Ao longo dos anos, a alheira transformou-se numa imagem de marca do concelho de Mirandela. Uma fileira cujo volume de negócios, segundo dados da Direção Regional de Agricultura, ultrapassa os 35 milhões de euros anuais, que conta com cerca de uma dezena de empresas produtoras, duas dezenas de cozinhas regionais e várias lojas espalhadas pela cidade, atividades que dão emprego a cerca de 500 pessoas.
Mesmo num contexto global extremamente adverso: primeiro a pandemia e agora o conflito na Ucrânia, a alheira continua imune à crise que tanto tem afetado outros produtos. “É verdade que tivemos quebras de produção, mas não foram assim tão acentuadas, porque continuamos a ter um produto de excelência com uma grande representatividade no mercado, e conseguimos ter um produto muito equilibrado a um preço muito competitivo”, refere Tiago Ribeiro, proprietário das “Alheiras Angelina”, uma das cinco empresas que estão certificadas para produzir alheira de Mirandela IGP que tem de cumprir um caderno de encargos que inclua carne de galinha, pão de trigo, carne de porco bísaro, calda de cozedura das carnes, azeite de Trás-os-Montes DOP, sal, banha de porco e especiarias.
O empresário enumera todos os passos necessários para se obter uma alheira de Mirandela IGP: “Primeiro é a produção do pão, fazemos a fatiagem, em simultâneo, a cozedura das carnes com um desfiamento manual, ou seja, separar os ossos da carne para que depois possa incorporar-se em conjunto com o pão já amolecido das caldas da cozedura. Incorporamos depois a carne, o pão, os condimentos e o azeite sendo tudo misturado e segue para a linha de enchimento em tripa de vaca e a seguir vai para a estufa onde está seis horas a uma temperatura que tem de atingir, pelo menos, os70 graus durante meia hora. A partir daí, vai para uma sala de estabilização durante 24 horas, entra na linha de embalagem, rotulagem e expedição”.
Depois de em 2021, o festival da alheira de Mirandela ter acontecido em modo take-away, devido à pandemia, este ano, a ACIM decidiu assinalar o evento de forma presencial nos restaurantes aderentes.
Os cinco produtores que estão certificados para produzir a alheira de Mirandela IGP oferecem aos 41 restaurantes aderentes, 1230 alheiras - 30 a cada restaurante – que por seu lado, recebe, por refeição, um total de sete euros. Quem almoça paga dois euros e a ACIM comparticipa os restantes cinco euros. A refeição inclui um prato de alheira com o respetivo acompanhamento e ainda bebida e café.
O presidente da direção da ACIM adianta que a intenção é “promover o produto ex-libris do concelho, apoiar o setor da restauração, mas também proporcionar às pessoas momentos de convívio que tanta falta fazem depois de mais de dois anos de restrições devido à pandemia”, refere Vítor Borges.
A ideia inicial até era fazer o festival na praça do mercado da cidade. “Acabamos por não o fazer, porque iríamos concentrar no espaço mais de mil pessoas e ainda não é a altura ideal porque a pandemia ainda não acabou”, justifica.
As inscrições esgotaram e a restauração agradece. “É muito importante porque nós viemos de uma pandemia e agora as coisas estão a ficar muito melhor e ajuda a restauração”, refere Paulo Loureiro, proprietário de um dos restaurantes aderentes, que descreve a forma simples de confecionar um prato de alheira de Mirandela, mas sem o ovo estrelado e a batata frita tantas vezes solicitado pelos clientes. “É servido com os nossos grelos da região, a batatinha cozida e a alheira grelhada que vai para a brasa, mas quanto mais seca estiver mais bonita sai da grelha. É deixá-la aquecer bem e servir”.
Não há grandes segredos e a alheira de Mirandela está pronta a servir, este sábado, em 41 restaurantes da cidade. No total, são 1230 refeições.
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