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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira..
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

quarta-feira, 29 de julho de 2015

CABRITO, em Comeres Bragançanos e Transmontanos

“Se na volta calhar ter morto o carniceiro de Montesinho algum chibo dos de carne branca, é atestar-lhe sem dó nem piedade, que é pitéu de se irem os dentes atrás dele.”
[in Memórias do Abade de Baçal, Tomo XI, pág, 305.]

Na rica colecção documental intitulada Babylonian Collection, da Universidade de Yale, descobriram-se três tabuinhas pontuadas em escrita cuneiforme, trezentas e cinquenta linhas, as quais recolhem quarenta receitas culinárias. O texto integral após ser traduzido e analisado veio à luz do dia dando a conhecer ao Mundo forte registo dos hábitos alimentares dos povos da Mesopotâmia no recuado tempo (1600 a.C.) desse mesmo mundo. Um exemplo de preservação do património.
O estudo das receitas deu a conhecer as técnicas culinárias empregues na preparação dos produtos, e no referente à mimosa carne de cabrito além de referir um caldo que inclui a cabeça, patas e rabo após boa chamuscadela, utilizava-se a água quente para desplumar as aves e retirar os pêlos da pele dos cabritos. Esta milenar técnica, no essencial, prevaleceu como se deduz na interpretação da receita de cabrito à moda da Serra de Montesinho.
A carne de cabrito justifica, especiais cuidados, dada a sua macieza e, daí todos os cuidados são poucos quando é colocada na grelha mesmo sobre lume brando. As divergências no modo da confecção culinária do cabrito são estridentes, enquanto no El Gran Dicionário de Cocina de Jorge Pradános é elogiada a receita portuguesa de grelhar o cabrito por cima de brasas de vide, depois de aromatizado com folhas de eucalipto, outras obras de referência desaconselham tal método. Em contrapartida defendem o cabrito assado num primeiro plano, frito, estufado, guisado e de caldeirada num segundo. Pela delicadeza da sua carne não precisa de ser marinada antes da confecção, devendo a cozedura deixá-la rosada ou alourada, seja nos assados, seja noutras preparações.
Também existem divergências acerca da melhor idade para ser apreciado, o rifão diz: “cabrito, de um mês, e cordeiro, de três”, em Os Meus Amores, de Trindade Coelho, no capítulo Prelúdios da Festa, António Fagote sentencia: “leitão de mês, cabrito de três”, enquanto os chefes da alta cozinha defendem o seu consumo entre as seis semanas e os quatro meses.
Alguns gourmets acham a carne de cabrito insípida, aconselhando o uso de condimentos e aromáticos quando é preparada, o refinado Alexandre Dumas no Grand Dictionnaire de Cuisine, acusa-o de “com três ou quatro meses, o cabrito é totalmente isento de sabor montês e aroma caprum”. O autor de Os Três Mosqueteiros não esquece a tradição de no dia de Reis, em certas províncias francesas, o cabrito ser temperado com sal, vinho branco açucarado e quatro especiarias, antes de ir a assar.
Os receituários de referência anotam múltiplas receitas consagradas ao cabrito, sejam oriundas da cozinha oral e matriarcal, sejam da cozinha histórica e escrita, sejam ainda provenientes da cozinha de autor.
Se dúvidas existissem acerca do relevante papel do cabrito no ritual culinário da região de Bragança, o Cancioneiro Popular Português desvanece-as, como podemos perceber lendo no capítulo Ritmos, uma sequência de “Álvaro quer”, recolhida em Parada, concelho de Bragança. Atente-se:

“ – Queres tu, Álvaro, ora?
– Quero merendar que já é a hora.
Para merendar quero eu abo abelha,
Para merendar, merendar dará – o ela.
Para merendar cabrito assado,
Com pimenta e sal picado.
Para merendar cabrito cozido,
Com pimenta e sal moído.”

Comeres Bragançanos e Transmontanos
Publicação da CMB

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