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| (Foto: Georges Dussaud) |
Imaginem que estão em Barcelona, uma cidade fantástica. E que um natural daí, um «barcelonés», se vos dirige na sua língua materna, que não é o Castelhano, mas sim o Catalão, nestes termos:
«M'agradaria parlar amb vosaltres. A tots vull dir que no parlem malament el portuguès, només parlem un idioma diferent».
Na eventualidade de os leitores desconhecerem o idioma, já será feita a tradução, de seguida, embora qualquer «tradutor» possa ajudar, mesmo não sendo fidedigno. Alguns, seguramente, conhecerão bem o Castelhano, vulgarmente designado como Espanhol. Apesar de algumas semelhanças, o Catalão dele se distingue claramente. Desafio-vos a imaginar um cidadão espanhol, exterior à Catalunha, afirmando que o texto que acima partilhei, está mal escrito em Castelhano (Espanhol). Pois claro que está! Porque Castelhano não é...
A tradução do texto, em Português, é a seguinte: «Gostaria de falar convosco. A todos quero dizer que não falamos mal Português, apenas falamos um idioma diferente».
Recorrendo ao Mirandês, a tradução será esta: «Gustarie de falar cun bós. A todos quiero dezir que nun falamos mal Pertués, solo falamos ua lhéngua defrente».
Se for mais longe, e caso recurso faça à forma singular como a minha avó falava, numa aldeia do concelho de Macedo, ela dir-me-ia algo semelhante a isto, sem relevar os fenómenos fonológicos da pronúncia «cerrada»: «Gustaria de falar cumbosco. A todos quero dizere que num falemos mal Português, só falemos ua língua difrente».
Estas duas últimas traduções estão feitas num idioma Ásturo-Leonês, ou numa sua derivação, não na nossa língua nacional, do ramo do Galego-Português.
Todavia, um português exterior à nossa zona de abrangência do Ásturo-Leonês, ou dos seus familiares «dialectos», dirá que o texto está, nas duas alternativas, mal escrito em Português. E está! Porque Português não é! Aliás, bem vistas as coisas, o texto original, em Catalão, também está mal escrito em Português… Para bom entendedor...
Nós não somos a «terra da pronúncia estranha» ou onde «se fala mal Português». Nós somos a terra das duas línguas! Este que escreve, com toda a humildade, não fala ou escreve mal em Português, a «língua fidalga». Mas “tamém num fala male a língua tcharra. O que é ua bantaige”!
Se pensarmos bem, até é “ós contra”: os que apenas falam a «língua fidalga» é que «falam mal a língua charra»! Não somos nós, os duplos falantes, que o fazemos! Nós, “im beze” de nos sentirmos “piquerrutchos”, ou afectados com o estigma do «falar mal Português», deveríamos sentir “proa” em ser poliglotas. Tenho imensa “proa” em ser poliglota!
O leitor ou a leitora não têm?


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