A aurora ainda não rompia a neblina quando os primeiros sinais chegaram. O grupo que explorava a floresta regressou a correr à praça central, ofegante, com os rostos pálidos e as mãos sujas de lama.
- Não são animais, disse Miguel, o filho do ferreiro, apontando para os rastos estranhos. - São… humanóides, mas diferentes. Não conseguimos ver bem os olhos, só um brilho, e movem-se sem fazer barulho!
Afonso franziu a testa e ergueu a mão, ordenando silêncio.
- Preparem-se! Disse ele, com a voz firme. - Que todos se mantenham dentro das muralhas. Hoje não reconstruímos apenas as casas, hoje vamos defender a cidade.
Lídia correu até ele, segurando os mapas e as anotações antigas:
- Se conseguirmos entender como atuam, podemos prever a aproximação. Eles evitam caminhos abertos e atacam apenas de surpresa. Precisamos de posicionar-nos.
Baltasar bateu o bordão contra o paralelepípedo.
- Então que cada rua se torne na nossa fortaleza! Disse, enquanto organizava barricadas improvisadas com carruagens e madeira retirada dos escombros.
Ao mesmo tempo, na floresta, uma silhueta moveu-se com extrema rapidez. Parecia flutuar sobre o chão coberto de neve, e o brilho dos olhos era hipnotizante, quase como se visse através da própria muralha. Era a primeira vez que Bragança sentia que não poderia confiar apenas em força ou coragem. Inteligência e estratégia seriam cruciais.
Quando a névoa começou a dissipar-se, um grito cortou o ar. Um grupo de jovens vigias havia sido cercado. Afonso, Lídia e Baltasar correram para os socorrer, encontrando os estranhos seres entre as árvores, usando a neve como disfarce e atacando com precisão aterradora.
Afonso brandiu a espada, acertando no primeiro atacante que se aproximou. A lâmina refletiu a luz do pouco sol que surgia, mas o impacto fez pouco efeito, o ser recuou, como se o ataque fosse apenas uma provocação.
- Eles não são fortes fisicamente, mas são astutos, disse Lídia, disparando uma flecha cuidadosamente. - Precisamos de os atrair para áreas abertas!
Baltasar, com o bordão em punho, golpeou a primeira sombra que se lançou contra a muralha. O som do impacto ecoou, chamando a atenção das outras criaturas. Aos poucos, os seres começaram a recuar, mas não sem deixar claro que tinham estudado cada movimento dos defensores da cidade.
Quando a batalha terminou, a praça estava coberta de pegadas, restos de armas improvisadas e a sensação inquietante de que aquela era apenas a primeira investida. O ar gelado trazia o cheiro da neve, da madeira queimada e de algo mais sombrio, impossível de nomear.
Afonso olhou para a cidade, exausto, mas determinado:
- Este foi apenas o começo. Amanhã, precisaremos de mais do que coragem. Precisaremos de inteligência, união… e talvez de segredos que ainda não revelamos.
E, nos limites da floresta, os olhos brilhantes voltaram a mover-se, desaparecendo entre os troncos. Mas a promessa era clara, Bragança tinha despertado para um inimigo que não descansaria, e a cidade aprenderia que reconstruir também significava lutar.
Continua...
N.B.: A narrativa e os personagens fazem parte do mundo da ficção. Qualquer semelhança com acontecimentos ou pessoas reais, não passa de mera coincidência.

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