O soldado, contagiado pelo destempero do sargento, que entra desvairado no quartel, exclama, quase a chorar:
− Que quer o nosso sargento? Que quer? Competia-me disparar, eu sei, eu li o Regulamento. Mas não pude. O muro não deixa: é demasiado largo, não deixa. Acredite o nosso sargento que eu faria tudo para passar nesta maldita prova de sentinela. Mas disparar era coisa que só podia fazer às cegas, porque o muro não deixava ver o inimigo, e ia disparar sobre quem? Eu não pude disparar, não pude, não pude, está visto. O muro é muito largo, não deixa, e eles vão em paz — e quem se quilha sou eu! Não é justo!
Descontrolado, atira a carabina pelos ares para o meio da rua. Ao cair na calçada, a carabina acaba por disparar sozinha uma pequena rajada, como que a zombar da desgraça do soldado Benjamim.
− E além disso, esta merda da bota esquerda não tem feito outra coisa senão magoar-me... – Descalça a bota e arremessa-a com raiva para lá do muro como tinha feito com a carabina. E prossegue: − E isto é tudo uma merda e eu só quero voltar para casa, mais nada, não quero brilhar, não quero cumprir o Regulamento, não quero ser promovido, tudo o que quero é voltar para casa e, no Verão, nadar na ribeira e depois, à noite, ouvir cantar o rouxinol numa ramada!
Põe as mãos em redor da boca, em jeito de megafone, e grita na brisa da noite uma súplica que não espera que alguém oiça:
− Tirem-me daquiiiiiiiii...
E nesse preciso momento o soldado como que se desmoronou: faltaram-lhe as forças e sentiu que os joelhos não lhe aguentavam o peso. Dobrou-os e esborralhou-se sobre si mesmo, como uma velha parede apodrecida.
− Que quer o nosso sargento? Que quer? Competia-me disparar, eu sei, eu li o Regulamento. Mas não pude. O muro não deixa: é demasiado largo, não deixa. Acredite o nosso sargento que eu faria tudo para passar nesta maldita prova de sentinela. Mas disparar era coisa que só podia fazer às cegas, porque o muro não deixava ver o inimigo, e ia disparar sobre quem? Eu não pude disparar, não pude, não pude, está visto. O muro é muito largo, não deixa, e eles vão em paz — e quem se quilha sou eu! Não é justo!
Descontrolado, atira a carabina pelos ares para o meio da rua. Ao cair na calçada, a carabina acaba por disparar sozinha uma pequena rajada, como que a zombar da desgraça do soldado Benjamim.
− E além disso, esta merda da bota esquerda não tem feito outra coisa senão magoar-me... – Descalça a bota e arremessa-a com raiva para lá do muro como tinha feito com a carabina. E prossegue: − E isto é tudo uma merda e eu só quero voltar para casa, mais nada, não quero brilhar, não quero cumprir o Regulamento, não quero ser promovido, tudo o que quero é voltar para casa e, no Verão, nadar na ribeira e depois, à noite, ouvir cantar o rouxinol numa ramada!
Põe as mãos em redor da boca, em jeito de megafone, e grita na brisa da noite uma súplica que não espera que alguém oiça:
− Tirem-me daquiiiiiiiii...
E nesse preciso momento o soldado como que se desmoronou: faltaram-lhe as forças e sentiu que os joelhos não lhe aguentavam o peso. Dobrou-os e esborralhou-se sobre si mesmo, como uma velha parede apodrecida.
Sem comentários:
Enviar um comentário