“Quando o Luciano deu por ela que foi roubado, eu estava com o meu filho em casa, elas eram três e um homem estava no carro à espera, era o guardião. Virou-se para mim e perguntou: aqui não há gente? E eu respondi: há! Alguma. Entretanto, uma acenou-lhe, mas não parou… Já levavam o dinheiro”, começou por contar o pai de Júlio Nicolau, o homem que, depois de ter tentado ajudar o vizinho após este ter sido roubado, acabou por ser atingido num braço por um tiro que o próprio disparou da sua arma de caça.
Mas comecemos pelo princípio. O roubo e o sequente disparo acidental tiveram lugar em Sendas, concelho de Bragança, na tarde de sábado. Pelas 16 horas, um grupo constituído por três mulheres e um homem deslocou-se até ao centro da aldeia com a justificação de estar a vender camisas. O homem ficou no carro, metendo conversa com populares e as mulheres dirigiram-se a Luciano Gomes, de 73 anos. Enquanto duas o distraíam e o afastavam da porta de sua casa, a outra foi por trás, entrou na residência do idoso e consumou o roubo. “Estava a sair de casa, cerrei o cancelo e aparecem aqui três senhoras e uma disse assim para mim: olhe, o senhor quer comprar alguma coisa? Olhe que não tenho dinheiro, nem a casa é minha. Estou aqui a tomar conta que os donos foram ao médico, já com receio de qualquer coisa”, narrou o reformado por invalidez, que vive sozinho.
“Uma ficou aqui e as outras foram para a beira daquele tanque e chamaram-me para o pé delas para me entreterem, enquanto a outra fez o serviço. Depois, disseram: vamos, para não estar a demorar”, continuou o septuagenário. “Senti a rugir o cancelo, vim e já ia ali ela a correr. Na mala onde tinha o dinheiro e nos casacos estava tudo remexido. Cerrei a porta e botei-me a fugir, cheguei a este senhor (José Nicolau) com as lágrimas nos olhos e perguntou-me: então Luciano que é que foi? Olha, roubaram-me”, descreveu a vítima de furto e ex-combatente do Ultramar, que apesar de ter desconfiado de algo errado, ainda assim caiu no conto do vigário.
“Elas meteram-se no carro, desapareceram e nunca mais se viram”, relatou Luciano Gomes, ainda pesaroso e triste pelo sucedido. Até porque aquele dinheiro, os 2500 euros, era o único que tinha e representava as poupanças de uma vida, um “dinheirinho” colocado de parte com muito sacrifício e que servia para pagar as refeições trazidas do lar e que têm um custo fixo de 100 euros por mês.
“Isto aconteceu tudo em cinco minutos. Andei anos e anos a juntá-lo para o ter ali para uma necessidade e para que não houvesse um azar qualquer tinha-o separado por diversas partes, mas como não estava escondido porque eu nunca desconfiei de ninguém, levaram-mo todo”, assegurou o habitante de Sendas. “Pobre como sou e doente como sou, nunca pensei. As mulheres desapareceram, eu vim para minha casa com quatro lágrimas nos olho e cá estou”, confidenciou Luciano, notoriamente amargurado devido aos, ainda, recentes acontecimentos que acabaram por colocar um grande ponto de interrogação no seu futuro, agora, incerto, bem como na sua estabilidade emocional e financeira.
“Depois, já vinha embora, arranjou um furo e em Vila Franca com um amigo puseram-se a tirar o furo. Então lembrou-se de descarregar a espingarda, tinha-a atrás do banco e puxa-a para ele, foi aí que disparou sobre o braço”, explicou o homem de 83 anos.
O amigo de Júlio Nicolau ainda teve o discernimento de colocar um garrote no braço, evitando assim que se esvaísse em sangue enquanto esperavam pela chegada dos Bombeiros. De Bragança, a vítima considerada em estado grave foi transferida de urgência para o Porto.
Quanto aos gatunos, conseguiram escapar sem deixar rasto. No entanto, ao que parece, o grupo de vigaristas passou por Vale de Nogueira, que tem câmaras de videovigilância no centro da aldeia. “Eles têm lá as câmaras de vigilância e contei à GNR e pode ser que os cacem”, salientou José Nicolau, esperançado que eles sejam apanhados e que o dinheiro regresse às mãos do vizinho e amigo Luciano, a quem tanta falta faz.
Bruno Mateus Filena
in:diariodetrasosmontes.com
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