domingo, 21 de agosto de 2022

FENECE O DIA

Por: Maria da Conceição Marques
(colaboradora do "Memórias...e outras coisas...")

Numa discreta confiança,
Vem o alívio, chega o escuro,
Lençóis brancos, linho puro
Num futuro inseguro.
duvidosa confiança!
Tal como ventres fecundos,
que se dão, e que se vão, 
Que se abrem, e se rasgam
Numa imensa ingratidão!  
Também os montes vão parindo,
Fagulhas e cinzas saindo
Arrastadas e inseguras,
numa falsa sensação.
Rolam pelas cidades,
Arrastando amarguras
E o terror na multidão!
Nas distâncias solitárias, 
Em ócio brando e doce
ainda correm fios de água,
Saltitando nos ribeiros
Como asas voadoras, 
a poisar em medronheiros!
Choram fontes cristalinas,
Respingam e pingam, tristemente. 
Enlodadas e enlutadas
Estagnadas na corrente!
Ouço o cântico das aves, 
Melancólica e tristemente,
Vida pobre, pobre vida 
Tão breve e complicada,
Vale mais morrer esquecida
Do que viver desprezada.

Maria da Conceição Marques
, natural e residente em Bragança.
Desde cedo comecei a escrever, mas o lugar de esposa e mãe ocupou a minha vida.
Os meus manuscritos ao longo de muitos anos, foram-se perdendo no tempo, entre várias circunstâncias da vida e algumas mudanças de habitação.

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