terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

Danças tradicionais de Trás-os-Montes


Murinheira

Uma das mais típicas e saborosas danças trasmontanas (como o Passeado e a Carvalhesa). É acompanhada de gaita-de-foles, pandeireta e ferrinhos. Saber mais

Galandum

Canção dançada da região mirandesa, de sabor profundamente arcaico. É acompanhada de tamboril, gaita de foles, flauta pastoril («fraita», em mirandês), pandeiro, pandeiretas, castanholas, conchas («carracas»), ferrinhos e assobio dento-labial.

Vinte e cinco

Um dos «llaços» ou figuras da  Dança dos Paulitos*.

Começa por uma espécie de apelo do bombo, destinado a congregar os bailadores, os pauliteiros (em número de dezasseis).

Seguido da dança, executada instrumentalmente por gaita-de-foles, tamboril, bombo e castanholas, a que vem juntar-se o som seco da percussão dos próprios paulitos, atributo dos bailadores, numa curiosa e excitante polirritmia.

Muito espalhada nos concelhos de Miranda, Vimioso, Mogadouro.

*Dança dos Paulitos

(em que uns querem ver uma dança pírrica, outros uma dança ligada aos ritos da fecundidade) é, fora de dúvida, uma das preciosidades folclóricas de Trás-os-Montes, embora com correspondência noutros povos.

Carvalhesa

Uma das três danças típicas do termo de Vinhais, composta de quatro figuras e acompanhada por gaita-de-foles e ferrinhos.

Redondo

Dança pastoril, executada alternadamente em «fraita» e gaita-de-foles.

Fonte: Guia de Portugal, organizado por Sant’Anna Dionísio, V volume (Trás-os-Montes e Alto Douro), editado pela Fundação Calouste Gulbenkian

A Murinheira

A cultura não admite que a raia possa, à custa dos marcos divisórios das pátrias, ser barreira estanque ou qualquer coisa a assemelhar-se a qualquer muro de Berlim. É impossível que a raia estorve o convívio dos povos, sobretudo quando os ligam laços de interesses económicos, sociais, religiosos, familiares até, e portanto de sangue, de amor, além de tudo o mais que se possa imaginar e da necessidade social de boa vizinhança, de troca de tudo quanto seja vantajoso em trocar-se nesse mercado de plena reciprocidade. (…)

A Murinheira é uma canção certamente de origem galega. Encontrei-a em Cimo da Vila. Cantou-a a senhora Adosinda Preques.

Em Quintã, concelho de Vila Real, falava-se muitas vezes na murinheira, como coisa de tempos idos. E empregava-se a alusão ao canto ou à dança dela, como fazendo parte de chacota ou de ameaça contra alguém.

Exemplo:

Ó filhinho: se te não portas bem, danças a murinheira… Isto é: levas ou apanhas no pêlo.

E esta: espetou-lhe tais vergastadas pelas pernas adiante… Fez-lhe dançar a murinheira bem dançada!

E foram todas poucas!

Merecia mais!

Nos dicionários portugueses de que disponho, incluindo o Lello Universal, a murinheira é ignorada.

O dicionário galego apresenta-a desta forma: “Murinheira“, s.f., “Baile popular que executam um ou mais pares // Composição musical com que se faz esse baile…“.

O dicionário espanhol que tenho em uso, também desconhece a murinheira.

Ainda há muitas pessoas no norte de Trás-os-Montes que ouviram cantar e cantaram a murinheira, assim como a viram dançar ou ainda mesmo elas a dançaram.

A Murinheira – pauta musical


Recolha efectuada por António da Eira

Recolhida em Cimo de Vila – Chaves

Cantou: Adosinda de Jesus Preques (70 anos)

Fonte: Velhas Canções Trasmontanas, de António da Eira, 2005, edição do autor | Foto de destaque (adaptada)

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