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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

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COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

sexta-feira, 15 de julho de 2022

Dia de Verão…

Por: António Orlando dos Santos (Bombadas)
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")

Comparar este dia que decorre, já com mais de dezasseis horas decorridas, com qualquer outro que haja passado é pura acção de saudosismo por momentos irrepetíveis.
Quando eu era jovem, pelos meus quinze era mais que certo que estaria a tentar chegar ao Rebolo onde a garotada da cidade ocorria para dar uns mergulhos e refrescar a pele no meio de companheiros que ainda hoje contam aos netos as peripécias que eram cometidas pelos pequenos e graúdos. Nesse tempo lembrado hoje com saudade relembro as caminhadas também feitas, ao fim de semana para a Presa de Oleirinhos onde se juntavam famílias que passavam o dia juntas para desfrutar do sol, da água e da companhia. Era lindo de ver os grupos acampados nas margens desde cedíssimo, alguns chegavam ainda sem luz do dia, como fazíamos quando íamos aos pássaros.
Depois de acamparem preparavam o lume que acendiam com os ramos secos que eram fáceis de arranjar e quando eram chegados os primeiros alvores da madrugada fazia-se uma "choc'lateira" (cafeteira) de café bem forte, ao qual para assentar metíamos uma brasa incandescente e púnhamos de lado até que depois colocávamos numa grelha ao lume fatias de pão para as torradas e as terminávamos com um pouco de unto ou azeite, que sabiam como carões de nozes.
Depois do "mata-bicho" era hora de nadar e fazer algum exercício físico. Convém lembrar que nos grupos em que estive integrado houve sempre uma voz a avisar dos perigos, infelizmente consumados algumas vezes, de congestão porque a digestão não estava concluída e a água era fatal.
Bem, a vida tem destas coisas e temos que estar precatados. Entre o mata-bicho e o almoço decorriam três, quatro horas e o fogueiro tratava de fazer um belo braseiro para começar a assar as sardinhas. Nunca em parte alguma onde eu haja comido sardinhas, elas me consolaram, como as que comi à "borda" do rio nos meus tempos de rapaz. Era bom o tempo de andar na água, mas a hora do almoço na Presa de Oleirinhos, ainda hoje me sabe bem mesmo sendo tão simples como só as coisas boas são: Batatas cozidas bem regadas com azeite, pimentos verdes bem assados na brasa, descascados a preceito e sardinhas de Ovar fresquinhas e, fosse rico quem quisesse que a nós bastava-nos isso.
A tarde na Presa de Oleirinhos tinha outro sabor que ainda hoje me encanta pois o sentimento de pertença era mais vívido e nós com aquela idade pensávamos em coisas que nem semelhança tinham com o ambiente da manhã. A manhã era serena e a tarde mais frenética.
Naquele tempo quase todos os rapazes tinham uma bicicleta motorizada, Sachs, Zundapp, DKW ou outra menos popular e eu não fugia à regra, o meu amigo Vilela tinha uma Zundapp e muitos outros tinham também meios para irem e virem sem problema de maior. O ambiente social era diferente do de hoje, não digo melhor nem pior, diferente, sim.
Acontece que nesse tempo a interação entre jovens e adultos, homens e mulheres, rapazes e raparigas era mais condicionada socialmente e a ida para o rio era um acto social, assim estava-se sempre sujeito ao grupo. Daí que quando durante o dia, alguém se separava porque tinha interesse em pessoa do outro grupo, automaticamente se comentava a ausência com ditos mais ou menos jocosos.
Mas todo o ambiente, tudo o que acontecia nesses dias de Verão da nossa saudade cheirava a alegria e satisfação. Os tempos são hoje diferentes e é impossível fazer comparações por mais simplistas que sejam. Tudo será passado, mas enquanto tivermos lucidez de raciocínio esse tempo será recordado por nós como algo de que nos separámos mas não esquecemos.
O Verão no meu tempo de rapaz tinha vida e a atividade lúdica sendo mais simples do que hoje, não dava ocasião a ociosidade e era vivido com menos peso nas finanças dos agregados familiares, pois pouquíssimos iam para a praia e os outros governavam-se com o que tinham de Graça, a saber: Rios limpos e com peixes, sombras de árvores frondosas e um ar e águas que rivalizavam com as mais puras de outros lugares.



Bragança, 13/07/2022
A. O. dos Santos
(Bombadas)

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