domingo, 7 de dezembro de 2025

A tinta VERMELHA...


 Sou aposentado, mas nunca deixei de ser um trabalhador. Vivi toda uma vida profissional marcada pelo rigor, pela honestidade e por uma ética de dedicação que sempre foi reconhecida pela hierarquia. As classificações de serviço ao longo das décadas e, mais recentemente, o próprio SIADAP, são testemunhos objetivos desse percurso. Nunca pedi favores, nunca procurei atalhos, trabalhei, cumpri, servi. E é precisamente por isso que me sinto profundamente indignado quando vejo um primeiro-ministro surgir na televisão a tentar demover os trabalhadores de defenderem com unhas e dentes aquilo que lhes pertence por direito.

Afinal, de onde vem essa autoridade moral para pedir resignação, silêncio e passividade? Se é preciso cortar, que se comece onde o desperdício e a má gestão proliferam, não nos trabalhadores, e muito menos nos reformados que já deram tudo o que tinham para dar ao país. Que se olhe para os verdadeiros responsáveis pelos desvios, pelos desperdícios, pelos privilégios obscuros que todos conhecemos mas que raramente alguém tem coragem de enfrentar. E quando um governante fala em “esforços necessários”, muitos de nós não podem deixar de pensar, e é apenas uma opinião, que talvez deveria começar por olhar ao espelho antes de apontar o dedo aos que nada têm para além do fruto do seu próprio trabalho. 

E nós, os pensionistas? Aqueles que descontaram uma vida inteira, que sustentaram a máquina do Estado durante décadas, que passaram por crises, por mudanças políticas, por planos de austeridade, sempre acreditando que no fim haveria pelo menos dignidade? Temos agora de ouvir discursos que tentam fazer-nos acreditar que devemos aceitar o empobrecimento como inevitável? Como se o sacrifício fosse sempre para os mesmos, como se a austeridade tivesse endereço fixo e recaísse eternamente sobre quem já carregou o país às costas?

A minha história de luta não começou ontem. Aderi à primeira greve geral depois de abril, fui o único no meu local de trabalho, o “tio” Manel não se esqueceu de marcar a minha falta a tinta VERMELHA, e nunca falhei a nenhuma desde então. Não por rebeldia gratuita, mas por consciência. Porque sempre acreditei que a reivindicação de quem trabalha é justa por natureza. Quem produz, quem gera riqueza, quem sustenta os serviços, quem mantém o país de pé, tem o direito e o dever de defender aquilo que lhe pertence. Nenhum governo, por mais autoridade que ostente, tem o direito de pedir que um trabalhador abdique da sua própria dignidade.

E não venham dizer que pedir direitos é “exagero” ou “intransigência”. Exagero é trabalhar uma vida inteira e ouvir, no fim, que ainda não chega. Intransigência é exigir sacrifícios sempre aos mesmos, enquanto outros permanecem intocados. O que eu defendo é simples. Justiça, respeito e coerência. Quem trabalhou merece viver com dignidade. Quem governou mal deve ser responsabilizado. Quem tenta calar os trabalhadores deve ser confrontado.

Não admito ser tratado como peso morto por quem nunca carregou o que eu carreguei. Não admito que tentem silenciar a luta de quem faz, e fez, o país funcionar. E, acima de tudo, não admito que me digam para baixar a cabeça quando tudo aquilo que tenho foi conquistado com trabalho honesto. Reivindicar é um direito. Lutar é uma necessidade. E desistir nunca foi opção.

Também me indigna que os que nunca lutaram, para obedecerem ao "chefe" ou para não perderem uns tostões, venham a usufruir, se for o caso, das conquistas dos que nunca desistiram de lutar!

Se estivesse no ativo aderia à GREVE GERAL!

A LUTA CONTINUA!

Ontem como hoje, e por mim, até à morte!

HM

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