segunda-feira, 2 de novembro de 2020

ENTENDENDO MACUNAÍMA; - MACUNAÍMA, CEM ANOS DEPOIS

Por: Antônio Carlos Affonso dos Santos – ACAS
São Paulo (Brasil)
(colaborador do Memórias...e outras coisas)

N.A: esta é uma obra de ficção. Qualquer semelhança com personagens ou fatos novos ou antigos, trata-se de mera coincidência. 

Canto Primeiro( e único):

Macunaíma, "herói de nossa gente" nasceu à margem de um rio seco, em pleno agreste. Descendia de uma tribo Niilista. Desde a primeira infância revelava-se como um sujeito tido por preguiçoso. Ainda menino, buscou a companhia dos meninos maus que se reuniam semanalmente entre os canaviais, para cobrar propina dos outros garotos. Certo dia, um dos seus líderes deu-lhe a cauda de um calango para comer. Objetivo: provar sua coragem e lealdade perante os pitizinhos, nome com que sua turma era chamada. 
O calango havia sido caçado pelo próprio Macunaíma; a mando do chefe, sem saber o porquê. Já os pitizinhos tinham para comer somente as tripas de uma anta dilmal, caçada pelo amigo pessoal de Macunaíma, sem que este o soubesse, numa armadilha esperta. (Havia muitas antas naqueles e outros canaviais. Macunaíma saberia disso depois de algum tempo). 
De tanto aprontar, foi abandonado pela mãe tapuia no meio do mato. Deixaram-no numa canoinha feita de casca de ipê, porém logo que conheceu o Abecedário, novos rios formaram-se, então ele teve que abandonar a canoa e morar por trinta e poucos anos na casa dos pitizinhos, agora com uma das maiores redes para se deitar. Nessa rede cabia todos eles! Tremelicando, com suas perninhas em arco, Macunaíma botou o pé na estrada, até que topou com o Curupira Ceudir e perguntou-lhe como faria para voltar pra casa. Maliciosamente, o Curupira ensina-lhe um caminho errado que Macunaíma, por preguiça, não seguiu, escapando de um monstro. 
No entanto, o Curupira fez feitiço e cortou-lhe um dedo em sonhos. Escapando do monstro, nosso (anti) herói topou com uma voz que cantava uma toada lenta: era um preá, que depois de ouvi-lo contar como enganara o Curupira, jogou-lhe em cima calda fermentada de mandioca. Isto fez Macunaíma crescer, atingindo o tamanho dum homem taludo; no entanto jamais ficou livre do álcool que o preá lhe jogou. 
Numa das muitas vezes que Macunaíma fez transas ("brincadeiras de bobices") com uma tapuia germânica, transformou-se num príncipe lindo perante os índios. Então, nosso (anti) herói, é iniciado num processo constante de metamorfoses: de índio negro, vira branco, depois vira inseto, vira peixe e transforma-se até mesmo num pato e num cordeiro. Tudo para não ter que trabalhar. Consegue uma oca de graça para ficar por oito anos; porém ele a abandona constantemente e os pitizinhos aproveitam-se de sua ausência para apossarem-se dos bens da tribo. 
Em toda a selva os tambores anunciam que Macunaíma sabe dos roubos, porém ele permanece com os olhos e ouvidos fechados. Só mantém sua afiada língua falante. Ninguém percebe, porém sua língua transforma-se em língua de tamanduá. Agora, pode meter a língua nos mais terríveis formigueiros, empanturrar-se de içás e mesmo assim dizer que daquela formiga ele não come. Sua língua rude, áspera, de verniz barato, arranjava tantas desculpas quanto fossem necessárias para manter-se fora de suspeitas, como imóveis comprados por terceiros, mas que ele desfrutava. Também não perdia a chance de ganhar percentagens, quando ainda não havia sido preso na República das Araucárias, com comissões na compra de aviões, quando a Anta Maior estava presidente da Terra Brasilis. 
Há quem diga que 100 anos depois, Macunaíma mantêm-se vivo, mais do que nunca! Ele é e está vivo! Brasileiros e brasileiras; tomem cuidado!

Publicado em: 24/02/2006

Antônio Carlos Affonso dos Santos
– ACAS. É natural de Cravinhos-SP. É Físico, poeta e contista. Tem textos publicados em 8 livros, sendo 4 “solos e entre eles, o Pequeno Dicionário de Caipirês e o livro infantil “A Sementinha” além de quatro outros publicados em antologias junto a outros escritores.

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