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SOBRE O BLOGUE:
Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço.
A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)
(Henrique Martins)
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N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.
terça-feira, 23 de junho de 2015
Duas Lendas da Aldeia de Talhas
Talhas é, actualmente, uma das 38 freguesias do concelho de Macedo de Cavaleiros, e uma das mais antigas e laboriosas do distrito de Bragança. Tem uma área aproximada de 45 quilómetros quadrados e situa-se na margem direita do Rio Sabor. O seu orago, é o arcanjo São Gabriel. Aldeia antiga, dizem que é da Idade do Ferro, tem um núcleo de arte rupestre a merecer estudo dos arqueólogos.
O topónimo de Talhas, segundo os genealogistas, deriva do latim “TINALIA” que significa talha ou vaso. José Leite de Vasconcelos na “Revista Lusitana” - Volume XXXV, pág. 313, no artigo Etimologia de Talhas, escreve, e passo a citar: « Tealas= a Tealhas, é o plural de tealha..., vasilha que devia ser de dimensões grandes (…). Imagino que talha, por evolução linguística, veio, em tempos remotos, a significar sepultura aberta em um penedo, ou em uma laje (…). Tendo-se constituído um povoado num sítio de muitas talhas ou sepulturas, advinha facilmente a ele o nome. Sei do lugar chamado Talhas no distrito de Bragança...». Mas o Abade de Baçal, nas “Memórias”, Tomo X , págs. 159 e 160, diz-nos: «O termo talha aparece na documentação medieva e posterior para designar um fôro que se pagava pelo gado bovino, equídeo, ovino e ainda a contribuição paga por cada fogo ou chefe de família, segundo a sua capacidade (…). Neste sentido, é possível que o étimo Talhas, como o de Sortes e outros, corresponda a quinhões, leiras, etc. Em que a terra foi dividida pelo senhorio para entregar aos colonos após a reconquista artur-leonesa. Talha tem muitas e variadas significações, mas na exposta é que deverá estar a da povoação bragançana...». Também Monselhor José de Castro na sua obra “Bragança e Miranda” – Volume 4, pág. 310, escreve a seguinte nota sobre Talhas: «Talhas (S. Miguel) – Tem casa de residência e anexas as quintas de Lameirão, Capela, Eirinha, Cangalhas e Barreira.». Por tudo isto, é de admitir que a origem do étimo Talhas venha, de facto, de um conjunto de quinhões, leiras, etc.
Feito este pequeno resumo histórico da freguesia de Talhas, que, como vemos, é povoação antiga, vejamos, agora, a versão de duas lendas que se contam na aldeia. Lendas que são, talvez, indicativas do passado das suas gentes: simples, honradas e trabalhadoras, como nunca vi melhores.
A primeira lenda foi-me contada por um poeta popular da aldeia, chamado Manuel Planeta, e é assim:
«À saída da aldeia existe uma fonte, chamada Fonte dos Navalhos, que tem sempre água muito limpa e fresquinha. Está situada à beira do caminho e era nela que os caminheiros que se dirigiam a terras de Miranda saciavam a sede. Mas um belo dia, um desses caminheiros estava debruçado sobre ela, a beber água, e viu no fundo da água um grande cordão de ouro. Perante esta visão, foi saber de um garavato para o puxar e conseguiu agarrá-lo. Depois foi puxando por ele, puxando e já tinha uns metros de cordão fora da água, quando ele ficou preso no fundo da fonte. Nessa altura, ele, preocupado, olhou para trás e viu atrás de si um enorme touro preto a olhar para ele. Ele assustou-se, deu um grito, largou o cordão das mãos e ele caiu ao chão. Nesse mesmo instante o cordão desapareceu da sua vista e ouviu o ressoar forte da voz do touro a dizer para ele: há!, ladrão, largaste o cordão, dobraste o meu encanto!».
Em Talhas, a Fonte dos Navalhos continua no mesmo sítio. Muitas vezes lá bebi água fresquinha, como diz a lenda, quando ia com o meu avô Luciano para a festa do Divino Espírito Santo. Que fica num cabeço, um pouco mais adiante.
A segunda lenda, também curta, é sobre tecedeiras e teares e está ligada a buracos cavados nas rochas, nas margens do Ribeiro da Soalheira, que desagua no rio Sabor, e que a população chama “os buracos da moira”. Esta lenda diz-nos o seguinte:
«Nos buracos da moira, à meia-noite em ponto, na noite de S. João, ouvem-se cantar mouras encantadas e bater os teares aonde elas estão a tecer o linho para os enxovais... Mas isto só pode ser ouvido por pessoas que estejam no local, a essa hora, e não tenham pecados...».
Acho esta lenda, pela sua originalidade, interessante... Ela fala de uma condição, deveras difícil, para se poderem ouvir cantar as mouras encantadas e os teares a tecer: não ter pecados!... Era no dia de S. João que as pessoas da aldeia se levantavam antes do nascer do Sol para se lavarem, porque diziam que a água estava benta! Não sei se essa tradição ainda se mantém ou não.
Estive junto dos buracos da moira e de umas pequenas grutas, quando era jovem. De facto, é um local bucólico para se estar à meia-noite, na noite de S. João, à espera de ouvir cantar moiras encantadas e teares a tecer... Aliás, coisas em que o meu avô acreditava! Só que ele dizia-me que as não podia ouvir, porque tinha pecados... Até nestas pequenas coisa, o meu avô era verdadeiro!
João de Deus Rodrigues
in:jornal.netbila.net
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