segunda-feira, 31 de janeiro de 2022

A VELHA AMARRADA AO BURRO

Por: Humberto Pinho da Silva
(colaborador do "Memórias...e outras coisas..."

Acontecia, outrora, aos médicos da província, cada uma, que nem ao mais levado mafarrico lembrava.
Fernando Namora, narra, com a graça que lhe era peculiar, as suas aventuras, em: “ Retalhos da Vida de um Médico”.
E muitas pitorescas e engraçadas historietas, se contam, desses humildes “ João Semanas”: - verdadeiros heróis, que alcançavam “ milagres” com os escassos recursos que dispunham.
Ora, havia nesse tempo, jovem médico, com consultório montado no centro da cidade de Bragança, considerado e respeitado, por todos os brigantinos.
Suas curas, espampanantes, espalharam-se por todo o distrito, desde Bragança até a terras de Miranda, porque não havia maleita, que não sarasse, nem mal que não passasse.
Tinha o jovem doutor, tia, velha, teimosa e rabugenta, que sofria de graves males, que seriamente a atormentavam. Mas – apesar dos rogos, – recusava, peremptoriamente, ir ao médico.
Os familiares andavam deveras preocupadíssimos. Como demove-la da contumácia?
À Vila não queria ir. Também o médico, que ai clinicava, estava tão ancilosado, que mal conseguia diagnosticar a mais leve enfermidade.
Os desconfiados aldeões, preferiam as antigas mezinhas das avós, ou a arte mágica de bruxas da região. - Por sinal, poucas e ignorantes, e tão néscias como os rústicos campesino, - do que ir à Vila.
O que fazer, então?, já que a velhinha piorava a olhos vistos?
Após muito matutarem e altercarem, entre si, os parentes da velha casmurra, assentaram encetar a árdua e perigosa viagem, por vales e montes e caminhos escabrosos, até Bragança. Terra grande, onde havia hospital e vivia o sobrinho (?) da enferma, que granjeara reputação de “ sapiente”.
Mas como, se a velha não queria?! …
Nessa recuado tempo, não havia quem tivesse automóvel - nem na aldeia, nem, talvez, no concelho. - O remédio era transportá-la de burro – animal pachorrento e amigo de fazer vontades.
Mas como convencer a velha?; se não queria sair de casa?
Acordaram, por unanimidade, chamar dois valentões, que agarraram e amarraram a mulher, com grossas cordas, à albarda, coberta por velha e surrada liteira.
Bem segura e bem atada, lá foi a nossa velha, bracejando e chorando, até à Praça da Sé, e da Praça até, à porta do consultório do famoso médico, onde arreataram o jerico,
Estava o clínico, de estetoscópio na mão, a auscultar conscientemente o peito de respeitosa idosa, quando escuta grande alarido, que subia da rua. Algazarra infernal, chinfrinado endiabrado, à mistura de muitos guinchos, berros e vozearia.
“ O que seria?!” – Pensou, atónito, o jovem médico.
Esclareceu-lhe a curiosidade a solicita empregada, que entrou afogueada no consultório, explodindo num misto de surpresa e indignação:
- “ Senhor doutor: Está uma mulher, a gritar e a estrebuchar, amarrada a um burrico! …e muita gente à volta! … Dizem que é tia do Senhor doutor!!! …”
- “ Pois vá dizer: que não sei quem é. E mande-os embora…Não atendo ninguém que venha amarrado a um burro! …”
Não houve outro remédio, apesar dos rogos e altercações, senão regressarem à terra, com a velha amarrada, e mais séquito de festiva garotada, até ao Loreto, que em risos e chalaças, galhofavam com a grotesca e hilariante cena.
Mais tarde, parentes do jovem médico, diziam, entre si, e para quem os queria ouvir, com olhos de indignação cravados no céu:
_ “ Parece impossível! Ter vergonha da tia! … Sangue do seu sangue! …”
E os aldeões, que os ouviam, repetiam, com cibinho de ira, sacudindo negativamente a cabeça:
- “ Vão estudar para a cidade. Ficam ricos, e não querem saber dos pobres! … É para isso que uma mãe cria o filho! …”

Humberto Pinho da Silva, nasceu em Vila Nova de Gaia, Portugal, a 13 de Novembro de 1944. Frequentou o liceu Alexandre Herculano e o ICP (actual, Instituto Superior de Contabilidade e Administração). Em 1964 publicou, no semanário diocesano de Bragança, o primeiro conto, apadrinhado pelo Prof. Doutor Videira Pires. Tem colaboração espalhada pela imprensa portuguesa, brasileira, alemã, argentina, canadiana e USA.Foi redactor do jornal: “Notícias de Gaia"” e actualmente é o responsável pelo blogue luso-brasileiro: " PAZ".

ESTOU CERTO OU ESTOU ERRADO?

Por: José Mário Leite
(colaborador do Memórias...e outras coisas...)

Na novela “Roque Santeiro” da segunda metade dos anos oitenta do século passado, Sinhozinho Malta, interpretado por Lima Duarte, tinha um bordão que ficou célebre: com um pequeno abanão, puxava o relógio e algumas pulseiras de ouro para o pulso que erguia, agitando os adereços perguntava enfaticamente – Estou certo ou estou errado? Embora a resposta induzida e por ele esperada fosse obviamente de concordância, o certo é que, precisamente, na maioria dos casos a resposta correcta e fundamentada deveria ser: – Está errado!

Assim acontece tantas vezes não só porque a simples resposta pode ser redutora como ainda porque, muitas vezes, a análise detalhada dos componentes que a enformam pode, com alguma facilidade, induzir precisamente o caminho oposto. Enquanto que o certo traduz uma situação de total conformidade já o errado pode encerrar vários graus de divergência pelo que a sua simples evocação ou aplicação não evidencia os vários graus de divergência com distâncias distintas à solução acertada. Se não vejamos. Se for pedido a alguém que soletre a “chave” e a resposta for c-h-a-v-e será obviamente classificada como estando certa. Qualquer outra resposta estará errada. Não só a resposta d-i-b-x-f como e-j-c-y-g e também x-a-b-e. Contudo o erro não é, seguramente, o mesmo pois apesar de estar errada esta última parece mais próxima da resposta verdadeira. Porque a fonética das duas palavras “chave” e “xabe” são muito parecidas, podendo inclusivé ser facilmente confundidas ao ouvi-las. E, contudo, numa ótica de mera codificação, qualquer uma das outras facilmente se converte na solução esperada já que no primeiro caso basta procurar, para cada letra, a letra anterior no alfabeto e no segundo a segunda letra anterior. De qualquer forma apenas uma resposta é verdadeira e todas as restantes são falsas.
Vejamos agora uma pequena história onde se pode igualmente procurar algum ensinamento adicional sobre este mesmo tema.
O Presidente da Câmara, nesse dia, resolveu ir visitar as obras municipais e fez-se acompanhar do vice e de dois estagiários que o IEFP tinha colocado no município. Um deles deveria ser selecionado para integrar o quadro no departamento de Obras e Projetos. Fizeram uma paragem na Praça Central onde se ultimavam os trabalho da nova torre. – Agora só falta colocar, no topo, um pára-raios que servirá de antena. É preciso encomendá-la. – Pois. Mas é preciso determinar o seu tamanho. – Ah, isso é fácil. A distância da ponta ao solo tem de ser oito metros. Basta subtrair a esse valor o da altura atual da torre. Algum dos dois estagiários me saberá dizer quanto é que mede?
Foi tomar um café com o vice e, no regresso indagou junto dos dois jovens qual a opinião deles sobre a real dimensão da torre. – Sete metros – diz um deles, o Manuel – mais ou menos! – Seis metros e oitenta – diz o outro, o João.
De volta aos Paços do Concelho perguntou ao vice: – Então o que achas? – O João acertou em cheio! – Pois acertou, mas quem fica com o lugar é o Manuel.
E com razão. Efetivamente o valor correto é o apontado pelo João que o obteve, do projetista da Câmara de quem é amigo e a quem perguntou por SMS. O Presidente observou isso sentado na esplanada e também viu que o número avançado pelo Manuel resultou da medida da sombra da torre, medida em passos e que depois comparou com a sua própria sombra. Não estando certo estava seguro de que o valor teria aquela ordem de grandeza e que se fosse necessário chegaria, pelos seus próprios meios ao valor exato se tivesse acesso aos meios de medida adequados.
Neste caso especial, andou bem o autarca!

José Mário Leite
, Nasceu na Junqueira da Vilariça, Torre de Moncorvo, estudou em Bragança e no Porto e casou em Brunhoso, Mogadouro.
Colaborador regular de jornais e revistas do nordeste, (Voz do Nordeste, Mensageiro de Bragança, MAS, Nordeste e CEPIHS) publicou Cravo na Boca (Teatro), Pedra Flor (Poesia), A Morte de Germano Trancoso (Romance) e Canto d'Encantos (Contos), tendo sido coautor nas seguintes antologias; Terra de Duas Línguas I e II; 40 Poetas Transmontanos de Hoje; Liderança, Desenvolvimento Empresarial; Gestão de Talentos (a editar brevemente).
Foi Administrador Delegado da Associação de Municípios da Terra Quente Transmontana, vereador na Câmara e Presidente da Assembleia Municipal de Torre de Moncorvo.
Foi vice-presidente da Academia de Letras de Trás-os-Montes.
É Diretor-Adjunto na Fundação Calouste Gulbenkian, Gestor de Ciência e Consultor do Conselho de Administração na Fundação Champalimaud.
É membro da Direção do PEN Clube Português.

Nota de Imprensa | Alfândega da Fé com acesso à internet grátis em mais espaços públicos

 Alfândega da Fé com acesso à internet grátis em mais espaços públicos


Todos os cidadãos residentes e visitantes de Alfândega da Fé já têm disponível acesso à internet sem fios de forma gratuita em vários espaços públicos do concelho. Através da iniciativa designada WiFi4EU, a zona do Mercado Municipal e piscinas municipais, passam a integrar a lista dos espaços públicos em Alfândega da Fé que disponibilizam internet sem fios grátis, da qual já faziam parte a Biblioteca, a Casa da Cultura, Jardim Municipal e a Câmara Municipal.

Esta beneficiação resulta duma candidatura efetuada pelo Município de Alfândega da Fé a um programa da União Europeia, com o objetivo de proporcionar acesso à Internet de alta qualidade nos principais centros de vida da comunidade local, contribuindo para atenuar a exclusão digital. Um investimento de 15 mil euros cofinanciados pela União Europeia.

Através deste serviço, o cidadão pode entrar no universo digital e usufruir de tudo o que este tem para oferecer, bastando para isso aceder no seu dispositivo às redes wi-fi e conectar-se à rede WiFi4EU.

OLHOS VÃOS

Por: Maria da Conceição Marques
(colaboradora do "Memórias...e outras coisas...")

Rejeito os olhos vãos, de olhares pagãos, rejeito a mentira a falsidade, que arde em línguas perversas e espalha a podridão a sujidade, os dejectos e cinzas no chão de vidas inocentes!
Rejeito as mentes poluídas, que castram os sonhos, cortam as asas e impedem o voo de seguir mais além. Rejeito os dias inúteis, os choros em vão, os cansaços e tédios, as raivas, invejas, infâmias que matam ou causam difamação.
Rejeito as primaveras sem flores, os corações sem amores, o céu sem estrelas, a noite sem luar, rejeito tudo e todos aqueles que nunca aprenderam o verdadeiro significado da palavra amar.
Rejeito os que tentam encantar com o seu desencanto, armados em santos e santas, cantando hinos Gregorianos, escarnecendo com vozes esganiçadas corações partidos e vidas destroçadas.
Esta angústia que em mim vive permanente, vai rejeitar ontem hoje e sempre os olhos vãos de olhares pagãos, que fazem da vida alheia uma eterna perseguição.

Maria da Conceição Marques
, natural e residente em Bragança.
Desde cedo comecei a escrever, mas o lugar de esposa e mãe ocupou a minha vida.
Os meus manuscritos ao longo de muitos anos, foram-se perdendo no tempo, entre várias circunstâncias da vida e algumas mudanças de habitação.

O vinho do Porto e a sua idade

 O Alto Douro Vinhateiro, não se representa e não é representado, pouco se fala e pouco é falado. Apesar de ser a região onde se cria um dos mais valiosos produtos nacionais que leva longe o nome de Portugal deliciando com o aprecia, não consegue organizar-se a uma só voz enquanto setor de atividade de maneira que se reflita e se discuta o que é essencial e estruturante.
Prefere andar de trica em trica e de acusação em acusação. Não se pensa, nem se planeia preferindo andar ao sabor do vento e ao gosto das vaidades, convencido que lhe bastam as maravilhas da paisagem e a excelência dos vinhos que quase se pode dizer inevitável mercê das condições naturais e justamente se diga, do que se foi aprendendo.

Ainda recentemente veio para cima da mesa um problema por causa de umas análises científicas feitas a um conjunto de garrafas de vinho do Porto classificado como Tawny de 10 anos feitas na Holanda. Concluíram os cientistas que os vinhos em algumas garrafas não tinham aquela idade e nada tardou que se espalhasse a ideia de que no Alto Douro existe trafulhice e se vende gato por lebre.

Enquanto isso, na região, quase se não soube. Nem uma leve brisa fez mexer uma parra nas videiras, num modo de dizer, já que se anda na poda num ciclo que tudo faz renascer. Poucos ou nenhuns rabos se remexeram nas cadeiras dos escritórios, digo eu, pouco ou nada se falou, ninguém se mobilizou para discutir e esclarecer. Devem ter-se feito uns telefonemas e pouco mais entre quem tem mais escala, mas no resto o assunto passou e estar a passar como se nada houvesse.

No entanto, há coisa e pode ser da grossa. Basta que os burocratas da União Europeia que se preocupam imenso com assuntos do género do calibre dos tomates, e podemos vir a ter o vinho entornado no balsão. Se não houver engenho para lhes fazer ver que um Tawny não é um vinho de um só ano, nada lhes custa obrigar a que assim seja, não se importando com as consequências, pois semelhante medida leva a que se alterem significativamente coisas importantes.

Não me cabe agora aqui dissecar o assunto por não ser este o lugar nem eu a pessoa indicada, mas posso deixar de referir que se calhar houve e há alguma marosca em alguns milhares de garrafas. Algumas podem não conter o tal sol engarrafado de que falava o poeta. Quando muito têm umas réstias por entre as nuvens.

Enquanto pessoa que vai observando de oras em quando, bato na minha e lamento a falta de observação, de atenção e de união que não deixam de grassar por esta nossa abençoada região afora, onde os agentes da fileira do vinho se dedicam quotidianamente a peneirar-se com a beleza dos rótulos, com o nível das cubas e com os ferrolhos dos armazéns feitos adegas do mais moderno que existe.

No Alto Douro felizmente granjeiam-se muito bem as vinhas de onde se fazem vinhos de estala, mas não se cultivam convenientemente os bardos onde podem medrar o se respeitar e o ser-se respeitado. Nem sequer desponta maneira que dê em fruto com espírito de classe. Somente a postura do cada qual por si continua a se enraizar.

Na região deixou-se que a representatividade fosse definhada pela moléstia, mas continua-se a discuti-la feroz e mal-educadamente como se tivesse sido ontem a desdita. Vinte e cinco anos depois, o Titanic na Rua dos Camilos na Régua continua encalhado apesar de ter à porta a estátua de um paladino a apontar o caminho. Aliás pouco falta para que poucos saibam o que foi.

Olhem, nisto tudo perdi-me! Não sei se é da idade ou se é porque a garrafa do Tawny já vai para baixo de meia. Aprecio e sei que contém um lote de vinhos que adquiriu as nuances de um vinho com a idade indicada no rótulo.

Não digo qual é para não causar inveja. Mas por favor organize-se quem tem que se organizar, mobilize-se quem tem que se mobilizar. Digam aos burocratas que por vezes só estorvam, e aos mixordeiros que tenham juízo e não prejudiquem quem está com eles à mesa, seja neste caso se os há, seja em qualquer outra ocasião noutro dia e noutro lugar.

Manuel Igreja

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Capitão Fausto rumaram a Bragança para começar a festa dos dez anos de “Gazela”

 Os Capitão Fausto começaram, este fim-de-semana, uma digressão de seis concertos, para assinalar os dez anos do álbum de estreia. Bragança foi a cidade escolhida para o arranque dos festejos


A banda, formada em 2009, decidiu presentear os fãs com uma digressão de norte a sul do país, que terminará, em Março, nos coliseus de Lisboa e do Porto. A “Com Licença 2022” serve para celebrar “Gazela”, o primeiro álbum dos Capitão Fausto.

O Teatro Municipal de Bragança emprestou palco aos lisboetas para o arranque das comemorações. Um espectáculo bastante especial, considerou Domingos Coimbra, um dos cinco elementos da banda. “Já não tocávamos há anos em Bragança. Lembro-me de tocarmos, há vários anos, no Pub Central e, depois, no Quintanilha Rock. Em 2019, quando lançámos 'A Invenção do Dia Claro' não passamos por cá e sempre quisemos voltar. Portanto, foi com agrado que começámos aqui a digressão, bem a norte, onde somos sempre muito bem recebidos. Da nossa parte, como já não tocávamos há algum tempo, havia receio de estarmos um bocadinho enferrujados, mas correu melhor do que aquilo que estávamos à espera”.

A digressão é uma verdadeira festa de anos para o álbum de estreia, mas, para o reencontro com o público, os Capitão Fausto prepararam concertos que percorrem os seus maiores sucessos e os temas mais emblemáticos. “Pensámos, quando começámos a preparar esta digressão, se faria sentido tocar o nosso primeiro álbum na integra. Achámos que não chegava. Tocámos algumas músicas do 'Gazela', como que um piscar de olho, mas decidimos, como estamos há muito tempo sem ir a alguns sítios, trazer um universo mais alargado”, explicou o baixista sobre esta “digressão buffet”.

Os Capitão Fausto foram a última oferta cultural do mês de Janeiro, mas, segundo João Cristiano Cunha, director do teatro, o que não falta são bons motivos para visitar o espaço nos próximos três meses. “Destaco desde logo o 'Vinte e Sete – Festival de Teatro', que já fazemos há alguns anos, com o teatro de Vila Real, começa no dia 26 de Março, com uma peça para os grandes públicos, 'A Ratoeira', de Agatha Christie, que está no guinness por estar em cena há mais de 60 anos. Vamos, no dia seguinte, comemorar o Dia Mundial do Teatro, com uma peça para bebés, 'Pinóquio'. Destaco ainda uma co-produção do teatro de Bragança, que se chama 'Selvagem', sobre os caretos, onde participarão três do distrito, nos dias 8 e 9 de Abril. Este festival estende-se até dia 30 de Abril, acaba com 'Última Hora'. Fora do festival, mas em Abril, dia 24, temos 'Por Terras de Zeca', um tributo à obra de José Afonso. Destaco depois outras peças, fora desse festival, nomeadamente a 'Cochinchina', de Sandra Barata Belo, dia 11 de Março. Destaco ainda, a nível musical, 'Lisboa Poetry Orchestra', com a participação do conservatório de música e dança de Bragança, dia 16 de Março, e alguns mais comerciais, dia 19 o Noiserv e dia 26 de Fevereiro o António Zambujo. Temos ainda, de 14 a 16 de Abril o 'Live in a Box', que acontece em simultâneo em Bragança, Lisboa e Faro”.

Terminou com os Capitão Fausto o primeiro de quatro meses repletos de bons convites para ir ao teatro. Depois de Bragança, a banda lisboeta segue para Braga, onde actua na sexta-feira.

Os Capitão Fausto terminam a digressão nos coliseus. No de Lisboa estão no dia 12 de Março e no do Porto no dia 17.

Escrito por Brigantia
Jornalista: Carina Alves

A revolução em Miranda em 1808

As ordens de Sepúlveda produziram o efeito desejado por toda a parte; Moncorvo e Miranda fizeram imprimir relações especiais do modo como tinham corrido as coisas relativamente à aclamação do Príncipe Regente.
A desta última intitula-se: Relação Fiel Exacta da Revolução de Miranda do Douro. 
Dela vamos extractar as notícias seguintes: 
Os estragos que Miranda do Douro sofreu na guerra de 1762, a reunião do seu bispado ao de Bragança e a transferência para esta cidade do seu regimento, reduziram-na a uma notável decadência; ainda assim, no seu povo conservaram-se vivazes os sentimentos do mais fervente patriotismo.
Logo que ali se soube da retirada do Príncipe Regente, mais tarde D. João VI, para o Brasil, os mirandeses fizeram uma novena ao Senhor Jesus da Misericórdia dirigida pelos Padres Trinos Descalços, cuja Ordem ali tinha convento, rematada com ofício solene pelas almas, à qual assistiu sempre clero, nobreza e povo, destacando-se, em especial, o então juiz de fora Joaquim José de Gouveia Osório, implorando o auxílio divino sobre a nação portuguesa.
Em todo o território de Miranda não houve suspeita de algum homem influenciado do espírito francês, nem desta cidade ou termo saiu dinheiro algum de contribuição ou prata das igrejas, devido ao retardamento que os ministros encarregados do Governo daquela comarca iam fazendo no aviamento dos frequentes pedidos e ordens vindas do Governo central francês.
No dia 13 de Junho, logo que Miranda teve conhecimento da revolução de Bragança, o capitão das ordenanças, vereador da Câmara Municipal, João Baptista Ferreira, saiu pelas ruas da cidade aclamando o Príncipe Regente, a casa real de Bragança e a morte de Junot e Napoleão.
O doutor juiz de fora e o povo aderiram imediatamente a este movimento. Na noite desse dia «illuminou-se festivamente a cidade, repicaram-se os sinos, houve fogos de alegria, bandos e epigramas e descobriram-se as armas reaes» e assim se continuou por três dias e noites. Iguais festejos se fizeram depois, com um Te-Deum em acção de graças, quando se recebeu o ofício do general Sepúlveda.
Estes festejos não correram sem susto, porque logo constou a notícia de que um exército francês se aproximava, na força de vinte mil homens, pelos lados de Zamora, e ao tempo Miranda não tinha armas, nem munições; apenas possuía meia arroba de pólvora, e nem sequer um soldado de guarnição! Para logo se organizar uma Junta provisória subalterna à Suprema, da qual é nomeado presidente e governador da praça o dito juiz de fora, que em caloroso discurso incute ânimo aos tíbios.
A Junta manda a Zamora pedir armas, pólvora e bala, de cuja incumbência se encarregou um frade e um cidadão. Outro frade trino pôde obter de Bragança oito arrobas de pólvora e a competente bala; um cordão de Ordenanças se estende pela raia, circuitando a cidade numa extensão de quatro léguas, com o fim de avisar do ocorrido; um corpo de guarda, composto de padres, comandados pelo abade de Duas Igrejas, frades pelo seu geral e paisanos pelo dito capitão de Ordenanças, é organizado para defender a cidade. Manuel Álvares de Frias, ajudante da praça, muito se salientou instruindo nas manobras esta gente.
A deputação mandada a Zamora nada trouxe em razão dos apuros em que estava essa cidade, esperando por momentos o ataque do general Bessieres, na força de dezoito mil homens, o que não teve lugar, retrocedendo Bessieres para Burgos, e por isso foi levantado o cordão de observação posto a Miranda, ficando somente na praça a guarnição do interior até 29 de Setembro, que foi rendida por duas companhias de milícias que apenas se conservaram por oito dias.
«Cumpre também dizer, que quando sahiu o exercito de Coimbra, para ir arrostar o inimigo e libertar Portugal do tyrano jugo que o opprimia, fizeram os habitantes de Miranda préces publicas pelo bom successo das armas portuguezas, com uma procissão de penitencia muito edificante, animada com praticas muito pateticas e persuasivas, a que se prestaram promptamente os religiosos Trinos. E quando depois se annunciou a feliz victoria do Vimieiro, logo o senado mandou celebrar uma função solemnissima, em que prégou o R. Abbade de Sendim uma oração digna de tão magestoso assumpto; rematando-se esta solemnidade com uma procissão de tarde, que será sempre memoravel naquelle paiz, pela magnificencia das insignias e andores ricamente adornados e pelo grande concurso de clero, nobreza e povo de todo o districto, todos alegres e festivos por um motivo tão feliz. E ultimamente se concluiu todo aquelle acto gratulatorio, com uma grande illuminação, festejada com fogos e bandos de alegria, resoando por todas as ruas os vivas jucundos: Viva o Principe Regente! Viva a Casa de Bragança! Viva Portugal e morra o traidor!».
Moncorvo mandou imprimir também a Relação dos seus acontecimentos.
No ofício dirigido a Sepúlveda, transcrito nela e assinado pelo capitão de infantaria António José Claudino, datado de Moncorvo a 20 de Junho de 1808 lê-se: «o entusiasmo do povo d’esta villa, continúa no maior excesso clamando a V. Exª nosso libertador».
Os festejos que se fizeram a Sepúlveda foram estrondosos: os repiques de sinos, os vivas e as aclamações retumbavam por toda a parte onde ele passava. Vila Real recebeu-o com o maior júbilo no dia 9 de Julho, quando se dirigia para o Porto, em obediência no chamamento da Junta dessa cidade. Com não menor entusiasmo festejou a sua vinda, a 7 de Outubro de 1808, o Peso da Régua. Houve discursos, tanto de um como de outro senado, onde se lhe fizeram os maiores elogios, os quais podem ver-se na obra que vamos seguindo.
Entretanto, a Inglaterra, que com gente, armas e dinheiro tinha auxiliado as nações da Europa contra os franceses, sem resultados apreciáveis, pois as águias imperiais esvoaçavam, audazes, de capital em capital, dando leis nos palácios dos próprios imperantes, resolve-se a tentar a sorte pelo lado de Portugal.
Sir Arthur Wellesley, mais tarde lord Wellington, comanda, em chefe, esse exército, onde Beresford militava como general.
Logo a 21 de Agosto de 1808 se dá a batalha do Vimieiro, primeiro revés sofrido pelas armas francesas na península, que deu em resultado a evacuação de Portugal e a convenção de Sintra.
Infantaria 24 e cavalaria 12, pertencentes à guarnição de Bragança, estiveram nesta batalha; aquele em número de trezentas e quatro praças, comandadas pelo major Cunha, e este no de cento e quatro, pelo capitão Francisco Teixeira Lobo.
A convenção de Sintra foi altamente afrontosa para Portugal, por culpa dos ingleses; mas estes nossos antigos e fiéis aliados nunca o fazem por menos, tratando-se de coisas portuguesas. Assim o mostra a história, logo desde que o nosso mau fado os trouxe cá, no tempo de D. Fernando, até hoje. Sempre britânicos, sempre danaos de fé púdica, de quem é preciso desconfiar ainda mesmo quando oferecem dádivas.
As extorsões, prepotências e brutalidades que em Portugal praticaram os ingleses durante esta campanha, e mesmo depois, pouco cedem em violência às dos franceses.
É certo que Bragança e o seu distrito não sofreram directamente as incursões do inimigo; mas nem por isso experimentaram menos as suas funestas consequências. Estas lutas desorganizaram tudo; a miséria campeava por toda a parte.
O sistema adoptado por Wellington de reduzir os franceses pela fome, destruindo quanto lhes podia ser útil e não era de fácil transporte para o campo entrincheirado de Torres Vedras, estabelecendo assim entre uns e outros o deserto, o eremavit regionem illam dos chronicons das lutas asturo-leonesas com os árabes, motivou uma fome geral proveniente de não se fazerem a tempo as sementeiras.
Bandos de salteadores infestavam a região.
O corregedor de Moncorvo dava conta ao intendente geral de polícia, em 24 de Maio de 1812, que haviam sido roubadas as igrejas de Miranda do Douro e S. Tiago de Valada (sic, deve ser Aveleda, anexa de S. Vicente da Raia), no termo de Monforte de Rio Livre.
Demais, as próprias tropas, nossas correligionárias, contribuíam para aumentar a miséria com suas travessias pelo distrito bragançano. Além das já mencionadas e outras que se irão vendo, em Outubro de 1809, o general espanhol D. Francisco Bellesteros, à frente de oito mil homens, organizados nas Astúrias, tentou senhorear-se de Zamora e, como o não conseguiu, entrou em Portugal por Miranda do Douro a fim de se unir ao duque del Parque, em véspera de ser atacado pelo general Marchand.
Ao abrir a campanha de 1813 contra os franceses, entendeu Wellington que o melhor plano a seguir era marchar através da província de Trás-os-Montes. Para este fim, uma parte do seu exército, constituindo a ala esquerda, deveria atravessar o Douro, dentro do próprio território português, passar à citada província, dirigir-se pela margem direita do mesmo rio até Zamora e, finalmente, atravessar o Esla e ir depois unir-se às forças de Galiza, enquanto que o resto do exército, vindo de Águeda, forçaria a passagem do Tormes.
Efectivamente, em 21 de Maio de 1813, a cavalaria inglesa, que tinha invernado nas imediações do Mondego, fez junção em Bragança com a cavalaria portuguesa, que tivera a maior parte de seus quartéis de inverno na província de Trás-os-Montes, e marcharam para o interior da Espanha seguidas por um grande número de divisões de infantaria e equipagens de pontes, formando com a respectiva artilharia um total de quarenta mil homens sob o comando do tenente-general sir Thomas Graham, imediato a lord Wellington, que comandava a ala direita, e ao qual se foi reunir em Toro.
Corre em Bragança uma tradição, segundo a qual esta cidade deveu aos bons ofícios do banqueiro Perier, de Bordéus (cuja família era daqui oriunda), perante Napoleão o não ser invadida pelos franceses.
Não sabemos até que ponto ela é fundada, mas parece-nos pouco plausível se atentarmos ao seguinte: «Foi a vila de Amarante — diz Soriano — a que em 1808 teve a glória de fazer suspender a marcha ao general Loison, quando em Junho desse ano se dirigia de Almeida para o Porto, e a de ter igualmente em Abril de 1809 salvado as duas províncias de Trás-os-Montes e Beira dos estragos e mortes de que as ameaçava a invasão das tropas francesas no referido ano, pois que daí as fizeram retrogradar com grande perda».
«Nesta terceira e última expulsão — diz ainda o mesmo escritor — dos franceses para fora de Portugal, não só foi digno de louvor o exército português, como o testificaram as partes oficiais de lord Wellington, mas igualmente os corpos de milícias ou de segunda linha, porque, enquanto muitos destes se haviam recolhido às linhas da capital (Torres Vedras) e na sua defesa haviam sido empregados, muitos outros houve igualmente que pela rectaguarda do inimigo operavam ofensivamente, prestando com isto magnífico serviço.
Foram efectivamente as milícias do general Silveira e as dos coronéis Trant, Wilson e brigadeiro Muler as tropas que no norte do reino tornaram suportável a existência do exército francês de Massena no coração do país, pois que, a não serem as sobreditas divisões milicianas do dito general e coronéis, as forças de Dronet ter-se-iam seguramente apoderado do Minho, Trás-os-Montes e Beiras de onde em tal caso viriam todas as provisões necessárias para as tropas francesas de Massena, de que resultaria malograr-se a principal base do plano de defesa de Wellington, pois que parecia assentar principalmente na falta de provisões para o exército francês na Extremadura».
Ainda assim, sabe-se que em Junho de 1809 o exército de Soult, concentrado nas proximidades de Puebla de Sanábria, lançou um reconhecimento sobre Bragança, não ultrapassando a povoação de Rabal, a sete quilómetros desta cidade. A tradição local ainda refere os horrores cometidos pelos franceses na povoação de França, contígua à de Rabal, ao que se refere o seguinte documento que, por desconhecido, aqui arquivamos: «Diz o juiz da igreja, e mais povo do lugar de França que na nefanda desgraça que occasionaram os inimigos, além de outras notaveis perdas também tiverão as dos livros de sua igreja, assim fazendo-se essencialmente necessarios os assentos dos baptizados, e cazamentos, ao menos, d’aquellas pessoas, que por informação de outras melhor se puder averiguar P. A. V. Srª Sr. D.or V.o G.al seja servido dar comissão ao seu R.do Parocho para lançar em livros destinados n’esse fim os mencionados assentos. E. R. M.cê.
Despacho. Pela presente dou comissão ao R.do Parocho para que tomadas as obrigaçoens necessarias e segundo o resultado das mesmas abra os assentos competentes nos livros respectivos, e nos mesmos fará resistar este. Bragança 15 de outubro de 1809. Morais».
Depois, logo em seguida e antes do primeiro assento, tem: «Livro dos assentos dos baptizados do lugar de França, freguezia de S. Lourenço, abertos de novo pela comissão retro, por serem queimados os antigos pelo inimigo». Consta, pois, este documento do livro dos baptizados da freguesia de França, relativo ao ano acima (fl. 1).
Também referente ao mesmo se encontram no livro dos óbitos da freguesia de Rabal, relativo ao ano de 1809 (fl. 169 v. e 170), os assentos de Estêvão Afonso e Francisco Lourenço, naturais de Rabal, nos quais se declara que foram mortos pelos franceses nos dias 25 e 26 de Junho de 1809 no termo de Calabor, Espanha, povoação confinante da de França. Ao actual pároco de Rabal e França, José Miguel Machado, um sacerdote ilustrado e digno, agradecemos a boa vontade com que nos facilitou a inquirição destas notícias nos livros do registo das suas freguesias.
Na Gazeta de Bragança, de 25 de Abril de 1909, transcrevemos um assento de baptismo que se encontra nos livros de Montesinho, freguesia de França, feito a 6 de Fevereiro de 1809 de uma menina de uns espanhóis nobres, a julgar pelo longo estendal de avós que ostenta até à nona geração, tanto pelo lado paterno como materno, por nos parecer que essa família se encontraria aí retirada em razão da guerra.
Quanto aos dois homens de Rabal, mortos pelos franceses, contou-nos um velho, por o ouvir dizer a seus pais, que esses ferozes devastadores os tinham levado da povoação carregados de vinho, como se fossem jumentos, e chegando ao termo de Calabor, barbaramente os mataram, porque, já extenuados, não puderam aguentar mais adiante!!!
Nem só estes rastos de sangue deixaram esses inclementes assassinos!
Em Montesinho mataram outro homem, e no livro dos óbitos de Calabor, freguesia vizinha do reino de Espanha (fl.18 v.), acha-se este termo: «En el dia doze de agosto de este ano (1809) dei sepultura ecclesiastica en esta parrochia a dos soldados de caballaria portuguezes que en el dia diez de dito mez mataron los franceses en la Campiza, no pude saber su nombre ni su patria, y lo firmo Janez».
A Campiza (Campiça) é um monte português pertencente à freguesia de Aveleda, confinante da de Calabor.
E no mesmo livro (fl.17 v.) se acha mais o seguinte:
«En el dia treze de octubre del año de mil ochocientos y nuebe se hicieron los oficios por el anima de Juan Rodrigues, soltero natural de este lugar hijo legitimo de Juan Rodrigues y Cathalina Chimeno difuntos y veziños que fueron de este de Calabor, a quien uno de los soldados de la Division franceza mandada por el General Sul Duque de la Dalmacia que inundo la Sanabria en el dia veinte y tres de junio de este año hasta el veinte y seis de mismo, quito la vida de un balazo en un cabuerco del termimo de este lugar... era de edade de veinte y nuebe años y cerca de medio... e para que conste lo firmo dito dia, mez, y año ut supra. D. Clemente Janez de Santalla».
O roubo e o morticínio assinalaram a trajectória do reconhecimento, divisando-a com padrões de sangue de que ainda restam documentos autênticos. No intuito de o determinar e recolher alguns, dirigimo-nos a 5 de Julho de 1909, em companhia do nosso amigo José Miguel Machado, digno pároco de Rabal, para a região de Puebla de Sanábria, examinando de preferência os arquivos paroquiais.
No folio 117 v. do livro de defuntos de Pedralva encontramos, assento, a declaração de que «con la veinda de los franceses a estes (sic) logares aparecio muerto Francisco de Barrio vezino de este pueblo, en el terminio de Portello reyno de Portugal, com varias eridas en el pecho las que se presume recebio de mano de los franceses».
No folio 186 de um livro idêntico, pertencente à freguesia de Lobeznos, encontram-se dois assentos de óbitos e neles a declaração de que os defuntos a quem dizem respeito não receberam «la Santa Uncion por averla llevado los francezes».
Eram de prata os vasos que a continham, razão bastante para, aos olhos destes iconoclastas sacrílegos, se justificar o seu roubo.
No folio 187 deste mesmo livro lê-se: «En el dia veinte y ocho de julio de mil ochocientos y nuebe, se cumplio el entierro de Juan de Castro marido de Rosa Rodrigues de esta vecindade de Lobeznos, que murio violentamente a manos de los francezes el dia veinte y tres de junio de el dicho año, en cuio dia entrarom en este lugar, y estubo por sepultar hasta el veinte y ocho del mismo mez que marcharon los francezes».
Daqui concluímos que, não se encontrando nos arquivos das freguesias limítrofes de Requejo, etc., por nós visitados, notícias referentes aos franceses, o reconhecimento lançado por estes sobre Bragança marchou directamente das proximidades da vila espanhola de Puebla de Sanábria por Lobeznos, Pedralva e Calabor em Espanha, seguindo depois pelas freguesias portuguesas de Portelo, França e Rabal.
Devemos aqui agradecer a D. Manuel Jesus Fernandez, virtuoso e ilustrado catedrático e vice-reitor do Seminário de Zamora, natural de Lobeznos, a D. Magin Fernandez y Fernandez, pároco de Terroso, e ao actual pároco de Puebla de Sanábria a cativante boa vontade com que se prestaram a auxiliar-nos nestas investigações.
Por ter relação com esta guerra, damos aqui a seguinte notícia que se encontra manuscrita no Livro de Cazados de la villa de la Puebla de Senabria que da principio en 1720 (fl. 268).
Certamente seus efeitos se ressentiriam em Bragança e região ao norte do seu concelho, dada a estreiteza de relações comerciais, ainda hoje muito vigorosas, entre os povos de uma e outra nacionalidade. Diz ela:

«NOTICIA MEMORABLE
En este año de mil ochocientos y doce despues de estar sufriendo una guerra de las mas lamentables á causa de estar quasi toda la España inundada de francezes de los que emos esperimentado saqueos, muertes, cercos y los mas funestos desastres aun en esta villa la que á librado quasi mejor estamos sufriendo una hambre tam inaudita que en pocos anales se abera leido. En el mez de maio del dicho año valio la mina de pan de trigo a ciento dose reales velon, son quatro celemines. El centeno en mina a novienta y cinco reales. El vino su quartillo a quinze quartos».
A mina equivale a vinte litros, pouco mais ou menos, o real a quarenta e cinco réis, ao câmbio de novecentos réis o duro, e o quarto a dez réis.
«Habiendo amenazado una destruicion total de todas las cozas con la entrada de los Barbaros y crueles francezes en esta tierra, procuré estar prevenido y esconder las alajas de plata y ropas de la Iglesia, las que, pasado algum tiempo, saqué algunas para el servicio y uso necesario, las que en el dia viente y tres de junio de este presente año unas llevaron y otras destrozaron; por haber cogido á toda la tierra de repente, sin mas tiempo que poder escapar.
Llevaron um Calix, el Copon, la capa del viatico, y Criemeras.
Destrozaron tres albas finas, tres de lienzo con todos los amitos, sabanillas de altares con sus paños. Binageras, Capa de Damasco negro, y todo lo que se deja conocer de cemejante crueldad de gentes; y para que conste lo firmo, Terroso y julio 2 de 1809. Tambien destruyeron y llevaron bastante pan de la Iglesia. Moro».



Memórias Arqueológico-Históricas do Distrito de Bragança

DO COMEÇAR AO ESCALAR – UMA ERA DE PARTILHA ESQUECIDA ?!

 par·ti·lhar por definição significa, fazer partilha ou a divisão em partes de = COMPARTILHAR, COMPARTIR, DISTRIBUIR, DIVIDIR, REPARTIR “, in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa.

Como já perceberam, hoje vou falar (escrever) sobre partilha no seu todo e como precisa de ser assumida para uma região escalar o seu potencial. Volto ao mesmo de sempre somos uma região com imenso potencial, no termo de ser uma potência na economia nacional e internacional…mas como também sabemos não é por sonhar que “acontece”. É preciso fazer pelas oportunidades.

Falta escala a este “reino maravilhoso”. E como se consegue escala, numa região que também recebe todos os dias o sol? Partilhando!

Partilhando conhecimento, factos, necessidades, subprodutos, soluções… Para quê? E para quem? Para a oferta e para a procura. Por exemplo para as atividades do setor agrícola, florestal, pecuário: para as poucas startups que se afirmaram nos últimos 10 anos neste território; para os residentes e visitantes desta região.

A Comissão Europeia na sua agenda verde (talvez a mais desafiante da história) assume a necessidade escalar a partilha, nomeadamente do conhecimento, porque será?!

Comecemos então pelo conhecimento: assumo como triste que haja partes interessadas que não queiram partilhar conhecimento. Falo nomeadamente do que vejo diariamente quando passo p.e., ao lado de complexos industriais, agrícolas, em quintas do nosso Douro Superior envelhecidas pelo seu desuso, de leitarias que nunca foram utilizadas..etc., ou seja, exemplos de atividades que perderam o seu potencial no tempo.

Claro que sabemos que existem barreiras técnicas, sociais, culturais e de governação, e que muitas são colocadas a quem quer ajudar, ganhar, partilhar… Mas do que nos serve então o saber se não o partilharmos, não capacitarmos à nossa volta, não identificarmos e potenciarmos o crescimento, seja ele público e privado.

Outra questão para reflexão, qual é o valor que as pessoas atribuem ao seu território, ou melhor, às funções do mesmo?!

É pela partilha que conseguimos informar, desagregar e desmistificar necessidades, lobbies, é sentados na mesma mesa que conseguimos com facilidade criar escala. Escala traduz-se em influência, redes de trabalho fortes, com potencial para implementar modelos de negócios disruptivos mas necessários.

De que nos serve ter as terras, se não há mão de obra para as cultivar, e quando falo em cultivar não me refiro apenas à alimentação humana, porque aqui não faltam hectares para agricultura mas também para o fabrico de matérias primas que serão substitutos de materiais que estão a escassear, falo de soluções de base biológica.

A semana passada ouvi dizer ao “pai” do Senhor que desenhou o Plano de Recuperação e Resiliência para este país, que “não nos deveríamos ter divorciado da natureza”. E não tecnicamente falando, pagaremos muito caro por esta decisão que nos foi imposta também pela UE nos tempos em que ouvia dizer que seriamos uma europa de serviços!!

Mas se a Natureza é uma tendência necessária, então precisamos de ter escala fora e dentro desta região, o que se traduz em:

Pessoas que tenham vontade de aprender (independentemente de serem ou não “santos da casa”);

Investigar, desenvolver, inovar;

Criar em tempo útil novos mercados neste território, soluções resilientes em todas as suas frentes.

A agricultura neste território é sem dúvida um dos setores estratégicos, mas não foi por isso que foi financiado qualquer projeto mobilizador no PRR. Porquê? Não foi por falta de tentativa, mas a verdade é que provavelmente os projetos não foram desenhados com uma estratégica integrada robusta, com influência. Apesar de se demonstrar a necessidade de uma cadeia de valor circular no seu todo, nos últimos anos, este setor não se escalou em todas as suas fases e isso deixou marcas. Falo de um setor de atividade que não "se une todas as pontas”.

Sabemos que é preciso partilhar para sermos incluídos. Partilhar sobretudo exemplos. A partilha de exemplos pode vir de uma ampla gama de áreas onde p.e. incluem plataformas digitais, mas não só.. redes, iniciativas, projetos, partilhem-se então iniciativas inteligentes desenhadas para potenciar a possibilidade desta região se afirmar economicamente, crie-se uma ECONOMIA DE PARTILHA, caso contrário, daqui a 50 anos não teremos histórias de valor para partilhar..

Partilhar não significa generalizar as funções do que se faz em cada município ou equivalente, ou perder o genuíno, a identidade. Partilhar entra no segundo princípio da economia circular pois só assim se consegue ter uma economia de alto rendimento…

É triste ver programas eleitorais, de ação estratégica, ou outros, que não estão orientados para o potencial da região…

Desenhar e produzir com padrões mínimos de sustentabilidade é sem dúvida um desafio “desmotivador”, não é por caso que a etiqueta mais comum é “made in china”, mas partilhe-se este modo de vida e de negócio também nesta região, para amortecer os lobbies, para educar os consumidores e atrair os investidores!

E dos nossos dias de lazer, partilhem-se sabores, paisagens, trilhos, terras, pessoas, partilhe-se um território que precisa de ter influência para ser influenciado.

Do começar ao escalar vai uma boa dose de partilha, eis, pois uma Economia Circular!


Artigo de opinião escrito por Bárbara Rodrigues – Técnica Superior na empresa Resíduos do Nordeste e representante da Comissão Técnica de Acompanhamento de Políticas de Gestão de Resíduos

A “saúde” das ervas | Medicina popular

 A saúde e as ervas medicinais


“Durante milhares de anos, o homem guiado pelo mesmo instinto que hoje leva outros animais a se purgarem com certas ervas escolhidas, ele seleccionava na natureza os vegetais para a cura dos seus males.

E, ao organizar-se em comunidades começa a transmitir às gerações futuras o “fruto do saber” — os celtas, nossos remotos antepassados, conheciam perfeitamente as propriedades das fontes termais e são imitados pelos legionários romanos;

os chineses e os egípcios ensinaram as propriedades do ópio, da romã, do ruibarbo;

os gregos e os romanos definiram a utilização das sementes de rícino, da beladona ou da misteriosa mandrágora;

os gauleses trouxeram o conhecimento do visco-branco da verbena, da centáurea, da milfurada, do meimendro e da salva.

Entre fitoterapeutas, clérigos e alquimistas foi-se então desenvolvendo o estudo das plantas medicinais e, passados assim os séculos, chegamos agora ao que se convencionou chamar a época moderna — com o fim do reino dos “remédios naturais”.

Contudo, novas correntes científicas e de forma de vida, uma espécie de regresso às origens e à natureza, configura-se entre a actual classe médica, botânica, farmacêutica ou ambientalista que prima pela valorização do melhor de cada sistema medicinal, tendo em atenção os perigos de qualquer um dos métodos.

Que assim seja. “

Tisanas e outros remédios                        

Chá de alecrim – Quinze gramas para um litro de água fervente; coa-se quando frio e toma-se em média três vezes ao dia, para: `

– estimular o apetite, a circulação sanguínea e as funções do pâncreas

– dores de estômago, dores de cabeça de origem nervosa, vertigens e perda de memória

– contra a queda do cabelo

– tonificante para os estados de depressão

–  estimulante cardíaco e combate as pressões altas

– para afastar os “maus olhados”

Nota: [a chá de alecrim] não deve ser usado por mulheres grávidas, por poder ser abortivo

Para atenuar os sintomas da menopausa – Beber uma infusão das extremidades floridas do hipericão, três vezes por dia.

Para combater as constipações e as gripes – Beber frequentemente chá quente de flor de sabugueiro e hortelã-pimenta.

Dores de cabeça e nevralgias – Tomar uma chávena de chá de betónica três vezes por dia.

Para dores reumáticas – Misture uma colher de chá de óleo de alecrim numa chávena de chá com azeite — massaje a região dolorida várias vezes ao dia.

Não passe uma noite sem dormir!

Para a insónia – Duas colheres de sopa de folhas secas de cidreira num copo de leite; aquecer e adoçar com mel. O sono vem mais rápido.

Para as inflamações dos olhos – Lavar os olhos com uma infusão de água das malvas a que se adicionou uma clara de ovo de galinha.

Contra as varizes – Ingerir duas a três vezes por dia uma infusão de trigo-sarraceno, pilriteiro e castanheiro-da-índia.

Para as depressões – Infusão de flores de alfazema, combinada com alecrim, tomada três vezes ao dia.

Combater as frieiras – Usar pomadas de flor de sabugueiro.

Para o desconforto das ressacas – Chá quente de hortelã-pimenta ou serpão; chá de flor de sabugueiro.

Para a tosse e bronquite – Xarope de agrião – Num litro de água deite mais ou menos duzentos gramas de agrião (folhas e talos) e deixe ferver cerca de um quarto de hora. Coe enquanto estiver quente e quando ficar morno, misture-lhe uns trezentos gramas de mel. Dá para a tomar uma colher de sopa duas vezes ao dia.

Nota: O agrião é a “erva para todos os fins”, visto pelo nosso povo como um dos melhores estimulantes e espectorantes, até com virtudes afrodisíacas e não menos utilizado como tónico (o seu sumo) contra a queda de cabelo ou misturado com mel para as manchas e sardas.

Síntese de usos medicinais das ervas      

Do alecrim às hortelãs

Alecrim – Auxiliar da memória; para estados depressivos; estimula a circulação sanguínea; ajuda a fazer a digestão das gorduras (folhas); problemas de fígado.

Agrião – Para a tosse e bronquite; contra as anemias por carência de ferro.

Arando (ou uva-do-monte)  – Para o colesterol e triglicéridos.

Alfazema – Alivia as dores de cabeça e acalma os nervos (flor); anti-séptico contra a acne (flor); tranquilizante.

Arruda – Lavagem do estômago; fortalecimento da visão; para lavar os olhos cansados (folha); antídoto contra certas mordidelas de cobras.

Borragem – Em dietas sem sal (folha); para o catarro e gripes; tranquilizante; depurativa e refrescante.

Erva-cidreira – Alivia o catarro provocado pela bronquite crónica; as constipações febris e as dores de cabeça (folha).

Erva de São Roberto – Para doenças do estômago.

Carqueja – Facilita a digestão e estimula a secreção da bílis; acção antibiótica; infecção da bexiga; pedra nos rins; para a arteriosclerose: hipertensão arterial; sinusite, bronquite, anginas e tosse.

Funcho – Estimulante do apetite; auxiliar da digestão; desinflamar as pálpebras e melhorar a visão; suavizar o hálito (sementes).

Nota: não usar em doses excessivas

Hipericão – Para atenuar os sintomas da menopausa; queimaduras menores do sol (óleo); para libertar a tensão.

Hortelãs – Prevenções de constipações e gripes; inflamações da garganta; tranquilizante; ajuda a digestão; para as lombrigas

Do louro ao poejo

Louro – Para enjoos e irritações nervosas, para abortar; para bronquites; ajuda a fazer a digestão e estimula o apetite (folha).

Nota: todos os loureiros, excepto o loureiro ­vulgar, são venenosos

Malva – Actua como laxante não agressivo; combate muitos problemas inflamatórios; usada para emagrecimentos.

Morangueiro-bravo – Para os nervos e contra a diarreia (folha) . – Em decocção, é um adstringente suave (fruto).

Nota: podem provocar reacções alérgicas

Néveda – “dor de barriga das mulheres”; dores “tortas” após o parto; dores do reumatismo.

Orégãos – Combatem a tosse, as dores de cabeça nervosas e a irritabilidade (extremidade florida).

Pilriteiro – Estimula a circulação.

Poejo – Eliminar vermes intestinais; facilita a digestão; tranquilizante para distúrbios menstruais.

Nota: é tóxica quando usada em grande quantidade.

Ao sabugeiro ao zimbro

Sabugueiro- Prevenção de gripes (flores); frieiras, mãos e pés frios (pomada de folhas de sabugueiro); desconforto das ressacas (flores).

Salva – Ajuda a digestão, a combater a diarreia (folha); gargarejos para as anginas.

Nota: não deve ser tomado em grandes doses por períodos muito longos

Salsa – Prevenção de perturbações renais; dores de torceduras; mau hálito; picadas de insectos.

Segurelha – Auxiliar da digestão.

Tanchagem – Para tratamento de furúnculos; problemas respiratórios (tosse, bronquite e catarros)

Tomilhos – Tónico digestivo; combate os incómodos das “ressacas”; constipações ou gargantas inflamadas (folha); ferimentos ligeiros; queda de cabelo.

Urtiga – Sangramento do nariz; purificação do organismo; anti-raquítica e anti-anémica.

Zimbro – Para tratamentos de eczemas, dermatoses, psoríase e outras doenças da pele; parasiticida externo (óleo de caule).

Índice terapêutico

Aftas: malva, sálvia

Aleitamento: hortelã

Amigdalite: malva, sálvia, tanchagem

Anemias: agrião

Apetite: alecrim

Arteriosclerose: carqueja

Asma: agrião, carqueja, sálvia, alfazema

Azia: carqueja

Bronquite: agrião, alecrim, tanchagem

Cálculos biliares: hortelã

Cálculos renais: carqueja

Calmante: erva-cidreira, hortelã

Ciática: arruda

Cicatrizante: alecrim

Circulação: alecrim

Cólicas menstruais: alecrim, arruda, poejo, sálvia

Depressão: alecrim, alfazema

Depurativo: carqueja, tanchagem

Diabetes: agrião, alecrim, carqueja, malva

Diarreia: sálvia, carqueja

Digestivo: agrião, alecrim, alfazema, arruda, carqueja, erva-cidreira, hortelã, poejo

Diurético: malva

Emagrecimento: malva

Enxaqueca: alfazema, arruda, hortelã, erva-cidreira

Expectorante: agrião, malva, sálvia

Faringite: sálvia, arruda

Feridas: sálvia, arruda

Fígado: carqueja, erva-cidreira, malva

Flatulência: hortelã, poejo, sálvia, alfazema, arruda, erva-cidreira

Furúnculo: malva, tanchagem

Frieiras: sabugueiro

Garganta: malva, sálvia

Gengivite: malva, sálvia

Gota: arruda, alfazema, carqueja

Hemorróidas: arruda, tanchagem

Hepatite: agrião, alecrim, carqueja

Icterícia: hortelã, poejo

Laxante: carqueja

Menstruação (ausência): agrião, alecrim, arruda, erva-cidreira, poejo, sálvia

Micoses: arruda

Náuseas: arruda

Obesidade: carqueja, malva

Piolhos: arruda, poejo

Pressão alta: alecrim, carqueja

Prisão de ventre: erva-cidreira, hortelã, malva, mancoliais, tanchagem

Queda de cabelo: alecrim, alfazema

Queimaduras: tanchagem

Regulador das menstruações: poejo

Reumatismo: alfazema, carqueja, poejo, sálvia

Sistema nervoso: erva-cidreira

Tosse: agrjões, alfazema, malva, oregãos, poejo, sálvia, tanchagem

Ulceras: alecrim, sálvia

Varizes: pilriteiro, tanchagem

Vias urinárias: carqueja

Vómitos: arruda, erva-cidreira, hortelã

Fonte: Etnobotânica – Plantas Bravias, Comestíveis, Condimentares e Medicinais, de José Alves Ribeiro, António Manuel Monteiro e Maria de Lurdes Fonseca da Silva, João Azevedo Editor, 2000