sábado, 22 de novembro de 2025

A propósito de uma publicação do Sr. Henrique Martins, ilustre criador desta casa

Por: Rui Rendeiro Sousa
(Colaborador do "Memórias...e outras coisas...")


 Uma publicação que me fascinou, é verdade. Porque traz à luz um tema muito pouco explorado e, com bastante probabilidade, do desconhecimento da maioria: os abrigos com arte rupestre. 

Há uns largos anos, “impecei co ez’ta tchalotice” de tentar perceber os porquês para que o meu concelho e o meu distrito «passassem ao lado» da História de Portugal. Em todas as colectâneas de História que havia lido, estas terras estavam sempre omissas. E tudo se passava «lá para baixo», nomeadamente no que respeito dizia às Pré e Proto-História. E aqueles nomes raros, como Paleolítico, Neolítico, mais as Idades dos Metais… só aconteciam «lá para baixo»! Isto era um vazio, onde apenas restavam as célebres «Lendas de Mouras Encantadas», como se esta região sempre tivesse sido um local selvagem impenetrável…

Um dia, «descobri» o «Cavalo do Mazouco». E não havia quem me “fitchass’a matraca” com o magnífico exemplar de arte rupestre no concelho de Freixo de Espada à Cinta. Mais tarde, «descobri» que havia muitos mais sítios, especialmente a partir da leitura do insubstituível Abade de Baçal e de mais alguns carolas trasmontanos que se haviam dedicado à descoberta dos tesouros que estas terras guardavam. Posteriormente, haveria de «descobrir» uns levantamentos arqueológicos feitos às regiões de Miranda do Douro, Mogadouro e Mirandela. Outros se lhes seguiriam, noutros concelhos. 

Mais tarde seriam descobertos, no concelho de Bragança, no Alto Sabor, três sítios de «Arte Rupestre Paleolítica», correspondentes, segundo os entendidos na matéria, à fase mais antiga da «Arte do Côa». E fiquei fascinado! Como fascinado ficaria com as tantas descobertas no Baixo Sabor, à custa das intervenções relacionadas com a “barraige”. No cômputo geral, temos imenso! Desde o Paleolítico à Idade do Ferro, passando pelo Neolítico, pelo Calcolítico e pela Idade do Bronze. 

Retendo-me, apenas, na abrangência territorial do meu concelho, participei, como mero convidado, em escavações arqueológicas em três distintos sítios: um povoado do Calcolítico, um da Idade do Bronze e outro da Idade do Ferro, embora este também tenha sido um Povoado Romanizado. Qualquer um deles guardando imenso cerca da nossa História. Um deles, o da Idade do Bronze, é, espantosamente, não apenas um ícone desse período na História de Portugal, mas na História Ibérica! Nada de mais… Depois, há uns artefactos, armas de prestígio, dessa mesma Idade do Bronze, alguns ao cuidado do magnífico Museu Abade de Baçal, internacionalmente conhecidos, e que até tomaram a designação de uma freguesia do meu concelho: as «Alabardas de Carrapatas». Nada de mais, novamente…

Mas há muito mais, neste distrito. Mas tanto mais! Pena tendo que tão pouco façamos com o tanto que temos… É só um desabafo, por causa de uma publicação do ilustre criador desta casa… 

(Foto: Cavalo do Mazouco – National Geographic Portugal)


Rui Rendeiro Sousa
– Doutorado «em amor à terra», com mestrado «em essência», pós-graduações «em tcharro falar», e licenciatura «em genuinidade». É professor de «inusitada paixão» ao bragançano distrito, em particular, a Macedo de Cavaleiros, terra que o viu nascer e crescer. 
Investigador das nossas terras, das suas história, linguística, etnografia, etnologia, genética, e de tudo mais o que houver, há mais de três décadas. 
Colabora, há bastantes anos, com jornais e revistas, bem como com canais televisivos, nos quais já participou em diversos programas, sendo autor de alguns, sempre tendo como mote a região bragançana. 
É autor de mais de quatro dezenas de livros sobre a história das freguesias do concelho de Macedo de Cavaleiros. 
E mais “alguas cousas que num são pr’áqui tchamadas”.

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