terça-feira, 30 de setembro de 2025

Fins-de-semana Gastronómicos 2025/2026

 O Município de Macedo de Cavaleiros convida-o a desfrutar de seis fins-de-semana dedicados à gastronomia, destacando o melhor que a nossa terra tem para oferecer.
Uma viagem de paladares únicos, com menus especiais dedicados a seis produtos típicos da região.

Das castanhas aos grelos, passando pelo javali e terminando com o tradicional cabrito, cada fim-de-semana será uma nova oportunidade para descobrir e saborear a riqueza da gastronomia local.

𝗗𝗲 𝟰 𝗮 𝟭𝟬 𝗱𝗲 𝗼𝘂𝘁𝘂𝗯𝗿𝗼 𝗮𝘀𝘀𝗶𝗻𝗮𝗹𝗮-𝘀𝗲 𝗮 𝗦𝗲𝗺𝗮𝗻𝗮 𝗠𝘂𝗻𝗱𝗶𝗮𝗹 𝗱𝗼 𝗘𝘀𝗽𝗮ç𝗼

 O CCVB associa-se a esta celebração no dia 𝟱 𝗱𝗲 𝗼𝘂𝘁𝘂𝗯𝗿𝗼 com a oficina para famílias 𝙀𝙣𝙩𝙧𝙚 𝙀𝙨𝙩𝙧𝙚𝙡𝙖𝙨, a decorrer das 𝟏𝟓 𝐡 às 𝟏𝟕 𝐡.

𝐀𝐭𝐢𝐯𝐢𝐝𝐚𝐝𝐞 𝐠𝐫𝐚𝐭𝐮𝐢𝐭𝐚 

𝐈𝐧𝐬𝐜𝐫𝐢çã𝐨 𝐨𝐛𝐫𝐢𝐠𝐚𝐭ó𝐫𝐢𝐚 AQUI.

Pequenos contributos, em ideias, para Outeiro/Bragança

 Com a erva alta não é nada prático, nem convidativo, usufruir do Parque de Merendas. Talvez seja de equacionar a colocação de paralelos no piso. São meras ideias, longe de serem prioridades.


Impossível? Não me parece… São meras ideias, longe de serem prioridades.

BOLSAS DE ESTUDO AO ENSINO SUPERIOR 2025/2026

 A Câmara Municipal de Miranda do Douro, ciente da necessidade de apoiar as famílias do concelho de Miranda do Douro, deliberou atribuir vinte e cinco bolsas de estudo no ano letivo de 2025/2026. O programa de Bolsas de Estudo ao Ensino Superior destina-se a apoiar o prosseguimento de estudos a estudantes economicamente carenciados e com aproveitamento escolar que, por falta dos necessários meios económicos, se vêm impossibilitados de o fazer.

𝐄𝐬𝐭𝐚 𝐦𝐞𝐝𝐢𝐝𝐚 𝐫𝐞𝐩𝐫𝐞𝐬𝐞𝐧𝐭𝐚 𝐮𝐦 𝐢𝐧𝐯𝐞𝐬𝐭𝐢𝐦𝐞𝐧𝐭𝐨 𝐚𝐧𝐮𝐚𝐥 𝐝𝐞 𝟑𝟐.𝟔𝟓𝟕,𝟓𝟎€, 𝐬𝐞𝐧𝐝𝐨 𝐨 𝐯𝐚𝐥𝐨𝐫 𝐝𝐚 𝐛𝐨𝐥𝐬𝐚, 𝐩𝐚𝐫𝐚 𝐨 𝐚𝐧𝐨 𝐥𝐞𝐭𝐢𝐯𝐨 𝟐𝟎𝟐𝟓/𝟐𝟎𝟐𝟔, 𝐜𝐨𝐫𝐫𝐞𝐬𝐩𝐨𝐧𝐝𝐞𝐧𝐭𝐞 𝐚 𝐝𝐞𝐳 𝐩𝐫𝐞𝐬𝐭𝐚𝐜̧𝐨̃𝐞𝐬 𝐝𝐞 𝟏𝟑𝟎,𝟔𝟑€.

O período de candidatura decorrerá entre o dia 1 a 31 de outubro de 2025. As candidaturas deverão ser entregues no Balcão Único da Câmara Municipal, devidamente acompanhadas do Impresso de Candidatura e dos documentos solicitados, dentro daquele período e no horário de atendimento ao público, entre as 9h00 e as 17h00, de segunda a sexta-feira.

Para mais informações contacte os serviços educativos da Câmara Municipal: 273 430 020 / 273 094 510.

𝐓𝐨𝐝𝐨𝐬 𝐏𝐞𝐥𝐚 𝐒𝐚𝐮́𝐝𝐞 𝐌𝐞𝐧𝐭𝐚𝐥 𝟐𝟎𝟐𝟓

 Está de volta a 2.ª edição deste movimento que pretende sensibilizar a comunidade para a importância da promoção da saúde mental e do combate ao estigma associado.

𝟎𝟖 𝐝𝐞 𝐨𝐮𝐭𝐮𝐛𝐫𝐨 – 𝟎𝟗𝐡𝟑𝟎

𝐂𝐚𝐦𝐢𝐧𝐡𝐚𝐝𝐚 “𝐓𝐨𝐝𝐨𝐬 𝐏𝐞𝐥𝐚 𝐒𝐚𝐮́𝐝𝐞 𝐌𝐞𝐧𝐭𝐚𝐥”

Percurso de 2,4 km com partida na Ecoteca Mirandela.

Inscrições gratuitas e obrigatórias: ecoteca@cm-mirandela.pt | 📞 936 667 655 (até 07/10 às 12h)

𝟏𝟎 𝐝𝐞 𝐨𝐮𝐭𝐮𝐛𝐫𝐨

𝐋𝐮𝐳 𝐕𝐞𝐫𝐝𝐞 𝐩𝐚𝐫𝐚 𝐚 𝐒𝐚𝐮́𝐝𝐞 𝐌𝐞𝐧𝐭𝐚𝐥

Celebre connosco o Dia Mundial da Saúde Mental com a iluminação do Palácio dos Távoras.

“Tábuas da Paixão” a exposição que quer retratar o sofrimento de Cristo, no Museu de Arte Sacra em Macedo de Cavaleiros

 Esta sexta-feira, foi inaugurada a exposição de pintura “As Tábuas da Paixão”, no Museu de Arte Sacra, em Macedo de Cavaleiros, da autoria de João Freire. O pintor, que desde 1978 desenvolve uma carreira nas artes plásticas, referiu que se inspirou num filme, como destaca:


“Esta é uma exposição que já foi pensada há muitos anos, eu penso que há mais de 20, se calhar. Quando eu vi o filme de Mel Gibson, “A Paixão de Cristo”, achei que aquele filme se calhar era o que mostrava mais, a realidade da vida de Jesus Cristo aqui na Terra. É um filme pesado e eu desde essa altura disse

um dia eu hei-de fazer algo em que as pessoas possam ver e sentir o que Cristo passou. E é mesmo isso. É um filme violento.”

Esta é segunda vez que aborda este tema, apesar da primeira ter sido em aguarelas, e admite que esta é mais irreverente e que pretende provocar emoções:

“Esta exposição é feita de materiais, a maioria reaproveitados. São pinturas em que se usa de materiais. Por exemplo, este, a coroa dos espinhos, é feita de pregos. E quando se vê a imagem, aqui na fotografia não tanto, mas na imagem, a pessoa se calhar pensará mais sobre o que aconteceu naquele momento.

E há outras situações, quando Cristo foi chicoteado. É uma situação também muito forte, que eu tentei transmitir para as tábuas, neste caso, para o suporte. E é isso, as pessoas vão sentir emoções. Não vão ficar indiferentes. Podem até não gostar, mas indiferentes não vão ficar. E é assim o meu trabalho. O que eu gosto é de provocar emoções.”

A direção artística esteve a cargo de Inês Falcão que salienta o conceito que se impõe na mostra é sobretudo a humanização:

“Uma exposição que tem a ver com as passagens bíblicas de Jesus Cristo. E consideramos que nesta altura, fazia algum sentido, sobretudo neste espaço, para não colocar sempre, esta mistura de arte contemporânea e ter aqui também arte sacra, e até pedir às pessoas, que venham e pensem um bocadinho, na bíblia e naquilo que Cristo sofreu e a desumanização do senhor humano e nós seres humanos somos desumanos, uns com os outros. E eu pedia para refletirem que eu considero que é muito importante, que a gratidão e a humanidade, que tem de ser bem pensado, e sermos seres humanos é muito importante. Mas com toda a sua essência.


Também na inauguração esteve presente Benjamim Rodrigues, presidente da câmara municipal de Macedo de Cavaleiros que referiu que esta exposição é bastante original:

“Uma exposição de um autor original. Ele faz diferentes interpretações, com diversas técnicas e materiais, com uma inspiração incrível. E com materiais que nos passam despercebidos, no dia-a-dia, ou até com resíduos, ele consegue, construir telas, com interpretações de sentimento, de sofrimento, de paixão. Ou seja, com uma série de emoções transparecem da sua criatividade. E penso que é uma oportunidade para quem quiser visitar. De ver como é possível, um artista criativa fazer até com coisas tão simples e banais e transforma-las em coisas tão complexas e simbólicas.”

A exposição “Tábuas da Paixão” vai ficar patente até ao dia 30 de dezembro.

segunda-feira, 29 de setembro de 2025

O silêncio da vida

Por: Paula Freire
(colaboradora do Memórias...e outras coisas...)


O silêncio da vida
acontece no sentir da pele
quando é fresco e mudo o cair do tempo...
E quando as horas
breves
escutam o que a alma não precisa de ver,
nada é mais infindo
do que as minhas vastidões plenas
feitas de fogo e mistério,
no sentir,
submerso,
da voz de um poeta.
.
Como quem sonha
devagar
com o beijo puro de um outono dourado…
…. É assim
que o coração nasce e se chama amor.



Paula Freire
- Natural de Lourenço Marques, Moçambique, reside atualmente em Vila Nova de Gaia, Portugal.
Com formação académica em Psicologia e especialização em Psicoterapia, dedicou vários anos do seu percurso profissional à formação de adultos, nas áreas do Desenvolvimento Pessoal e do Autoconhecimento, bem como à prática de clínica privada.
Filha de gentes e terras alentejanas por parte materna e com o coração em Trás-os-Montes pelo elo matrimonial, desde muito cedo desenvolveu o gosto pela leitura e pela escrita, onde se descobre nas vivências sugeridas pelos olhares daqueles com quem se cruza nos caminhos da vida, e onde se arrisca a descobrir mistérios escondidos e silenciosas confissões. Um manancial de emoções e sentimentos tão humanos, que lhe foram permitindo colaborar em meios de comunicação da imprensa local com publicações de textos, crónicas e poesias.
O desenho foi sempre outra das suas paixões, sendo autora das imagens de capa de duas obras lançadas pela Editora Imagem e Publicações em 2021, “Cultura Sem Fronteiras” (coletânea de literatura e artes) e “Nunca é Tarde” (poesia), e da obra solidária “Anima Verbi” (coletânea de prosa e poesia) editada pela Comendadoria Templária D. João IV de Vila Viçosa, em 2023. Prefaciadora dos romances “Amor Pecador”, de Tchiza (Mar Morto Editora, Angola, 2021), “As Lágrimas da Poesia”, de Tchiza (Katongonoxi HQ, Angola, 2023), “Amar Perdidamente”, de Mary Foles (Punto Rojo Libros, 2023) e das obras poéticas “Pedaços de Mim”, de Reis Silva (Editora Imagem e Publicações, 2021) e “Grito de Mulher”, de Maria Fernanda Moreira (Editora Imagem e Publicações, 2023). Autora dos livros de poesia: Lírio: Flor-de-Lis (Editora Imagem e Publicações, 2022) e As Dúvidas da Existência - na heteronímia de nós (Farol Lusitano Editora, 2024, em coautoria com Rui Fonseca).
Em setembro de 2022, a convite da Casa da Beira Alta, realizou, na cidade do Porto, uma exposição de fotografia sob o título: "Um Outono no Feminino: de Amor e de Ser Mulher".
Atualmente, é colaboradora regular do blogue "Memórias... e outras coisas..."- Bragança e da Revista Vicejar (Brasil).
Há alguns anos, descobriu-se no seu amor pela arte da fotografia onde, de forma autodidata, aprecia retratar, em particular, a beleza feminina e a dimensão artística dos elementos da natureza.

Acidente de trator provoca a morte a um homem em Podence, Macedo de Cavaleiros

 Um acidente com um trator provocou a morte a um homem de 47 anos, em Podence, no concelho de Macedo Cavaleiros, esta tarde.


As circunstâncias do acidente ainda estão por apurar.

No entanto, o óbito já foi declarado no local.

O alerta foi dado às 17h00. E foram mobilizados 11 operacionais, apoiados por 4 veículos e ainda a VMER e o helicóptero do INEM.

GR36 do Douro Internacional – Entre Tradições e Paisagens

 Não tarda e voltamos a celebrar as festas de inverno, tradições seculares do nosso concelho. É o momento ideal para as dar a conhecer, unindo uma rota turística de excelência com o poder identitário das máscaras de inverno.


Percorrer a GR36 no concelho de Mogadouro é muito mais do que uma aventura em plena natureza: é uma viagem no tempo e na cultura das aldeias raianas. Ao longo do percurso, especialmente no solstício de inverno, o caminho cruza-se com algumas das mais vibrantes tradições do património imaterial português, os Rituais das Máscaras de Inverno.

Durante o percurso desta rota, no nosso concelho, em Bruçó, Vilarinho dos Galegos, Tó e Bemposta, a paisagem fria e agreste ganha vida com as figuras mascaradas que percorrem as ruas em celebrações ancestrais. Entre chocalhos, cantos e danças, revivem-se ritos de renovação ligados à fertilidade da terra e ao ciclo da vida, preservados ao longo de gerações.

A rota oferece um contraste fascinante: de um lado, as encostas abruptas do Douro Internacional, com vistas de cortar a respiração; do outro, a força viva das tradições que transformam cada aldeia num palco de cor, som e mistério.

Se procuras uma experiência única, une o prazer da descoberta pela GR36 ao encanto dos rituais mascarados de Mogadouro. Natureza e cultura fundem-se num só percurso, convidando-te a descobrir o Douro não apenas como destino, mas como território de memórias e identidade.

IMAGINAR UMA CONSOADA SEM BATATAS (OU SEM «BALULAS» OU «CASTANHOLAS» , COMO LHES OUVI CHAMAR)


 A cerca de três meses do Natal, lembrei-me da incrível história da batata pelas nossas terras. Em simultâneo me lembrando dos meus bisavós, os quais não conheci, nascidos que foram no século XIX. Tal como os bisavós, e até avós, de muitos. Confesso que custa a conceber que esses nossos ancestrais não comessem batatas! Impensável ideia para actual realidade…

A verdade, porém, é que a tão nossa batata, hoje classificada como «Batata de Trás-os-Montes IGP», a tal que ouvi designar como «balula», mas também como «castanhola», muito tardiamente entrou na ementa dos nossos antepassados. Antepassados esses que não diriam, tal como a “a Ti Maria Imberna, a nha abó”: «Ó mou filhu’e, bai aí ó pote, e abonda di uas catchas de batata”. Nas inesquecíveis Consoadas, onde, a acompanhar o bacalhau ou o polvo, também eram presença obrigatória a “coube-trontcha e ós rábinus’e”. Estes últimos, os rábanos, igualmente conhecidos como “rabas”, tal como à couve-penca também já ouvi designar como “coube-trontchuda”. 

Mas regressemos à batata, inseparável tubérculo da nossa gastronomia. Há pouco mais de 140 anos, o célebre estudioso Leite de Vasconcellos, influenciado pelo seu amigo, o «nosso» Trindade Coelho, vinha ao Nordeste, onde estanciou por terras Macedenses e Mirandesas, com o intuito de perceber a «língua estranha» que por cá se falava. Legou-nos ímpares registos, nomeadamente um, em particular, relacionado com o consumo de batatas. E deixaria escrito que, nesse final do século XIX, a batata já era por aqui cultivada, porém se destinando à alimentação dos porcos! Acrescentando que, pedindo batatas para acompanhar a sua refeição, os convivas se riram disso. O que, de facto, surpreendente sendo, conduziu a que, desde há uns largos anos, também venha tentando perceber qual seria o regime alimentar dos nossos antepassados. Tendo-me perguntado: «Se as batatas eram para os porcos, o que comeriam os meus antepassados?»

Acumulando que fui alguns conhecimentos acerca da alimentação dos que nos antecederam, senti que seria de bom tom partilhá-los, para lá do que já consta nos livros sobre as minhas freguesias, ou em artigos em revistas, ou, até, nas partilhas que vou fazendo pelas minhas páginas. Será a minha singela forma, Escuteiro tendo sido, de honrar a mensagem do seu fundador: «Procurai deixar o mundo um pouco melhor do que o encontrastes». 

Quando terá entrado a batata na nossa região, chegada que foi à Europa no século XVI? Tudo aponta para que a tão saborosa e inconfundível batata apenas tenha entrado na região de Trás-os-Montes no século XVIII, há apenas 300 anos, assim o confirma o trasmontano médico da corte, ainda na primeira metade desse século. Diz-nos que «em algumas terras frias da Provincia de Traz‑os‑montes ha humas plantas, que se cultivão nas hortas, em cujas raizes se achão huns frutos redondos, á maneyra de tuveras da terra do tamanho de nozes grandes, e algumas maiores, aos quaes chamão castanhas da India; comem‑se cozidas e assadas. São frias e secas; cozem‑se muito mal e digerem‑se pior; causam obstruçoens, flatulencias e cólicas». 

Assim eram designadas as batatas, como «castanhas da Índia» ou, noutros escritos, como «castanhas da terra». Porém, antes disso, foram designadas como «fruto do diabo», porque as diziam causadoras da lepra! Na mentalidade popular, superstições tantas, também tiveram a época onde eram designadas como «alimento das bruxas», por nascer o tubérculo debaixo da terra! Acrescentando as observações do «Dr. Mirandela», rapidamente o Povo, muito dado a crendices, desprezou e subestimou a tão rica batata. Até outros estudiosos e a necessidade virem contrariar os mitos.

Sabe-se que, em meados do século XVIII, a batata já era razoavelmente produzida no vizinho distrito de Vila Real. No distrito bragançano, segundo as memórias que nos foram deixadas, apenas no concelho de Carrazeda havia produção substancial de batatas. Informações corroboradas por alguns interessantes estudos publicados em finais do mesmo século. As crises cerealíferas do século XIX, bem como as doenças que afectaram os castanheiros, haveriam de propiciar a difusão da produção de batatas. As quais, na escassez de cereais, até serviram para confeccionar pão, ao qual chamavam «pão dos pobres». Pão que, nesses tempos de escassez, também se fazia com bolotas ou favas secas! Outros tempos… Se bem que fosse nas classes mais abastadas, as quais até já levavam o tubérculo a exposições agrícolas, que a batata primeiro se impôs. O que conduziria a que, nos registos da Igreja, tivesse passado a constar o pagamento do «dízimo sobre as batatas». 

No entanto, a crer nas preciosas informações de Leite de Vasconcellos, tudo aponta para que a produção, até finais do século XIX, fosse maioritariamente destinada ao gado, nomeadamente ao porcino. A batata seria de tal forma desvalorizada que, nos testamentos ou inventários da época, outras produções sendo relevadas, a da batata nunca vem mencionada, ao contrário da castanha, que persistia em ser o principal alimento dos nossos bisavós. O século XX, com novas informações e outros métodos agrícolas, traria a proliferação da batata, um produto indispensável, na actualidade, em qualquer boa mesa trasmontana. Quem não teve já o privilégio de ir a “ua arranca da batata”? Todavia, quem diria que teria demorado tanto tempo para a saborosa batata se impor na nossa gastronomia? “Ele hai cousas du catantchu’e”!…

Rui Rendeiro Sousa

A USM abre as portas para um novo ano de aprendizagens, convívio e alegria!

 Inscrições abertas para o ano letivo 2025/2026
A USM está de volta para mais um ano cheio de aprendizagens, amizade e momentos inesquecíveis!

Se tem mais de 50 anos, gosta de aprender, de conviver e de participar em atividades culturais, recreativas e formativas, esta é a sua casa.

Vamos aprender, recordar, experimentar e conviver juntos!

Há aulas para todos os gostos: Informática, Cultura, Música, Pintura, Manualidades, Atividade Física, entre muitas outras!

Precisamos apenas de vontade de participar e fazer parte desta família que cresce todos os anos.

Início das aulas: 6 de outubro

Para informações e inscrições, visite-nos ou contacte-nos através do 934406214 | usm@mogadouro.pt.

Firmino João Lopes - Os Governadores Civis do Distrito de Bragança (1835-2011)

 16.janeiro.1890 – 30.julho.1890
BRAGANÇA, 5.5.1825 – LISBOA, 25.10.1906

Advogado. Magistrado judicial.
Bacharel em Direito pela Universidade de Coimbra.
Deputado (1879, 1882-1884, 1884-1887, 1887-1889 e 1890). Governador civil de Bragança (1890).
Par do Reino eletivo (1890-1892 e 1894).
Natural da freguesia de Outeiro, concelho de Bragança.
Filho de Joaquim José Lopes e de Maria Rita Nogueira.
Agraciado com carta do Conselho (13.3.1890).

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Matriculou-se na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra em outubro de 1842, concluindo a formatura em julho de 1848. Ainda estudante, alistou-se no Batalhão Académico, organizado em 1846 para servir as Juntas Revolucionárias criadas no contexto da Guerra Civil da Patuleia.
Iniciou a carreira profissional dedicando-se à advocacia e à magistratura administrativa, nomeadamente como último administrador do concelho de Izeda (1850-1855), intervindo de forma determinante na extinção do mesmo, de modo a reforçar o de Macedo de Cavaleiros. Mais tarde, foi nomeado auditor dos concelhos de guerra de Chaves e Bragança, lugar de que foi exonerado em 1860, a seu pedido.
Em 1862, inicia o percurso de magistrado judicial ao ser nomeado para o lugar de delegado do procurador régio da comarca de Vila Pouca de Aguiar. Desempenhou posteriormente o mesmo cargo nas comarcas de Macedo de Cavaleiros (1865), Valpaços (1867) e Lisboa, na 1.ª vara (1868).
Em 1870, foi promovido a juiz de Direito de 3.ª classe, sendo colocado nas comarcas de S. Jorge, Fronteira e Vila Nova de Foz Côa, as três nesse mesmo ano.
Elevado a juiz de 2.ª classe, exerceu funções na comarca de Mirandela (1876). Foi promovido à última etapa da 1.ª instância ao ser nomeado juiz de 1.ª classe, cargo que desempenhou nas comarcas de Vila Real (1879) e posteriormente de Lisboa, no 1.º e 2.º Distrito Criminal (1882-1885).
Sendo promovido a juiz de 2.ª instância, foi colocado na Relação dos Açores, por decreto de 31 de outubro de 1889, e por decreto de 28 de fevereiro de 1891, foi nomeado presidente da mesma Relação.
Em 17 de outubro de 1891, foi transferido para a Relação de Lisboa, da qual se tornou vice-presidente por decreto de 12 de junho de 1901 e presidente por decreto de 17 de agosto do mesmo ano. A 7 de janeiro de 1904, foi elevado a juiz-conselheiro do Supremo Tribunal de Justiça, cargo que ocupava à data da sua morte.
Do seu percurso na magistratura escreveria o Diário Ilustrado de 17 de maio de 1903: “É honra da magistratura portuguesa pela seriedade e inquebrantabilidade do seu caráter. As suas decisões nas instâncias que tem servido têm-se distinguido sempre pelo seu espírito de correção, de imparcialidade e firmeza de julgamento. A lei, e sempre a lei – eis a sua divisa”.
Em relação à sua atividade política, militou durante largos anos no Partido Regenerador, acompanhando Fontes Pereira de Melo e Lopo Vaz de Sampaio no período em que se desenrolou a sua etapa política mais ativa, no último quartel do século XIX.
Foi consecutivamente eleito deputado para as legislaturas de 1879 ( juramento a 23.1.1879), 1882-1884 ( juramento a 20.1.1882), 1884-1887 ( juramento a 27.12.1884), 1887-1889 ( juramento a 13.4.1887) e 1890 ( juramento a 15.1.1890). Nas duas primeiras legislaturas foi eleito pelo círculo uninominal de Macedo de Cavaleiros, e nas três seguintes pelo círculo plurinominal de Bragança. Exerceu o mandato de par do Reino eletivo no quadro das eleições de 1890 (pelo distrito de Leiria) e de 1894 (pelo distrito de Ponta Delgada).
Quando iniciou a atividade parlamentar, em 1879, tinha já 54 anos, sendo então o membro mais velho da Câmara. Integrou as comissões de Verificação de Poderes (1879, 1882 e 1884 1886), Legislação Criminal (1879 e 1886-1887), Petições (1879), Legislação Civil (1882-1886), Infrações (1887), Bill de Indemnidade (1885) e na Comissão
Especial encarregada de examinar as representações do distrito de Vila Real acerca do flagelo que afetou a região (1882).
No decurso dos seus mandatos, centrou-se sempre na defesa dos interesses dos círculos que representou, destacando-se também a sua participação regular em comissões parlamentares. O propósito de dar voz aos problemas locais do Nordeste Trasmontano apresentou-se particularmente visível no início da carreira parlamentar, facto a que não terá sido alheia a ligação à região, de onde era natural e onde decorreu parte significativa da sua carreira na magistratura. A atenção conferida aos círculos de eleição traduziu-se na apresentação de projetos de lei relativos a interesses camarários, de teor administrativo e de fomento rodoviário, e ainda em intervenções várias com o fim de obter esclarecimentos do Governo sobre incidentes político-administrativos locais ou sobre matérias de interesse geral do distrito.
Desenvolveu igualmente a relação com os cidadãos, por via de requerimentos de interesse particular, tanto de cidadãos do distrito como de outros, designadamente de teor profissional. No quadro dos trabalhos parlamentares de âmbito nacional, tomou parte na discussão na especialidade de diplomas significativos, como o projeto de reforma penal (1884), os projetos de reforma da Lei do Selo (1885) e da contribuição industrial (1888) e o projeto de Código Comercial (1888), entre outros.
Em alguns casos, estas discussões foram acompanhadas por intervenções contundentes e solidamente argumentadas, o que aliás caracterizava o perfil geral das suas declarações, a revelar a sua capacidade persuasiva, a par da assunção clara do seu posicionamento partidário.
A última legislatura para que foi eleito, iniciada a 2 de janeiro de 1890, foi extremamente curta, terminando a 20 do mesmo mês. Adivinhando-se a rutura política que se aproximava, logo João Firmino Lopes foi nomeado governador civil de Bragança, por decreto 16 de janeiro, tomando posse a 1 de fevereiro seguinte, na presença do governador civil substituto João José Pereira Charula, sendo exonerado a 30 de julho do mesmo ano.
Para esta exoneração terá concorrido a sua eleição como par do Reino pelo distrito de Leiria ( juramento a 12.5.1890), cargo certamente mais apetecível política e financeiramente e que melhor lhe permitia prosseguir a sua carreira na magistratura, uma vez que estava colocado em Lisboa. Em 1894, era novamente eleito para a Câmara dos Pares, desta feita pelo distrito de Ponta Delgada ( juramento a 30.10.1894)
Na câmara alta do Parlamento, o seu desempenho foi significativo no campo das muitas comissões para que foi nomeado entre 1890 e 1893, colaborando com maior intensidade nas de Administração Pública e de Legislação, mas integrando também as comissões da Reforma do Regimento da Câmara, Negócios Eclesiásticos, Inquérito Agrícola e Emigração, conservando vivo, apesar da avançada idade – tinha já 75 anos quando se sentou pela primeira vez na Câmara dos Pares – o perfil contundente que lhe era próprio, bem expresso nas intervenções que realizou.
Na sequência da cisão do Partido Regenerador, em 1901, seguiu João Franco, de quem era amigo, aderindo ao recém-criado Partido Regenerador Liberal. João Firmino Lopes seria inclusive escolhido por João Franco para presidir ao primeiro Centro Regenerador-Liberal, inaugurado em Lisboa em 1903.
Ainda seria elevado a par do Reino vitalício, em maio de 1906, como “prova de confiança e de consideração” do seu partido, agora que o seu amigo e correligionário João Franco alcançava finalmente a chefia do Governo, mas não chegou a tomar posse, debilitado que estava pela sua avançada idade, vindo a falecer cinco meses depois, no dia 25 de outubro, aos 81 anos.

Fontes e Bibliografia
Arquivo Distrital de Bragança, Autos de Posse (1845-1928).
Arquivo da Universidade de Coimbra, documentos vários.
Diário da Câmara dos Deputado, 1879-1890.
Diário da Câmara dos Pares, 1890-1894.
Diário Ilustrado, 17.5.1903.
ALVES, Francisco Manuel. 2000. Memórias arqueológico-históricas do distrito de Bragança, vol. VII. Bragança:
Câmara Municipal de Bragança / Instituto Português de Museus.
MÓNICA, Maria Filomena (coord.). 2004. Dicionário Biográfico Parlamentar (1834-1910), vol. II. Lisboa:
Assembleia da República.

Publicação da C.M. Bragança

Concerto de abertura do Bragança ClassicFest encheu a Basílica de Santo Cristo em Outeiro

 O Bragança ClassiFest arrancou este sábado e decorre até de dia 11 de outubro, numa quinta edição que aposta na descentralização


A Basílica de Santo Cristo, em Outeiro, recebeu o concerto de abertura da quinta edição do Bragança ClassicFest. Segundo João Cristiano Cunha, diretor do Teatro Municipal de Bragança, a decisão de levar a música erudita até Outeiro foi tomada já na edição anterior. Este ano, o sucesso confirmou-se com a sala completamente esgotada. "Estávamos relativamente expectantes, porque é em Outeiro, não é propriamente em Bragança, e a ideia é de descentralizar as atividades culturais deste evento de excelência. Estamos com a sala esgotada. Convidei o diretor artístico do Bragança ClassicFest, Filipe Pinto Ribeiro, a visitar a Basílica na edição anterior do ClassicFest e ficou logo estipulado que faríamos aqui um espetáculo. Não tínhamos pensado que fosse de abertura, só que o grupo que aqui está hoje, tinha disponibilidade para esta data específica e optámos por fazer aqui o espetáculo de abertura, tendo em conta que também é música sacra e faz todo sentido ser acolhida neste belíssimo espaço".

Já o presidente da junta de Freguesia, César Gustavo Garrido, louva a iniciativa, mas aponta que não resolve os problemas da desertificação na aldeia. “A importância é muita é pena que não ajude a resolver o problema do despovoamento, porque as pessoas vêm ao espetáculo, que é de facto grandioso, e depois vão-se embora. Isto é interessante e é importante e penso que contribuirá de forma definitiva para uma maior divulgação da Basílica”, disse.

O concerto atraiu público de todo o concelho e do distrito. Muitos elogiaram a descentralização do festival e a valorização do património local. Teresa Miranda e Rosa Pinelo, são de Rio Frio e foram até Outeiro este fim de semana ouvir o grupo de música clássica. Teresa Miranda diz que vai muitas vezes assistir a espetáculos no Teatro Municipal de Bragança e afirmou que a ideia do concerto de abertura ser, este ano, na basílica foi “espetacular”.

Paulo Pires, de Pinela, foi um estreante no espetáculo tendo tido conhecimento um dia antes da programação do Bragança ClassicFest. Foi a curiosidade que o levou até à aldeia. “Ouvi a programação e achei muito interessante e foi isso que mobilizou. É um festival de música clássica é sempre muito interessante e acho que vou gostar. Penso que faz todo sentido porque este é de facto um espaço icónico e fantástico”, frisou.

O Bragança ClassiFest arrancou este sábado e decorre até de dia 11 de outubro, numa quinta edição que aposta na descentralização, levando a música clássica além do centro da cidade de Bragança.

Escrito por Brigantia.
Jornalista: Cindy Tomé

domingo, 28 de setembro de 2025

Coral Brigantino abre ensaios a novos membros

 O Coral Brigantino infanto-juvenil está de portas abertas para receber novos participantes, que tenham idades entre os 8 e os 18 anos. 
Os ensaios decorrem todas as terças e sextas-feiras, a partir das 18h30, na antiga Biblioteca Infantil, situada em frente à Casa Episcopal, na Rua Calouste Gulbenkian, em Bragança.

A Matança de Outeiro - Capítulo III – Preparativos para a Batalha


 O vento frio do início de manhã percorria Outeiro, trazia consigo o aroma da terra molhada e das lareiras acesas, mas também um presságio de perigo que se espalhava pela aldeia. Todos sabiam que o inimigo se aproximava, e a sensação de urgência era palpável. Cada aldeão parecia sentir o peso do destino nos ombros.

Na praça central, Tomé trabalhava lado a lado com o seu pai, reforçando portas de madeira com barras de ferro e pregando novas tábuas. As suas mãos, já calejadas do martelo, tremiam ligeiramente. Não de medo, mas de responsabilidade. Ele sabia que cada martelada poderia, um dia, salvar uma vida ou evitar a destruição da aldeia.

- Tomé, concentra-te, disse o pai, enxugando o suor da testa. Cada prego bem colocado pode ser a diferença entre a vida e a morte.

Tomé concordou e sentiu um frio misturado com uma estranha excitação. Ele sabia que aquele dia poderia marcar para sempre a sua vida e a de todos à sua volta.

Enquanto isso, Maria percorria a aldeia carregando cestos de ervas e remédios improvisados. Cada passo lembrava-lhe que a batalha não seria apenas de ferro e pedra, mas também de sangue, dor e medo. Ela ensinava os mais jovens a cuidar de alguns ferimentos simples, a reconhecer sinais de choque e desespero.

- João, prepara o grupo para vigiar os caminhos, disse ela ao caçador, que a acompanhava. Precisamos saber se eles vêm de mais do que de uma direção.

- Estou a tratar disso, respondeu João, o seu olhar percorreu a encosta da colina como se pudesse ver o inimigo através da névoa. Mas também precisamos de decidir onde colocar os homens mais fortes e quem ficará nos pontos críticos.

No campo à margem da aldeia, os jovens treinavam sob o olhar atento de Tiago. Alguns manejavam lanças, outros arco e flecha, enquanto os mais corajosos praticavam ataques e defesas improvisadas. O velho mestre gritava instruções, corrigia posturas, encorajava e, quando necessário, repreendia.

- Lembrem-se! Cada movimento conta! Ordenava ele. Um erro, e não é apenas a vossa vida que se perde, mas a de todos à vossa volta!

Tomé juntou-se a João e a alguns jovens mais fortes para estudar o terreno. Cada árvore, cada pedra, cada trilho era analisado. Pensavam em emboscadas, pontos de vantagem, locais onde poderiam atrasar o inimigo ou surpreendê-lo. Cada decisão parecia pequena, mas poderia definir o resultado da batalha.

No meio do trabalho, surgiam pequenas histórias humanas que coloriam o nervosismo.

Um casal jovem discutia, nervoso com a iminência da guerra, mas depois abraçava-se, prometendo proteger-se mutuamente. Uma mulher idosa ensinava os mais jovens a preparar ervas para ferimentos graves. Crianças aprendiam a carregar água e pequenas armas improvisadas, orgulhosas de poderem ajudar.

A noite caiu, e a aldeia permaneceu acordada, trabalhando e planeando. Lareiras acesas iluminavam ruas e praças, enquanto o vento frio sussurrava através das árvores. Tomé sentou-se um instante à sombra do canhão sobre o cavalete, tocou no ferro frio, imaginando os homens que haviam lutado ali séculos antes.

- Eles enfrentaram o medo e venceram, murmurou. E nós teremos de fazer o mesmo.

Maria aproximou-se e colocou a mão sobre a dele:

- Estamos todos juntos, Tomé. Não importa o que aconteça, não vamos falhar.

Enquanto o céu escurecia e a aldeia mergulhava numa noite silenciosa, cada aldeão respirava fundo, preparando-se para o que estava para vir. Amanhã, pensavam, a Matança não seria apenas um nome. Seria um campo vivo de coragem, sacrifício e esperança.

Continua...

N.B.: Este conto tem como base a "Lenda" de Outeiro "A Matança". A narrativa e os personagens fazem parte do mundo da ficção. Qualquer semelhança com acontecimentos ou pessoas reais, não passa de mera coincidência.

HM

A Nossa Riqueza mede-se em pequenas coisas... que não são vistas, nem cuidadas, por todos

 A riqueza do Nordeste Transmontano não se mede apenas nas suas paisagens, tradições e gastronomia. Também passa, de forma marcante, pela fauna piscícola que povoa os nossos rios e ribeiras.

Manter os cursos de água bem tratados, livres de descargas diretas de saneamento, é essencial para preservar este património natural que tanto nos orgulha e de que podemos desfrutar.

A pesca, quando feita de forma legal e sustentável, à cana, não é apenas um passatempo saudável, mas também uma forma de valorizar e proteger os recursos hídricos da região. Rios limpos e bem cuidados são sinónimo de biodiversidade, equilíbrio ecológico e de qualidade de vida para as comunidades que deles dependem.

Proteger a fauna piscícola do Nordeste Transmontano é, por isso, proteger o futuro de uma das regiões mais autênticas e ricas do país.

Rios saudáveis são vida, tradição e orgulho transmontano!

HM

O Cavaleiro das Sombras - Capítulo VIII – Estratégias e Alianças


 A cidade ainda tremia com o confronto da véspera. Cada rua, cada esquina, lembrava aos habitantes que Bragança estava vulnerável. O recomeço agora exigia mais do que reconstrução, exigia estratégia.

Afonso reuniu os líderes de cada bairro na torre principal das muralhas. Lídia trouxe mapas detalhados da cidade e das florestas circundantes. Baltasar, apoiado no bordão, observava cada rosto, atento à determinação e ao medo que se misturavam nas feições dos presentes.

- Precisamos entender, disse Afonso, apontando para os trilhos da floresta, onde é que eles aparecem, como se movem, e quais os caminhos que evitam. Se prepararmos armadilhas e posições defensivas, podemos virar o jogo a nosso favor.

Lídia acrescentou:

- Alguns registos antigos mencionam seres que se escondem na neblina e usam o ambiente para confundir os humanos. Talvez as histórias do Cavaleiro das Sombras possam ensinar-nos algo sobre como lidar com inimigos que se movem nas sombras.

Baltasar bateu o bordão na madeira da mesa.

- Precisaremos de vigias constantes. Cada rua, cada portão deve ter alguém a observar. Não podemos esperar que o perigo nos surpreenda novamente.

Enquanto os planos eram traçados, mensageiros corriam pelas ruas em busca de reforços. Vizinhos e aldeias próximas foram avisados da ameaça. Alguns mercadores e artesãos decidiram permanecer para ajudar a fortificar Bragança. Outros, porém, fugiram, incapazes de enfrentar algo tão desconhecido.

Ao cair da noite, torres de vigia foram erguidas, pequenas armadilhas escondidas entre árvores e becos. Cada casa recebeu instruções para reforçar portas e janelas. E, nas muralhas, Afonso posicionou os arqueiros mais habilidosos, preparando-se para guiar os inimigos para áreas abertas, onde poderiam ser controlados.

Lídia, a caminhar com Afonso sob a luz de tochas, comentou:

- Precisamos de aliados que conheçam a floresta. Os caçadores da região podem ajudar-nos a antecipar os movimentos e encontrar possíveis pontos de entrada que desconhecemos.

- Concordo, respondeu Afonso: - Amanhã sairemos para conversar com eles. Se conseguirmos que os caçadores colaborem com os nossos vigias, teremos uma rede capaz de proteger a cidade e talvez descobrir quem ou o que realmente nos ameaça.

Baltasar, olhando para a neve que começava a cair novamente, murmurou:

- Bragança sobreviveu a mentiras e fantasmas do passado. Agora, precisará sobreviver a inimigos que caminham nas sombras. Mas desta vez, não estaremos sozinhos.

Enquanto a cidade se preparava, algo se movimentava nas profundezas da floresta. Silencioso, observava os movimentos das muralhas, estudava as armadilhas recém-colocadas, e percebeu que enfrentaria uma Bragança diferente daquela que tinha visitado na noite anterior. A caça estava prestes a começar, e a cidade que se reconstruía teria que provar que coragem e inteligência, juntas, podem superar até os inimigos mais misteriosos.

Continua...

N.B.: A narrativa e os personagens fazem parte do mundo da ficção. Qualquer semelhança com acontecimentos ou pessoas reais, não passa de mera coincidência.

HM

Estranhas festas do Corpo de Deus em Bragança no ano de 1908


 Um “anúncio” feito em O Nordeste, em 1908, dá-nos a dimensão das festas do Corpo de Deus, em Bragança, com letras bem destacadas e uma composição característica das mensagens publicitárias que se querem apelativas.

Sabemos que as festas do Corpo de Deus, para além do profundo significado religioso que lhes era atribuído, mobilizavam todas as forças políticas e sociais – em especial as associações de inspiração corporativa. O espaço transfigurava- se no dia maior dos festejos, para assistir à magnífica procissão. As representações cénicas – de inspiração profana –, incorporadas no cortejo processional, eram ricas e variadas.

Neste apelo aos crentes para participarem nos grandes festejos de 1908, referem-se rituais e manifestações de caráter religioso e sagrado, com componentes, elementos, encenações e representações que se revelam misteriosos, bizarros e de difícil descodificação. No Nordeste de 12 de junho de 1908, lia-se: “Grandes Festas de Corpus Christi em Bragança! S. Jorge no seu cavalo e Ugolino na sua égua! A exposição da comenda de Isabel a Católica, depois de quinze anos de contrabando encoberto! Ugolino, com ela ao peito, levará a umbela do andor do Santo guerreiro”.

Para incentivar a afluência de público, anunciavam-se comboios a preços reduzidos. Faziam ainda parte da programação grandes sessões cinematográficas “com vistas e episódios da Ponte de Valbom!”. E um apelo final: “Às Festas de CORPUS CHRISTI!!!”

Compreendemos as sessões cinematográficas que integravam os festejos, embora seja difícil imaginar o que seria o conteúdo alusivo a “vistas e episódios da Ponte de Valbom”! Justifica-se, para atrair sobretudo gentes dos meios rurais, a existência de comboios a preços reduzidos.

Quase tudo o mais é mistério… “Ugolino e a sua égua”. A misteriosa “comenda” de Isabel a Católica. E que “contrabando encoberto” é este? Como se misturaram – que é isso que parece acontecer – as festividades do Corpo de Deus com as de S. Jorge?

Complementarmente, regista-se – provavelmente com algum exagero – que a procissão ia desacompanhada “quase por completo” das classes cultas. Classes que, como se afirma, o bispo tem sabido, “com uma falta de tato extraordinário”, desviar da sua pessoa”. O conflito com o bispo teria contribuído para afastar pessoas das elites – em sinal de protesto – da mais importante manifestação religiosa da Cidade. Mas tal afastamento também poderá ser fruto de ideias que pugnavam pela descristianização e pela secularização. Esta prosa, com esta visão e estas acusações, pode ser ainda, mais prosaicamente, resultante da posição do jornal, que acoitava “inimigos” do bispo.

Título: Bragança na Época Contemporânea (1820-2012)
Edição: Câmara Municipal de Bragança
Investigação: CEPESE – Centro de Estudos da População, Economia e Sociedade
Coordenação: Fernando de Sousa

Comissário de prova morre atropelado durante prova King of Portugal em Vimioso

 Devido ao acidente o município de Vimioso declarou luto municipal


Um comissário de 52 anos perdeu a vida esta tarde após ter sido atropelado durante a prova King of Portugal, no concelho de Vimioso.

Segundo informações confirmadas pelo major Hernâni Martins, relações públicas do Comando Territorial de Bragança da GNR, o homem foi colhido por uma viatura em plena prova, tendo o óbito sido confirmado. Inicialmente, o estado da vítima não era conhecido, mas o local foi rapidamente evacuado e as autoridades deram início às diligências para apurar as circunstâncias do acidente.

A Rádio Brigantia conseguiu apurar que o atropelamento ocorreu numa zona do percurso conhecida como “Ovos de Dinossauros”.

O alerta mobilizou oito operacionais dos Bombeiros Voluntários de Vimioso, apoiados por duas viaturas. A equipa médica do helicóptero do INEM, sediado em Macedo de Cavaleiros, também foi acionada. 

A prova, uma das mais emblemáticas do todo-o-terreno em Portugal e na europa ficou de imediato suspensa e o município de Vimioso declarou luto municipal. 

Escrito por Brigantia
Jornalista: Cindy Tomé

Virgem Suta

 Os Virgem Suta sobem ao palco do Centro Cultural de Macedo de Cavaleiros  no dia 25 de outubro, pelas 21h30, para um concerto imperdível.
Desde o seu surgimento em 2009 com o álbum homónimo, a banda tem sido uma presença constante na cena musical portuguesa, acumulando uma vasta experiência em palco e conquistando fãs com suas músicas irresistíveis.

Os Virgem Suta propõem uma viagem sonora que passará por novos temas e clássicos incontornáveis.

Contamos com a sua presença para uma noite memorável!

O bilhete tem um custo de 10€ e pode ser adquirido presencialmente no Centro Cultural ou através do telefone 278 428 100. 

Horário da bilheteira:

Dia útil
10h00 - 12h30 | 13h30 - 17h00 
Dia de espetáculo
16h00 - 18h00 | 20h30 - 21h30

XXII Prova BTT Vimont

 No próximo dia 05 de outubro realizar-se-á a XXII Prova BTT Vimont 2025, promovida pela associação juvenil de Vilar do Monte.
O início das provas está marcado para as 09h30.

A edição deste ano contará com três percursos distintos: mini maratona com 10,5km, a meia maratona com 31,8km e maratona com 50,2km. 

As inscrições podem ser feitas AQUI até ao dia 03 de outubro.

AMANHECEM-ME GAIVOTAS NO SANGUE

Por: Maria da Conceição Marques
(colaboradora do "Memórias...e outras coisas...")

 Amanhecem-me gaivotas no sangue, como se a madrugada me ardesse por dentro. Sinto-as rasgarem-me as veias em círculos de voo, gritando o meu nome em cada investida contra o silêncio. 

Amanhecem-me gaivotas no sangue, como se dentro das veias houvesse mar. Cada batida do coração é uma maré que se ergue em várias direções, trazendo-me o voo branco das lembranças. Há um vento que levanta as asas, que me traz a claridade e rompe a noite que me habitava.

As gaivotas, essas que me percorrem o sangue, não são aves, são presságios: dizem-me que amar é ter asas sem precisar partir, é ser mar e céu no mesmo corpo, é voar mesmo de pés cravados na areia.

E assim sigo, aberta ao infinito, lugar onde cada aurora me acontece, lugar onde o amor não se explica, apenas se respira.


Maria da Conceição Marques
, natural e residente em Bragança.
Desde cedo comecei a escrever, mas o lugar de esposa e mãe ocupou a minha vida.
Os meus manuscritos ao longo de muitos anos, foram-se perdendo no tempo, entre várias circunstâncias da vida e algumas mudanças de habitação.
Participei nas coletâneas: Poema-me; Poetas de Hoje; Sons de Poetas; A Lagoa e a Poesia; A Lagoa o Mar e Eu; Palavras de Veludo; Apenas Saudade; Um Grito à Pobreza; Contas-me uma História; Retrato de Mim; Eclética I; Eclética II; 5 Sentidos.
Reunir Escritas é Possível: Projeto da Academia de Letras- Infanto-Juvenil de São Bento do Sul, Estado de Santa Catarina.
Livros Editados: O Roseiral dos Sentidos – Suspiros Lunares – Delírios de uma Paixão – Entre Céu e o Mar – Uma Eterna Margarida - Contornos Poéticos - Palavras Cruzadas - Nos Labirintos do Nó.

Responso para as Maleitas do Poder

Por: Fernando Calado
(colaborador do Memórias...e outras coisas...)

 Pela folha da oliveira… pela flor da erva-salva… pelo cardo… pelo rosmaninho em Sexta-feira Santa… pela pedra ametista… pelo sal… pelo vinho e azeite… pelo corvo… pelo mocho… pelas asas do morcego, te faço este responso: a ti, servidor do Povo, para que, quando fores eleito para a Câmara Municipal ou para a Junta de Freguesia, saias mais pobre do que quando entraste… porque puseste os teus teres e haveres ao serviço do Povo… e não enriqueças na tentação de luvas e outros amanhos, que se escondem no descuido das decisões.

...Para que saibas que o poder não é teu, mas do Povo que to empresta, para que o repartas e administres com prudência, justiça e equidade.

.... Te encomendo com o ramo de alecrim, para que saibas que foste eleito para servir a todos e não somente à tua família política; para que não caias na tentação de te perderes na bebedeira dos assessores, secretárias, mordomos e motoristas; para que não façam do teu cargo o teu deleite, mas te ajudem a servir o Povo com humildade e recato.

...Pelas sete chagas, te recomendo a São Cristóvão, para que passes as estradas e as pontes na sobriedade do teu automóvel, instrumento de trabalho, e não na ostentação da tua riqueza que não te pertence, pois é pertença do Povo que anda a pé, na ausência do trabalho que lhe roubaram.

... Pelas sete estrelas… pelas sete virgens… te faço este responso, para que não tenhas medo e não te venham prender ao amanhecer por roubo, abuso de poder ou corrupção. Pela salsa, pela hortelã, que as tuas mãos estejam limpas, os teus olhos claros e o teu desejo parco.

... Pelas chagas de São Roque… pelos 40 dias de jejum no deserto… te faço este responso, para que saibas que és um pobre entre os Pobres e não podes dar o que não é teu, mas repartir o bem público com o desapego do bom administrador, com justiça e respeito.

... Pelos Santos Mártires… pela estrela-d’alva, te faço este responso, para que nunca te agradeçam por teres servido. Nada te pertence… nada é teu… aceitaste, por vontade própria, servir a democracia. Não te sirvas dela, no sorriso matreiro de quem reparte o pedaço maior do pão por aquele que menos precisa. Mas agradece!

Que Santo Agostinho, São Boaventura, Santo Anselmo, Platão e Aristóteles te confiram o dom da sabedoria e da humildade, e que o Povo te respeite.

Ámen!


Fernando Calado nasceu em 1951, em Milhão, Bragança. É licenciado em Filosofia pela Universidade do Porto e foi professor de Filosofia na Escola Secundária Abade de Baçal em Bragança. Curriculares do doutoramento na Universidade de Valladolid. Foi ainda professor na Escola Superior de Saúde de Bragança e no Instituto Jean Piaget de Macedo de Cavaleiros. Exerceu os cargos de Delegado dos Assuntos Consulares, Coordenador do Centro da Área Educativa e de Diretor do Centro de Formação Profissional do IEFP em Bragança. 
Publicou com assiduidade artigos de opinião e literários em vários Jornais. Foi diretor da revista cultural e etnográfica “Amigos de Bragança”.

sexta-feira, 26 de setembro de 2025

ERVANÇO, OU “ERBANÇO”, UM «FÓSSIL LINGUÍSTICO» MUITO NOSSO

 (Nota prévia: Alguns poderão considerar estranha esta nova incursão. Porém, há um Senhor que não conheço pessoalmente, mas que, para lá de ser muito persuasivo, e que me perdoe a inconfidência, é detentor de uma característica que deveria merecer a consideração e o respeito de todos os Brigantinos, bem como de todos os que são oriundos do distrito bragançano! Esse Senhor é o responsável pelas «Memórias… e outras coisas», página e blogue que tenho o privilégio de acompanhar há muito tempo, aqui deixando uma pública reverência a quem, como poucos, tanto tem feito pela divulgação de umas terras únicas. Introdução feita, vamos aos “erbanços”… ou aos “garbanços”, para os que interesse tiverem.) 


Desde há quase 40 anos, «cada maluco com a sua panca», procuro desenterrar algo com tendência a desaparecer num futuro próximo, aquilo a que vulgarmente vou ouvindo designar como o «falar dos nossos avós». Porém, esse linguajar é muito mais do que essa redutora designação.

Esse «falar dos nossos avós» parece até conter regras, em simultâneo contendo imensos resquícios lexicais e fonológicos do «Mirandés» (que deveria ser de todos nós!), bem como de outros idiomas do ramo do Ásturo-Leonês. Tenho dado, naturalmente, particular ênfase ao meu concelho, o de Macedo, aquele ao qual tenho dedicado muito do meu tempo em busca do entendimento dessa ancestralidade linguística. Contudo, nas incursões que faço a outros concelhos, detecto, com maior ou menor variabilidade, semelhantes fenómenos. Onde entram particularidades fonológicas com estranhos nomes como betacismo, africada ou paragoge, só para citar algumas, para lá do fantástico sistema de sibilantes, no qual somos únicos. E muito aprecio essa unicidade! Na qual cabem os “erbanços”, mas também os “garbanços”, na região mirandesa. 

Palavra existente no Português, com [v] escrita – ervanço –, porém substituída que foi sendo pelo mais chique grão-de-bico. Restringindo-me ao concelho onde nasci, Macedo de Cavaleiros, cresci a ouvir designar o dito grão-de-bico, e respeitando a genuína pronúncia, por “irbançu’e” ou por “érbançu’e”. Assim mesmo, que pelas minhas bandas, praticamente não existem vogais átonas. Ou seja, por aqui não há um ovo, mas sim um “óbu’e”. E ninguém cria um porco, mas sim um “pórcu’e”. Tal como ninguém «vai rezar a coroa ao morto», mas sim ao “mórtu’e”. Nem ninguém vai semear o renovo, mas sim o “renóbu’e”. E não existe o verbo «encher», mas sim a versão “intchere”, nem o «beber», mais sim o “bubere”. Quanto à paragoge do [e], este fenómeno fonológico aplicação parece ter em todas as palavras no masculino e no plural, bem como nas palavras no feminino terminadas em consoante (por isso, uma Isabel é, por estas bandas, a “Isabele”). Palavras que contêm a dita paragoge, particularmente se estiverem no fim de uma frase ou oração. Um fenómeno que, não há muito tempo, constatei, igualmente, no concelho de Vinhais, onde me trataram por “Rui’e”. Mas regressemos “ós irbançus’e”…

Palavra que, em «Mirandés», é «garbanço», também já tendo visto a alternativa «grabanço». Na linha do Castelhano e do Aragonês «garbanzo», do Asturianu «garbanzu» ou do Galego «garabanzo». E ainda temos o Euskera, no qual é «garabantzua», bem como o «gravanço» noutras regiões portuguesas, particularmente na Beira. A palavra «ervanço» muito trabalho já deu a eminentes linguistas, que de acordo não se põem em relação à sua etimologia. Uns afirmam-na originária do Grego, através de «erébinthos», outros fazem-na derivar do já referenciado Euskera «garabantzua», outros ainda havendo que a dizem oriunda do Moçárabe, através da referência escrita mais antiga, já com 925 anos, na forma «arbânsus». Parece cada vez mais consensual, no entanto, que a origem da palavra «ervanço» radica no gótico, a partir do proto-germânico e, anteriormente, do proto-indoeuropeu. Como tal, tudo aponta para que o tão nosso «ervanço» («erbanço») seja um «fóssil linguístico», bastante anterior à implantação do Latim e dos seus posteriores «filhos». 

Para lá do referido «arbânsus», as formas documentais mais antigas que se lhe seguiram e foi possível apurar, registam a leguminosa como «arvanço» ou «ervanço». Só a partir, sensivelmente, do século XIII, surgiria, no Castelhano, por um fenómeno fonológico de prótese, comum a nomes de outras leguminosas, a inserção do [g] no início da palavra. Fenómeno esse que se arrastaria a outros idiomas e regiões, com a digna excepção do Português, que manteve a forma original, como «fóssil linguístico» proto-indoeuropeu. Língua Portuguesa que haveria, na sua forma escrita, de ver o «velhinho ervanço» gradualmente substituído, numa primeira fase, pela forma simples «grão», antes de «grão-de-bico» ser. Designação que chegaria ao distrito de Bragança, onde, especialmente a partir do século XVIII, a leguminosa surge, igualmente, designada simplesmente por «grão», na documentação escrita que nos foi legada. No entanto, antecedendo a forma com [g], a mais vetusta forma «ervanço» permaneceu na oralidade, como «erbanço», que [v] não temos, resistindo pela região como um quase regionalismo, para lá do «garbanço» em «Mirandés», este pelo Castelhano influenciado. 

E agora “martchaba um rantchu’e”, ou “ua seladinha d’irbançus cum atum’e”, ou outra “cousa qualquera” (nota importante: o que está escrito entre aspas resume-se a uma transposição literal da pronúncia que utilizava a minha avó, nada tendo de «científico», sendo apenas para a honrar, bem como a todas as avós deste mundo - “é c’mu ou goz’tu de falare, d’ás bezes’e, p’ra l’insinare ós mous filhus e ó mou netu’e… eis atchum-le graça, e dá-les a risa”). 

Bom apetite! Com ou sem os tão nossos “erbanços”! E, um dia destes, se me der na “catchimónia”, já cá trarei os “tchítcharus’e”, ou outra “cousa qualquera”. Talvez possa contribuir para incrementar o orgulho numa essência e numa unicidade, que parece andar arredio. Isso não nos faz melhores ou piores do que ninguém, mas faz-nos muito diferentes! Desejando, com estas humildes incursões, conseguir contagiar, uma pessoa que seja, com a “proa”, ou «proua, an Mirandés», que sinto nestas inigualáveis terras. 

Rui Rendeiro de Sousa
Foto: Ncultura