quarta-feira, 22 de junho de 2022

Capa de Honras Mirandesa – Miranda do Douro


A “Capa de Honras” Mirandesa é uma peça de artesanato muito “sui generis” do planalto Mirandês, que tem por finalidade proteger os “boieiros” (guardadores de vacas) e pastores de todas as intempéries nos meses mais rígidos, nomeadamente no Inverno.

Como é uma das peças de artesanato mais ilustres do planalto Mirandês, como é óbvio, é indispensável a sua utilização em qualquer tipo de cerimónias, sejam de que índole forem.

É uma peça com grande valor etnográfico e que requer um trabalho minucioso por parte do artesão devido à sua grande complexidade.

Em terras de Miranda [Trás-os-Montes e Alto Douro] diz a sua gente: “Há nove meses de Inverno e três de inferno“. O clima é áspero e variável, a paisagem agreste, apenas convidativa na Primavera e em alguns dias de Outono. No resto, tocam-se os extremos do frio e do calor.

Por isso, o homem que tem vivido nesta terra criou a sua maneira de vestir para se defender no trabalho do campo, destes dois extremos.

A sua vida toda ela de natureza agro-pecuária, levou-o a criar os trajes de certa maneira austeros, simples e belos, artesanais e domésticos, feitos à base dos recursos locais, o linho e a lã (burel).

É, pois, feita de lã, fiada, urdida, tecida e pisoada (pardo-burel) a Capa de Honras Mirandesa.

É uma das peças do trajo popular português, pesada, a mais imponente e a mais antiga.

Origem

Deve ter tido origem na capa de “Asperges” gótica, de raiz medieval de algum mosteiro Leonês.

“Muito ornamentada de lavores nas bandas, gola – carapuça sui generis e rabicho que, por detrás, pende até meio dela, dando ao todo o aspecto de capa de asperges eclesiástica medieval”, como observa Trindade Coelho. É parecida com a Capa de Burel de Aliste mais rica e mais solene.

Como diz Ernesto Veiga de Oliveira, “Vemos em terra de Miranda numa categoria à parte a capa de honras, em Burel, a mais nobre peça do nosso traje popular, de capuz, honra e aletas, com aplicações recortadas e ponteadas, em cuja confecção se chegavam a gastar 60 dias e mais“.

De cor castanha, fabrico caseiro, ainda hoje se confecciona em Constantim (Miranda do Douro) e é utilizada por individualidades em actos célebres e por pastores e lavradores desta região transmontana, principalmente no Inverno.

De notar que cabeção “HONRA“, pala, orlas das abas e da racha, atrás são ornadas com aplicações de burel finamente recortadas, cosidas à mão sobre o fundo intermédio de tecidos de lã preto.

O cabeção e a honra rematam em franja. A pala do capuz é debruada por uma barra de tecido de lã preta.

O nome “HONRA” não provém unicamente do seu uso por pessoas mais ricas e nobres, mas sim por muito trabalhada.

Antigamente e nos tempos de hoje

Antigamente era usada pelas pessoas que possuíam um estatuto social mais elevado, “mais ricas”. Era um traje domingueiro. Ao longo dos tempos passou a ser usada por pastores e lavradores da região.

Hoje verifica-se grande procura por pessoas de fora e autóctones, o que vem confirmar a admiração, riqueza e beleza desta preciosidade do artesanato português.

Como se pode constatar por esta descrição pormenorizada isto premeia a grande dedicação, rigor e mesmo grande imaginação por parte do artesão.

Isto faz com que seja uma peça de artesanato de grande exemplar da cultura portuguesa e além disso constitui um grande orgulho do artesão.

Domingos Raposo

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