O vinho português está a conquistar crescente notoriedade no mundo. Não só pelo aumento das exportações – pelo sexto ano consecutivo, as vendas de vinho ao exterior estão a crescer e valem já quase 740 milhões de euros -, mas pela atenção que a crítica e as revistas da especialidade concedem a Portugal.
Não é, por acaso, que a ‘bíblia dos vinhos’, a revista norte-americana Wine Spectator, dedicou a sua edição de agosto de 2015 a Portugal, destacando que “o confronto entre a tradição e a modernidade, no meio de uma incrível variedade de castas, de terroirs e de culturas de vinificação, torna Portugal um dos produtores de vinho mais dinâmicos no mundo de hoje”.
Grande parte do sucesso internacional dos vinhos portugueses é feito no feminino. Se é verdade que o mundo dos vinhos é ainda predominantemente um universo masculino, não é menos certo que há um número crescente de mulheres a fazer a diferença. E a arrecadar prémios e distinções dentro de portas e além-fronteiras.
Veja-se o caso de Susana Esteban, a galega radicada em Portugal e que ainda hoje é a única mulher no vinho em Portugal distinguida com o título de ‘Enólogo do ano’ pela Revista de Vinhos, em 2012. Já este ano, a revista Wine considerou-a ‘Produtor Revelação do Ano’, pelo seu projeto no Alentejo.
Vinho Verde Mas não é caso único. O Pintas 2011, vinho da duriense Wine & Soul, um projeto de Sandra Tavares e do marido Jorge Borges, continua a ser o vinho de mesa português mais bem pontuado de sempre, com 98 pontos pela Wine Spectator.
Filipa Pato pertence a uma longa linhagem de produtores de vinho na Bairrada, que remonta ao século XVIII, pelo menos. Filha de Luís Pato, foi a primeira, e até agora única, mulher portuguesa a ganhar o Óscar do Vinho, distinção atribuída pela prestigiada revista gourmet alemã Feinschmeker em 2011.
Já Leonor Freitas, a responsável da Casa Ermelinda Freitas, foi distinguida pelo ex-presidente da República, Cavaco Silva, com o grau de comendador da Ordem de Mérito Agrícola. E desde que assumiu a gestão da Casa Ermelinda Freitas, os seus vinhos já arrecadaram mais de 600 prémios e distinções em todo o mundo.
“Houve um trabalho extraordinário, em termos de enologia, nos vinhos em Portugal nas últimas duas décadas e, finalmente, isso está a ser reconhecido”, diz Susana Esteban.
Joana Santiago é outra das mulheres do vinho com quem falamos. E se ainda não contabiliza distinções como as anteriores, para lá caminha. Até porque só recentemente se dedicou, de facto, em pleno ao sector vitivinícola, que vai dividindo com a advocacia. Também é a mais nova de todas as que entrevistamos. E embora os seus vinhos só tenham chegado ao mercado em 2013, têm vindo a suscitar grande entusiasmo da crítica especializada, com pontuações que variam entre os 88 pontos da Advocate, os 89 da Wine Spectator e os 90 pontos da Wine Enthusiast.
Os vinhos portugueses estão na moda? E a que se deve o seu crescente sucesso internacional? Para Leonor Freitas, a explicação reside na qualidade. “Os vinhos portugueses evoluíram muito. Houve um enorme desenvolvimento nos conhecimentos da viticultura e da enologia e hoje temos vinhos modernos e competitivos” num mundo globalizado, diz.
Filipa Pato é, provavelmente, a quinta geração na linhagem da família a dedicar-se aos vinhos. Mas considera que é preciso manter a mente aberta e estar em constante contacto com o que se faz noutras paragens. Por isso, todos os anos aproveita as férias para, com o marido e os filhos, conhecer uma região vitivinícola diferente e visitar os vários produtores.
No Natal, foi a vez da África do Sul, mas já esteve em várias regiões vitivinícolas em França, em Itália, no Canadá e nos Estados Unidos, entre outros. “Não podemos pensar que fazemos o melhor vinho do mundo nem nos devemos fechar no nosso casulo. O mundo é grande e para que possamos, também, valorizar o que fazemos temos de conhecer o que os outros fazem”, diz.
Susana Esteban acredita que a diferença está na capacidade de promoção de Portugal no mundo. “Houve um trabalho extraordinário, em termos de enologia, nos vinhos em Portugal nas últimas duas décadas e, finalmente, isso está a ser reconhecido”, diz. A jovem enóloga que trocou a Galiza por terras nacionais não têm dúvidas sobre a qualidade ímpar dos vinhos nacionais. “Portugal tem um portfólio vitivinícola dos melhores do mundo.
Tem uma diversidade de microclimas de norte a sul e uma variedade imensa de castas autóctones. Tem tudo para ter excelentes vinhos e completamente diferentes de tudo o que se faz no mundo. O que tem falhado? Talvez a comunicação, porque a verdade é que, quando provam os nossos vinhos, gostam. E, finalmente, o mundo está a descobrir os vinhos portugueses”, defende.
Joana Santiago concorda. “Os vinhos portugueses evoluíram muito e têm hoje um padrão de qualidade que se iguala a qualquer umas das grandes regiões vitivinícolas mundiais”, diz. E porque o mundo “está direcionado para os vinhos portugueses”, há que aproveitar todas as oportunidades para o promover. “Ou apanhamos este comboio ou nunca mais. Temos todas as ferramentas à nossa disposição”, garante.
A responsável da Quinta de Santiago dá o exemplo da Prowein, a maior feira de vinhos do mundo, que recentemente decorreu na Alemanha, em Dusseldorf, e na qual o pavilhão de Portugal teve “muito mais interessados do que é habitual”. E porque a promoção também é feita de esforços conjuntos, Joana associou-se a três produtores da região e criaram o Vinho Verde Young Projects: Fazem promoção conjunta e dividem esforços e custos.
Portugal obteve, em 2014, a sua melhor performance de sempre, com seis vinhos no top 100 dos melhores do mundo da Wine Spectator. Mais importante ainda, o melhor vinho do mundo no top desse ano foi o Dow’s Vintage Port 2011, com 99 pontos em 100 possíveis. O Chryseia 2011, da Prats & Symington, e o Quinta do Vale Meão 2011 ficaram em terceiro e quarto lugar, respetivamente, ambos com 97 pontos. No top 100 de 2015, Portugal voltou a contar com cinco vinhos distinguidos, embora nenhum constasse entre os 10 melhores.
in:dinheirovivo.pt
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