terça-feira, 1 de novembro de 2022

CHUVA BENDITA

Há dias, meses, até dois anos, a entoar a mesma litania – não chove, não chove, não chove –, na quarta-feira, dia 18 de Outubro !!!, acordei ao som celestial de grossos pingos de chuva a baterem nas vidraças (termo em desuso) do quarto, parafraseando Augusto Gil fui ver: não era o som burocrático do chuveiro, era o da chuva grossa a recordar-me as zurvadas empurradas pelos ventos das serras de Nogueira e Montezinho.
Temeroso ante a possibilidade de rebate falso como Judas vendedor/ traidor reservei aturada atenção à persistência da bendita musicalidade da chuva como se estivesse a dançar qual Fred Astaire, ou a ouvir deliciado o sagrado contido na obra Water Music de Handel num concerto no grande auditório da Gulbenkian. 
Ao longo do dia, não imitei os guarda-fiscais peritos na arte de praticar o ioga espanhol (siesta), nas matas e bosques das terras transmontanas, nada de semelhante, de tempos a tempos vasculhei os céus sem telescópio no temor de o chaveiro do Paraíso ordenar ao estilo espanhol o corte da vital fonte de vida. Ou porque o senhor São Pedro principiou a acolher os vernáculos protestos deste seguidor de S. Tomé, ou em vista da desolação da paisagem portuguesa, a bênção molhada prosseguiu noite fora de forma no dia seguinte os pregoeiros dos canais por cabo anunciaram a continuação do maná levando-me a pensar na imagem do pescador de Almas existente na pequena e graciosa de Lagarelhos, de barbas canosas, de chaves na mão esquerda, vestindo folgada túnica azul.
E, agora? Agora solicito-lhe, penhoradamente, a continuada colheita das águas pluviais pelo menos até ao dia 29 de Junho (Ele sabe qual é razão) de forma a barragens, lagos, poços, rios e riachos ganharem volume aquífero podermos ficar libertos da chantagem dos émulos de Sancho Pança, os patos nadarem nos rios que atravessam Gimonde, as cegonhas aspergirem as asas molhadas, sem esquecer os cães vadios disporem da ventura de beberem água no tanque de S. Vicente, que nunca foi cheio de caldo para desejo do dono de um perdigueiro (?) esperançado na satisfação da endémica gula do canídeo. 
Os curiosos perguntem ao engenheiro Manuel Vaz Pires a identidade do Senhor em causa. O Manel Vaz Pires pertenceu ao glorioso grupo das viagens de (re) conhecimento do Distrito de… Bragança. Obviamente!

PS. Espero não ter ferido susceptibilidades espúrias.

Armando Fernandes

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