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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quarta-feira, 6 de abril de 2016

Poupanças de uma vida roubadas a reformado por invalidez

Grupo rouba 2500 euros a idoso em plena luz do dia na aldeia de Sendas e na tentativa de o ajudar vizinho acaba por dar um tiro no seu próprio braço com uma caçadeira ficando gravemente ferido.
“Quando o Luciano deu por ela que foi roubado, eu estava com o meu filho em casa, elas eram três e um homem estava no carro à espera, era o guardião. Virou-se para mim e perguntou: aqui não há gente? E eu respondi: há! Alguma. Entretanto, uma acenou-lhe, mas não parou… Já levavam o dinheiro”, começou por contar o pai de Júlio Nicolau, o homem que, depois de ter tentado ajudar o vizinho após este ter sido roubado, acabou por ser atingido num braço por um tiro que o próprio disparou da sua arma de caça.

Mas comecemos pelo princípio. O roubo e o sequente disparo acidental tiveram lugar em Sendas, concelho de Bragança, na tarde de sábado. Pelas 16 horas, um grupo constituído por três mulheres e um homem deslocou-se até ao centro da aldeia com a justificação de estar a vender camisas. O homem ficou no carro, metendo conversa com populares e as mulheres dirigiram-se a Luciano Gomes, de 73 anos. Enquanto duas o distraíam e o afastavam da porta de sua casa, a outra foi por trás, entrou na residência do idoso e consumou o roubo. “Estava a sair de casa, cerrei o cancelo e aparecem aqui três senhoras e uma disse assim para mim: olhe, o senhor quer comprar alguma coisa? Olhe que não tenho dinheiro, nem a casa é minha. Estou aqui a tomar conta que os donos foram ao médico, já com receio de qualquer coisa”, narrou o reformado por invalidez, que vive sozinho.

“Uma ficou aqui e as outras foram para a beira daquele tanque e chamaram-me para o pé delas para me entreterem, enquanto a outra fez o serviço. Depois, disseram: vamos, para não estar a demorar”, continuou o septuagenário. “Senti a rugir o cancelo, vim e já ia ali ela a correr. Na mala onde tinha o dinheiro e nos casacos estava tudo remexido. Cerrei a porta e botei-me a fugir, cheguei a este senhor (José Nicolau) com as lágrimas nos olhos e perguntou-me: então Luciano que é que foi? Olha, roubaram-me”, descreveu a vítima de furto e ex-combatente do Ultramar, que apesar de ter desconfiado de algo errado, ainda assim caiu no conto do vigário.

“Elas meteram-se no carro, desapareceram e nunca mais se viram”, relatou Luciano Gomes, ainda pesaroso e triste pelo sucedido. Até porque aquele dinheiro, os 2500 euros, era o único que tinha e representava as poupanças de uma vida, um “dinheirinho” colocado de parte com muito sacrifício e que servia para pagar as refeições trazidas do lar e que têm um custo fixo de 100 euros por mês.

“Isto aconteceu tudo em cinco minutos. Andei anos e anos a juntá-lo para o ter ali para uma necessidade e para que não houvesse um azar qualquer tinha-o separado por diversas partes, mas como não estava escondido porque eu nunca desconfiei de ninguém, levaram-mo todo”, assegurou o habitante de Sendas. “Pobre como sou e doente como sou, nunca pensei. As mulheres desapareceram, eu vim para minha casa com quatro lágrimas nos olho e cá estou”, confidenciou Luciano, notoriamente amargurado devido aos, ainda, recentes acontecimentos que acabaram por colocar um grande ponto de interrogação no seu futuro, agora, incerto, bem como na sua estabilidade emocional e financeira. 

Quando Júlio Nicolau se apercebeu do roubo que o seu vizinho e amigo havia sido vítima, decidiu, por sua conta e risco, pegar na caçadeira e no carro e perseguir o grupo de meliantes. “Ele entrou no carro e foi atrás deles quando o Luciano apareceu. Disse: eu ainda os apanho antes de chegarem a Fermentão, mas chegou e já não viu ninguém. Virou para Vale de Nogueira e nada também”, explicou o pai de Júlio, José Manuel Nicolau.

“Depois, já vinha embora, arranjou um furo e em Vila Franca com um amigo puseram-se a tirar o furo. Então lembrou-se de descarregar a espingarda, tinha-a atrás do banco e puxa-a para ele, foi aí que disparou sobre o braço”, explicou o homem de 83 anos.

O amigo de Júlio Nicolau ainda teve o discernimento de colocar um garrote no braço, evitando assim que se esvaísse em sangue enquanto esperavam pela chegada dos Bombeiros. De Bragança, a vítima considerada em estado grave foi transferida de urgência para o Porto.

Quanto aos gatunos, conseguiram escapar sem deixar rasto. No entanto, ao que parece, o grupo de vigaristas passou por Vale de Nogueira, que tem câmaras de videovigilância no centro da aldeia. “Eles têm lá as câmaras de vigilância e contei à GNR e pode ser que os cacem”, salientou José Nicolau, esperançado que eles sejam apanhados e que o dinheiro regresse às mãos do vizinho e amigo Luciano, a quem tanta falta faz.

Bruno Mateus Filena
in:diariodetrasosmontes.com

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