Bom, a verdade é que o que neste momento em que vos escrevo me está a permitir usufruir de alguma calma e normalidade é ter vindo tomar o pequeno-almoço fora... Quase ao meio-dia e meia hora. Ora, ao passo que muitos se preparam para o almoço, eu vim, poderão dizer, com algumas horas de atraso. Para mim, cheguei no momento certo. Evitei filas, confusões, pessoas em geral. Não evitei o ar reprovador e algo confuso da senhora que me atendeu, e que perguntou duas vezes para confirmar o meu pedido, que lhe pareceu tão desajustado. Agora estão provavelmente sentados a mirar uma ementa de pratos do dia, ou a espreitar pela esquina do olho para um qualquer programa da manhã enquanto tentam não deixar queimar o estrugido do arroz. E eu, aqui estou, a beber uma meia de leite, sem pressas.
São pequenos luxos que nos permitem manter a sanidade mental. Andar como queremos, sem querer saber o que pensam sobre nós. Isto quer dizer que nem sempre o mais sensato, o mais “normal” é o melhor para nós? Acho que, no fundo, quer dizer isso mesmo. Quantas vezes dizemos que “não” a querer dizer “sim”?
Quantas vezes dizemos que “não” porque é mais fácil, mais ajuizado, e outras tantas damos um “sim” para não levantar ondas (a ordem dos “nãos” e “sins” podem decidir vocês, sintam-se à vontade para trocar. Este é um texto totalmente livre de regras, por isso, força!).
E, pior, por cada vez que nós dizemos “não” alguém diz “sim” em nosso lugar (mantenhamos a regra do parágrafo acima, caro leitor). Por cada vez que adiamos a vida, por tantos motivos que não passam de desculpas, de facilitismos, ela continua a avançar, sem nós, noutros sentidos onde não estamos. Se isto nos deve preocupar? Claro. Se devemos fazer algo para mudar isto? Certamente.
No meu caso, hoje não, que ainda tenho uma meia de leite e estas linhas para acabar, e estão ambas a saber-me bem. E vocês, do que é que estão à espera?
As mudanças começam em nós. Esta frase não é minha, logicamente, ainda que não cite autores porque não sei se há mesmo um ou se é a sabedoria popular ou, talvez, tenha lido num livro de auto-ajuda qualquer na prateleira de um supermercado. As mudanças são enormes. Outras são um pequeno passo. Um ato de coragem, de ousadia, um efeito borboleta Hoje, a minha mudança, a minha revolução, foi tomar o pequeno-almoço à hora do almoço e contrariar do resto do mundo (neste fuso horário, pelo menos). Remar contra a maré e ser diferente pode mesmo ser uma “estranha forma de vida”, como cantava a Amália (eu por acaso gosto mais da música dos caracóis, mas não se adequava aqui). É, afinal, o que há de mal em ser estranho, certo? De revolução em revolução, um dia vamos acabar felizes e descansados com a vida que escolhemos. Mesmo que seja o contrário do resto do mundo.
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