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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira..
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

segunda-feira, 14 de agosto de 2023

Uma página de "O Quartel", para abrir o apetite:

 O soldado, contagiado pelo destempero do sargento, que entra desvairado no quartel, exclama, quase a chorar:
− Que quer o nosso sargento? Que quer? Competia-me disparar, eu sei, eu li o Regulamento. Mas não pude. O muro não deixa: é demasiado largo, não deixa. Acredite o nosso sargento que eu faria tudo para passar nesta maldita prova de sentinela. Mas disparar era coisa que só podia fazer às cegas, porque o muro não deixava ver o inimigo, e ia disparar sobre quem? Eu não pude disparar, não pude, não pude, está visto. O muro é muito largo, não deixa, e eles vão em paz — e quem se quilha sou eu! Não é justo!
Descontrolado, atira a carabina pelos ares para o meio da rua. Ao cair na calçada, a carabina acaba por disparar sozinha uma pequena rajada, como que a zombar da desgraça do soldado Benjamim.
− E além disso, esta merda da bota esquerda não tem feito outra coisa senão magoar-me... – Descalça a bota e arremessa-a com raiva para lá do muro como tinha feito com a carabina. E prossegue: − E isto é tudo uma merda e eu só quero voltar para casa, mais nada, não quero brilhar, não quero cumprir o Regulamento, não quero ser promovido, tudo o que quero é voltar para casa e, no Verão, nadar na ribeira e depois, à noite, ouvir cantar o rouxinol numa ramada!
Põe as mãos em redor da boca, em jeito de megafone, e grita na brisa da noite uma súplica que não espera que alguém oiça:
− Tirem-me daquiiiiiiiii... 
E nesse preciso momento o soldado como que se desmoronou: faltaram-lhe as forças e sentiu que os joelhos não lhe aguentavam o peso. Dobrou-os e esborralhou-se sobre si mesmo, como uma velha parede apodrecida.

A. M. Pires Cabral

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