água de Portugal Continental.

Foto: Manfred Heyde/Wiki Commons

Esta semana celebrou-se o “Dia internacional da Conservação da Natureza”, mas também se esgotaram os recursos naturais anuais do planeta calculados para 2021, e atingimos o “Dia da Sobrecarga da Terra”.

Essa determinação é feita através do cálculo da Pegada Ecológica, que permite quantificar a pressão do consumo das populações humanas sobre os recursos naturais e medir qual deveria ser o padrão ideal de consumo. Se soubéssemos controlar esses consumos, teríamos recursos naturais para todo o ano e não seria necessário ir além da capacidade da Terra. 

É urgente saber gerir, restaurar, usar e poupar os ecossistemas, para não ameaçar a biodiversidade e todos os recursos naturais ainda disponíveis.

Adoramos explorar e encontrar o que a natureza tem para nos oferecer e as flores da salgueirinha (Lythrum salicaria), também conhecida como salgueira, erva-carapau e salicária, embelezam agora as margens ribeirinhas de muitos cursos de água de Portugal Continental.

A salgueirinha

A salgueirinha é uma planta herbácea perene, da família Lythraceae, que pode atingir até 1,5 metros de altura. Forma um rizoma (caule subterrâneo) lenhoso com raízes muito superficiais e de onde surgem inúmeros caules avermelhados, direitos, ramificados, ocos e de secção quadrangular. 

Foto: GartenAkademie/Wiki Commons

As folhas apresentam morfologia variada na forma e tamanho e no tipo de indumento que as cobre. São inteiras, sésseis, com forma ovada a oval-lanceolada, por vezes linear, com base arredondada, ápice agudo e margem ondulada. São esparsamente a densamente pubescentes ou glabras, e surgem opostas nos caules ou em verticilos de três e são amplexicaules. Nas hastes florais as folhas surgem reduzidas a brácteas lineares com base esbranquiçada e ponta avermelhada.

As flores da salgueirinha despontam no verão, entre junho e setembro. São pequenas, hermafroditas (femininas e masculinas) e agrupam-se em inflorescências terminais. Possuem uma corola formada por seis pétalas de cor púrpura a rosa, com nervuras bem definidas, de púrpura mais escuro. As pétalas são protegidas por um cálice de seis sépalas triangulares, peludo e de a cor avermelhada. 

Foto: Agnieszka Kwiecień, Nova/Wiki Commons

O fruto é uma pequena cápsula acastanhada, ovóide, ligeiramente achatada e deiscente, que contém numerosas sementes elipsoides, leves e pequenas, facilmente dispersas pelo vento.

A raiz etimológica do nome científico desta espécie é curiosa e deve-se em particular ao tipo de folha e à cor das suas flores. O nome do género Lythrum deriva do grego Lythron, que significa “sangue”, devido à cor das pétalas. A designação salicaria deriva do latim e do nome genérico Salix, e significa “semelhante ao salgueiro”, muito devido à afinidade entre esta planta e os salgueiros, pela parecença das suas folhas com as destas plantas, além de crescer e de se desenvolver no mesmo habitat.

Origem e habitat

A salgueirinha encontra-se amplamente distribuída em todo o mundo. É uma espécie nativa da Europa, Ásia e norte de África, e profusamente introduzida na América do Norte, na faixa oeste da América do Sul e no sul de África.

Em Portugal distribui-se um pouco por todo o território continental e não há registo desta espécie nos arquipélagos.

É uma planta de sol, que também se pode desenvolver em locais de sombra parcial, em locais expostos ou abrigados. Tolera quase todas as condições edáficas, desenvolvendo-se bem em solos de pH ácido, neutro ou alcalino, em solos argilosos, calcários ou arenosos, desde que o solo esteja sempre húmido.

Vive em lugares permanentemente húmidos ou encharcados, preferencialmente perto de cursos de água, como margens de rios, riachos, lagos, tanques, etc., ou em valas e zonas de pastagem onde as condições de encharcamento ou humidade sejam elevadas. É tolerante à salinidade, podendo desenvolver-se em zonas pantanosas e estuários dos rios.

A salgueirinha é uma espécie invasora em regiões onde foi introduzida (Estados Unidos). A ausência de inimigos naturais tornou-a numa espécie particularmente agressiva, pois cresce vigorosamente e expande-se muito rapidamente, sendo responsável pela degradação de ecossistemas naturais, competindo com a vegetação nativa dessas regiões. A sua disseminação descontrolada pode provocar a obstrução dos cursos de água, a diminuição da diversidade biológica nativa e a disponibilidade de alimento.

É uma planta melífera e ecologicamente é uma espécie muito atractiva para espécies de insectos polinizadores, como abelhas e borboletas. Várias espécies de gorgulho também criaram associações com esta planta, alimentando-se das suas folhas e botões florais, podendo causar alguns prejuízos no normal desenvolvimento destas plantas. 

Refúgio secreto dos duendes

A salgueirinha é rica em taninos, açúcares, salicarina, colina, provitamina A e ferro. É uma planta adstringente, cicatrizante e tónica, estando comprovada a sua eficácia no tratamento de diarreia e disenteria, assim como para combater as cólicas dos recém-nascidos. É ainda usada no tratamento de hemorragias internas e nasais e no tratamento de feridas em geral. 

Externamente é útil em compressas para alívio dos eczemas, varizes e hemorróidas, e é ainda utilizada em bochechos para o sangramento das gengivas. Também é usada como antibiótico e, na cosmética, como máscara facial. 

As folhas e flores frescas ou secas usam-se em infusões e os rebentos jovens e frescos podem ser consumidos cozidos, como hortaliça, em saladas e sopas. As flores são usadas como corante para rebuçados.

Desta planta é feito um produto de preservação de madeiras e de cordas contra o apodrecimento causado pela água. 

Espetacular em plena floração, pela abundância de flores por um longo período de tempo, do início ao fim do verão, a salgueirinha pode ser uma boa opção para complementar e ornamentar um pequeno jardim aquático. É ideal em canteiros e bordaduras, para jardins de brejos e ao longo de lagoas e riachos.

Foto: AnRo0002/Wiki Commons

No entanto, na hora de instalação de um jardim combinado com a salgueirinha, deve ter-se o cuidado de selecionar plantas para crescer em competição, uma vez que esta apresenta facilidade e rapidez em colonizar áreas húmidas, bem como uma grande capacidade de dispersão de sementes, o que pode suprimir ou limitar o crescimento e desenvolvimento das outras plantas.

A salgueirinha é vista como uma planta misteriosa envolta de muitas lendas. Nos meios rurais era vista como o refúgio secreto dos duendes que guardavam as minas de ouro, pois esta planta era vista como um verdadeiro tesouro, muito utilizada por toda a Europa. 

Mais uma bonita planta para explorar durante o verão. Mas não se esqueça de apreciar a sua beleza natural sem as colher e sem as cortar, preservando-as.

Dicionário informal do mundo vegetal:

Rizoma – Caule subterrâneo, que cresce geralmente na horizontal, com aspeto de raiz, composto de escamas e gemas, como se de um caule aéreo se trata-se. 
Sésseis – as folhas não possuem pecíolo (haste de suporte), inserindo-se diretamente no caule.
Ovada – folha com a forma de um ovo mais larga e arredondada perto da base.
Oval-lanceolada – folha com base atenuada e à medida que chega ao ápice vai ficando com forma oval.
Linear – folha estreita e comprida (comprimento é 6 a 12 vezes mais do que a largura), com margens quase paralelas.
Amplexicaule – folha cuja base envolve parcialmente o caule, sem o cercar totalmente.
Bráctea – folha modificada, localizada na base da flor que a protege enquanto está fechada.
Hermafrodita – flor que possui órgãos reprodutores femininos (carpelos) e masculinos (estames).
Deiscente – fruto que, quando maduro, se abre naturalmente para libertar as sementes.

Carine Azevedo

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