terça-feira, 21 de fevereiro de 2023

Entrudo chocalheiro de Podence seduz milhares de visitantes

 Esta tarde, o carnaval mais genuíno de Portugal, Património da Humanidade, termina com a queima do entrudo.


Desde sábado, que a pequena aldeia de Podence, no concelho de Macedo de Cavaleiros, distrito de Bragança, com pouco mais de 200 habitantes, tem acolhido milhares de visitantes para assistir ao regresso do tradicional Entrudo Chocalheiro, elevado, há três anos, pela UNESCO, a Património Cultural Imaterial da Humanidade.

Durante quatro dias, os caretos andam à solta, a chocalhar as mulheres com os chocalhos que trazem à cintura dos coloridos fatos, amparados por paus para as tropelias e disfarçados com as típicas máscaras de ferro.

Este ano, o Presidente da República veio dar ainda maior visibilidade ao entrudo chocalheiro, inaugurando um mural com a sua figura. E ninguém melhor para promover a festa. "Tem sido a maior enchente de sempre, desde sexta-feira, porque o presidente da República também veio anunciar mais uma vez o entrudo chocalheiro e só no domingo, havia mais de 40 autocarros, viaturas estacionadas a três quilómetros de Podence, pensamos que cerca de 25 a 30 mil pessoas tenham passado por cá e isto só nos dá mais força e vontade de continuar uma tradição que esteve perdida e que hoje é reconhecida a nível mundial", refere António Carneiro, presidente da Associação dos Caretos de Podence, acreditando que esta terça-feira, "haverá nova enchente".

E os protagonistas são os caretos, gente da terra que durante estes dias veste um colorido fato amarelo, vermelho e verde, para chocalhar as mulheres, ostentando máscaras intimidantes. Egas Soares, tem 70 anos, e há 28 que é careto. "Isto é uma sensação de adrenalina que ninguém tem noção. É fabuloso", conta.

E há mesmo quem considere que os caretos são uma espécie de irmandade. "Por agora animamos a festa, mas no dia de carnaval quando termina o entrudo, nós" (os caretos) "juntamo-nos todos nas adegas e convivemos até às tantas", adiantam três habitantes da aldeia que também se vestem de careto.

Quem vive nas redondezas não falta, ano após ano. "É uma festa genuína e toda a gente devia vir", diz Amélia Pires. "Cada vez está melhor", garante Júlia Lemos.

E quem participa uma vez no entrudo chocalheiro, fica sempre com vontade de repetir. É o caso de Joana, que vive em Braga. "Já tínhamos vindo à aldeia, visitar o museu mas nunca tinha sido na altura do Carnaval, mas agora vivemos isto por dentro e é muito giro", diz.

Os dias do Entrudo, são aproveitados pelos habitantes de Podence para abrirem as garagens e as adegas, para as transformarem em verdadeiros restaurantes, com a gastronomia típica transmontana. E a festa termina esta tarde, com a queima do entrudo. "É um boneco gigante, símbolo do entrudo, que está ali na eira e que vamos queimar para afastar tudo o que é de mau, de velho, de exorcismo, para partir para um novo ciclo que é a primavera", conta António Carneiro.

Fernando Pires

Sem comentários:

Enviar um comentário