Essa determinação é feita através do cálculo da Pegada Ecológica, que permite quantificar a pressão do consumo das populações humanas sobre os recursos naturais e medir qual deveria ser o padrão ideal de consumo. Se soubéssemos controlar esses consumos, teríamos recursos naturais para todo o ano e não seria necessário ir além da capacidade da Terra.
É urgente saber gerir, restaurar, usar e poupar os ecossistemas, para não ameaçar a biodiversidade e todos os recursos naturais ainda disponíveis.
Adoramos explorar e encontrar o que a natureza tem para nos oferecer e as flores da salgueirinha (Lythrum salicaria), também conhecida como salgueira, erva-carapau e salicária, embelezam agora as margens ribeirinhas de muitos cursos de água de Portugal Continental.
A salgueirinha
A salgueirinha é uma planta herbácea perene, da família Lythraceae, que pode atingir até 1,5 metros de altura. Forma um rizoma (caule subterrâneo) lenhoso com raízes muito superficiais e de onde surgem inúmeros caules avermelhados, direitos, ramificados, ocos e de secção quadrangular.
Foto: GartenAkademie/Wiki Commons |
As folhas apresentam morfologia variada na forma e tamanho e no tipo de indumento que as cobre. São inteiras, sésseis, com forma ovada a oval-lanceolada, por vezes linear, com base arredondada, ápice agudo e margem ondulada. São esparsamente a densamente pubescentes ou glabras, e surgem opostas nos caules ou em verticilos de três e são amplexicaules. Nas hastes florais as folhas surgem reduzidas a brácteas lineares com base esbranquiçada e ponta avermelhada.
As flores da salgueirinha despontam no verão, entre junho e setembro. São pequenas, hermafroditas (femininas e masculinas) e agrupam-se em inflorescências terminais. Possuem uma corola formada por seis pétalas de cor púrpura a rosa, com nervuras bem definidas, de púrpura mais escuro. As pétalas são protegidas por um cálice de seis sépalas triangulares, peludo e de a cor avermelhada.
Foto: Agnieszka Kwiecień, Nova/Wiki Commons |
O fruto é uma pequena cápsula acastanhada, ovóide, ligeiramente achatada e deiscente, que contém numerosas sementes elipsoides, leves e pequenas, facilmente dispersas pelo vento.
A raiz etimológica do nome científico desta espécie é curiosa e deve-se em particular ao tipo de folha e à cor das suas flores. O nome do género Lythrum deriva do grego Lythron, que significa “sangue”, devido à cor das pétalas. A designação salicaria deriva do latim e do nome genérico Salix, e significa “semelhante ao salgueiro”, muito devido à afinidade entre esta planta e os salgueiros, pela parecença das suas folhas com as destas plantas, além de crescer e de se desenvolver no mesmo habitat.
Origem e habitat
A salgueirinha encontra-se amplamente distribuída em todo o mundo. É uma espécie nativa da Europa, Ásia e norte de África, e profusamente introduzida na América do Norte, na faixa oeste da América do Sul e no sul de África.
Em Portugal distribui-se um pouco por todo o território continental e não há registo desta espécie nos arquipélagos.
É uma planta de sol, que também se pode desenvolver em locais de sombra parcial, em locais expostos ou abrigados. Tolera quase todas as condições edáficas, desenvolvendo-se bem em solos de pH ácido, neutro ou alcalino, em solos argilosos, calcários ou arenosos, desde que o solo esteja sempre húmido.
Vive em lugares permanentemente húmidos ou encharcados, preferencialmente perto de cursos de água, como margens de rios, riachos, lagos, tanques, etc., ou em valas e zonas de pastagem onde as condições de encharcamento ou humidade sejam elevadas. É tolerante à salinidade, podendo desenvolver-se em zonas pantanosas e estuários dos rios.
A salgueirinha é uma espécie invasora em regiões onde foi introduzida (Estados Unidos). A ausência de inimigos naturais tornou-a numa espécie particularmente agressiva, pois cresce vigorosamente e expande-se muito rapidamente, sendo responsável pela degradação de ecossistemas naturais, competindo com a vegetação nativa dessas regiões. A sua disseminação descontrolada pode provocar a obstrução dos cursos de água, a diminuição da diversidade biológica nativa e a disponibilidade de alimento.
É uma planta melífera e ecologicamente é uma espécie muito atractiva para espécies de insectos polinizadores, como abelhas e borboletas. Várias espécies de gorgulho também criaram associações com esta planta, alimentando-se das suas folhas e botões florais, podendo causar alguns prejuízos no normal desenvolvimento destas plantas.
Refúgio secreto dos duendes
A salgueirinha é rica em taninos, açúcares, salicarina, colina, provitamina A e ferro. É uma planta adstringente, cicatrizante e tónica, estando comprovada a sua eficácia no tratamento de diarreia e disenteria, assim como para combater as cólicas dos recém-nascidos. É ainda usada no tratamento de hemorragias internas e nasais e no tratamento de feridas em geral.
Externamente é útil em compressas para alívio dos eczemas, varizes e hemorróidas, e é ainda utilizada em bochechos para o sangramento das gengivas. Também é usada como antibiótico e, na cosmética, como máscara facial.
As folhas e flores frescas ou secas usam-se em infusões e os rebentos jovens e frescos podem ser consumidos cozidos, como hortaliça, em saladas e sopas. As flores são usadas como corante para rebuçados.
Desta planta é feito um produto de preservação de madeiras e de cordas contra o apodrecimento causado pela água.
Espetacular em plena floração, pela abundância de flores por um longo período de tempo, do início ao fim do verão, a salgueirinha pode ser uma boa opção para complementar e ornamentar um pequeno jardim aquático. É ideal em canteiros e bordaduras, para jardins de brejos e ao longo de lagoas e riachos.
Foto: AnRo0002/Wiki Commons |
No entanto, na hora de instalação de um jardim combinado com a salgueirinha, deve ter-se o cuidado de selecionar plantas para crescer em competição, uma vez que esta apresenta facilidade e rapidez em colonizar áreas húmidas, bem como uma grande capacidade de dispersão de sementes, o que pode suprimir ou limitar o crescimento e desenvolvimento das outras plantas.
A salgueirinha é vista como uma planta misteriosa envolta de muitas lendas. Nos meios rurais era vista como o refúgio secreto dos duendes que guardavam as minas de ouro, pois esta planta era vista como um verdadeiro tesouro, muito utilizada por toda a Europa.
Mais uma bonita planta para explorar durante o verão. Mas não se esqueça de apreciar a sua beleza natural sem as colher e sem as cortar, preservando-as.
Dicionário informal do mundo vegetal:
Sésseis – as folhas não possuem pecíolo (haste de suporte), inserindo-se diretamente no caule.
Ovada – folha com a forma de um ovo mais larga e arredondada perto da base.
Oval-lanceolada – folha com base atenuada e à medida que chega ao ápice vai ficando com forma oval.
Linear – folha estreita e comprida (comprimento é 6 a 12 vezes mais do que a largura), com margens quase paralelas.
Amplexicaule – folha cuja base envolve parcialmente o caule, sem o cercar totalmente.
Bráctea – folha modificada, localizada na base da flor que a protege enquanto está fechada.
Hermafrodita – flor que possui órgãos reprodutores femininos (carpelos) e masculinos (estames).
Deiscente – fruto que, quando maduro, se abre naturalmente para libertar as sementes.
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