terça-feira, 1 de novembro de 2022

FREIXO DE ESPADA À CINTA: VILA MANUELINA ONDE A SEDA É OURO

 
No âmbito do “Concelho em Destaque”, lançado este ano no Jornal Nordeste, o mês de Outubro foi dedicado a Freixo de Espada à Cinta. A arte rupestre, a agricultura, a história e a seda são os protagonistas desta vila com cerca de três mil habitantes

Situada numa zona de raia, com pouco mais de 3 mil habitantes, Freixo de Espada à Cinta é conhecida como a vila Manuelina. Sabia que há três lendas associadas ao nome da vila? E que é o único local da Península Ibérica onde ainda se produz seda de forma artesanal? Respostas que vai encontrar nesta reportagem, onde vai conhecer o concelho freixenista, rico em amêndoa, azeite, vinho e laranja.

Vinho de excelência

Parte de Freixo de Espada à Cinta já pertence ao Douro Superior e falar de Douro é falar de vinho. Numa das viagens pelo concelho fomos conhecer a Quinta dos Castelares, um projecto que nasceu em 2011, um ano depois de ter sido idealizado. Por ano produzem cerca de 900 toneladas de uva, o que se traduz em 500 mil garradas de vinho. Um sonho de Manuel Joaquim Caldeira que se tornou realidade. É o grande responsável pela qualidade da uva, visto que controla todos os trabalhos feitos na vinha, desde a rega à poda. E que trabalho dá produzir vinho? Se pensa que é apenas colher a uva, pisá-la e que o vinho surge, engana-se. “É mais difícil do que as pessoas pensam”. E que o diga Pedro Martins, enólogo e genro de Manuel Caldeira. São dois meses de vindima para 10 meses de trabalho após, ou seja, um ano de dedicação. 

Na Quinta dos Castelares, a vindima começa por ser um trabalho de precisão, visto que são “feitas mostragens de bagos de uva e depois a equipa anda a saltar de talhão em talhão, porque o talhão A está melhor que o B” e é ali que vão colher o fruto. Para Pedro Martins a qualidade do vinho “não vem da adega”, mas da “matéria-prima”. Para isso é preciso que a uva chegue à adega “no seu momento ideal, em termos de maturação, acidez e estado sanitário”, o que significa que teve, na “altura certa”, a “adubação” e a “desfolha”. Sobrecarregar a videira também não é o melhor. “Nós fazemos muitas vezes o corte da futura uva para o chão porque achamos que vai haver uma carga excessiva na planta e a planta não precisa de tanto”, explicou, salientando que na adega é apenas o “cozinheiro” e, por isso, não pode deixar “estragar” o produto. “Nós podemos ter as melhores condições do mundo, as melhores barricas do mundo, a melhor equipa enológica do mundo, mas se não tivermos boa matéria-prima não conseguimos fazer um grande vinho”, afirmou. Os vinhos tinto da Quinta dos Castelares têm 14/14,5 graus e os branco entre 12,5 e os 13,5. Os de gamas mais baixas caracterizam-se por serem “fáceis de beber”, já que são vinhos com “boa acidez, frescura e com um fim de boca relativamente curto”. Já os de gamas superiores, distinguem-se pela sua “untuosidade”, num “casamento perfeito com a madeira”. “Os nossos vinhos são vinhos que se comem, que se mastigam, que têm corpo”, sublinhou Pedro Martins. Com a pandemia as exportações diminuíram. 

Actualmente, 60% do seu mercado é português e o restante é internacional, maioritariamente brasileiro. Com a seca tiveram uma quebra de 10% de produção de uva, mas 80% da produção de vinho já está vendida.

Laranja bastante doce mas pouco conhecida

Ainda no sector agrícola, falamos-lhe da laranja de Freixo de Espada à Cinta. A qualidade é inquestionável para quem a produz e para quem a consome. Dizem ser bastante doce e distingue-se não só pela qualidade, mas também porque é colhida na altura do Natal. Ulisses Caraval é um dos agricultores do concelho que tem laranjas. É proprietário de cerca de um hectare na Congida, nas margens do rio Douro. Produz não só Dalmau, como outras variedades e, por ano, isso traduz-se em cerca de 2 mil quilos de laranjas. Grande parte dos agricultores de Freixo de Espada à Cinta também produz laranja, mas não passa de um “mercado pequenino”. “Vendo a laranja em pequenos nichos, mercados locais, ofertas a amigos e familiares, não tem assim um impacto muito forte na economia”, contou Ulisses Caraval. O produtor acredita que esta laranja pode ser mais divulgada e defende que o mercado dos gelados e até dos sumos pode ser uma mais- -valia para a valorização do fruto. “Penso que no que toca à laranja está tudo muito parado”, afirmou, sugerindo que até podia ser criada uma feira na época do Natal para divulgação. A seca, este ano, também vai ser um problema, visto que a pouca água não só vai provocar quebra na produção, como também torna a casca da laranja “mais grossa”.

Terra de amendoeiras

Além de laranjas, Ulisses Caraval tem também amêndoa, mais concretamente 50 hectares, o que significa entre 40 a 50 toneladas do fruto anualmente. Mas, este ano, já está a prever uma quebra para metade. “Houve uns frios tardios, embora tenha variedades novas, que queimaram alguma flor. Depois veio o calor na altura de Maio, muito precoce, e a amêndoa não chegou a ficar grada e com o decorrer do verão não chegou a concluir o ciclo completo e o grão não ficou totalmente cheio”, referiu. Não sendo vista como um bem de “primeira necessidade”, o consumo da amêndoa tem vindo a cair. O que para os produtores tem sido um problema, já que a “venda não suporta os gastos”. 

Agricultor há cerca de 20 anos queixa-se que “fazer agricultura na nossa região é empobrecer alegremente”, isto porque a qualidade dos produtos não é valorizada no mercado. “A base do problema na agricultura é que no fim o que interessa na colheita são os quilos, isso é que nos traz os quilos. Nós temos qualidade, mas ninguém nos a paga. Pode haver um pequeno nicho que queira especificamente aquele produto de qualidade, mas isso estamos a falar de dezenas de quilos, nunca chegamos às centenas ou toneladas”, afirmou. Embora também produza vinho e azeite, a amêndoa sempre foi a sua “paixão”. “Quando comecei a plantar os primeiros amendoais, as pessoas comentavam que eu não estava bem da cabeça, que isto não ia dar nada, porque na altura ninguém queria amêndoa. Mas já ganhei dinheiro com amêndoa, actualmente dá para os gastos”, disse.

O ouro de Freixo de Espada à Cinta

Com a vinda dos Judeus para Freixo de Espada à Cinta, na altura em que foram expulsos de Espanha, o índice demográfico aumentou e surgiram novas profissões. Assim, no século XVI começou a produzir-se seda neste concelho. No século XVIII, tinha 16 fábricas de seda, a maior empregava 18 pessoas, o que naquela altura já tinha “um certo relevo”. Mas a pebrina, doença da amoreira, terminou com toda a indústria ligada à seda. Mas, nem por isso, acabaram as produções. As mulheres, que naquela altura não trabalhavam e ficavam em casa a cuidar dos filhos e do lar, começaram a fazer peças, de forma artesanal, e que eram vendidas às meninas novas e abastadas. Assim, ajudavam a sustentar a família e ao mesmo tempo as jovens ricas construíam o seu enxoval com tecido “nobre”. E através da transmissão de conhecimento de “avó para neta”, a produção de seda sobreviveu até aos dias de hoje em Freixo de Espada à Cinta. 

Para os mais curiosos, todo o processo artesanal pode ser visto no Museu da Seda e do Território, onde estão três tecedeiras a trabalhar diariamente a arte. Segundo o director do museu, Jorge Duarte, ali trabalha- -se a seda como há séculos, de forma artesanal, visto que o “tear é manual, o rodeleiro é normal, o sarilho é normal e tudo feito em madeira”. Sónia Lopes tem 46 anos e há quatro que se dedica a esta arte. É de Mogadouro e pouco sabia sobre a seda. Já tinha ouvido falar dos bichos-da- -seda, mas não sabia “como se criavam, o que comiam”. Decidiu fazer um curso e apaixonou-se. É uma das funcionárias que está a trabalhar no museu. “Achei interessante a criação do bicho-da-seda, depois comecei a trabalhar. Gosto de fazer as duas coisas, mas gosto mais de fazer a criação do bicho, porque é muito interessante”, disse, enquanto estava num pequeno tear a fazer uma “saquinha” que serviria para pôr chá ou outros produtos para perfumar a casa. Em média, demora uma hora a fazer uma destas “saquinhas”, que depois têm que ser costuradas à mão. Um trabalho que admite que não é pêra doce. Desde a criação do bicho-da-seda, entre Março e Junho, à extracção da seda e à sua lavagem para ser trabalhada no tear. “Depois de lavarmos a seda tem que se urdir uma teia que são fios que têm que passar por buraquinhos, depois passa por um pente e aí sim podemos começar a fazer a peça”, explicou. Mas, para si, o mais difícil é “urdir a teia”, porque “são precisos certos pormenores e não podem falhar, porque podem não bater certo e depois o trabalho fica com defeitos”. “É preciso ter gosto para uma pessoa trabalhar aqui e quanto mais uma pessoa faz, mais quer fazer. Vai tendo novas ideias, vai-se aperfeiçoando, porque quando vimos para aqui vimos com poucas noções e depois uma pessoa vai adquirindo com as senhoras que estão cá mais antigas ou em conversa com uma colega”, concluiu. 

Como sua “colega” tem Otilde Tavares, de 57 anos. É tecedeira há tanto tempo quanto Sónia Lopes. Nas mãos tinha o que viria a ser um “porta- -óculos”. Já só faltavam os acabamentos, porque já tinha sido feito no tear e até já tinha passado pela máquina de costura. “É um trabalho que é preciso muito cuidado, porque a seda tem que se trabalhar com muita delicadeza”, salientou, rematando que é preciso ter “muita paciência”. Para se tornar uma boa tecedeira são precisos 20 anos e Otilde Tavares não podia estar mais de acordo. “Isto demora muito aprender, porque é difícil de aprender. Para se fazer bem tem que se demorar muito. Hoje aprende-se uma coisa, amanhã outra, isto vai devagar, não é chegar aqui e fazer logo”, contou. Nos dias de hoje, produzir seda de forma industrial e aos níveis de XVI não é viável, segundo o Jorge Duarte. O director do museu explicou que os “conhecimentos se perderam” e que, neste momento, estão até a ser reinventados os saberes de tinturaria, além de que Portugal não consegue competir com a China, Itália e Brasil, no que toca a seda industrial. “Temos um pequeno nicho que é a seda artesanal que poderá mais tarde, se forem feitos os investimentos certos, a vir a ser mais uma forma de sustento local, mas não nacional”, referiu, acrescentando que “para se ter um quilo de seda é preciso cinco quilos de casulos, que necessitam de milhares de bichos que comem milhões de folhas de amoreiras”. Coloca-se ainda o problema de “formar gente para trabalhar a seda” e o que “se pode ganhar para a trabalhar”. “Hoje nós temos de estar a pensar no que será a seda daqui a 15 ou 20 anos, se estas novas gerações estão dispostas a essa situação”, referiu.

O Cavalo de Mazouco e a Fraga do Gato

Foi no concelho de Freixo de Espada à Cinta que se encontrou a primeira gravura do Paleolítico ao ar livre. Recuamos à década de 70, quando Nelson Rebanda soube que havia uma gravura na aldeia de Mazouco. Na altura andava no secundário e eram poucas as pessoas que sabiam. Falava-se de um “carneiro a olhar para um tesouro”. “Eu e o meu primo fomos para ali e foi quando vi pela primeira vez a gravura. Andei sempre a matutar no que seria aquilo e quem o teria feito. As pessoas atiravam sempre para os mouros. Mais tarde, vi outras coisas semelhantes, até no próprio livro do secundário, mas em pintura, não em gravura, mas era algo parecido e isso sempre me desperdiçou interesse e curiosidade”, contou o agora arqueólogo. Em 1981, quando entrou na universidade, numa das disciplinas, propôs fazer um trabalho sobre a gravura, tentando provar que tinha sido feita no período Paleolítico e foi aí que foi dado o primeiro passo para que fosse dado a “conhecer à ciência” o Cavalo de Mazouco. “O que é relevante em Mazouco é que não é em gruta, como habitualmente estas manifestações de arte rupestre acontecem”, afirmou, explicando que conseguiu aguentar até aos dias de hoje porque uma “pala” a “protegeu”. O que significa? Essa é sempre a “grande dúvida”, porque remete para o significado da arte pré-histórica, da qual já surgiram várias teorias. 

Mas esta não é a única arte que foi encontrada neste concelho. Na freguesia de Poiares, em Alpajares, anos mais tarde, em 1985, numa conversa de café soube de uma figura que seria um “gato”. Nelson Rebanda veio a descobrir que se trata da pintura de uma lontra com um bufo sobreposto, também do período Paleolítico. A lontra está pintada a ocre e o bufo a negro. “Está numa superfície vertical, mas tem uma espécie de pala, que protegeu a pintura. A calcitização, com a humidade criou uma pelicula que protegeu a pintura, ficou debaixo da pele da pedra”, explicou. O Cavalo de Mazouco está na embocadura de uma ribeira com vista para o rio Douro e a Fraga do Gato, em Alpajares, junto de uma calçada com um ribeiro em baixo.

“Freixo Espada Cinta”

Afinal como surgiu o nome da vila? Há três lendas associadas. Reza uma das lendas que um primo de São Rosendo chegou a esta zona de Freixo e achou-a tão pitoresca, tão rica, com gente tão boa que decidiu formar ali uma vila e como tinha por bandeira um freixo com uma espada atravessada, a vila tomou o nome de Freixo de Espada à Cinta. Outra lenda conta que um capitão godo, chamado Espada à Cinta, depois de uma batalha com os mouros, junto ao rio, chegou ali e viu um freixo muito frondoso e bonito, pendurou lá a espada e descansou. Quando acordou sentiu-se tão revigorado e rejuvenescido que decidiu criar ali uma povoação e como tinha a espada pendorada no freixo onde descansou, deu à povoação o nome Freixo Espada Cinta. E há ainda uma terceira lenda, associada a Dom Dinis, que quando andava pela região transmontana por causa da guerra de sucessão com um filho bastardo, chegou àquela zona, onde dormiu à sombra do freixo, pendurou a espada e enquanto dormia teve um sonho e o espírito do freixo disse-lhe em segredo como havia de pacificar o país e como havia de tornar Portugal num país de futuro. Com as chaves para o seu reinado e para o seu sucesso, o rei Dom Dinis decidiu formar ali uma vila a que deu o nome de Freixo Espada Cinta.

Sabia que... O “à” no nome da vila é um “salazarismo”? Nos documentos até ao século XVIII o nome da vila era Freixo Espada Cinta. Os escrivães, que não conheciam o nome, começaram a aplicar o “à”, alterando a sua semântica. Durante muito tempo houve as duas formas de escrita, mas para evitar confusões, determinou-se aplicar o termo mais simples. A 30 de Abril de 1934, Oliveira Salazar autorizou que, a partir desse dia, tudo quanto fosse documento municipal seria dirigido a “Freixo de Espada à Cinta”.

Vila Manuelina

Os Judeus tiveram também impacto no crescimento urbanístico da vila e na maneira como as casas eram construídas. Tratando-se de pessoas com “dinheiro”, queriam ter habitações distintas das que já existiam e, por isso, contrataram os pedreiros que andavam a construir a Igreja Matriz para fazer “arte nas suas casas”. “Esses pedreiros reproduziram nas casas aquilo que existe na igreja. Os motivos de ornamentação das janelas, os motivos de ornamentação das portadas são exactamente os motivos de ornamentação das colunas da igreja, da porta da igreja. Rara é a que não repete”, explicou o director do Museu da Seda e do Território, Jorge Duarte. Ao andar pelas ruas do Manuelino em Freixo de Espada à Cinta pode observar esse estilo nas casas. Pode ainda aproveitar para ver o que sobrou do castelo roqueiro que existia na vila: a torre. 

O castelo era um ponto de defesa de Freixo e, ao contrário das outras localidades, a vila começou a desenvolver- -se fora das muralhas. Começou a ser construído na romanização, como castelo de paliçada e ao longo dos séculos foi sendo feito em pedra roqueira e depois em granito. Mas, a partir de 1820 foi sendo destruído e as pedras foram utilizadas pelos habitantes para construírem as suas casas. Quem visitar a vila, vai poder ver nos muros das propriedades pedras do castelo. As ruínas acabaram por ser aterradas e agora no adro do castelo está o cemitério municipal. Na vila pode ainda ver a Casa Natal de Guerra Junqueiro, onde nasceu o poeta, político e jornalística português. Fica situada na Rua das Flores e é onde está a colecção de livros e as pautas da Marcha do Ódio de Guerra Junqueiro. Pode ainda ser visitada a casa da sua família, onde está uma mostra de objectos agrícolas, roupa, utensílios de cozinha, de modo a exemplificar como vivia uma família abastada no século XIX. O Museu da Seca e do Território, que além da seda, tem ainda artefactos arqueológicos, e as duas casas de Guerra Junqueiro podem ser visitados de terça-feira a domingo, incluindo feriados. Outras das grandes atracções do concelho é a paisagem e, por isso, miradouros não faltam. Aprecie a vista através dos miradouros de Penedo Durão, Cruzinha, Carrascalinho, Colado e Alminhas.

Município quer voltar a colocar Freixo no calendário nacional do motocross

Paulo Alberto, Luís Outeiro, Sandro Peixe, Luís Correia, entre outros tantos pilotos, considerados a nata do motocross nacional, passaram vezes sem conta pela Pista Multiusos de Freixo-de-Espada à Cinta, que até 2018 recebeu o Campeonato Nacional da modalidade. Os aficionados vinham de vários pontos do país e também de Espanha. A hotelaria e a restauração tinham lotação esgotada. Freixo de Espada à Cinta era mesmo considerada a capital nordestina do motocross. Desde 2018 que os motores deixaram de se ouvir na pacata vila manuelina e, agora, o executivo liderado por Nuno Ferreira quer voltar a colocar Freixo no mapa do motocross. “Nesse momento o executivo camarário está a trabalhar em parceria para conseguir devolver aquilo que, num passado bem recente, alguns deixaram fugir. A pista de Freixo-de-Espada à Cinta era considerada a segunda melhor a nível nacional, depois da de Águeda. Passaram por Freixo os melhor pilotos nacionais e internacionais”, destacou o presidente do município. 

Nuno Ferreira considera importante recuperar as provas, principalmente as etapas do Campeonato Nacional, pois davam visibilidade a Freixo e a economia da vila agradecia. “Alguém deixou fugir um evento desta envergadura que estimulava a economia local, com a restauração lotada, a hotelaria lotada, as bombas de gasolina com um fluxo enorme devido aos pilotos e aos aficionados do motocross que vinham a Freixo. De referir que durante o ano vários pilotos vinham treinar à pista multiusos. Tudo isso se perdeu e foi abandonado. Estamos a trabalhar para devolver o motocross a Freixo e voltarmos a ter as provas do nacional”, garantiu. No entanto, o processo está a revelar-se complicado pois a ausência de Freixo do calendário nacional, nestes seis anos, deixou vaga para outras localidades entrarem na organização das provas. “Quando tomámos posse já estava a decorrer a programação do nacional motocross. Estamos a estabelecer contactos com a federação para podermos participar já num futuro próximo e fazer parte do calendário nacional. Nada está relacionado com condições financeiras até porque a etapa do nacional pagava-se por si só”, afirmou o autarca. Nuno Ferreira admite que “no próximo ano será difícil” voltar a trazer o Campeonato Nacional para Freixo de Espada à Cinta, mas assegura que estão a ser feitos todos os esforços para que regresse o mais breve possível. “Nós queremos voltar a trazer o motocross, mas queremos que volte nas condições que tinha no passado, nomeadamente termos a prova de abertura. Caso não consigamos ter a prova de abertura pelo menos vamos trazer uma etapa do campeonato. Vamos dar passos seguros para que o regresso do motocross não seja uma miragem mas uma realidade”. 

A pista multiusos, em tempos considerada a segunda melhor do país, ficou ao abandono e Nuno Ferreira adianta que o espaço terá quer ser intervencionado para voltar a receber as provas. “O espaço pura e simplesmente ficou ao abandono, por parte de quem estava a lidar o município e a União de Freguesias de Freixo e Mazouco, e terá que ser requalificado, no sentido de fazer a sua limpeza e dar-lhe condições condignas, que outrora já teve. Voltar a colocar a torre funcional, que demorou a ser construída com muito empenho e trabalho, na altura pelo professor Raul Ferreira, que presidia a união de freguesias, limpar e reestruturar”. Também por Freixo de Espada à Cinta já passaram jovens talentos internacionais. Em 2012, a vila freixenista recebeu o Campeonato Europeu de Motocross em iniciados.

Jornalista: Susana Madureira

O Presidente

Nome: Nuno Manuel Rocha Gomes Ferreira
Idade: 40 anos
Tempo de Mandato: 1 ano
Profissão: Licenciado em Ensino Básico na variante de Educação Física e Mestre em Ensino Especial

Porque decidiu dedicar-se à política?

Desde cedo que convivo com a política, por influência de familiares próximos, como o meu pai e o meu avô, e sendo eu um defensor incondicional do meu concelho e das minhas raízes fazia todo o sentido dar o meu contributo para o desenvolvimento deste território. Até ser Presidente da Câmara, passei por alguns cargos políticos que me ajudaram a construir e a perceber as tónicas da política, a escutar as pessoas e a agir em conformidade. Fui membro e líder de bancada da Assembleia Municipal e vereador da oposição no Município de Freixo de Espada à Cinta, tendo depois, nas duas anteriores legislaturas assumido funções como Adjunto do Secretário de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior e Chefe de Gabinete em regime de substituição no Governo. Quando se colocou a questão de abdicar de um cargo no Governo em detrimento de assumir os destinos da minha terra natal, não houve qualquer dúvida.

Como é ser presidente da Câmara Municipal de Freixo de Espada à Cinta?

A política faz-se todos os dias. Por isso, enquanto Presidente da Câmara trabalho com base na premissa de que os lugares são de passagem e enquanto estivermos devemos dar o nosso máximo e fazer o nosso melhor, trabalhando com os pés bem assentes no presente a construir o futuro, e governando com o máximo rigor, transparência e proximidade. Somos um território 80% agrícola e 20% turístico e é alavancando a nossa estratégia nesses dois eixos que podemos almejar ser mais do que um concelho rural, do interior, fortemente constrangido. Somos pequenos em território sim, mas somos muito fortes em potencialidades e oportunidades por explorar. Ser Presidente da Câmara Municipal de Freixo de Espada à Cinta é um motivo de orgulho e é com grande responsabilidade e satisfação que assumo os destinos da nossa população cuja vontade foi inequívoca, nas últimas eleições autárquicas: a necessidade de mudança era essencial, era já urgente mudar o rumo deste concelho.

Quais são os maiores desafios enquanto autarca?

Sabia, desde o início, que Freixo de Espada à Cinta era um diamante por lapidar. Começámos a trabalhar na potencialização da agricultura, na dinamização turística e na reestruturação de eventos e tradições singulares que estavam a cair no esquecimento. Criámos novas iniciativas ligadas ao desporto. Estamos a tratar da certificação da nossa seda. Na questão da saúde conseguimos trazer para o Município consultas de algumas especialidades médicas, uma vez por mês, totalmente gratuitas, um projecto em parceria com um grupo de médicos voluntários, a ULSNE e o Centro de Saúde local. Apoiamos a 100% o transporte de doentes oncológicos e estamos em activas conversações com o Governo Central para o alargamento do horário nocturno de funcionamento do Centro de Saúde, das 22h para as 24h. Outro dos desafios que temos pela frente é a questão da educação. Por isso, trabalhámos no sentido de implementar, já neste ano lectivo, o Ensino Secundário Profissional. Comparticipamos também a 100% os transportes dos restantes alunos que enveredam pelo ensino regular. As pessoas não são números, não servem apenas para visitar aquando dos momentos eleitorais e têm uma palavra a dizer no futuro deste concelho.

Jornalista: Ângela Pais

Sem comentários:

Enviar um comentário