Local: Pinheiro Novo, VINHAIS, BRAGANÇA
Senhores da vila de Souane davam os mouros amiudadas sortidas pelas terras circunvizinhas, causando aos cristãos prejuízos sem conta. Cansados estes de por tanto tempo sofrerem o jugo do invasor, resolveram organizar um pequeno núcleo de resistência, constituindo o centro das operações no Castelo de Pinheiro Novo, vulgarmente chamado Cidade de S.ta Rufina, na margem oposta do rio Rabaçal. A empresa era difícil, porque o Castro de Souane, além de ser guarnecido de fortes muralhas, tinha pelo sul a protecção das outras povoações de Lomba em posse dos mouros, especialmente Quiraz sua fundação, e pelo norte a encosta ingreme inçada de fraguêdos enormes até à margem do rio.
Por duas vezes o exército cristão escalou a encosta e poz cêrco à vila, mas debalde; os esculcas mouriscos depressa punham os habitantes em sobresalto, obrigando os cristãos a uma custosa retirada.
Vendo-se assim impossibilitados para nova investida recorreram à protecção do apóstolo Santiago. Fizeram preces durante oito dias... E, milagre extraordinário! na manhã do nono dia puderam ver numerosa cavalgada baixando dos montes do Pinheiro Novo. Há festa. Nessa noite o glorioso cabo de guerra mandou reunir todos os bois, vacas e cabras que havia nas aldeias vizinhas, e depois de colocar-lhes nos chifres archotes e faróis, marchou com o exército em direcção a Souane. A noite estava escura; já junto das muralhas, mandou acender os faróis, fazendo entrar o luzido exército para dentro do povoado; os mouros, desprevenidos, acordam em alta grita, encontrando a maior parte, em louca correria, a morte nas pontas dos animais enraivecidos e nas lanças dos infantes e dos cavaleiros fogosos. Souane foi arrazada.
Os que puderam escapar, exteriorizaram o sentimento de perderem para sempre a afamada povoação, soltando dos outeiros distantes estes doridos queixumes: «Adeus, formosa vila de Souane! Nunca mais te tornaremos a ver! Que a maldição caia sôbre os cristãos!»
Fonte:MARTINS, Pe. Firmino Folklore do Concelho de Vinhais. Vol. 1
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(Henrique Martins)
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