Os lobos em Portugal encontram-se apenas no norte do país, mas mesmo aí há duas realidades distintas. A norte do Douro, há mais lobos e a população é mais estável, mas a sul do Douro há apenas algumas alcateias e sabe-se que a espécie é perseguida nalgumas áreas. Além disso, aqui a espécie está mais dependente do gado doméstico para se alimentar, o que prejudica alguns criadores de gado.
Face a esta realidade, a equipa do projecto LIFE WolFlux, coordenado pela Rewilding Portugal, decidiu avançar com um estudo para perceber quais são as reacções das populações locais em relação ao lobo. “Compreender a realidade no terreno e ouvir as comunidades locais é extremamente importante para orientar os esforços de conservação na região”, explicam em comunicado.
O LIFE WolFlux, comparticipado por fundos comunitários e pelo Endangered Landscapes Programme, tem como objectivo “promover as condições ecológicas e socio-económicas necessárias para garantir a viabilidade da subpopulação de lobo ibérico a sul do rio Douro a longo prazo”.
O estudo, que decorreu de Agosto de 2019 a Abril passado, procurou “perceber melhor os principais problemas relacionados com a presença do lobo” na região. Foram entrevistadas 117 pessoas que têm relação com a espécie, em 20 freguesias, incluindo criadores de gado, gestores de caça e técnicos de conservação.
Foto: Rewilding Portugal |
Ver lobos pode ser benéfico
Por outro lado, cerca de um quarto dos responsáveis entrevistados “mostrou alguma intolerância em relação à presença de lobos”, o que demonstra “a diversidade de opiniões encontradas” e a necessidade de trabalhar no terreno, em conjunto com as autoridades locais, para perceber qual a fonte dessa intolerância.
Qual será a melhor forma de trabalhar o problema com estas pessoas? “O que é vivido por um vizinho espalha-se rapidamente nas comunidades, principalmente entre os seus pares, e tem uma grande influência nas opiniões dos outros”, nota Sara Aliácar, técnica de conservação da Rewilding Portugal e uma das entrevistadoras do estudo.
“Também constatámos que o medo do lobo estava associado à intolerância […]. O medo do lobo pode ter muitas origens, mas descobrimos que os entrevistados que tiveram uma experiência positiva ao ver um lobo na natureza perceberam que este não tem nada a ver com o animal feroz sobre o qual ouviram falar”, sublinha a mesma responsável, citada no comunicado.
Foto: João Cosme / Rewilding Europe |
Estas crenças podem afectar negativamente os esforços de conservação da espécie, avisa a equipa, pois dessa forma algumas pessoas podem ver os esforços de conservação destes grandes carnívoros como “suspeitos”.
“A metodologia qualitativa utilizada permitiu-nos perceber melhor os conhecimentos e práticas locais, a ambivalência nas percepções sobre a espécie, assim como os pontos de conflito e as suas razões”, comentou a supervisora do estudo, Margarida Lopes Fernandes, bióloga do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas e investigadora do CRIA-Centro em Rede de Investigação em Antropologia.
Turismo de natureza
Já as possíveis vantagens de ter lobos na região foram reconhecidas por “menos de metade” dos responsáveis questionados. Alguns referiram o turismo de natureza, que em Portugal tem ainda pouca expressão ligado à espécie. “Em Espanha este é um sector lucrativo e bem estabelecido, que leva muitas pessoas a regiões como a Serra da Culebra, na esperança de ver este animal elusivo.”
Quanto ao recurso a cães de gado como defesa face a ataques de lobos, uma das apostas do LIFE WolFlux, é visto com bons olhos pela maioria – desde que estes sejam de raças portuguesas adequadas, como os Serra da Estrela ou Castro Laboreiro.
Leão é o primeiro cão de gado dado pelo projecto LIFE WolFlux. Foto: Rewilding Portugal |
Além de ser coordenado pela Rewilding Portugal, o projecto LIFE WolFlux tem ainda como parceiros a Universidade de Aveiro, a Rewilding Europe, a Zoo Logical e a Associação Transumância e Natureza.
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