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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quinta-feira, 18 de maio de 2023

O Mercado do Tabaco

Por: José Mário Leite
(colaborador do Memórias...e outras coisas...)

O tabaco é responsável por milhões de vítimas, todos os anos, para além de doenças agudas e crónicas afetando um universo largamente maior. Os seus efeitos não se restringem aos fumadores pois afetam igualmente quem é exposto ao ambiente poluído pelo seu consumo de tal forma que proporcionou a criação da figura de fumador passivo para caracterizar quantos, não fumando, respiram o ar poluído pelo fumo dos cigarros. Foi esse o motivo que levou, e bem, o Governo a restringir o uso do tabaco estabelecendo condições aos fumadores para que do uso desse seu direito não resultasse dano para os restantes cidadãos.
Sou ex-fumador e conheço bem a dificuldade em deixar de fumar. Foram várias e de diversas formas as tentativas sérias para terminar com esse vício. Algumas que julgava serem as últimas e definitivas, soçobravam ao contacto com colegas a quem, quase instintivamente e julgando-me a salvo de uma recaída, pedia um cigarro, fosse por que motivo fosse. Muitas vezes para melhor descarregar alguma irritação ou sublimação de um estado deprimente, curto ou mais profundo. Ainda hoje “invejo”, nos fumadores, essa capacidade de “descarregar” num cigarro algumas frustrações que a vida, inevitavelmente nos traz. Mas não quero estar na pele de alguns deles, aqueles que, fumando, gostariam de abandonar tal prática. Por isso é, igualmente, louvável a legislação que pretende prevenir a iniciação de tal prática, principalmente junto dos mais jovens. A proibição de aquisição a menores de dezoito anos e o condicionamento no acesso às máquinas de venda automática são justificadas e bondosas.
O problema acontece, como em outros casos, quando o Estado ultrapassa o que na bondade vai além do razoável. Quando o legislador, sentado no seu confortável e acondicionado gabinete lisboeta esquece o resto do país. Que nas grandes cidades a venda de cigarros fique restringida às tabacarias e afins, sendo questionável pode, de alguma forma aceitar-se. Mas na província...? Penso na minha aldeia e, nela, revejo as milhares de todas as localidades do interior.
– Manel, vais à vila? Ou sabes de quem vá? Preciso de encomendar meia-dúzia de maços de tabaco. Olha, pensando bem, o melhor é trazer-me um volume. Se tivesse aqui dinheiro suficiente, até lhe pedia dois!
– Disseram-me que o Manel te trouxe tabaco. Tens de me ceder um ou dois maços. Claro que te faz falta a ti, mas depois encomendas mais...
– Eu até te podia ceder um! Mas depois atrás de ti vem outro e outro e, depois em vez de um são dois ou três e não tarda nada sou eu que fico sem ele!
– Ó pá, nem que te pague mais. Mesmo assim fica-me mais barato do que ir à vila e tu ainda ganhas algum. Lucramos os dois.
– Sabes o que te digo. Quem devia tratar disso era o João do Café. Como vai lá com frequência, comprava às caixas e cedia-os a quem precisasse. Claro que tinha de levar a mais da tabela para lhe pagar as despesas e compensar o risco. Mas ninguém perdia e todos ganhávamos.
– Diz-lhe isso. Era bom! Mas havia de haver uma forma de evitar que fosse vendido aos catraios...
– Pois havia!

José Mário Leite
, Nasceu na Junqueira da Vilariça, Torre de Moncorvo, estudou em Bragança e no Porto e casou em Brunhoso, Mogadouro.
Colaborador regular de jornais e revistas do nordeste, (Voz do Nordeste, Mensageiro de Bragança, MAS, Nordeste e CEPIHS) publicou Cravo na Boca (Teatro), Pedra Flor (Poesia) e A Morte de Germano Trancoso (Romance), Canto d'Encantos (Contos) tendo sido coautor nas seguintes antologias; Terra de Duas Línguas I e II; 40 Poetas Transmontanos de Hoje; Liderança, Desenvolvimento Empresarial; Gestão de Talentos (a editar brevemente).
Foi Administrador Delegado da Associação de Municípios da Terra Quente Transmontana, vereador na Câmara e Presidente da Assembleia Municipal de Torre de Moncorvo.
Foi vice-presidente da Academia de Letras de Trás-os-Montes.
É Diretor-Adjunto na Fundação Calouste Gulbenkian, Gestor de Ciência e Consultor do Conselho de Administração na Fundação Champalimaud.
É membro da Direção do PEN Clube Português.

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