domingo, 31 de maio de 2015

A Primeira Professora

Quem visse aquele par jovem descer do comboio do meio-dia na pequena gare da estação de Vale da Porca, diria que eram irmãos, pois mal puseram os pés em terra firme, colocaram uma mala de cartão e uma saca de lona no chão, deram as mãos e olharam para todos os lados, como que assustados ou surpreendidos com o cenário rural que os rodeava.
Entre as pessoas que esperavam o comboio para entrar e os que saiam dele, juntou-se ali um magote de gente que olhava de soslaio para aquele par desconhecido de todos. O caso não era para menos, pois para além de serem ainda muito jovens, com pouco mais de vinte anos, eram bastante magros, os rostos de uma cor pálida e cansada e, pormenor principal, vestiam de maneira completamente diferente dos pasmados aldeões que os rodeavam.
Entretanto, depois de o comboio já ter partido após o apito autoritário do chefe da estação, um sujeito de meia-idade, baixo e gordo, com a sua bandeirola vermelha enrolada debaixo do braço e o competente boné branco na cabeça, o jovem depressa se viu ali sozinho, no meio da gare, pois cada um tinha ido à sua vida. O chefe da estação tinha desaparecido para o interior do edifício e os outros começaram a dirigir-se para as suas aldeias, uns a pé e outros a cavalo que, por aquelas bandas era quase o único meio de transporte.
O dia apresentava-se relativamente quente, apesar de ser o primeiro do mês de outubro e o segundo ano da década de cinquenta, uma década que se apresentava para o mundo como uma nova era de esperança para o desenvolvimento, a paz e a felicidade, quando ainda soavam por todo o lado, como um obstinado eco, os ais horrendos da triste hecatombe nazi.
Os dois jovens ali parados, vinham de Bragança, onde lhes tinham dito que, para chegarem à aldeia da Sobreda, em pleno concelho de Macedo de Cavaleiros, tinham que tirar o bilhete de comboio para a estação de Vale da Porca e depois era só seguir a estrada que subia o monte Morais, passar pela capela de Santo Ambrósio e em chegando ao alto, era só virar por um caminho à direita até à Sobreda. Não tinham nada que se enganar, assim lhes tinham garantido no terminal da estação bragançana.
Mas a realidade era bem diferente. Alberto e Laurinda, por mais que olhassem à sua volta, só viam montes e montes riscados de caminhos, algumas árvores e uma ou outra casita perdida na ondulante e parda serrania.
Não sabendo para que lado ir, resolveram entrar na estação e procurar o único informante que havia por ali. O chefe estava sentado a uma escrivaninha, entretido com uns papéis e só quando ouviu o ruído de uns passos perto de si, é que se voltou para o casal, lançando-lhes um distraído “então que há?”. Foi a mulher que lhe respondeu, enquanto o marido pousava a mala de cartão e a saca de lona no chão:
- Sou a nova professora da Sobreda… O chefe da estação levantou-se de imediato, e aproximando-se, atencioso e solícito.
- Fa… faça o favor de dizer, minha senhora.
- Sou a nova professora da Sobreda mas não sabemos ir para lá. Se nos puder ajudar…
O homem fê-los voltar à gare, rodear o pequeno edifício até às traseiras e erguendo o braço direito, com o indicador espetado para sul, indicou:
- Estão a ver aquela floresta além, no cimo daquela serra mais alta?
- Sim, respondeu o casal ao mesmo tempo.
- Então, vão por este caminho até encontrarem a nova estrada que já é de alcatrão e depois, é só subir pela serra e quando passarem o Santo Ambrósio, sobem mais um bocado até ao alto e depois, ao começarem a descer pelo outro lado da serra, encontram um caminho pelo meio da floresta que os leva à Sobreda. Mas olhem que são mais de duas horas a andar bem!
O jovem casal agradeceu, pegaram na trouxa e antes que fosse mais tarde, que os dias já começavam a ser mais pequenos, puseram pés a caminho e logo desapareceram da vista do chefe, que se enfiou de novo na estação, meneando a cabeça, talvez num misto de incredulidade e de pena.
Quando avistaram o pequeno santuário, a professora quase desfalecida, mais amarela que uma bela de cera e teve que se sentar numa pedra. Ele não estaria melhor, mas sempre ia encorajando a companheira.
- Anda, é só mais um bocadinho até ao Santo Ambrósio e depois comemos alguma coisa.
Quando chegaram ao santuário, deram de caras com uma fonte e logo se precipitaram para ela, bebendo até se sentirem empanzinados de água. Depois aproximaram-se do santo que se erguia, de braços abertos ao mundo, de cima de um pequeno altar coberto com uma tarjeta de linho e rendas, admiraram-lhe a fatiota e a mitra sobre a cabeça e, enquanto o Alberto se desviou para urinar junto ao tronco de uma árvore, Laurinda benzeu-se e murmurou uma oração diante do santo que lhe parecia sorrir, certamente agradecido pela visita inesperada. Logo que o marido chegou, abriram a saca de lona, estenderam um pano em cima de um pequeno muro e comeram pão, um naco de queijo duro e umas azeitonas que tinham trazido de Bragança, saciando assim uma fome de muitas horas. Depois sentaram-se à porta da capelinha, encostaram-se um ao outro e ali se deixaram dormir.
Anoitecia quando entraram no largo da aldeia. Pousaram a mala e a saca no chão, que apesar de pouco trazerem, lhes pesavam após a longa caminhada. Em redor, o pequeno casario era, em geral, envelhecido por um xisto irregular e escuro. Algumas chaminés fumegavam e todo aquele cenário de semiobscuridade e de fumo, assustava o jovem casal citadino que assim se sentia desamparado, infeliz e sobretudo angustiado perante a perspetiva de terem de passar a noite ao relento.
Quando se preparavam para ir bater a uma porta, apareceu-lhes uma rapariguinha de tranças que não teria mais de nove a dez anos e trazia um burrico preso por uma corda. Passou pelo casal, fez um gesto de espanto mas baixou a cabeça e seguiu até desaparecer por uma ruela em frente. Laurinda ainda lhe berrou:
- Como te chamas?
- Maria – respondeu ainda a menina de lá do canelho, antes de se ouvir bater uma porta -.
Dali a nada começou a aparecer gente no largo, homens e mulheres, velhos e novos, para verem de perto o casal que a rapariga dissera ter visto. Alguns já traziam um lampião aceso, apesar de alguma réstia de claridade. Foi Laurinda, mais uma vez, a tomar a iniciativa de falar:
- Boas noites !
- Boas noites ! responderam-lhe em coro.
Sou a nova professora e não temos onde ficar…
Ouviu-se logo um murmúrio de admiração pelo largo. Os homens tiraram os chapéus da cabeça e as mulheres e as crianças aproximaram-se, mais sorridentes. Também estava Maria, a rapariguinha das tranças e que fora logo avisar os pais.
Todos queriam ver de perto a primeira professora da sua terra, pois nunca tiveram o privilégio de ter uma. E todos, à boa maneira transmontana, queria levar o jovem casal para sua casa, para lhes dar de comer e uma cama para dormir.
Tiveram que decidir, depois de um acordo geral, por um casal que se mostrava mais insistente em ajudar a professora e o marido e que, por sinal, eram os pais da Maria que, pela primeira vez na sua vida, iria ter uma professora.
Quando deixaram o largo para entrarem no lar que os acolhia, a noite era já uma realidade que cobria tudo de escuro e de silêncio. Lá dentro, à luz de um candeeiro, e antes de se sentarem à mesa para comerem, fizeram-se as apresentações, com os donos um pouco acanhados a balbuciarem:
- Ou sou o Sérgio !
- Ou sou a Natália !
- E … e ou sou a Maria ! … disse a menina, a rir-se e aos saltinhos e a sacudir graciosamente as suas tranças. Foi o que valeu, para todos se libertarem do acanhamento próprio de situações como esta…

(Conto do livro, Terra Parda), de Hélder Rodrigues

Clarice Lispector

Clarice Lispector
O que me tranquiliza
é que tudo o que existe,
existe com uma precisão absoluta.
O que for do tamanho de uma cabeça de alfinete
não transborda nem uma fração de milímetro
além do tamanho de uma cabeça de alfinete.
Tudo o que existe é de uma grande exatidão.
Pena é que a maior parte do que existe
com essa exatidão
nos é tecnicamente invisível.
O bom é que a verdade chega a nós
como um sentido secreto das coisas.
Nós terminamos adivinhando, confusos,
a perfeição.


Meu Deus, me dê a coragem
de viver trezentos e sessenta e cinco dias e noites,
todos vazios de Tua presença.
Me dê a coragem de considerar esse vazio
como uma plenitude.
Faça com que eu seja a Tua amante humilde,
entrelaçada a Ti em êxtase.
Faça com que eu possa falar
com este vazio tremendo
e receber como resposta
o amor materno que nutre e embala.
Faça com que eu tenha a coragem de Te amar,
sem odiar as Tuas ofensas à minha alma e ao meu corpo.
Faça com que a solidão não me destrua.
Faça com que minha solidão me sirva de companhia.
Faça com que eu tenha a coragem de me enfrentar.
Faça com que eu saiba ficar com o nada
e mesmo assim me sentir
como se estivesse plena de tudo.
Receba em teus braços
o meu pecado de pensar.


in:astormentas.com

Gustavo Adolfo Bécquer

Gustavo Adolfo Bécquer
Enquanto houver uns olhos que reflectem
outros olhos que os fitam,
enquanto a boca responda a suspirar
aos lábios que suspiram,
enquanto sentir-se possam ao beijar-se
duas almas confundidas,
enquanto exista uma mulher formosa,
haverá poesia!



Se receoso se turba na alta noite
teu peito em flor,
ao sentires um hálito em teus lábios,
abrasador,
lembra-te que invisível ao teu lado
respiro eu.



Hoje sorriem-me a terra e os céus;
sinto no fundo da minha alma o sol;
eu hoje vi-a..., vi-a e ela olhou-me...
Creio hoje em Deus!



Por um olhar, um mundo;
por um sorriso, um céu;
por um beijo...não sei
que te daria eu.



Sobre o regaço tinha
o livro bem aberto;
tocavam em meu rosto
seus caracóis negros.
Não víamos as letras
nem um nem outro, creio;
mas guardávamos ambos
fundo silêncio.
Por quanto tempo? Nem então
pude sabê-lo.
Sei só que não se ouvia mais que o alento,
que apressado escapava
dos lábios secos.
Só sei que nos voltámos
os dois ao mesmo tempo,
os olhos encontraram-se
e ressoou um beijo.



Espreitava em seus olhos uma lágrima,
e em meus lábios uma frase a perdoar;
falou o orgulho, o seu pranto secou,
senti nos lábios essa frase expirar.
Eu vou por um caminho, ela por outro;
mas, ao pensar no amor que nos prendeu,
digo ainda: porque me calei aquele dia?
E ela dirá: porque não chorei eu?



Quando mo vieram contar, senti o frio
de uma lâmina de aço nas entranhas;
apoiei-me no muro e um momento
perdi a consciência de onde estava.
A noite abateu-se em meu espírito;
em ira e piedade afogou-se-me a alma;
e então compreendi porque se chora,
e então compreendi porque se mata!

Passou a noite de sofrimento...a custo;
pude balbuciar breves palavras...
Quem me deu a notícia?...Um bom amigo...
Fazia-me um favor. Rendi-lhe graças.



Deixei a luz a um lado e numa beira
da cama em desalinho me sentei,
sombrio, mudo, os olhos imóveis
cravados na parade.
Que tempo estive assim? Não sei; ao deixar-me
a horrível embriaguez da dor
já expirava a luz, e na varanda
ria o sol.

Não sei tão-pouco em tão terríveis horas
em que pensava ou que passou por mim;
recordo só que chorei e blasfemei
e que naquela noite envelheci.



Levai-me por piedade onde a vertigem
com a razão me arranque a memória.
Por piedade! Tenho medo de ficar
com a minha dor a sós!



Deus meu, tão sozinhos
que ficam os mortos!



É um sonho esta vida,
mas um sonho febril de um instante único.
Quando dele se acorda,
vê-se que tudo é só vaidade e fumo...
Oxalá fosse um sonho
bem profundo e bem longo,
um sonho que durasse até á morte!...
Eu sonharia com o meu e teu amor.


in:astormentas.com

Cesário Verde

Nas nossas ruas, ao anoitecer,
Há tal soturnidade, há tal melancolia,
Que as sombras, o bulício, o Tejo, a maresia
Despertam-me um desejo absurdo de sofrer



Eu que sou feio, sólido, leal,
A ti, que és bela, frágil, assustada,
Quero estimar-te, sempre, recatada
Numa existência honesta, de cristal.

Sentado à mesa de um café devasso,
Ao avistar-te, há pouco fraca e loura,
Nesta babel tão velha e corruptora,
Tive tenções de oferecer-te o braço.

E, quando socorrestes um miserável,
Eu, que bebia cálices de absinto,
Mandei ir a garrafa, porque sinto
Que me tornas prestante, bom, sudável.

«Ela aí vem!» disse eu para os demais;
E pus me a olhar, vexado e suspirando,
O teu corpo que pulsa, alegre e brando,
Na frescura dos linhos matinais.

Via-te pela porta envidraçada;
E invejava, - talvez que não o suspeites! -
Esse vestido simples, sem enfeites,
Nessa cintura tenra, imaculada.
...
Soberbo dia! Impunha-me respeito
A limpidez do teu semblante grego;
E uma família, um ninho de sossego,
Desejava beijar o teu peito.

Com elegância e sem ostentação,
Atravessavas branca, esbelta e fina,
Uma chusma de padres de batina,
E de altos funcionários da nação.

«Mas se a atropela o povo turbulento!
Se fosse, por acaso, ali pisada!»
De repente, parastes embaraçada
Ao pé de um numeroso ajuntamento,

E eu, que urdia estes frágeis esbocetos,
Julguei ver, com a vista de poeta,
Um pombinha tímida e quieta
Num bando ameaçador de corvos pretos.

E foi, então que eu, homem varonil,
Quis dedicar-te a minha pobre vida,
A ti, que és ténue, dócil, recolhida,
Eu, que sou hábil, prático, viril.



E, enorme, nesta massa irregular
De prédios sepulcrais, com dimensões de montes,
A Dor humana busca os amplos horizontes,
E tem marés de fel como um sinistro mar!

in:astormentas.com

«Para onde correm os rios, correm as gentes».

Jorge Arroteia, especialista em Demografia, analisa o actual mapa demográfico nacional, «decadente há muitos anos», e aponta caminhos para aumentar o número de nascimentos e minorar o envelhecimento populacional. Jorge Arroteia considera que Portugal não tem tido políticas de incentivo à natalidade nem direccionadas para a família, lembrando ainda que o país precisa de um «aumento efectivo» da população que configure «um crescimento sustentado dos núcleos familiares». O especialista, confrontado com a questão da desertificação do interior do país, recorda uma frase «determinista» do professor Amorim Girão, ainda na década de 1940: «para onde correm os rios, correm as gentes».
Café Portugal - Quais são os grandes desafios demográficos do nosso país?
Jorge Arroteia -
Temos um problema que reside fundamentalmente num crescimento moderado da nossa população e isso viu-se nos dados preliminares do Recenseamento de 2011. A nossa população terá crescido em cerca de 200 mil indivíduos. Muito pouco.
CP - Em seu entender isso deveu-se a que factores?
J.A. -
Esta situação decorre de duas razões distintas. Em primeiro lugar, de uma realidade que tem a ver com o crescimento natural da população e que resulta da comparação da natalidade e da mortalidade. Ou seja, em termos reais, a nossa natalidade tem vindo a decrescer desde 1960, acentuou-se não só em função do processo de mudança social operada pela passagem de uma sociedade rural a uma sociedade industrial - e de uma sociedade industrial para uma sociedade de serviços – mas também devido a todo um processo que decorre da emancipação da mulher, da sua integração no mundo do trabalho, da actual situação laboral que leva os jovens a entrarem cada vez mais tarde no mundo do trabalho, de todo um conjunto de situações de dependência e de uma grande instabilidade e incerteza em termos prospectivos e dos cenários de desenvolvimento económico que teremos de enfrentar.
CP - Estamos então perante um problema estrutural do nosso crescimento natural?
J.A. -
Nem mais. Esse crescimento natural tem vindo a reduzir-se através do número de nascimentos e da redução das taxas de natalidade. Porém, há um factor, que sucedeu em 2006/2007, significativo em que os valores da mortalidade superaram os da natalidade. Isto é, a partir dessa altura entramos em derrapagem, ou seja, em perda demográfica significativa.
CP - E como se têm comportado os movimentos migratórios?
J.A. -
Portugal, que era considerado uma reserva demográfica nos anos de 1960 no sul da Europa e caracterizado pelas taxas mais altas de natalidade e fecundidade e em crescimento. Um cenário que se tem vindo a alterar. Em primeiro lugar, por via da emigração, houve um conjunto de saídas de casais jovens em idade de procriação, que se estabeleceram noutros contextos e onde vieram a contribuir também para um crescimento efectivo da população em alguns locais. É um dado objectivo: temos um problema relacionado com os movimentos migratórios. E, neste contexto, temos igualmente a emigração, que é relevante.
CP - O fenómeno da emigração está a decrescer?
J.A. -
Os valores da emigração que se registaram nos anos 1990 voltaram a descer. Só que essa emigração está mais camuflada, porque no contexto europeu não temos emigrantes mas cidadãos europeus. O que conta é a emigração temporária, aquela que é estabelecida pelos contratos temporários e a emigração de longa distância. Depois, dentro das alterações a que assistimos internamente, temos o problema do envelhecimento da população, cujos índices estão entre 117 a 120%. Temos um envelhecimento de topo da população. E temos também um envelhecimento de base que se traduz num decréscimo de nascimentos. Ou seja, temos uma pirâmide etária quase em urna, com uma base estreita e um tronco largo de população adulta e idosa.  
 CP - E nesta conjuntura difícil que será de longo prazo, como se resolve o problema demográfico, perante a crise económica grave e com a eventual incapacidade dos Estados em agirem?
J.A. -
Vou dar um exemplo concreto que não tem a ver com Portugal mas que nos pode situar no contexto europeu. O Luxemburgo, enquanto país, teve o máximo da sua população autóctone nos finais do século XIX. A partir dessa altura, aquele país tem vindo a ver a sua população decrescer. Contudo, o Luxemburgo tem sido, no contexto dos países europeus, um país que tem mantido a sua população estável.
CP - O que fez o Luxemburgo que Portugal não fez?
J.A. -
É aqui que entra a componente da imigração. Ou seja, se quisermos renovar a nossa população, vejo na imigração uma porta aberta. Porém, não nos serve qualquer imigração. Servir-nos-ia uma imigração constituída por população jovem e adulta em idade de procriação e não uma população envelhecida, porventura oriunda de contextos civilizacionais onde o número de nascimentos seja já reduzido, como acontece em relação à população do Leste europeu que nós acolhemos. Essa é a primeira solução para tentar resolver o nosso problema. Por via interna, as medidas que se prendem com o desenvolvimento de uma política natalista de incentivo aos nascimentos parece-me difícil mas só consegue ser levada a cabo com uma boa dose de ânimo, de incentivo aos jovens, às famílias, às estruturas estatais e oficiais que facilitem os nascimentos e que dêem condições à vida.  «Dose de ânimo»:

CP - Mas isso não será algo difícil, se actualmente o que o Estado (e os governos) nos prometem para os próximos anos é um pacote violento de medidas de austeridade?
J.A. -
Tem toda a razão. Diziam os nossos antepassados que uma das razões por que as famílias eram numerosas há 50 anos era porque não havia televisão. Mas hoje há não só televisão como tantas outras alternativas, e acontece precisamente o contrário. Não me parece possível que a nossa população venha a aumentar, se não tivermos uma boa dose de ânimo, crença e valorização individual, global e societária dos valores da família. E aí a sociedade civil tem de ser organizar e pode ter uma palavra a dizer. A verdade é que não temos tido uma política de incentivo à natalidade nem uma política de família. Não obstante, podemos considerar um conjunto de medidas pontuais, como foi o arrendamento jovem, como algumas políticas da segurança social, que teoricamente são favoráveis ao desenvolvimento da família. Só que em termos práticos falta-nos saber o efeito imediato dessas políticas no que respeita à contabilidade demográfica, ou seja, no que se refere a nascimentos. Continuamos com muitos estudos e, neste ponto, ainda somos um país muito feudal. Cada um tem os seus estudos e os seus dados e defende a sua capelinha mas não abre muito a mão para os divulgar, mesmo ao nível de organismos institucionais, que têm bons estudos, mas que os cidadãos não conhecem.
CP
- Falou das políticas da família e dos jovens. Deixámos descambar o problema demográfico. Mas nos últimos 30 anos tivemos ou não verdadeiras políticas de família e de incentivo à natalidade no terreno com efeitos práticos?
J.A. -
Recordo-me de, nos anos de 1980, ter havido uma Direcção-Geral de Família, dirigida pela Dra. Raquel Ribeiro. Foi nessa altura que as questões da família começaram a preocupar a população portuguesa. Dou-lhe outro exemplo concreto. Eu próprio faço parte de um núcleo fundador de um Centro que começou por ser o Centro de Estudos de População e Família, criado na Universidade do Porto, nos anos 90, e que devido à fraca receptividade, passou a designar-se por Centro de Estudos da População, Economia e Sociedade. Tem havido, em termos políticos, uma preocupação de diversos Governos em haver sempre uma tutela em que estes assuntos da família surjam.
CP
- Mas foram realmente importantes ou foram mais «para inglês ver»?
J.A. -
Eles foram importantes à sua medida mas também para «inglês ver» e não resultou daí um crescimento efectivo da nossa população de forma a que pudéssemos configurar um crescimento sustentado da população portuguesa dos núcleos familiares. Mas não o foram por razões que têm a ver com movimentos de opinião que, entretanto, valorizaram muitos outros aspectos desta união social que decorre de diversas posturas relacionadas com outras formas de constituições de uniões, não familiares mas uniões de facto, com o incentivo à interrupção da vida (o aborto).
CP
- E esses movimentos sociais «despromovem» o incentivo à vida?
J.A. -
Não sei. Mas o que digo é que há padrões diferentes do conceito de família e não podemos esquecer que temos a crise a bater-nos à porta. E tenho dito frequentemente que é fundamental apostar em políticas atractivas. Por exemplo, no caso dos jovens, e no que se refere aos mercados de habitação em vez de termos casas de T1 e T2, talvez fosse bom que fossem T3 ou T4, para que os casais tivessem opções à medida do futuro.
CP
- Ainda no que se refere aos jovens, com todas as dificuldades que estes enfrentam actualmente, teme que o país, nas próximas décadas, não consiga alterar a pirâmide etária?
J.A. -
Temo até que ela se inverta. Não se trata de manter a pirâmide em urna, mas inverter a pirâmide da situação normal, que era uma base alargada e um topo estreito. Os dados que dispomos, e que nos indicam os resultados preliminares dos Censos 2011, no cenário actual de retracção económica, de crise de valores, de emigração de jovens, leva a que a nossa pirâmide etária daqui a uns anos se inverta e se agrave. Nos últimos quatro anos perdemos população. É expectável que a nossa imigração não venha a acontecer a um ritmo tão intenso. E o que se verifica é que, do meio milhão de imigrantes que se acolheram na última década em Portugal, há uma redução gradual nos últimos anos. A menos que façamos um apoio selectivo à imigração, como fizeram vários países europeus – casos da França, Alemanha e Luxemburgo. Nesta cultura ocidental é fundamental que haja meios para que os idosos continuem a ter uma actividade útil.
Envelhecimento: CP - Falando dos nossos idosos e do envelhecimento do país. Sabemos que a situação está a agravar-se, e registam-se cada vez mais situações de pobreza. Como é que o envelhecimento em termos demográficos pode evoluir?
J.A. - Tenho-me ocupado em torno da população aposentada nos últimos anos. Nas regiões rurais têm-se retomado muitas actividades, de reconstrução de habitações, de utilização de jardins para outros fins que não sejam só as flores. Em áreas não urbanas há como que um incentivo à actividade. É onde nós encontramos o regresso à terra.
- E nas cidades?
J.A. -
Nas cidades há vários exemplos. Dou-lhe o caso das hortas sociais. Mas quero sublinhar uma coisa: as instituições sociais, as misericórdias, as Instituições Particulares de Solidariedade Social e as autarquias têm por missão criar espaços de sociabilidade da população idosa que lhes permita uma vida que não seja apenas a residência mas que a ocupem e que possam ter alguma aplicação. Há uns anos, quando a nossa população começou a envelhecer, falava-se muito do diálogo inter-geracional. Esse diálogo é bom que exista, mas só se for biunívoco. Mas o que vemos é avós em demasia e não há netos para cuidar.
CP
- Do que conhecemos dos resultados preliminares dos Censos 2011, voltamos a ver a dicotomia Litoral/Interior acentuar-se. Como se pode combater a desertificação e alterar o actual mapa demográfico do país?
J.A. -
O nosso mapa demográfico está decadente há muitos anos. Na década de 1940, foi publicado um primeiro trabalho do professor Amorim Girão sobre «As migrações internas no continente português», que veio demonstrar que havia, já nessa altura, uma orientação clara em relação ao encaminhamento das pessoas das áreas rurais para as cidades. Nessa mesma altura, o mesmo professor fez uma afirmação terrivelmente determinista mas que ainda hoje se mantém: «para onde correm os rios, correm as gentes». Num estudo pioneiro que Alberto de Alarcão publicou no final dos anos 70, num artigo interessante sobre a “Atracção Rural e o Êxodo Urbano” no continente, onde isso vem evidenciado. Muitos outros trabalhos têm sido feitos nestas últimas décadas. Outrora, havia um contraste entre o Norte povoado e o Sul desertificado. No século XIX, quando começamos o processo de industrialização e de crescimento urbano, houve uma dicotomia Norte/Sul e Litoral/Interior. Mas o que acontece nos dois últimos recenseamentos da população é que há não só uma litoralização e o despovoamento do Interior, como nas áreas litorais e no Interior, despovoadas já de si, os únicos centros que continuam a crescer em termos demográficos são as sedes concelhias e as sedes que coincidem com bacias de emprego minimamente favoráveis e positivas. A geografia do despovoamento tende, assim, a acentuar a dicotomia Interior /Litoral. E isso é um facto cada vez mais incontornável.


Ana Clara
in:cafeportugal.net

sábado, 30 de maio de 2015

José Marcelino de Figueiredo

Retrato de José Marcelino de Figueiredo
José Marcelino de Figueiredo, cujo nome de baptismo é Manuel Jorge Gomes de Sepúlveda, (Bragança, 16 de Abril de 1735 — Lisboa, 28 de Abril de 1814), foi um militar e administrador colonial português.
Foi governador da Capitania do Rio Grande de São Pedro, de 1769 a 1771 e de 1773 a 1780. Pai de Bernardo Correia de Castro e Sepúlveda e de António Correia de Castro Sepúlveda.
Baptizado como Manuel Jorge Gomes de Sepúlveda, a origem nobre encaminhou-o para o serviço militar. Conta a lenda que, muito jovem, foi apanhado na cama com a esposa de um oficial inglês e, descoberto, teve um duelo com o marido, o qual foi morto. A alegação de legítima defesa não foi aceite, tendo sido condenado à morte.
Porém, por ser filho de família influente, um dia apareceu no Rio de Janeiro com uma carta dirigida ao vice-rei, solicitando que o mandassem para o "fim do mundo".
Foi assim que, com o nome fictício de José Marcelino de Figueiredo, chegou à Capitania do Rio Grande, onde fez uma carreira-relâmpago e fundou várias cidades, para garantir a posse das terras para a Coroa Portuguesa.
Quando tomou posse do comando da Capitania do Rio Grande, em 23 de abril de 1769, não lhe agradou o local onde estava a capital, que era Viamão. Foi então visitar o Porto dos Casais, onde se tinham estabelecido os casais açorianos e, desde então, passou a trabalhar para que ali se instalasse a nova capital. Em 1771 foi autorizado pelo então vice-rei a preparar a localidade para aí sediar a capital.
De volta ao Rio de Janeiro em 1771, José Marcelino determinou que o seu substituto, o tenente-coronel António da Veiga de Andrade passasse a tratar da urbanização do Porto dos Casais.
Renomeado em 5 de abril de 1773, e de volta à província, realizou detalhada inspecção nas obras de transferência da capital, fixando a sua residência no Porto dos Casais no dia 25 de julho de 1773, data em que a localidade se transformou em capital da província.
Voltando a Portugal, teve actuação destacada na Revolta de Trás-os-Montes contra os franceses.

Reserva Ecológica Nacional na Terra Fria Transmontana

Por definição, a REN - Reserva Ecológica Nacional constitui uma estrutura biofísica básica e diversificada que, através do condicionamento à utilização de áreas com características ecológicas específicas, garante a protecção de ecossistemas e a permanência e intensificação dos processos indispensáveis ao enquadramento equilibrado das actividades humanas. Nas áreas incluídas na REN são proibidas as acções de iniciativa pública ou privada que se traduzem em operações de loteamento, obras de urbanização, construções de edifícios, obras hidráulicas, vias de comunicação, aterros, escavações e destruição do coberto florestal.
A delimitação da REN em cada um dos quatro concelhos da Terra Fria do Nordeste Transmontano foi classificada:
Bragança - Resolução do Conselho de Ministros nº 116/96, publicada no Diário da República nº 175/96, Série I-B, de 30.07.1996
Miranda do Douro - Resolução do Conselho de Ministros nº 69/2000, publicada no Diário da República nº150/2000, Série I-B, de 01.07.2000
Vimioso - Resolução do Conselho de Ministros nº 169/96, publicada no Diário da República nº 239/96, Série I-B, de 15.10.1996
Vinhais - Resolução do Conselho de Ministros nº 56/96, publicada no Diário da República nº 163/96, Série I-B, de 19.09.1996
As áreas que integram a delimitação da REN nos quatro concelhos são:
- Leitos dos cursos de água e zonas ameaçadas pelas cheias, ou seja o terreno coberto pelas águas quando não influenciado pelas cheias extraordinárias, inundações ou tempestades e a área contígua à margem que se estende até à linha alcançada pela maior cheia que se produz no período de um século ou, não se conhecendo esta, pela maior cheia conhecida.
- Lagoas, suas margens naturais e zonas húmidas adjacentes e uma faixa de protecção delimitada a partir da linha de máximo alagamento.
- Albufeiras e uma faixa de protecção delimitada a partir regolfo máximo.
- Cabeceiras das linhas de águas, que são as áreas côncavas situadas na zona montante das bacias hidrográficas, tendo por função o apanhamento das águas pluviais e onde se pretende promover a máxima infiltração e reduzir o escoamento superficial e, consequentemente, a erosão.
- Áreas de máxima infiltração que são aquelas que, devido à natureza do solo e do substrato geológico e ainda às condições de morfologia do terreno, a infiltração das águas apresenta condições favoráveis, contribuindo, assim, para a alimentação dos lençóis freáticos.
- Áreas com riscos de erosão, onde as característica do solo e subsolo, declive e dimensão da vertente eoutros factores susceptíveis de serem alterados, tais como o coberto vegetal e práticas culturais, estão sujeitas à perda de solo, deslizamento ou quebra de blocos.
- Escarpas ou vertentes rochosas.
Se analisarmos a REN em cada um dos concelhos, verificamos que:
Bragança - a quase totalidade do concelho está incluída na REN, designadamente com áreas com riscos de erosão. Tendo em conta a carta de Declives e a de Riscos de Erosão dá-se conta, aparentemente, de algum exagero na delimitação das áreas com riscos de erosão que integram a REN. As cabeceiras de linhas de água localizam-se, naturalmente, nas serras de Montezinho e de Nogueira, no apanhamento das águas que alimentam as bacias hidrográficas do Sabôr e do Tuela.
Miranda do Douro - são muito poucas as áreas deste concelho incluídas na REN, merecendo particular destaque, as margens escarpadas que encaixam o rio Douro. Algumas áreas de máxima infiltração localizam-se a sul do planalto mirandês, nos vales aluvionares de pequenas linhas de águas subsidiárias do Douro.
Vimioso - neste concelho são também mais significativas as áreas com riscos de erosão, que constituem os vales encaixados dos rios Sabôr, Maçãs e Angueira.
Algumas cabeceiras de linhas de água acompanham as cumeadas que estruturam os respectivos interflúvios.
Vinhais - também uma grande parte deste concelho está incluído na REN, concorrendo de novo, com forte expressão, as áreas com riscos de erosão, que abrangem os vales cavados da bacia hidrográfica do Tuela/ Rabaçal e algumas encostas da Serra da Coroa. As cabeceiras de linhas de águas intercalam o desenvolvimento desta área e a capacidade de máxima infiltração é quase insignificante, limitando-se a algumas baixas aluvionares do rio Tuela.
A dimensão da REN nos quatro concelhos pode ser estimada a partir dos seguintes valores:
Áreas com riscos de erosão, incluindo escarpas - 149.200ha (53%)
Áreas de máxima infiltração - 8.950ha (3%)
Cabeceiras de linhas de águas - 31.250 ha (11%)
Tendo em conta, porém, concumitância de muitas áreas com riscos de erosão delimitadas nas cabeceiras, estes valores não traduzem rigorosamente a percentagem da área global dos quatro concelhos que está incluída na REN e que se estima aproximadamente em 60%.

in:rotaterrafria.com

Evolução da Paisagem na Terra Fria Transmontana

Uma paisagem de qualidade é um recurso dificilmente renovável e facilmente depreciável. É um património natural e cultural de uma região que desempenha um papel importante no bem-estar humano e na sua qualidade de vida. É a percepção do território que se abarca num lance de vista, onde as componentes naturais (clima, litologia, solo, relevo, água, vegetação e vida animal), formam um conjunto de inter-relações e interdependências que o vão transformando com o tempo.
A paisagem é, também, um espelho das relações antigas e actuais do homem com a natureza, que ao longo de gerações a foi modelando e organizando. As espécies vegetais e animais foram-se dispondo segundo padrões por si estabelecidos, que foram evoluindo com o tempo.
A paisagem está, pois, em constante evolução, pelo que registar a sua situação actual, permite não só a sua análise, como a comparação com o estado evolutivo numa situação futura.
Em termos evolutivos, as paisagens caracterizam-se por virgens, naturais e artificiais, consoante o grau de intervenção do homem, no seu processo de modelação e artificialização do meio. Uma paisagem virgem será uma paisagem não intervencionada pelo homem ou que já evoluiu novamente até à sua situação climáxica. A paisagem natural é aquela que, apesar de intervencionada pelo homem, se encontra em equilíbrio ecológico, muitas vezes com níveis de biodiversidade superiores ao de uma situação climáxica. Uma paisagem artificial será aquela em que o equilíbrio natural se perdeu, em que a artificialização do espaço é total, como acontece com os espaços urbanos, industriais, canais e outras infra-estruturas com expressão no território.
A paisagem originária desta região seria de um imenso carvalhal caducifólio, com carvalhos perenifólios ao longo dos vales dos rios Sabor, Maças e Douro. Os carvalhos de folha caduca seriam predominantemente da espécie carvalho negral (Quercus pyrenaica) e as espécies de folha persistente teriam o domínio da azinheira (Quercus ilex ssp. rotunfifolia). A intervenção do homem ao longo do tempo, transformou paisagens virgens em paisagens naturais, em que este vivia em equilíbrio com o meio, modelado de modo a garantir a sua subsistência. O abandono de muitos espaços de menor aptidão agrícola tem contribuído para que a sucessão ecológica devolva algumas zonas do território a uma situação climáxica, ou próximo dela.
Com o surgimento dos espaços urbanos criaram-se paisagens artificiais, em que o equilíbrio com os aspectos biofísicos foi profundamente alterado.
As primeiras alterações significativas à paisagem são os povoados pré-romanos, dos quais se conservam, ainda, nesta região, numerosos vestígios. Deste período e da época romana são, ainda, visíveis vestígios arqueológicos em muitas aldeias, em posições estratégicas do território e nas estradas e pontes.
De um modo geral os habitats pré-romanos dispunham-se ao longo dos rios, como os castros de Moimenta ou da Torre de Maças; na bordadura dos altiplanos, como o castro de Cidadelhe de Vinhais; ou em pleno contexto montanhoso, como o castro da Torre de Soutelo de Gamoedo, em Carragosa.
Com a romanização do território esta região continua o seu processo de humanização da paisagem, com a arroteia dos espaços florestais e com o incremento da cultura cerealífera. Em paralelo surge a construção das vias e das respectivas pontes, como as pontes sobre os rios Sabor, Angueira e Maças, em Vimioso e sobre o rio Tuela em Vinhais.
Na Idade Média, com a formação da nacionalidade, uma das primeiras preocupações dos soberanos foi povoar o reino através da distribuição de terras a fidalgos e á Igreja. Foi também criado um sistema de forais colectivos, já que as rudes condições geográficas e sociais desses tempos exigiam que toda a organização do espaço dependesse da vida em grupo. Muitos desses hábitos comunitários conservaram-se até aos dias de hoje em muitas das aldeias.
A necessidade de protecção das populações de um reino em formação, levou à criação de castelos e atalaias defensivas, como os de Miranda do Douro, Bragança, Vimioso e Vinhais e a Torre da Atalaia em Vimioso.
A Igreja também vai pontuando de uma forma marcante o território, com a construção de grandes igrejas em Bragança e Miranda do Douro e de conventos como o de Santa Clara e S. Francisco em Vinhais, o Convento dos Franciscanos e o Mosteiro de Castro de Avelães, em Bragança.
Por todo o território, onde há um aglomerado populacional, um ponto notável sobre a paisagem, ou ainda, um lugar de culto pagão que importa cristianizar, surge uma igreja ou capela, cuja riqueza decorativa varia consoante a capacidade da comunidade que a constrói.
A utilização de materiais locais levou a uma uniformização das tipologias construtivas, principalmente das casas, que de forma engenhosa foram adaptadas às necessidades dos moradores, mantendo-se ainda em alguns aglomerados habitacionais as suas características primitivas em harmonia e equilíbrio com o espaço envolvente.
Destacam-se pelas suas características particulares e potencialidades turísticas atendendo ao valor cénico, qualidade do casco urbano primitivo, intervenções de recuperação já realizadas, entyre outros atributos, as povoações de Pinheiro Novo, Moimenta, Rio de Onor, Guadramil, Cova da Lua, Varge e Nunes, Paradinha, Argozelo, S. Joanico , S. Martinho de Angueira, Constantim, Caçarelhos, Ifanes, Vilar Seco, Silva, Cércio e Sendim.
Para além das construções habitacionais e de carácter religioso, há nesta região um número significativo de construções ao longo dos rios para aproveitamento da energia hídrica, como é o caso dos engenhos de linho (pisões) e das azenhas e, com especial predominância nos concelhos de Bragança, Vimioso e Miranda do Douro, outras construções que se destacam pela sua singularidade no território português, os pombais.
Característicos das zonas cerealíferas, surgem geralmente agrupados e os mais curiosos apresentam plantas circular ou em ferradura.
Constituem intrusões com forte impacte negativo no equilíbrio ambiental, os depósitos e vazadouros de lixo e sucata, sobretudo os que se encontram nas encostas sobranceiras às linhas de água, como no rio Sabor, junto a Rabal e no equilíbrio da paisagem urbana, a generalidade das construções edificadas nas últimas décadas, muitas vezes inacabadas e sem qualidade arquitectónica, patente na implantação, volumetria e tipologia inadequadas e recurso a revestimentos e cores contrastantes com os materiais tradicionais.
Na análise da situação da paisagem actual da Terra Fria Transmontana, constata-se que a humanização da paisagem é grande, restando apenas pequenas áreas de situação climáxica e uma área urbana percentualmente reduzida, face à grandeza do território.

in:rotaterrafria

Produto de combate ao cancro do castanheiro já pode ser aplicado

Os produtores de castanheiros já podem aplicar o produto de combate ao cancro do castanheiro desenvolvido pelo Instituto Politécnico de Bragança.
A investigadora do IPB, Eugénia Gouveia, garantiu esta manhã, à margem da criação do Centro Nacional de Competências dos Frutos Secos, que os produtores podem aplicar esta produto, ainda que não esteja à venda no mercado. 
“O produto foi testado e foram os resultados eficazes desse tratamento que permitiram obter a autorização para se poder expandir a utilização de produto. A aquisição é um processo controlado. Não tem venda livre. Só as pessoas que têm castanheiros doentes e que têm um parcelário com a indicação geográfica dessa parcela é que o poderão utilizar. Terão de ser as organizações dos agricultores a fazerem esse trabalho”, salienta a investigadora. 
O produto foi desenvolvido por investigadores do Instituto Politécnico de Bragança, em colaboração com várias entidades e é o resultado de três anos de investigação e trabalho no terreno. 
Para poder ser aplicado, foi necessária autorização da Direção-Geral de Alimentação e Veterinária, que foi concedida no mês passado. Esta manhã foi ainda apresentado o programa de combate à vespa das galhas do castanheiro. 
investigador da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro José Laranjo, alertou para o facto de a vespa poder ter chegado à região transmontana já no ano passado e não ter sido detectada. “Havia focos já com um elevado grau de infestação que eventualmente já existiriam no ano passado mas ó foram encontrados este ano”, revela José Laranjo. 
O investigador da UTAD recorda que a infestação da vespa das galhas do castanheiro na região transmontana deu-se sobretudo em novas plantações, o que constituiu uma novidade relativamente à forma de infestações de outros distritos do norte do país.
José Laranjo explica ainda os motivos que levaram as associações e instituições de ensino superior a alertarem os agricultores para a importância de detectarem a presença da vespa. “A partir da primeira semana de Junho, pelo menos no Minho, começam a acontecer os primeiros voos da vespa e a fazerem posturas na ordem dos 150 a 200 ovos”, descreve o investigador. 
Declarações da tomada de posse dos órgãos sociais do Centro Nacional de Competência dos Frutos Secos, em Bragança. 

Escrito por Brigantia

O autor de Estevais de Mogadouro que vem à Feira do Livro

À Feira do Livro de Lisboa vêm escritores de todo o país, mas só um vem de Trás-os-Montes: J. Rentes de Carvalho. Deve ser o escritor que vem de mais longe para assinar autógrafos à 85.ª edição da feira.
Rentes de Carvalho numa edição anterior
da Feira do Livro Fotografia © DR
J. Rentes de Carvalho vem há muito à Feira: "Gosto por razões várias, diria até históricas, pois a primeira que visitei foi a de 1947." Tinha então 17 anos e era a primeira vez que vinha a Lisboa: "Aquilo pareceu-me um mar de gente com montanhas de livros. Fez-me grande impressão. Tenho ideia de que era no Rossio, mas não garanto."
Quando se se lhe pergunta se já teve algum incidente na feira devido à franqueza dos seus diários, responde: "Houve um que me surpreendeu e, por segundos, quase me fez perder as estribeiras. Há dois anos, quando acabava de lhe autografar um livro, um cavalheiro de uns quarenta e poucos anos perguntou-me à queima-roupa se determinada personagem de um conto meu era baseada no seu pai, que, sabia ele, eu tinha conhecido. De facto assim era, mas num relâmpago dei-me conta de que se respondesse pela afirmativa o ia desgostar, confirmando a fraca reputação do progenitor. Optei pela mentira e foi descansado", conta.

DN Artes

Mostra Agrícola arranca amanhã

Começou hoje a II Mostra Agrícola em Macedo de Cavaleiros.


Uma forma de homenagear quem ainda se dedica ao setor, afirma Carlos Barroso, vice-presidente do município macedense.

E Carlos Barroso conta algumas das atividades programadas para estes dois dias.

A II Mostra Agrícola, que comemora também o Dia do Agricultor, começa amanhã de manhã em Macedo de Cavaleiros, no Parque Municipal de Exposições, e decorre até domingo.

Amanhã decorre o concurso nacional de ovinos da raça Churra Badana e o concurso concelhio de bovinos de raça Mirandesa. Já no domingo, assinala-se o Dia do Agricultor, pelo 11º anos, e começa com um seminário sobre apoios à agricultura no novo quadro comunitário.

Escrito por ONDA LIVRE

Afectação da Vespa do Castanheiro é mais grave do que o inicialmente esperado

A Doença da Vespa do Castanheiro, recentemente detectada na região de Trás-os-Montes, já afectou mais área do que o inicialmente previsto.

Descoberta no final de Abril no concelho de Valpaços e após realizadas prospecções mais minuciosas sobre a incidência desta praga, constatou-se que a Vespa do Castanheiro já também fez estragos em outros concelhos como Bragança, Macedo de Cavaleiros ou em Lamego, na margem sul do rio Douro.

"Foi uma má surpresa. A área da expansão da vespa é maior do que aquilo que pensávamos e surpreendentemente já se encontraram focos bastante desenvolvidos não só em castanheiros jovens, mas também em castanheiros adultos", afirmou à agência Lusa José Gomes Laranjo, presidente da RefCast e investigador da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD). 

Apesar de terem sido desencadeadas estratégias orquestradas com juntas de freguesia, autarquias, produtores, instituições de ensino superior e a Direção Regional de Agricultura e Pescas do Norte para combater a doença, a tarefa não está a ser fácil devido à forma como o insecto deposita e aloja os ovos nos gomos dos castanheiros. 

Só quando formados os novos ramos é que se percebem as deformações e inchaços nas folhas. Depois de infectados os ramos não conseguem dar mais fruto e os prejuízos repercutem-se nas quebras de produção que poderão atingir, em casos mais extremos, os 80%. Agora a luta será desencadeada sem tréguas, de forma a combater uma doença que poderá colocar em risco uma das mais importantes produções agrícolas da região transmontana. 

Após terem sido mapeadas todas as áreas infestadas, a luta contra esta praga será posteriomente travada com recurso a técnicas naturais, largando no ambiente insectos parasitóides que se alimentam das larvas da vespa do castanheiro que estão alojadas nas árvores. Esta forma biológica de combater a doença não permite que as larvas se desenvolvam e causem atrofiamentos no processo de desenvolvimento vegetal que ocorre durante a Primavera.

Em declarações à Agência Lusa José Gomes Laranjo alertou para as tentativas que se têm verificado de venda deste parasita aos agricultores, aconselhando-os a terem a certeza do que estão a comprar e evitar burlas.

A Navalha de Palaçoulo

«Pedi uma bica e dispus-me a observar discretamente o Poeta.
O Poeta, de quando em quando, parava de escrever e relia o poema e não parecia particularmente satisfeito com ele.

Às vezes levantava os olhos do papel e olhava na direcção do tecto, absorto, indiferente ao bulício do café em hora de ponta. Devia acreditar que alguma coisa interessante esvoaçava no ar, à semelhança das moscas, e, à semelhança dos camaleões, esperava fisgá-la com um golpe certeiro de língua - perdão, de génio. E na verdade fisgava, porque subitamente pegava resoluto na esferográfica - ah, e como eu teria desejado do fundo da alma, santo Deus, que se estivesse servindo de uma velha e gorda Pelikan de tinta permanente, em vez de uma Bic baratucha! -, riscava uma palavra ou mesmo um verso inteiro e substuía-os por algo melhor que acabara de fisgar. Por vezes tamborilava no tampo da mesa algum metro mais renitente.

Visto do sítio privilegiado onde eu me encontrava, o poema parecia agora um emaranhado de riscos e rabiscos, que só o seu autor entenderia, por certo. E, com efeito, passada quase uma hora, o Poeta pareceu dar-se por satisfeito. Imaginei então que, aprisionada naquela martirizada folha de papel e naquelas estrofes trabalhosas, estivesse agora alguma Inês - uma bela, cantável e provavelmente ingrata Inês. Ou Mécia.

O papel estava visivelmente mais pesado. Era o peso da imortalidade.» 

Titulo: A Navalha de Palaçoulo
Autor: A.M. Pires Cabral
Editora: Livros Cotovia
Preço: € 14,00
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IVDP garante que quantitativo de benefício da próxima vindima será fixado a tempo

O quantitativo de benefício para a próxima vindima na Região Demarcada do Douro será fixado a tempo e horas.

vinhoSe não for pelo Conselho Interprofissional do Instituto dos Vinhos do Douro e Porto, o IVDP, será pelo próprio Instituto ao abrigo dos poderes que a lei lhe confere.

Anteontem, dia em que foi conhecida a decisão do Governo de entregar à Federação Renovação Douro a nova gestão privada da Casa do Douro, o IVDP iniciou o procedimento necessário à recomposição do Conselho Interprofissional, como explica o presidente do instituto, Manuel Cabral.

Portanto, se não houver perturbações, o Conselho Interprofissional será convocado em tempo de, até 31 de julho, tomar uma decisão tão importante como é o Comunicado de Vindima, onde consta o quantitativo de benefício.

Só que a Associação da Lavoura Duriense, a candidata derrotada no concurso para a Casa do Douro, já disse que vai avançar para os tribunais e conseguir a suspensão da escolha pelo Governo da Federação Renovação Douro.

Se isso impedir a formação do Conselho Interprofissional, será o IVDP a fixar o benefício para a próxima vindima.

E o presidente da Associação das Empresas de Vinho do Porto, António Saraiva, não põe em causa o direito da Associação da Lavoura Duriense contestar o processo por se sentir prejudicada, mas preferia que o Conselho Interprofissional fosse instalado em tempo útil.

Sobre o processo conturbado da eleição da nova gestão privada da Casa do Douro, António Saraiva diz que não está surpreendido com o que se está a passar.

Apesar de toda a polémica que envolve o concurso para a nova gestão da Casa do Douro, há a garantia de que até 31 de julho haverá Comunicado de Vindima, seja decidido em sede de Conselho Interprofissional ou pelo IVDP.

Informação CIR (Rádio Ansiães)

Aero Vip será a empresa que vai fazer a ligação aérea Bragança-Vila Real-Viseu-Cascais-Portimão

A ligação aérea Bragança-Vila Real-Viseu-Cascais-Portimão será assegurada pela empresa Aero Vip, uma vez que a única proposta apresentada até à passada quarta-feira, data limite da apresentação de propostas, pertenceu a esta empresa do Grupo Seven Air.

O Ministério da Economia recebeu apenas uma candidatura ao concurso internacional para a exploração da rota, noticiou hoje a Agência Lusa.

As ligações aéreas com Trás-os-Montes deverão ser retomadas já durante este verão, depois de decorridos os prazos legais e da análise pelo Tribunal de Contas.

O novo modelo de exploração desta rota aérea consta de duas viagens de ida e volta no período de verão, de segunda-feira a sábado, e uma frequência de ida e volta na estação inverno, igualmente de segunda-feira a sábado.

Cerca de 7,8 milhões de euros é quanto a Aero Vip poderá receber do Estado até 2018. No ano de 2015 são cerca de de 650 mil euros, o valor que o Estado irá disponibilizar para garantir esta carreira aérea.

A Resolução do Conselho de Ministros 76-B/2014, de 18 de Dezembro, autorizou a realização desta despesa relativa à adjudicação da prestação de serviços aéreos regulares, em regime de concessão, na rota Bragança/Vila Real/Viseu/Cascais/Portimão, pelo período de três anos.

A medida surge com como “medida de apoio ao desenvolvimento do nordeste transmontano”, lê-se no diploma legal que viabilizou esta ligação que agora irá ser concessionada à empresa Aero Vip.

FESTIVAL "VIMIOSO NO KASTELO"

Juntos vamos construir a Primeira Unidade de Cuidados Continuados e Paliativos Pediátrica da Península Ibérica.
Abrangendo todas as crianças com patologia crónica.


Começa hoje a 4ª edição da Expo Trás-os-Montes

Começa hoje a 4ª edição da Expo Trás-os-Montes, no pavilhão do NERBA, em Bragança. O presidente do NERBA - Associação Empresarial do Distrito de Bragança, Eduardo Malhão, frisa que este é um certame diferenciador  e que promete divulgar a marca de Trás-os-Montes e o território transmontano.
Este evento tem como missão puxar pela região, vincar o orgulho de ser transmontano e vincar que Trás-os-Montes é um espaço de oportunidades, de felicidade, onde se vive, onde há qualidade de vida, onde há empresário dinâmicos que constroem valor, que constroem emprego, que escolheram Trás-os-Montes para o seu projecto de vida e que pretendem que o futuro seja cada vez mais afirmativo e mais positivo”, sublinha o presidente do NERBA, Eduardo Malhão. 
O responsável considera essencial que a Expo Trás-os-Montes se continue a realizar na própria região transmontana e não em outras regiões, como foi já diversas vezes sugerido, de forma a atrair empresários a este território. “Nós fazemos a divulgação da Expo fora de Trás-os-Montes, aquém e além fronteiras, mas este evento deve servir para trazer pessoas ao nosso território. A meu ver, a mais valia é que as pessoas conheçam ‘in loco’ as potencialidades e a beleza do território. A ideia em que a maior parte dos empresários têm é que a nossa região é um território muito atrasado e, para eles perceberem que não é, têm que vir cá”, frisa Eduardo Malhão. 
O certame decorre até Domingo, conta com o alto patrocínio do Primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, que visita a Expo Trás-os-Montes amanhã e com a presença de cem expositores dos diferentes sectores de actividade. 
O orçamento para a Expo Trás-os-Montes 2015 ronda os 40 mil euros. 

Escrito por Brigantia

Bragança // O passatempo que ficou sério e virou emprego

Quando entrava em casa dos amigos, Miguel Moita Fernandes não conseguia travar a imaginação. Quanto mais olhava para os móveis, sobretudo os mais antigos, não conseguia deixar de pensar em formas de os recuperar e reconverter, com um toque de modernidade.
Após alguns anos sem conseguir colocação como professor de música, aquela que é a sua formação de base, Miguel Moita Fernandes deitou mãos à obra e transformou o passatempo que ia tendo, lá por casa, naquele que espera venha a ser o seu emprego de sucesso. De sonho, pelo menos é.
Há poucas semanas montou a Relíquia, uma loja e oficina de antiguidades, junto ao parque do Eixo Atlântico, em Bragança. E os primeiros dias têm sido uma autêntica surpresa.
“Já apareceram aqui pessoas a querer vender-me de tudo, sobretudo aquelas coisas antigas típicas desta região, como potes de ferro ou loiças de barro com muitos anos”, conta, com um sorriso.
Mas nem tudo o que é antigo é valioso. “O problema é que as pessoas não entendem isso. Por exemplo, os potes de ferro existem aos montões nesta região. Toda a gente tem um e, por isso, não há mercado”, explica.
Mais conhecido por integrar o grupo musical Lacre, Miguel Moita Fernandes lamenta a dificuldade que uma banda do interior tem em chegar ao grande público do litoral. Por isso, enquanto o valor artístico do projeto não é reconhecido e como tem de alimentar a família, vai deitando mãos à obra, com a colaboração da esposa, Ana Moita Fernandes. “Faz aplicações em estanho espetaculares”, garante o artista, que também é suspeito para o elogio.
Certo é que os primeiros dias de porta aberta têm corrido bem. E já conseguiu reunir algumas peças de grande valor, como um piano com cerca de 200 anos, que tem à entrada da loja. “Fiz a primeira venda logo ao segundo dia, foi muito bom e motivador”, frisa.
Em frente, do outro lado do espaço, uma mesa que se vê robusta no traço, como só a traça transmontana sabe ser, foi recuperada com uma cor branca, ganhando um aspeto de modernidade que se coaduna com qualquer casa da atualidade.
“Quero oferecer às pessoas algo diferente, que não há no Nordeste Transmontano”, confessa.
Acredita que esta região tem “potencial” mas que o mercado de antiguidades está adormecido. “Tenho tido gente todos os dias.”
Uma das preciosidades que a Relíquia esconde é um conjunto de móveis de escritório, em excelente estado de conservação, com mais de 200 anos, ao estilo D. João V. “É a minha peça preferida”, refere Miguel Moita Fernandes, que também recuperou e reconverteu um louceiro antigo, agora pintado com tons de branco e cinzento.
Mas são várias as peças já disponíveis, de vários anos, como rádios antigos, candelabros, candeeiros ou sofás.

in:mdb.pt

"O Milagre de Bragança" é o mais recente livro de Fernando Calado

“O milagre de Bragança”, o mais recente romance do escritor brigantino Fernando Calado, foi ontem apresentado na Fundação "Os Nossos Livros", na capital de distrito. A história do sexto livro do autor decorre em Bragança e percorre os últimos cem anos da cidade.
E é considerado pelo autor um romance de natureza urbana, e pode ser uma forma de promover a história da cidade. “Trata sobretudo da história de Bragança dos últimos 100 anos com as suas instituições as suas ruas, o património construído, os seus ambientes e mitos e lendas”, refere. 
A edição foi apoiada pela Fundação Os Nossos Livros. 
O autarca de Bragança e presidente da direcção da instituição, Hernâni Dias, explica que se pretende desta forma promover a actividade literária local. “Continuamos a apoiar a produção literária local, gostamos de apoiar os nossos autores”, refere, salientando que gostaria que “houvesse mais produções, e estimulara a produção literária local”. 
O Milagre de Bragança é um romance que conjuga história e a ficção. O livro de Fernando Calado foi ontem apresentado pela primeira vez em Bragança. 

Escrito por Brigantia

Eventos locais em BRAGANÇA

Não Dá Trabalho Nenhum - TEP
«Guarda Mundos», de Bruno Martins, Cláudia Berkeley e Luciano Amarelo
Bragança - Teatro Municipal de Bragança
04-06-2015

«Não Dá Trabalho Nenhum» - Teatro Experimental do Porto
Bragança - Teatro Municipal de Bragança
12-06-2015

«Crónicas da Cidade Grande» - Miguel Araújo
Bragança - Teatro Municipal de Bragança
17-06-2015

«António & Maria», de António Lobo Antunes - pelo Teatro Meridional
Bragança - Teatro Municipal de Bragança
20-06-2015

«Euphoria!» - Conservatório de Música e Dança de Bragança
Bragança - Teatro Municipal de Bragança
26-06-2015

«Música no Nosso Coração» - Conservatório de Música e Dança de Bragança
Bragança - Teatro Municipal de Bragança
27-06-2015

«Ritos e Mitos» - Graça Morais
Bragança - Centro de Arte Contemporânea Graça Morais
07-02-2015

Soutos infetados pela vespa do castanheiro em vários concelhos

A disseminação da vespa da galha do castanheiro está a progredir rapidamente. Até 15 de maio foram confirmados focos num total de 49 freguesias em vários concelhos do Norte. Em Trás-os-Montes confirmaram-se em 17 freguesias de 8 concelhos. Na primeira quinzena de maio foram reportados diversos focos.
No concelho de Bragança há pouco mais de uma semana tinham sido detetados dois soutos infetados na localidade de Parada, dias depois apareceu mais um. No final da semana passada foram identificados vários casos em aldeias como Meixeido, Espinhosela e Carragosa, mas também em Amendoeira (Macedo de Cavaleiros) e Penhas Juntas (Vinhais). A Direcçao Regional de AGricultura confirma focos em Parada, Espinhosela, Macedo de Cavaleirose  Sezulfe  e Vilar Seco de Lomba. “São plantações novas, feitas no último ano, com plantas não certificadas e sem controlo fitossanitário, pelo que deve haver muitos mais casos de infecção”, referiu José Alberto Pereira, docente da Escola Superior Agrária, durante uma sessão de esclarecimento na Casa do Lavrador, em Bragança, na passada sexta-feira. Os agricultores dão conta que na maioria das situações são árvores adquiridas em Espanha, país onde foram confirmados vários casos em Burgos e regiões adjacentes.
Os primeiros focos da praga haviam sido detetados no ano passado em zonas do Minho, como Barcelos, e Resende (Viseu), mas este ano já foram confirmados outros casos em Carrazedo de Montenegro (Valpaços), Arouca e Trancoso.
Até agora o caso mais grave é em Trancoso, onde há uma zona com mais de dois km infetada.
O docente admitiu que “não existe” ainda um método eficaz de combate. “Se não tomarmos medidas rápidas vamos ter um problema sério nas regiões de grande produção, como são Bragança e Vinhais, que vivem muito à custa do castanheiro”, realçou. As associações de agricultores, juntas de freguesia e câmaras estão empenhadas em fazer passar a mensagem alertado para os cuidados a ter, nomeadamente a vistoria a todas as árvores para verificar se existem casulas de vespa. Em caso afirmativo, os produtores devem retirar as galhas infetadas e queimá-las.   

Parasita mata as larvas da vespa

O único método de combate eficaz é um parasitoide, cujas largadas obedecem a regras e a estudos de adaptação, e têm de ser autorizadas e avalisadas pela Direção Regional de Agricultura. O docente alertou ainda os produtores para que não comprem “produtos publicitados dados como milagrosos”, porque não funcionam. “Não há nenhum pesticida que resolva o problema”, garantiu.
O parasita está a ser importado de Itália, sendo recolhido em galhas infetadas. Cada caixa (120 insectos fêmeas, mais 50 machos) custa cerca de 300 euros. Já foram realizadas largadas na zona do Minho, Mesão Frio, Lamego e Trancoso. Mário Pereira, da Federação de Agricultores de Trás-os-Montes (FATA), reconhece que está a ser “quase impossível travar esta praga”, todavia indicou que os produtores, que encontrem galhas infetadas, devem dirigir-se à associação, cujos técnicos poderão deslocar-se ao souto. “Para ver o que se pode fazer e evitar que a infecção se propague demasiado”, esclareceu.
Manuel Rodrigues, encontrou dois castanheiros com vestígios da vespa num souto em Meixedo. “São árvores híbridas que plantei este inverno, que vieram de Espanha. Cortei as galhas, metia-as dentro de um saco”, explicou o produtor que, agora, a cada dois dias passa revista aos soutos.  
Em Parada, um produtor encontrou alguns castanheiros infetados.
Já confirmaram que outros casos na aldeia provêm de árvores compradas no mesmo viveiro. “Havia várias árvores com a vespa, mas eram só uma ou duas casulas. Dá muito trabalho porque foi preciso ver as árvores todas”, explicou Maria Helena, produtora.  
Em Mofreita, Vinhais, ainda não foi detetado nenhum foco, mas os habitantes estão preocupados. Manuel Gonçalves tem recolhido informação, e participou na sessão na Casa do Lavrador, para “colaborar no trabalho de sensibilização de modo a que todos tomem as providências necessárias”.  
As brigadas da Associação Arborea, têm ajudado os agricultores, sobretudo no concelho de Vinhais.
O responsável da Direção Regional de Agricultura do Norte (DRAN), Manuel Cardoso, está confiante que Portugal “resolverá melhor o problema do que Itália, porque a atuação começou cedo”, ainda assim é provável que em dois ou três se verifiquem quebras na produção de castanha na região. Tudo indica que já foi identificado o viveiro de onde são provenientes algumas das plantas infetadas. “O corte das galhas afetadas faz com que o problema seja adiado, sobretudo nos castanheiros adultos”, referiu Manuel Cardoso.

Deputados do PSD questionam Governo

Os dois deputados do PSD eleitos pelo distrito de Bragança, Adão Silva e Maria José Moreno, questionaram já o Governo acerca desta praga que ameaça por em causa grande parte da produção de castanha da região, que equivale a três por cento da produção mundial.
Os dois deputados lembram que, em Portugal, “a produção de castanha é da maior relevância económica e social”. “A sua importancia é especialmente acrescida nos distritos de Bragança e Vila Real, representando 80% da produção nacional, o que corresponde a 40.000 toneladas, traduzindo-se num valor anual de 70 milhões de euros”.
“A situação encontra-se plenamente diagnosticada e teme-se uma propagação imparável da praga, o que seria profundamente drástico para a economia local e nacional, para além das consequências imprevisíveis a nível ambiental”, dizem, entendendo que “urge atuar rapidamente, tanto numa lógica preventiva como numa lógica curativa, envolvendo diferentes agentes, nomeadamente o governo, a administração central, a  administração local - camaras municipais e juntas de freguesias - Instituições científicas, e naturalmente os próprios produtores e suas organizações”. Por isso, “importa ainda, sem perda de tempo, disponibilizar recursos financeiros para levar a cabo uma ação eficaz”.

in:mdb.pt