segunda-feira, 28 de março de 2022

O TEMPO QUE DÓI

Por: Maria da Conceição Marques
(colaboradora do "Memórias...e outras coisas...")

Esmago nos dedos, o tempo que dói!
Tento virar as costas ao frio que corta, ao som das sirenes, ao bombardeamento nas esquinas.
Como duas asas a rasgar o voo, entro em loucura e fujo ao barulho e ao vento.
Os tornados da alma, batem-me no peito e as luzes da cidade apagam-se.
Ficam apenas os pirilampos que brilham na escuridão, e os caminhos cruzam-se tal como os fogos que rasgam a vida. 
Dos céus jorram vómitos de cinzas!
Na força invisível do nada, fazem-se nós cegos e os inocentes choram e escondem girassóis nos bolsos do coração, na retina cristalina da inocência.
Cai a noite, os gemidos e as pedras esbofeteiam-me o rosto. Recolho-me nos braços despedaçados da cidade.
Malvada a noite que pariu a guerra.

Maria da Conceição Marques
, natural e residente em Bragança.
Desde cedo comecei a escrever, mas o lugar de esposa e mãe ocupou a minha vida.
Os meus manuscritos ao longo de muitos anos, foram-se perdendo no tempo, entre várias circunstâncias da vida e algumas mudanças de habitação.

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