quarta-feira, 20 de abril de 2022

Agricultores dizem que medidas do Governo para diminuir custos de produção são insuficientes

 As medidas anunciadas pelo Governo para mitigar a escalada dos preços dos combustíveis, da energia e de outros factores de produção são consideradas insuficientes e mesmo pouco eficazes pelos agricultores


Há mesmo quem esteja a reduzir a produção ou pensar abandonar a actividade.

Para fazer face aos aumentos verificados nos combustíveis o Governo propôs a redução do Imposto Sobre Produtos Petrolíferos (ISP), estimando uma diminuição de cerca de 3,5 cêntimos por litro.

Para outros factores de produção, como os adubos, correctivos ou rações para animais, o Governo avança com a isenção do IVA.

O ministério da Agricultura vai ainda promover a transição para energias limpas, com apoios para a instalação de painéis fotovoltaicos em explorações agrícolas.

Mas estas não são promessas que convençam Dinis Ramos, da aldeia de Mourão, no concelho de Vila Flor. O agricultor de 44 anos tem entre 60 a 80 bovinos para engorda, actividade a que se dedica há 25 anos, mas pensa reduzir o número de animais ou abandonar definitivamente.

“Está muito difícil, isto é para acabar. Há dois meses nós pagávamos a tonelada da farinha a 280 euros e neste momento está a 463 euros. Já não dá lucro. É impensável trabalhar nesta altura na agricultura e os produtos dos agricultores estão ao mesmo preço ou até mais baratos”, afirmou.

O produtor tem ainda amêndoa, azeite e vinha e vai manter para já estas culturas, mas queixa-se que, por exemplo, o gasóleo agrícola custava há um ano 70 cêntimos por litro e agora ascende a 1,5 euros.

Este é apenas um dos casos de agricultores que pensam que é insustentável manter a actividade agrícola. Carlos Lopes, da Associação para o Desenvolvimento Agrícola e Rural das Arribas do Douro, em Mogadouro, conta que são já alguns os agricultores que admitem não continuar a apostar no sector.

Para o técnico desta associação o impacto das medidas, não se vai notar muito e defende que devia haver um apoio directo aos agricultores e uma redução efectiva dos custos de produção.

“Uma tinha que ser uma intervenção directa nos produtos ou nos factores de produção. No caso do gasóleo agrícola é aumentar o benefício fiscal. O agricultor já tem pouco fundo de maneio para comprar e adquirir os factores de produção, a única maneira era aumentar o benefício fiscal. O que se está a notar é que os factores de produção triplicaram e o preço dos produtos agrícolas quase não mexeu”, frisou.

Armando Pacheco, da Federação dos Agricultores de Trás-os-Montes e Alto Douro, que representa mais de 20 mil agricultores, também considera que os apoios anunciados não são suficientes e defende que apesar de as medidas até parecerem muito grandes não são, dando o exemplo do IVA.

“Um agricultor é uma empresa, a maior parte está colectado, a maior deduz o IVA, se estamos a tirar o IVA não estamos a tirar anda ao agricultor, porque ele já o reduz. É o mesmo como está a antecipar as ajudas que o agricultor tem para Maio, depois deixa de as receber em Outubro ou em Dezembro”, disse.

O dirigente associativo considera que seria mais efectivo implementar “apoios directos” para enfrentar esta crise, aumentando, por exemplo, o apoio por hectare, assim como a reduzir o preço do combustível e da energia

António Neves, presidente da Associação Nacional de Criadores e Cabra Serrana (ANCRAS), defende que “era importante que as medidas fossem ao encontro das reais necessidades de produção”, já que entende que às vezes o Governo define determinadas medidas que não têm aplicação e enquadramento na prática”.

“A forma mais correcta de mitigar estes problemas será uma ajuda a fundo perdido aos animais. Aquilo que defendemos é 100 euros por cabeça normal. Tudo está comprometido. As sementeiras de Primavera estão todas comprometidas com o preço dos cerais, do gasóleo. Vai ser muito difícil que esta campanha decorra com normalidade”, referiu.

António Neves considera ainda que é importante que o Governo ouça as organizações, na implementação destas medidas, para que tenham aplicação na região.

A inflação e os impactos da guerra, são problemas que se vêm somar a outros como a pandemia e a seca. Mas os agricultores não acreditam que as medidas anunciadas pelo governo para o sector serão verdadeiramente efectivas.

Escrito por Brigantia
Jornalista: Olga Telo Cordeiro

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