quarta-feira, 26 de janeiro de 2022

Construtora de Setúbal arrematou igreja leiloada em Bragança

 Uma construtora da zona de Setúbal, a Pb- Sociedade Imobiliária Lda, arrematou hoje a igreja do Convento de são Francisco de Bragança, um imóvel classificado como “monumento” que foi leiloado para pagamento de uma dívida a um empreiteiro.


A informação consta na página dos leilões eletrónicos, onde terminaram hoje as licitações deste espaço de culto, com a melhor proposta, no valor de 217 825 euros, apresentada pela Pb-Sociedade Imobiliária Lda, que tem sede em Sesimbra.

A empresa de construção civil, compra, venda, e revenda de bens, conforme a informação que sobre ela consta na Internet, licitou o valor mais alto e acima dos cerca de 137 mil euros de base do leilão.

A notícia de que a igreja foi leiloada está a gerar reação de incredulidade em Bragança por se tratar de parte de um dos mais emblemáticos edifícios da cidade, o secular Convento de São Francisco, um conjunto medieval do século XIII classificado como Monumento de Interesse Público.

O convento está sob a administração direta do Estado e a igreja e espaço envolvente é propriedade da Ordem Secular Franciscana de Bragança, uma organização de leigos que goza de autonomia, nomeadamente em relação à diocese de Bragança-Miranda, apesar de se tratar de um espaço de culto da religião católica.

O fim do leilão não significa a transferência imediata da posse, na medida em que a própria plataforma onde o mesmo decorreu (e-leilões) informa que “as reclamações ou o exercício de quaisquer direitos, nomeadamente de preferência ou remissão, devem ser sustentados junto do processo” que o originou e que, no caso, decorre, desde 2007, no tribunal de Bragança.

Todos os que licitaram neste leilão podem consultar o resultado durante os próximos 90 dias, segundo ainda os esclarecimentos dados na página.

Os problemas financeiros da ordem proprietária da igreja são conhecidos localmente há cerca de 30 anos, com várias dívidas de obras no local, alguma das quais chegaram a ser financiadas por dinheiros públicos.

A diocese de Bragança-Miranda esclareceu hoje, através de António Montes Moreira, bispo emérito que acompanhou o caso entre 2001 e 2012, que o imóvel pertence a uma fraternidade de leigos constituída “por três pessoas” e que se encontra insolvente há vários anos.

Ainda durante este episcopado, a fraternidade ficou inibida de movimentar contas bancárias pelos problemas que já vinham detrás, segundo disse, e que se traduziam num “pacote de dívidas” que não soube quantificar.

Um dessas dívidas a um empreiteiro deu origem ao leilão da igreja, que é o único património que a ordem tem em Bragança.

O bispo emérito disse ainda que ao longo do episcopado só conheceu “três pessoas”, que seriam quem constituía esta fraternidade de Bragança e pela qual a Lusa só conseguiu falar com Augusta Miranda, uma espécie de zeladora do espaço, que se queixou de ter ficado “sozinha” sem saber o que fazer.

Outro bispo, António Rafael, tentou convencer, há algumas décadas, a fraternidade a entregar o espaço de culto à diocese, sem sucesso, o mesmo resultado que se verificou mais tarde com a tentativa de o passar para a tutela do Estado quando foi instalado na parte do convento o Arquivo Distrital de Bragança.

A igreja do Convento de São Francisco é a maior de Bragança e apresenta uma das mais ricas coleções de arte sacra, além das descobertas que têm sido feitas, ao longo dos anos, durante as intervenções efetuadas no local.

Os frescos medievais na parte interior da abóbada e polvilhados pelo templo são também elementos distintivos deste imóvel, que guarda uma das duas imagens existentes na Europa de um Cristo alado.

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