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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

Horroroso desastre de Miranda, sua queda em poder dos inimigos, bem como Moncorvo, Bragança, Outeiro, Freixiel e Chaves. Episódio da rival de Brites de Almeida

Guerra dos Sete Anos - Em 1757 rebentou na América do Norte esta guerra entre a França e a Inglaterra, motivada aparentemente pela posse de alguns terrenos bravios, que em breve se estendeu a toda a Europa.
Em 1762 a França e a Espanha pretendem obrigar Portugal a sair da neutralidade que até ali havia conservado, e como este tentava seguir um sistema contemporizador, na primavera desse ano a província de Trás-os-Montes é invadida pelas tropas espanholas comandadas pelo coronel O’Reilly à frente de mil e oitocentos homens, que pôs cerco a Miranda do Douro, a qual se defendeu por espaço de três meses, sendo tomada no dia 9 de Maio de 1762, depois das duas horas da tarde, devido a um desastre.
No dia anterior, pelas sete horas e meia da tarde, devido a uma grande explosão que houve no paiol, onde arderam mais de mil e quinhentas arrobas de pólvora, arruinou-se completamente a torre de menagem e fortificações de defesa da praça, o que tornou impossível a sua resistência.
Nestas ruínas pereceram cerca de quatrocentas pessoas.
Não é bem averiguado se este facto foi acidental se devido à perfídia do governador do castelo, vendido aos castelhanos, que, como querem alguns, pusera fogo ao paiol fugindo em seguida para o acampamento inimigo.
Os castelhanos, depois de tomada a cidade, fizeram voar grande parte das muralhas que a explosão havia poupado, marchando em seguida sobre Moncorvo que, devido a outra fatalidade, igualmente lhes caiu nas mãos, sendo saqueada e devastada em Julho de 1762, bem como Bragança, que lhes abriu as portas sem resistência alguma. Aqui destruíram o forte de S. João de Deus, vulgarmente chamada «Forte de cavalaria», e parte das muralhas da Cidadela. Igualmente tomaram Outeiro e Freixil.
Marchou depois O’Reilly para a província da Beira, cuja raia devastou indo reunir-se às tropas do marquês de Sarria, que se formavam junto a Castelo Rodrigo, havendo mandado o governador de Galiza Mr. de Lacroix, guarnecer a praça de Chaves também caída em poder dos espanhóis.
Esta guerra terminou pelo tratado de Paris de 10 de Fevereiro de 1763 pelo qual a Espanha restituía a Portugal tudo o que lhe havia tomado.
Camilo Castelo Branco narra, sob a epígrafe «A rival de Brites de Almeida», um episódio interessante sucedido nesta guerra durante o cerco de Miranda, o qual tem por assunto a morte, com um espeto, dada por uma mulher desta cidade a um sargento espanhol.
Eis a descrição do desastre de Miranda do Douro, segundo um documento coevo:

«Aos 8 de maio de 1762, pelas sete horas e meia da tarde, tempo em que todo este reino de Portugal estava bloqueado em roda pelas armas hespanholas, esta provincia invadida e cercada esta cidade por um exercito de trinta mil homens, estando a atirar a artilheria do castello e revelins ao sovredito exercito inimigo, logo que descarregou um canhão, mais contiguo á torre grande, passados quatro ou cinco minutos rebentou o armazem da polvora, arruinando quasi todo o castello e fazendo duas brechas exteriores, uma para a parte do norte, por onde bem cabiam quinze homens, e outra para a do meio dia em correspondencia por onde cabiam nove, arruinando tambem a maior parte do castello para o oriente que entrava para a cidade e metade da torre grande, dando em terra com todo o edificio e officinas que dentro d’elle havia, em cujas ruinas falleceu muita gente, que a maior parte d’ella se não pôde averiguar quem era por se acharem queimadas do fogo que se alimentou com mais de mil e quinhentas arrobas de polvora.
D’esta gente que pereceu, muitos eram soldados, outros paizanos e ordenanças da terra que andavam trabalhando dentro do mesmo castello em menesteres que se lhes mandavam, e outros pessoas da cidade.
Não pude alcançar ao certo o numero de gente, mas averiguado por prudentes e feita a diligencia e inquirição possivel me parece falleceriam trezentas e cincoenta a quatrocentas pessoas assim no castello e suburbios como pelas ruas da cidade.
E para memoria mandei escrever esta declaração que com a lista das pessoas que abaixo vão carregadas assignei.
E não vão os nomes e patrias com mais individuação porque o não pude saber.
E tambem declaro que debaixo da brecha que faz cara ao meio dia estão mais de cem pessoas que as vi eu sepultar na ruina porque cazualmente me achava presente e quiz Deus livrar-me.
Dentro do donjão (torreão) ao redor do poço está tambem muita gente. Na ponte do terreiro, caminhando para a plataforma, junto ao castello, ficaram tambem muitos sepultados.
Na cortinha contigua á peça desbocada, que é de Josepha Simões, se enterraram setenta e tantas pessoas que nenhum se soube quem era e que com trabalho puderam tirar das ruinas.
Encheu-se quasi todo o cemiterio da Sé e dentro da Sé se sepultaram os que couberam, cujos nomes, conforme pude alcançar como tenho dito são os seguintes: (segue a relação que o autor não copiou).
Declaro tambem que a maior parte d’elles foram soccorridos com a absolvição que por mim e outros sacerdotes lhes foi dada e muitos tambem com a Extrema-Uncção, e alguns que vieram acabar de morrer deutro da Sé e no hospital com o Santissimo; e geralmente no mesmo instante levaram todos a absolvição.
No dia 9 depois das duas horas tomou posse da cidade o exercito hespanhol».
Na Biblioteca do Seminário de Bragança conserva-se um in-folio, encadernado em pergaminho de 242 folhas, intitulado Livro de Matrícula do Seminário de S. José de Miranda, e nele, folio 10, encontra-se: «a 5 de abril de 1762 foram despedidos os collegiaes por causa do ingresso dos hespanhoes n’esta provincia».




Memórias Arqueológico-Históricas
do Distrito de Bragança

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