Intramuros da cidadela
Quando tratamos do castelo falamos numa cisterna que recebia as águas da chuva que nele caíam e por aquedutos eram conduzidas a esse depósito, que ficava nos baixos do próprio castelo.
De outras duas cisternas que havia no claustro, recinto contíguo aos Paços dos alcaides-mores, damos notícia no mesmo local. Debaixo dos antigos Paços do Concelho está a Casa de Água, tudo de cantaria abobadada.
É assaz notável a quantidade de água nativa que aqui se conserva de que se abastecem os vizinhos.
Fonte de El-Rei — É de água nativa, intramuros da cidadela, contígua às muralhas para o lado do sul. É abobadada e desce-se a ela por bem ordenada escada de alvenaria. É a ela que se refere a testemunha Pero Galego, de Rabal, nomeada no documento nº 75, de onde concluímos que se fez no tempo de el-rei D. Afonso V.
Extramuros
Ao tempo em que escreveu Borges (1721) só havia extramuros da cidadela, dentro da cidade, como ele diz, três fontes e todas particulares: a do Colégio da Companhia, hoje na cerca do Seminário de S. José; a do Mosteiro de Santa Clara e a do de S. Bento, sendo contudo muitos os poços públicos e particulares e alguns de tão forte nascente que parte do ano corriam pela boca, «como he o das portas de S. Francisco, que por ser obra da Camera tem as armas da cidade; mas pela circumferencia d’esta se achão vinte e duas fontes perennes... são mais celebres entre todas a Fonte do Jorge e a do Conde... a esta deo o nome o Conde de Mesquitella quando asistindo n’esta cidade, governava as armas d’esta Provincia, porque fazendo uma junta de Medicos se achou era a mais delgada, e deixando esta o nome de Fonte do Bispo que de antes tinha, tomou o do Conde, parece-me que obrigada, de a fazer andar para diante porque a pôs corrente em cano, sendo primeiro um pobre charco».
O autor refere-se em seguida às fontes da Avelaira e do Cano. E na notícia 9ª, voltando a falar da existente na cerca do mosteiro de Santa Clara, diz: «com a tradição de que naquelle sitio havia uma fonte derão com o manancial e descubrirão pedras lavradas, e huma de sepultura do tempo dos Romanos», em que apenas se conheciam as letras:
PLAVT.
A água desta fonte é a que se conduziu para o tanque à beira da estrada a macadame de que fazemos menção ao tratar do Convento de Santa Clara.
A fonte da cerca do Mosteiro de S. Bento causou tal alvoroço que o seu aparecimento foi comemorado com a lápide de que damos notícia ao tratar do bispo D. João Franco de Oliveira. Tanque de S. Vicente — Fica ao lado da porta lateral deste templo. O tanque é todo de granito caindo nele, de alto, o manancial bastante abundante. Há nele a seguinte legenda que indica ter-se feito a obra em 1746:
PURPUREOS FONTES ODI
UM RESERAUIT A DOMINUM
NUNCIAA CRYSTALLOS HIC
TIBI VERTITAMOR
EXPENSIS PUBLICIS
ANNO DOMINI
M.D.CC.X.L.V.I.
Fonte da Rainha — Contígua e a poente da cerca do Seminário, junto ao rio Fervença, há um tanque de granito lavrado e nele a seguinte inscrição indicativa do ano em que a obra se fez:
FONTE DA RAINHA
MARÇO DE 1783
Está em correspondência, quanto ao nome, à Fonte do Rei, intramuros da cidadela. A água cai de alto em bica para o tanque.
Tanque do Loreto — Fica à beira da estrada a macadame de Bragança a Mirandela e contíguo à cidade. É todo de granito lavrado, de muita capacidade e de abundante manancial. Deve ser posterior a 1721, pois Borges não faz dele menção. Também de alto cai em bica a água para o tanque.
Marcos fontenários — Vimos noutra parte que os jesuítas projectavam conduzir a água do Loreto para abastecimento do seu colégio e uso público, não deixando de ser para notar tal largueza de vistas num empreendimento tão necessário que só séculos depois Bragança veio a realizar.
Em sessão camarária de 26 de Junho de 1878 tratou-se da canalização das águas da vertente a poente do monte de S. Bartolomeu, assaz abundante delas, para a cidade, contraindo-se um empréstimo de 6.400$000 réis para levar a efeito esta obra de grande vantagem e necessidade, que em fins de 1879 estava concluída, ficando desde então Bragança servida por sete ou mais marcos fontenários.
Tanque de Val de Álvaro e Fonte do Sapato — Nas imediações da cidade, lado norte, fica o tanque de Val de Álvaro construído a expensas do município pelos anos de 1870; é de granito lavrado e muito espaçoso.
Pelos anos de 1721 uma grande inundação pôs a descoberto, no local do actual tanque, uma antiga fonte de alvenaria que estava soterrada, sem dela haver notícia.
Perto e para o mesmo lado fica a fonte do Sapato, também construída a expensas públicas anos antes; é de alvenaria e de fraco manancial.
Memórias Arqueológico-Históricas
do Distrito de Bragança
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