quarta-feira, 5 de fevereiro de 2025

Santuário de Santo Amaro, Vilarinho. “Nihil Amori Christi Praeponere”!

 Vilarinho fica 16 km a Noroeste de Bragança, inserida no Parque Natural de Montesinho. Pertence à freguesia de Espinhosela, que inclui as aldeias de Terroso e de Cova de Lua. Freguesia autónoma e foreira do rei nas Inquirições de 1258, foi taxada por D. Dinis em 70 libras anuais para custear a guerra contra os mouros. Entre os séculos XVI-XVIII, o Colégio de Jesus de Bragança deteve aqui bens patrimoniais. Tanto a Igreja matriz de São Cipriano, edificada no interior da povoação, como a Capela de Santo Amaro, implantada 1 km a Sudeste, num cabeço de 819 mt, têm existência secular. A atual Capela assenta num antigo e fortificado povoado da Idade do Ferro, de atestáveis vestígios arqueológicos. Posteriormente foi romanizado e cristianizado.


Em meados do século XVI, os Templos estavam num estado deplorável em termos de sustentabilidade e dignidade. Em 1699, com a frontaria arruinada e de portas abertas, aventou-se demolir a Capela e utilizar e vender materiais para intervencionar a Igreja. Optou-se pela sua recuperação e, em 1726, o corpo estava recuperado, conforme inscrição no dintel do portal frontal e visitação do prior da colegiada de Santa Maria de Bragança. Nas décadas posteriores as intervenções incidiram no interior: altar/retábulo em estilo barroco, púlpito e sacristia. Em 1949, a data gravada no dintel do portal lateral indica nova intervenção e, em 2014, a Capela foi sujeita a cuidadoso restauro a expensas do povo. Três meses de trabalhos conducentes à sua distinção em Santuário Diocesano, conforme Decreto 07/2014 exposto na sacristia, chancelado pelo Bispo de Bragança-Miranda, D. José Cordeiro, datado de 11 de junho, solenidade de São Bento. Trata-se de um dos poucos santuários concelhios formalizados à luz do «Código de Direito Canónico» (Livro IV: Do Múnus Santificador da Igreja / Parte III: Dos Lugares e dos Templos Sagrados / Parte III: Dos Santuários). Em espaço isolado, arborizado, delimitado e adaptado à inclinação do terreno, o templo, de triplo escalonamento, é de generosas dimensões. Tem alpendre fechado frontalmente, a denotar nártex. A nave apresenta portal de verga reta moldurada de ângulos salientes e frontispício em empena truncada por campanário. Este assenta em pilastras almofadadas, ladeadas por pináculos piramidais, com vão em arco de volta perfeita a acolher sino, sobrepujado por cruz latina sobre acrotério. A fachada esquerda é cega, tal como a posterior, e a direita tem portal reto, saimento respeitante à sacristia e fresta em capialço a dar luz para a nave. O interior contém púlpito no lado do evangelho, de guarda em madeira balaustrada a castanho, assente em plataforma de granito sobre mísula e escadas de acesso adossadas à parede. O arco triunfal é abatido e o espaço do presbitério mais largo e elevado que a nave. O altar-mor tem embasamento em madeira a castanho com portas molduradas, centrado por mesa paralelepipédica, onde se apoia o Sacrário, com porta rosa e cruz enrolada por vegetalismos. O bonito retábulo barroco, de eixo único, é de talha cromada a vermelho e rosa e decoração dourada. Está ornado nas pilastras por acantos enrolados e, nas colunas, de capitel coríntio, por pâmpanos, fénices e putti, unidas por cornija interrompida pelo nicho. Neste expõe-se, sobre trono, Santo Amaro, Orago do Santuário, com vestes beneditinas debruadas a ouro, Rosário pendente, báculo na mão direita e Livro na esquerda. O ático compõe-se de três arquivoltas unidas por aduelas, com florões e acantos.
A ladear o retábulo e apostas na parede estão duas pinturas sobre tábuas de cada lado, emolduradas. Descobertas aquando dos trabalhos de restauro em 2014, narram a Anunciação do Arcanjo São Gabriel à Virgem Maria, a Natividade em Belém, a Fuga da Sagrada Família para o Egipto e a Crucificação de Jesus. Santo Amaro, discípulo predileto e herdeiro espiritual de São Bento de Núrsia!

Susana Cipriano e Abílio Lousada

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