sexta-feira, 30 de abril de 2021

𝗦𝗨𝗚𝗘𝗦𝗧𝗔̃𝗢 𝗗𝗘 𝗙𝗜𝗠 𝗗𝗘 𝗦𝗘𝗠𝗔𝗡𝗔

 Aproveite que Bragança é a primeira cidade portuguesa a acolher a exposição “De Polo a Polo, uma viagem aos grandes paraísos naturais” e conheça, de perto, os 52 trabalhos de mais de 30 prestigiados fotógrafos da National Geographic, alguns dos quais distinguidos com os prémios Wildlife Photographer of the Year e o World Press Photo.

𝗘𝗺 𝗽𝗹𝗲𝗻𝗮 𝗣𝗿𝗮𝗰̧𝗮 𝗱𝗮 𝗦𝗲́, 𝗮𝘁𝗲́ 𝟭𝟬 𝗱𝗲 𝗺𝗮𝗶𝗼. 

𝗘𝗻𝘁𝗿𝗮𝗱𝗮 𝗚𝗿𝗮𝘁𝘂𝗶𝘁𝗮.

𝗢𝗥𝗖̧𝗔𝗠𝗘𝗡𝗧𝗢 𝗣𝗔𝗥𝗧𝗜𝗖𝗜𝗣𝗔𝗧𝗜𝗩𝗢 𝟮𝟬𝟮𝟮

 𝗢𝗥𝗖̧𝗔𝗠𝗘𝗡𝗧𝗢 𝗣𝗔𝗥𝗧𝗜𝗖𝗜𝗣𝗔𝗧𝗜𝗩𝗢 𝟮𝟬𝟮𝟮 | Tem 16 ou mais anos? Reside, estuda ou trabalha no concelho de Bragança? Tem ideias para projetos ou iniciativas que gostava de ver implementados em diferentes áreas de governação municipal? 

Então, apresente a sua proposta no 𝗢𝗿𝗰̧𝗮𝗺𝗲𝗻𝘁𝗼 𝗣𝗮𝗿𝘁𝗶𝗰𝗶𝗽𝗮𝘁𝗶𝘃𝗼 𝟮𝟬𝟮𝟮 𝗚𝗲𝗿𝗮𝗹 𝗼𝘂 𝗝𝗼𝘃𝗲𝗺 - 𝗨𝗿𝗯𝗮𝗻𝗼 𝗼𝘂 𝗥𝘂𝗿𝗮𝗹, até 31 de maio. 

Mais informação AQUI.

De 𝟮𝟯 𝗱𝗲 𝗷𝘂𝗻𝗵𝗼 𝗮 𝟭𝟭 𝗱𝗲 𝘀𝗲𝘁𝗲𝗺𝗯𝗿𝗼, decorrem as votações.

O Teu Brilho Esta Noite

Por: Manuel Amaro Mendonça
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")

Estava uma noite serena e morna. Pequenos diamantes refulgiam sobre o puro veludo negro da noite, guardando a descomunal lua de prata, que pairava sobre a paisagem. O ambiente ideal para meditar ou sonhar, naquele terraço do hotel, com vista sobre a cidade de luzes douradas na margem contrária do rio. A perturbar tão idílico ambiente, estava o som de fundo de vozes, risos e copos a tilintar. O homem de estatura média, cabelo escuro e barba aparada, segurando o copo com o líquido dourado e reluzente, preferia o silêncio da noite estival, à animação que decorria nas suas costas.

André, assim se chamava, ponderara muito, antes de aceitar comparecer àquela festa, especialmente aquela. Perdera o hábito de frequentar tais convívios e transformara-se num autêntico eremita. Desperdiçara mais de três anos, numa embriaguez permanente, enquanto escrevia crónicas com língua viperina, para as revistas “cor-de-rosa”. Meses de recuperação alcoólica, disseram-lhe que não poderia viver daquela maneira e afastou-se do gin e da sociedade. Em vão recebia convites de conhecidos, para que fosse a este ou aquele convívio, na esperança de serem contemplados, para o bem ou para o mal, num dos artigos que repentinamente deixaram de jorrar da sua caneta. Desaparecera do mundo, refugiara-se no seu apartamento e num contrato com uma revista, a escrever o que lhe pediam. Na verdade, fora mais do que um problema alcoólico a afastá-lo da sociedade; havia aquela mulher, que não via há uns anos e que lhe deixara um vazio imenso, a mesma cuja eventual presença o fizera aceitar este convite. Sofia, era a mulher que nunca conseguiu esquecer, talvez por ser a única que não se deixou prender na sua teia depressiva e resolveu seguir em frente, antes que ele a deixasse.

Apreciou o copo quase vazio, sabendo perfeitamente que não deveria ter aceitado aquela bebida e ponderou deitar o resto no canteiro ali ao lado. Decidiu-se por não desperdiçar aquela fuga à sua disciplina e esgotou o conteúdo do copo, inclinando despudoradamente a cabeça para trás, para não perder nem uma gota. Tendo consciência dos efeitos do álcool no seu já destreinado organismo, olhou em volta em busca de um local onde pousar o recipiente esgotado e foi quando a viu.

Atravessando uma das enormes portas que davam acesso ao terraço e olhando em volta, como se procurasse alguém, ali estava Sofia; trazia um vestido preto sem alças que contornava os peitos e acentuava a sua cintura fina, continuando numa saia que abria num gracioso leque terminada por um rendilhado preto sobre o joelho. Nos pés, calçava sapatos também negros, onde reluziam alguns brilhantes em volta do tornozelo. Mas era o seu cabelo acobreado escuro, natural, solto e luxuriante, envolvendo o rosto de linhas firmes e nariz aquilino, que faziam com que não se conseguisse tirar os olhos dela. O seu sorriso, enquanto cumprimentava os conhecidos, continuava deslumbrante e toda ela irradiava luz, ofuscando a própria iluminação artificial.

Quando ela o viu, foi como se uma nuvem tapasse o sol e o resplandecente sorriso transformou o belo rosto com um ar preocupado e triste. Ele apercebeu-se que estava sem respirar e soltou um suspiro involuntário, enquanto o copo tremeu ligeiramente na sua mão.

— Olá, André. — A voz quente envolveu-o, assim que ela se aproximou em passos calculados para que a sua passagem fosse notada. — Há muito que não te via… estás mais magro. Fica-te bem!

— Em compensação, tu estás cada vez mais bonita. Parabéns. Continuas a atrair os olhos de toda a gente… — ele aproximou o rosto do dela para um cândido beijo, enquanto sussurrava — … homens e mulheres.

— Vejo que continuas a ser um comentador acutilante. — Ela sorriu, sem corresponder ao beijo, mas sem se afastar. — Fico feliz por aceitares o meu convite. Vai ser agora que me vais brindar com umas linhas num dos teus artigos de gosto duvidoso, naquela revista execrável?

— A revista execrável paga-me o ordenado, sem ter de arriscar a vida nas guerras deste mundo, como fazia antes… fazíamos. — André encostou-se à balaustrada da varanda e cruzou os braços sobre o peito, sem soltar o copo vazio. — De resto, não fui o único a procurar uma “atividade” mais segura e rentável, deves recordar-te porque me tornei um “vampiro dos costumes”.

— “Touché.” — Reconheceu Sofia com um sorriso maroto. — Penso que estás a definir o meu casamento com um rico industrial da hotelaria como uma “atividade segura e rentável”. Já sei que ninguém consegue esgrimir palavras contigo sem sofrer uma estocada mortal.

— Ambos trocamos um jornalismo de ação… por atividades diferentes. — Ele retribuiu o sorriso e a ironia. — Por mim, teve de ser mesmo assim; os industriais da hotelaria nunca quiseram nada comigo, apenas os editores de revistas execráveis… pelo menos também não tenho de dormir com nenhum. Mas descansa — continuou — nunca escreveria nada sobre ti… pelo menos de mal e o tipo de matéria que eventualmente sairia, não interessa aos meus patrões.

— Fico feliz que assim seja. — Ela pousou suavemente uma mão sobre a dele, num gesto de uma cumplicidade antiga, que o fez estremecer. — Espero que essa trégua abranja o meu futuro marido.

— Não há aqui nenhuma trégua, para isso teria de haver uma guerra, não te parece? — André endireitou-se enquanto tentava, sem sucesso, agarrar a mão dela que recuava.

— Oh, mas há, meu querido. — Ela cruzou candidamente as mãos sobre o ventre. — Uma guerra fria! Há quase dez anos que tens os misseis apontados na minha direção, à espera de uma “causam belli”.

— Não é verdade. Nunca estive zangado contigo… — defendeu-se ele. — … apenas desiludido. Aproveitares a minha reportagem para surgires de repente com o fim da tua carreira ao lado desse… palhaço.

— Eu?!? Aproveitei a tua reportagem? — Ela soltou uma gargalhada nervosa e cínica. — Depois de te pedir encarecidamente que não fosses… estiveste fora um ano!

— Foi complicado… — Ele acalmou-se perturbado pelas recordações. — Fui sequestrado e…

— Bem sei! — Sofia atirou com irritação. — Segui cada notícia, contactei todos os que conhecia, chateei, persegui um secretário de estado, para que se interessassem pelo teu problema. — Perante o olhar de espanto dele, ela fez uma careta cínica. — Achas que te libertaram pelos teus lindos olhos? Ou pelo teu talento jornalístico?

— Não sabia…

— Bem sei que não! Pedi que não dissessem. — Ela volveu o olhar ao chão. — Também não deves saber que abortei três meses após a tua partida…

— Meu Deus! — O espanto de André dizia tudo. — Que aconteceu? O nosso filho, estavas grávida?

— Quando te foste também ainda não sabia. Não sei o que foi, alguma incompatibilidade, deficiência, stress, sei lá. Agora também não interessa, não quero falar disso. — Sofia falou rapidamente enquanto atirava tudo para trás, com um gesto e uma expressão triste. — Isto não está a correr nada como eu esperava. Queria que ficássemos amigos, tenho saudades das nossas conversas…

— Só das conversas? — Ele baixou a cabeça para lhe poder ver os olhos verdes que lhe devolveram o olhar nervosamente. — Nunca deixei de te amar…

— Meu querido. — Sofia ergueu a cabeça, endireitou os ombros e deu um passo atrás. — O que foi não volta a ser! Estou casada e feliz há dez anos. Gosto muito de ti e gostava muito que fossemos amigos, mas só isso.

— Que esperavas? Que festejasse contigo? — André enfureceu-se. — Regresso de uma das piores experiências da minha vida para encontrar a mulher com que amava casada com o playboy dos hotéis!

— E que esperavas tu? — Por uns instantes os olhos dela faiscaram de raiva. — Foste embora na altura em que mais precisava de ti, porque a tua carreira, ou o teu desejo de morte, era mais forte! Preferias a adrenalina de arriscar a vida nas reportagens dos conflitos, do que a alternativa de uma existência medíocre de classe média… ao meu lado. — O rosto suavizou-se e acariciou-lhe ternamente a face. — Acabaste por deixar tudo na mesma, para te tornares ainda mais amargo, do que já eras em tempos de paz.

— Vem comigo! — Pediu André tentando segurar a mão gelada que lhe acariciava a face. — Deixa tudo isto, as luzes, a riqueza desse homem que não vale nada. Sabes que o negócio dos hotéis é a capa para a venda de armas nos conflitos, por isso nos encontrávamos os três, muitas vezes, durante o nosso trabalho.

— Também nós e tu mais do que eu, vivemos desses mesmos conflitos. — Ela puxou a mão suavemente. — Por mim já tinha demasiado tempo, suja de terra nos campos de batalha, ou nos hotéis bombardeados, sempre à espera que o meu quarto fosso próximo atingido e pedia que, quando o fosse, atingisse em cheio e não me deixasse estropiada ou a sofrer. — Sofia pousou os olhos no chão. — Chama-me fútil, mas estou numa vida cómoda rodeada pelo luxo e tudo o mais que quiser. Não vou retroceder.

André fitou a mulher com estranheza, como se a visse pela primeira vez. Aquela não era a sua antiga companheira, aquela que partilhou o perigo com ele, em mais de uma dezena de conflitos por esse mundo fora. Que tivera nos seus braços, escondidos entre os escombros, durante os bombardeamentos. Não era a mulher que tirara fotos fantásticas que ilustraram os seus relatórios apaixonantes e que fizeram as páginas principais de revistas e jornais. Afinal, também ele já não era o repórter de guerra, mas sim um frívolo cronista, mais ocupado com quem dorme com quem na sociedade. Já não contava histórias de morte e paixão pela liberdade, mas sim os podres da existência humana em tempos de paz, vivida às custas de outras guerras.

— Este senhor está a incomodar-te, querida? — Ao lado dela apareceu um homem, ligeiramente mais baixo, praticamente careca, mas impecavelmente vestido com um fato de corte moderno. — Queres que chame os seguranças? — Exibiu um sorriso de superioridade, enquanto abraçava a mulher pela cintura. — Como estás, André? Quem é a “vítima” do teu desprezo pela sociedade esta noite? Espero que não a minha doce Sofia.

— Já a descansei a ela e descanso-te a ti também, meu caro Ricardo. — Respondeu o visado erguendo o copo vazio à guisa de um brinde. — Façamos desta noite, uma noite de paz e… tréguas.

— Ah, a guerra fria! — O outro fingiu um olhar sonhador e divertido. — Em tempos de paz, prepara-te para a guerra! Há que armazenar mais e mais armas!

 — Graças a isso, há quem enriqueça mais e mais, sobre armazéns de armas, ou pilhas de cadáveres! — Atirou André amargamente, fazendo com que Sofia arregalasse os olhos num aviso.

— Acutilância! — Divertido, Ricardo piscou um olho e apontou o indicador ao outro, numa expressão marota. — Em todos os conflitos, ganha quem tiver mais recursos! É uma lei da vida! — Apertou mais e agitou significativamente a cinta de Sofia. — Julguei que tivesses aprendido alguma coisa nos anos de guerra que ambos vivemos. — O sorriso desapareceu rapidamente enquanto olhava para a mulher. — Temos de ir, querida, o presidente da câmara está ansioso por te conhecer. — Depois tornou para André. — Aprecia o melhor que puderes desta festa. Sei que o tema não te agrada, mas enfim, quando não podemos caçar, comemos do que nos dão!

Sofia deixou que Ricardo a puxasse suavemente, deitando apenas um último olhar contristado ao antigo companheiro.

André ficou ali, encostado na balaustrada, vendo os dois afastarem-se, dividido entre o olhar triste de Sofia e o sorriso triunfante de Ricardo. Com ela, ia-se o sol embora de vez e repousava sobre os seus ombros uma noite eterna e fria, que teria de passar sem a mulher que amava.

— Aproveitemos o que nos dão, enquanto se dissipa o brilho de Sofia! — Concluiu para si próprio, afastando-se da parede e caminhando lentamente para o salão. —  Preciso de uma boa bebida, para tirar este sabor amargo da garganta.

Manuel Amaro Mendonça
nasceu em Janeiro de 1965, na cidade de São Mamede de Infesta, concelho de Matosinhos, a "Terra de Horizonte e Mar".
É autor dos livros "Terras de Xisto e Outras Histórias" (Agosto 2015), "Lágrimas no Rio" (Abril 2016), "Daqueles Além Marão" (Abril 2017) e "Entre o Preto e o Branco" (2020), todos editados pela CreateSpace e distribuídos pela Amazon.
Foi reconhecido em quatro concursos de escrita e os seus textos já foram selecionados para duas dezenas de antologias de contos, de diversas editoras.
Outros trabalhos estão em projeto e sairão em breve. Siga as últimas novidades AQUI.

Município de Carrazeda de Ansiães vai investir um milhão e meio de euros no sector do turismo

 Uma das apostas será no património religioso
Segundo o presidente da câmara, João Gonçalves, para além da reabilitação de igrejas, vai ainda ser disponibilizada informação numa aplicação móvel. “Vai materializar-se numa série de intervenções, a nível de conservação e restauro de elementos arquitectónicos e artísticos em várias igrejas. Tentaremos juntar outras igrejas que já foram intervencionadas anteriormente e criar um circuito de visitação. Vamos tentar integrar a informação toda em suporte digital, numa aplicação móvel”.

Vai ainda ser reabilitado o antigo balneário termal São Lourenço e criado um Núcleo Museológico dedicado ao ofício do Ferreiro e do Ferrador. O turismo de natureza e promoção do bem-estar físico vai ser outra das apostas. “Queremos aumentar os percursos pedestres homologados, para disponibilizarmos a quem goste desta prática. Vamos concretizar mais cinco trilhos pedestres, em Linhares, Ribalonga, Vilarinho da Castanheira e Pinhal do Douro, para juntar aos percursos que já temos homologados em Pombal, Castanheiro do Norte e Foz Tua”.

O município de Carrazeda em conjunto com outros municípios vai ainda implementar três projectos relacionados com a venda de vinho, com a travessia BTT e com a exploração dos recursos endógenos.

Prevê-se que estas estruturas e serviços de apoio estejam concluídos este ano, para que quando a pandemia der tréguas seja feita uma forte aposta no turismo e mais turistas visitem o concelho de Carrazeda de Ansiães.

Escrito por Brigantia
Jornalista: Ângela Pais

Florbela Espanca: "Em Busca de um Novo Rumo"

 Já homenzinho, nas longas noites de Inverno, acocorado à chaminé onde o madeiro  crepite, lê embevecido, horas a fio, todo o Júlio Verne, histórias de piratas e  corsários; o navio-fantasma enfeitiça-o; os naufrágios heróicos entusiasmam-no;  foi durante anos todos os capitães de navios naufragados, morrendo no seu posto,  aos vivas a Portugal!

No liceu sonha com a Escola Naval: é uma ideia fixa. Põe a um gato abandonado,  repelente, todo pelado, encontrado numa suja travessa das imediações do liceu, o  nome de "Marujo"; a uma galinha, a quem endireitara uma perna quebrada,  ficou-lhe chamando "Canhoneira"; o cão, seu companheiro de folias, chamava-se  "Almirante".

No dia em que pela primeira vez envergou a linda farda da Escola, quando o  estreito galão de aspirante lhe atravessou a manga do dólman azul escuro, foi como  se S. Pedro abrisse, diante dele, de par em par, as bem-aventuradas portas do  paraíso. Era marinheiro! Sabe lá a outra gente o que é ser marinheiro! Para ele,  ser marinheiro era a única maneira de ser homem, era viver a vida mais ampla,  mais livre, mais sã, mais alta que nenhuma outra neste mundo! O seu forte  coração, sedento de liberdade, era, no seu rude arcabouço de marujo, como um  pequeno jaguar saltando do fundo da jaula, estreita e lôbrega, contra as barras de  ferro que o retêm afastado da selva rumorosa.

Ao pôr pela primeira vez o pé num navio, lembrou-se do tanque da sua infância e  sorriu; o mesmo clarão de antes, de fascinação e de triunfal alegria, iluminou-lhe  os olhos garços; as pálpebras tiveram o mesmo estremecimento de voluptuosidade  e cobiça. O rio sempre era maior que o tanque de outrora... Quando viu fugir  Lisboa, afogada nas sombras violetas do crepúsculo, e deparou com todo o mar na  sua frente, a sua alma audaciosa, rubra do sangue a escachoar dos seus irrequietos  vinte anos, tomou posse do mundo, num olhar de desafio!

Quando voltou, porém, meses depois, vinha desiludido, furioso contra o seu sonho,  que se tinha ido quebrar, como todos os sonhos, insulso e embusteiro, de encontro  à banalidade ambiente. Aquilo, afinal, era uma maçada, uma tremendíssima  maçada! O mar, todo igual, monótono embalador de indolências. Não havia  corsários nem piratas; o navio-fantasma era um fantasma dos seus sonhos de  outrora. O mar era mais lindo nos livros e nos quadros. Os poetas e os artistas  tinham-no feito maior do que ele era; afinal, era pequenino como o tanque,  acabava ali perto... Não tinha sido preciso arriscar nem uma só parcela de vida;  não havia no seu navio mulheres e crianças a salvar; não havia naufrágios  heróicos; o capitão nem uma só vez teve ocasião de ir ao fundo, no seu posto, aos  vivas a Portugal! E sorria, com uma grande ironia nos olhos claros de expressivo  olhar de lutador.

Renegou o seu culto sem pesar nem remorsos, com a mais completa das  indiferenças e, dum dia para o outro, o mar que tinha sido a grande quimera da  sua ardente imaginação de meridional, que tinha sido a sua nova, a sua amante nos  dias felizes da adolescência, foi atirado para o lado, no gesto negligente de um bebê  que atira pela janela fora uma concha vazia.

"Aquilo afinal era uma maçada, uma tremendíssima maçada!" e os olhos claros,  investigadores, de olhar acerado como o das aves de rapina, procuraram  ardentemente outra coisa. Franziu os sobrolhos, no ar recolhido e concentrado de  quem excogita, de quem procura uma solução difícil... Olhou o céu profundo... e  achou! Um avião! Era aquilo mesmo. Ser aviador é melhor que ser marinheiro! É  abraçar no mesmo braço o céu e o mar! na linguagem dos símbolos, a âncora,  definindo a esperança, nunca poderá valer as asas, que são a libertação. A âncora  agarra-se ao fundo e fica, as asas abrem-se no espaço e penetram no céu. Seria  aviador! E foi.

Nota:
Florbela Espanca: "Dominó Preto" (1982) 

Sete galardoados em Bragança nos Prémios Cinco Estrelas Regiões 2021

 Já são conhecidos os vencedores do Prémio Cinco Estrelas Regiões 2021. O prémio serve para medir o grau de satisfação que os produtos, serviços e marcas de origem portuguesa conferem aos seus utilizadores
Esta é já a quarta edição do Prémio Cinco Estrelas Regiões, que prevê valorizar e dar a conhecer o que de melhor tem cada uma das regiões portuguesas ao nível da gastronomia, recursos naturais, monumentos e património, assim como negócios locais.

No distrito de Bragança, na categoria produtos tradicionais portugueses foi galardoada a Alheira de Mirandela; já na cozinha tradicional portuguesa o prémio foi para a Posta Mirandesa; nas reservas/paisagens/barragens o prémio foi atribuído ao Mirando da Fraga de Puio, em Picote, no concelho de Miranda; na categoria de serviços ópticos quem arrecadou o prémio foi a Óptica Transmontana, com lojas em Bragança, Vinhais, Vimioso, Mogadouro, Miranda, Moncorvo, Vila Flor, Macedo, Mirandela, Valpaços, Chaves e Murça; na categoria praias foi distinguida a Praia do Azibo, no concelho de Macedo de Cavaleiros; já nas aldeias e vilas a menção foi para Rio de Onor, em Bragança; e, por fim, a Vaz Saúde, também em Bragança, levou o destaque nas clínicas médicas.

O galardão baseia-se no conceito e metodologia de avaliação do Prémio Cinco Estrelas e envolveu este ano a participação de 346 mil portugueses.

Os premiados podem utilizar a imagem “Portugal Cinco Estrelas”, durante um ano, em qualquer suporte de comunicação.

Escrito por Brigantia

Visitar Vinhais, uma terra dos diabos

 O vinho deu-lhe o nome, mas foi o fumeiro que colocou de Vinhais no mapa do turismo. Fomos conhecer a pequena vila transmontana, que é também “terra de diabos”, numa pacata estadia que se prolongou quase uma semana


O caminho até Vinhais faz-se com vagar, percorrendo parte da estrada nacional que inspirou anteriormente uma road trip ecológica [EN103: eco road trip de Bragança ao Alto Minho]. O objectivo é aproveitar as paisagens do Montesinho, um dos maiores dos 12 parques naturais de Portugal, e fazer longas caminhadas, depois de um penoso confinamento.

Localizada no extremo Norte de Portugal, distrito de Bragança, Vinhais é conhecida como “Capital do Fumeiro”, cognome conquistado graças à Feira do Fumeiro de Vinhais, que atrai milhares de visitantes no mês de Fevereiro.

O porco bísaro é o mote inspirador desta feira, considerada um dos maiores eventos gastronómicos do país. Esta raça autóctone motivou até um centro interpretativo no centro da vila. Mas antes de falarmos deste e de outros produtos locais, vale a pena explorar o centro histórico. Sim, porque Vinhais é também um destino histórico, que remonta ao tempo dos romanos, quando se criou um miradouro no Alto da Ciradelha para supervisionar a região.

A estrada militar construída pelos romanos para ligar Braga, Chaves e Astorga passava aqui perto,  como recorda a Ponte da Rauca sobre o rio Tuela (não confundir com a Ponte da Ranca, medieval, que não fica longe).


Vinhais, uma terra dos diabos

Dizem também que a vila é uma terra dos diabos. Porquê dos diabos?

Bem, Vinhais tem uma tradição secular, única em Portugal, na quarta-feira de cinzas, possivelmente com raízes nos Lupercais romanos. Na noite de terça para quarta saem à rua diabólicos mascarados, chamados Diabos, para atormentar a população e, no dia de cinzas, chega a própria Morte, para impor, com requintes de crueldade, sacrifícios e penitências às suas vítimas.

O turismo local apostou no prolongamento da festa original da quarta-feira de cinzas, criando o espectáculo “Os Mil Diabos à solta” no sábado seguinte. Mais de mil diabos acompanham uma Morte gigante, numa procissão que termina na Pedra, onde as raparigas aprisionadas são castigadas e o rosto da Morte é revelado num espetáculo de som, luz e fogo.

Este é mais um argumento para visitar Vinhais. Até porque a região é rica em expressões populares deste género, se recordarmos os caretos de Podence (concelho de Bragança) ou de Lazarim (concelho de Lamego), tradições igualmente características do Entrudo. Leia também Carnaval de Lazarim, caretos e senhorinhas.


O que visitar em Vinhais

Apesar de não ter um património esmagador, Vinhais possui alguns monumentos interessantes, como a igreja de São Facundo (fundada pelos godos), o convento de São Francisco e o Castelo.

Comecemos precisamente aí, atravessando a porta principal do antigo castelo de Vinhais, (monumento nacional, do século XIV), para explorar as ruas empedradas, descobrindo um pelourinho manuelino, a Igreja Matriz, um conjunto de tanques recém-renovados.

Do castelo restam três portas, duas torres e alguns troços da muralha que, junto à Capela de N. Senhora da Conceição, oferece uma vista particularmente bonita. Seguindo pelas ruelas, descobrem-se as tradicionais casas transmontanas, em xisto, com o piso térreo reservado para o gado e parafernália agrícola, e um piso residencial, cujo coração é a cozinha.


Mas também várias casas senhoriais, sendo a mais imponente o Solar dos Condes de Vinhais (século XVIII), que hoje acolhe um Centro Cultural, com biblioteca, capela, teatro e cafetaria. Por altura da nossa visita, acolhia uma interessante exposição: Máscaras Rituais de Portugal.

Na praça dos Combatentes da Grande Guerra encontramos o Centro Interpretativo do Porco e do Fumeiro, para homenagear essa tradição ancestral e as raças portuguesas (com destaque para o bísaro), de uma forma interactiva, e a curiosa Fonte do Cano, com o escudo real. Antes de aproveitar a Natureza, espreite ainda  o Convento e Igreja de São Francisco e Ordem Terceira, com os seus retábulos barrocos.


Trilhos em Vinhais

Se, como eu, procura Natureza, ar puro e sossego, deve incluir uma visita ao Parque Biológico com os seus animais, centro micológico, actividades de aventura ou hipismo. Escrevi um post detalhado durante uma primeira visita Parque Biológico de Vinhais, um retiro no Montesinho.

O Parque Biológico é o ponto de partida para dois trilhos na Serra da Coroa: o PR9 VNH Trilho do Alto da Ciradelha (3,2 km) e o PR8 VNH Trilho da Barragem da Prada (5,9 km), ambos de pequena rota e circulares.

O PR9 conduz-nos até ao Alto da Ciradelha ou Cidadelha, onde se encontraram os primeiros vestígios de Vinhais, ou seja, um castro proto-histórico a noroeste da actual vila. No cume deste monte, os romanos terão construído o seu ponto de observação e entende-se porquê. Hoje, existe ali um Polo Interpretativo do Parque Biológico com uma vista soberba.

Outro ponto alto do percurso é o baloiço (foto de entrada), colocado junto do miradouro, para a foto da praxe. Se a primeira metade da rota é sempre a subir, passado o baloiço, descemos uma suave encosta, ladeados de árvores e a mais absoluta tranquilidade. Pelo caminho, com um pouco de sorte, poderá vislumbrar veados, corços, gatos-bravos, esquilos e raposas. Com certeza, verá muitas borboletas, árvores como carvalhos e amieiros, mas também giesta, carqueja e esteva.


Apesar de mais longo, o PR8 é menos exigente e a paisagem mais diversificada: veem-se pequenas aldeias e muitos campos cultivados. Nesta caminhada, os pontos mais interessantes são a Charca da Vidoeira, onde existe um pequeno observatório para ver os animais que ali vão beber, a barragem onde se concentram aves aquáticas  e muitas libélulas, e o moinho de Paçó.

Não gostámos tanto deste segundo percurso pedestre, pelo simples facto de carros conseguirem passar numa parte do trilho, o que destrói toda a magia do lugar. Ainda assim, foi nesta rota que vimos uma pequena raposa. No concelho de Vinhais, é ainda possível fazer o lindo PR10 VNH Termas de Tuela, que merecerá um post específico.

Quando for visitar Vinhais, inclua pelo menos um dos trilhos, pedestres ou de bicicleta. O concelho possui quatro percursos de BTT, com diferentes níveis de dificuldade – 8,27 km, 19,48 km, 49,9 km e 65 km – todos eles com início e término no Parque Biológico.


Visitar Vinhais – informações úteis de viagem

Quando ir

Trás-os-Montes é uma terra de extremos. Diz o ditado popular que nas entranhas transmontanas existem nove meses de Inverno e três de Inferno. Se no Inverno, as temperaturas podem ficar pelos 5º C de máxima, no Verão podem chegar aos 40º C. Em suma, os meses de Primavera e Outono são os mais agradáveis para visitar a região e realizar actividades ao ar livre. No entanto, se procura uma paisagem nevada, poderá considerar os meses de Dezembro-Janeiro.

Como chegar

Vinhais fica a cerca de 200 km do Porto, 284 km de Coimbra e quase 500 km de Lisboa (bué, bué longe, diria o burro do Shrek). A partir da cidade invicta, deve apanhar a A4 até à saída 33, em direcção a N315/Mirandela Norte/N103/Vinhais. Siga depois pela R206 e N103 até à vila de Vinhais.

A distância entre Lisboa e Vinhais traduz-se em cerca de cinco horas de caminho. Apanhe a A1 para Norte, escolhendo depois um de dois caminhos: A23  ou apanhando o IP3 perto de Coimbra, em direcção à A24 e depois A4 (tomando a mesma saída que o percurso desde o Porto).


Onde ficar em Vinhais

Nós ficámos no próprio Parque Biológico de Vinhais, num dos bungalows de madeira. Foi a minha segunda vez no parque e, desta vez, achei que o bungalow carecia de manutenção: lava-loiças a escorrer água para a prateleira da loiça, dispensadores de álcool gel sujos, teias de aranha gigantes à porta.

O wi-fi não funcionava, excepto junto à recepção. Numa manhã tinha uma reunião online, e não me facultaram acesso a uma sala. Tive que fazer a reunião na rua, numa mesa do bar, sem acesso a fonte eléctrica (resultado, fiquei sem bateria). Os funcionários da recepção também se revelaram pouco conhecedores da região; só me recomendaram os dois trilhos que partem do parque.

– Mas não existem outros no concelho?- perguntei.

– Sim, mas teria que perguntar no Turismo que está fechado, por causa da pandemia.

– Mas vocês não têm informação turística? Não são uma empresa municipal?

– Sim, mas é uma entidade independente. Não a quero mandar para uma aldeia e que se perca.

Ainda estive para lhe dizer que fui sozinha à China e não me perdi, mas não valia a pena [fizemos outro trilho, o PR10 Termas de Tuela, e não nos perdemos]. Numa nota mais positiva, o aquecimento funciona muito bem, as camas são confortáveis e o pequeno-almoço razoável.

Para além do Parque Biológico existem várias opções de turismo rural em Vinhais, como a Casa do Rebelhe e a Casa da Mencha e um pequeno hotel sem presença no Booking. A alguns quilómetros, na aldeia de Gondesende, já no concelho de Bragança, existe uma opção muito simpática: a Micro Cabana Rotativa.


Gastronomia de Vinhais

A comida da região baseia-se nos genuínos produtos locais: castanhas, cogumelos, fumeiro. Entre as especialidades gastronómicas inclui-se o caldo de cascas, os milhos, os cuscos (feitos de trigo Barbela, substituía a massa e o arroz)  e o celebérrimo fumeiro de Vinhais, de porco bísaro.

A este nível, é de experimentar o butelo acompanhado por casulas (cascas de feijão secas), mas também as alheiras. A carne é rainha nesta região mas se,  como eu, não come carne, pode experimentar as trutas do Tuela ou peixinhos do rio fritos.


Pode encontrar o fumeiro de Vinhais com carne de porco bísara (IGP) nas lojas da especialidade, nomeadamente no Gourmet da Adelaide (a senhora é uma simpatia, também vende doces, compotas e outras iguarias), perto do Solar Condes de Vinhais, ou nas duas lojas em frente à Igreja-convento de S. Francisco.

AQUI a publicação  original.

Ruthia Portelinha

Mogadouro apoia natalidade e adoção de crianças com valores até dois mil euros

 O município de Mogadouro, distrito de Bragança, instituiu incentivos à natalidade e adoção de crianças que podem ir até aos dois mil euros e que permite apoiar as famílias residentes neste concelho, disse hoje o presidente da câmara.
"Pretende-se com esta medida o apoio à natalidade e adoção de crianças, uma vez que a diminuição de número de nascimentos a nível nacional se verifica ainda mais nos concelhos do interior do país, como é caso do concelho de Mogadouro. Assim urge a necessidade de adotar medidas que contribuam para reforçar a proteção social e salvaguardar o futuro geracional da população deste concelho, explicou à Lusa Francisco Guimarães.

Segundo o autarca transmontano, o apoio à natalidade e adoção de crianças traduz-se num incentivo pecuniário que começa nos 1.200 euros para o primeiro filho, 1.500 euros para o segundo filho e 2.000 euros para o terceiro filho.

"São ainda elegíveis em termos de faturação as despesas realizadas em bens ou serviços considerados indispensáveis para as crianças como consultas médicas, medicamentos ou vacinas não comparticipadas Plano Nacional de Vacinação, artigos de higiene e alimentação, vestuário e calçado entre outros", explicou.

Estes apoios serão atribuídos apenas para bens e serviços adquiridos no concelho de Mogadouro, mediante a apresentação de faturas e recibos, devidamente autenticados.

De acordo com Francisco Guimarães, este apoio destina-se a crianças nascidas ou adotadas a partir da data de entrada em vigor do diploma, ou seja, desde 22 de abril de 2021, e já foi publicado em Diário da República (DR).

"Deste modo, o regulamento disponível visa minimizar as situações de desigualdade social sentidas no concelho de Mogadouro, bem como promover a melhoria das condições de vida da população, inclusivamente das crianças nos primeiros anos de vida", sublinhou Francisco Guimarães.

Este pedido deverá ser feito no serviço de Ação Social de município de Mogadouro, mediante a apresentação dos documentos que constam no regulamento.

O regulamento para a atribuição destes inventivos está disponível na sua versão integral no sítio da internet do município de Mogadouro.

Trás-os-Montes com quatro praias bandeira azul em 2021

 As mesmas 4 praias galardoadas no ano anterior mantém a classificação este ano de 2021.


Durante a próxima época balnear vão poder hastear novamente a Bandeira Azul, 4 praias fluviais de Trás-os-Montes, Congida em Freixo de Espada à Cinta , Fraga da Pegada-Albufeira do Azibo e Ribeira - Albufeira do Azibo em Macedo de Cavaleiros e  Praia Arqt. Albino Mendo em Mirandela.

Este reconhecimento vem mais uma vez provar a qualidade das praias fluviais, no interior do país, a evolução no número de Bandeiras Azuis atribuídas é também a consequência do excelente desempenho, que os vários promotores tiveram na época balnear de 2020, que requereu um envolvimento e um empenho excecionais no cumprimento de regras de segurança.

Anúncio das Praias, Marinas e Embarcações com Bandeira Azul 2021 A Associação Bandeira Azul da Europa anuncia 372 praias, 16 Portos de Recreio/Marinas e 11 Embarcações Ecoturísticas galardoadas com Bandeira Azul, pelo Júri Internacional, em 2021, o que significa um aumento de 12 Bandeiras Azuis em relação a 2020.

As 372 praias estão distribuídas por 98 Municípios, dos quais 5 apresentam praias pela primeira vez, nomeadamente Fafe, Oleiros, Óbidos, Avis e Beja e a Calheta reentra no programa. Com 4 novos municípios interiores, mantém-se a tendência de investimento e desenvolvimento destas praias e de aumento da qualidade das águas balneares interiores.

Quando há Bandeira Azul, e enquanto estiver hasteada, é seguro frequentar”, afirmou, salientado que a fruição destes espaços públicos vai depender da responsabilidade de cada um.

A Cerimónia Oficial de Hastear da Primeira Bandeira Azul em Praia Costeira vai decorrer, no dia 1 de Junho, na praia de Moledo, no Município de Caminha; o primeiro Hastear de Bandeira Azul em Praia Fluvial vai realizar-se, no dia 15 de Junho, na Albufeira de Santa Clara, no Município de Odemira e o primeiro hastear em Marina, vai ter lugar na Marina de Vila do Porto, Ilha de Santa Maria em 5 de Junho.

António Pereira
Fotos: AP

Município de Miranda do Douro lança aplicação móvel para atrair turistas

 Os visitantes que queiram conhecer Miranda do Douro podem agora ter acesso a informação detalhada através da aplicação móvel “YPortal-Miranda do Douro”
A ideia é da câmara municipal e segundo o presidente, Artur Nunes, é possível obter informação sobre pontos turísticos, mas também restaurantes e alojamento. “Nessa aplicação constará um conjunto de informações que têm a ver com os serviços turísticos do nosso concelho, nomeadamente as rotas, os miradouros, a localização dos restaurantes e das estalagens... há um conjunto de informação turística que é claramente muito importante para quem nos visita”.

Com esta aplicação, o município acredita que os turistas vão querer permanecer mais tempo no concelho. “A ideia é maximizar o tempo de permanência no nosso território. Neste momento, as estatísticas dizem que temos a permanência de turistas cerca de 1,3 dias no nosso concelho. Queremos aumentar esse número e ter mais gente a visitar. Só é possível com novas ofertas”.

A aplicação está disponível gratuitamente para IOS e Android e em vários idiomas. “Temos português, mirandês, inglês, francês e espanhol. Os espanhóis são os que mais visitam o território mas queremos ter mais pessoas de diferentes línguas”.

Este investimento foi co-financiado pelo projecto Transfronteiriço Flumen Durius, do qual o município de Miranda do Douro é parceiro.

Escrito por Brigantia
Jornalista: Ângela Pais

Médico acusado de homicídio por negligência absolvido pelo Tribunal de Mirandela

 O Tribunal de Mirandela absolveu, ontem, um médico de clínica-geral, que estava acusado de um crime de homicídio por negligência, no atendimento de uma mulher de 69 anos, no serviço de urgência do hospital de Mirandela, há seis anos atrás, e que viria a falecer com sequelas graves resultantes de um enfarte do miocárdio não diagnosticado
O coletivo de juízes considerou ter ficado provado que o médico não agiu de acordo com as boas práticas médicas, quando observou a vítima (Maria Eliza Braz) que apresentava sintomas que indiciavam um quadro de episódio de enfarte, e lhe deu alta. “Deveria ter feito um inquérito muito mais exaustivo e efetuado diligências para a realização de exames complementares de diagnóstico para a despistagem de possíveis patologias cardio-vasculares”, refere o acórdão.

Ainda assim, o tribunal entende que não ficou provado o nexo de causalidade, ou seja, não ficou claro que esta conduta do médico possa ter sido a causa direta para a morte da mulher. Para esta decisão, pesaram bastante os dois pareceres técnico-científicos apresentados em sede de julgamento, um deles do colégio médico da especialidade de cardiologia, que apontava para a inexistência do nexo causal.

Outro factor importante que o coletivo de juízes apontou para tomar esta decisão, foi o facto de não se ter realizado a autópsia ao corpo. “Teria sido um documento importante no processo porque poderia ser revelador das possíveis causas da morte”, adiantou o juiz-presidente.

Com a decisão da absolvição do médico no processo-crime, o tribunal também optou pelo mesmo veredicto no processo-civil em que a família pedia uma indemnização.

À saída do tribunal, uma das filhas de Maria Elisa Braz, não escondia a indignação com esta decisão. “Estou muito desiludida, porque ficou provado que o médico teve falhas graves no atendimento à minha mãe, mas que não foi o suficiente para lhe provocar a morte. Como é que isto é possível, não cabe na cabeça de ninguém, ela morreu porque não teve a assistência devida”, referiu Fernanda Braz que admite recorrer da sentença: “Custa engolir este sapo, mas vamos analisar e se existir alguma falha no acórdão vamos pegar nela”, adiantou.

Já do lado da defesa, era evidente o contentamento com a decisão. “Entendo que se fez justiça num caso que requeria melhor atenção do ponto de vista da prova e da acusação, com destaque para a inexistência da autópsia que pudesse, com maior clareza, apontar para a razão da morte da doente. Ficou provada a inexistência do nexo causal”, considerou António Graça da Silva.

No entanto, o advogado de defesa admite erros na atuação do médico. “Há uma discrepância entre aquilo que foi detetado na triagem e o tratamento subsequente da doente, que nunca foi posta em causa durante o processo, o que significa que deveria ter havido outra orientação do meu cliente em sede do serviço de urgência, mas isso não foi determinante no falecimento da senhora e que todos lamentamos”, conclui.

Sentença seis anos depois

O caso remonta a 7 de Janeiro de 2015, quando Maria Elisa Braz, na altura com 69 anos, residente em Valbom dos Figos (Mirandela), deu entrada no Serviço de Urgência (SU) do Hospital de Mirandela com dor torácica, referindo dor no peito e nas costas com evolução de três dias, tendo-lhe sido atribuída prioridade clínica de atendimento urgente (pulseira amarela).

Maria Elisa foi então observada por Fernando Gomes (médico), que viria a dar-lhe alta 47 minutos depois, tendo consignado no respetivo relatório do episódio de urgência que a vítima foi ao SU por cervicalgia desde há muito tempo, sem dificuldade de mobilidade do pescoço e prescrito, como medicação, um anti-inflamatório e um paracetamol para as dores.

Algumas horas depois, de ter recebido alta, Maria Elisa voltou a sentir dores no peito e com vontade de vomitar, tendo sido transportada, desta vez, ao hospital privado de Mirandela e daí, posteriormente, transferida para o Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro, em Vila Real, onde lhe foi diagnosticado enfarte do miocárdio, situação que veio a complicar-se e que culminou com a sua morte, sete dias depois.

Escrito por Terra Quente (CIR)

𝗣𝗥𝗘́𝗠𝗜𝗢 𝗖𝗜𝗡𝗖𝗢 𝗘𝗦𝗧𝗥𝗘𝗟𝗔𝗦 – 𝗥𝗘𝗚𝗜𝗢̃𝗘𝗦 | 𝗔𝗹𝗱𝗲𝗶𝗮 𝗱𝗲 𝗥𝗶𝗼 𝗱𝗲 𝗢𝗻𝗼𝗿 𝗱𝗶𝘀𝘁𝗶𝗻𝗴𝘂𝗶𝗱𝗮 𝗽𝗼𝗿 𝟯𝟰𝟲 𝗺𝗶𝗹 𝗽𝗼𝗿𝘁𝘂𝗴𝘂𝗲𝘀𝗲𝘀

 A aldeia de Rio de Onor, em Bragança, foi distinguida com o Prémio Cinco Estrelas Regiões, na categoria de Aldeias e Vilas. Esta distinção envolveu, na presente edição, a participação de 346 mil portugueses.


Este prémio procura valorizar e dar a conhecer o que de melhor tem cada uma das regiões portuguesas ao nível da gastronomia, dos recursos naturais, dos monumentos e do património, entre várias outras categorias. 

São igualmente reconhecidos os negócios locais que se diferenciam pela sua qualidade. Nesse âmbito, destaque para a Vaz Saúde, em Clínicas Médicas, e a Ótica Transmontana, em Serviços Óticos.

Câmara de Mirandela apoia produtores pecuários suportando custos de vacinação animal

 Com efeitos já no ano de 2021, a medida irá apoiar financeiramente a totalidade das despesas com a vacinação de pequenos e grandes ruminantes e prevê ainda a majoração em 20% para animais de raças autóctones. As candidaturas têm início no próximo dia 3 de maio.
A Câmara Municipal de Mirandela implementou uma medida de apoio financeiro destinada aos produtores pecuários do concelho, suportando os custos totais relacionados com a vacinação dos pequenos e grandes ruminantes, abrangendo cerca de 17 mil ovinos e caprinos e 700 bovinos. O investimento, por parte da autarquia, rondará os 30 mil euros em 2021.

O Programa Sanitário anual, definido oficialmente pela Direcção-Geral de Alimentação e Veterinária, determina as ações de profilaxia médica e sanitária de rastreio da tuberculose bovina e da brucelose bovina, ovina e caprina, com custos que, até agora, teriam de ser assumidos pelos criadores.

Neste contexto, a concessão de apoio financeiro aos produtores pecuários, centra-se na produtividade e na sensibilidade dos produtores mirandelenses para a importância do cumprimento das regras de saúde pública e saúde animal, mas também no bem-estar e na aplicação de boas práticas agrícolas e ambientais.

O apoio financeiro anual aos produtores de bovinos, ovinos e caprinos é fixado em 12€/animal para bovinos adultos, 6€/animal para bovinos jovens e 1,2€/animal para ovinos e caprinos.

Os montantes indicados serão ainda majorados em 20% para animais de raças autóctones, desde que comprovadamente se encontrem inscritos no respetivo Livro Genealógico e Registo Zootécnico.

Para o executivo municipal, liderado por Júlia Rodrigues, “esta medida de apoio ao fomento da produção pecuária no concelho de Mirandela surge como um contributo para amenizar os efeitos da pandemia COVID-19 neste importante setor de atividade, que resultaram na redução da venda de animais para abate em virtude do encerramento de muitos estabelecimentos de restauração, e também dar um novo impulso à fixação e rejuvenescimento dos produtores, à dinamização da atividade económica, ao desenvolvimento local e coesão territorial, bem como assegurar a continuidade da defesa da saúde e da salubridade pública“.

As candidaturas a este apoio poderão ser efetuadas a partir do dia 3 de maio de 2021 no Gabinete de Apoio ao Munícipe (GAM) do Município de Mirandela, ou na Unidade Móvel de Atendimento ao Munícipe, mediante o preenchimento de formulário próprio e apresentação de documentação necessária.

Atravessar o rio a vau

Penso que não há ninguém que me desminta, se afirmar que só no verão é que consigo atravessar o rio a vau, sem molhar os pés, muito embora, possa surgir um grave desequilíbrio em cima duma alpondra, e vá sujeitar-me a uma arreliante molha que me fará cair na cama. Isto acontece, quase só, devido a algum descuido grave, ou então à confiança que tenho, criada pela rotina. Devo, pois, estar atento ao conselho: “Lembra-te de que, mesmo que atravesses o rio a vau, é possível que algumas vezes te vejas obrigado a molhar os pés”.
Esta contrariedade pode aplicar-se a qualquer circunstância da vida se, de facto, não prestar atenção ao que faço; ou, tendo à mão os meios necessários, não me servir deles, deixando que a contrariedade aconteça. A verdade, creio eu, é que me parece que não há ninguém que possa gabar-se de, pelo tal descuido, não ter sido vítima dum tropeção, provocando uma inevitável queda.
Caminhando pela vida cheia de perigos e consequentes sobressaltos, temo ver-me impedido de continuar numa boa estrada, ao tentar atingir mais depressa a meta desejada.
Apesar de escolher a melhor oportunidade e o momento certo da caminhada, descuidar a ponte que me leva a unir as margens constitui o desprezo por um dos meios de que posso servir-me para vencer uma etapa que me é hostil.
Porque nem sempre é fácil evitar os perigos, é bom que, ao menos, os não deixe tomarem-me de surpresa, para o que não será despiciendo o facto de ter de estar atento e vigilante; e ao desejar caminhar em frente, cuidar de não me esquecer de que, muitas vezes, o perigo vem dos lados.
Para evitar que isto aconteça, terei de desenhar um planeamento adequado ao tipo do caminho a percorrer. Que obstáculos poderão surgir? Terei de vencê-los ou será preferível contorná-los e prosseguir? Que meios vou poder utilizar para me ver livre desses obstáculos? Qual o estado em que ficarei, depois deste mau encontro?
Em qualquer caso, tenho de empregar a minha força de vontade e a minha determinação, para não me ver obrigado a vacilar, e consequentemente, poder beneficiar do caminho livre para prosseguir sossegado.
No entanto, posso deitar tudo a perder, se não tiver cuidado com os meus atos. É o caso deste sacrifício que insistentemente me é pedido a que terei de responder reprimindo a ansiedade de acabar depressa com a situação em que me encontro: perseguido e encurralado por um inimigo que não se vê, mas ostensivamente se manifesta pelos estragos que faz. E mais ainda, por não estar atento, inadvertidamente vá arrastar para o meu lado aqueles que me são mais próximos ou aqueles com quem tenha forçosamente de contactar.
É por tudo isto que aguardo serenamente pelo verão. E, no verão, certamente poderei ultrapassar o rio, seguro de que voltarei incólume à liberdade no viver.

Manuel António Gouveia

Miranda do Douro também vai ter espaço de Teletrabalho-coworking

 A Ministra da Coesão Territorial, Ana Abrunhosa, acompanhada pela Secretária de Estado da Valorização do Interior, Isabel Ferreira, preside amanhã, sexta-feira, à cerimónia de Assinatura dos Acordos de Cooperação para a instalação dos Espaços de Teletrabalho/Coworking no Norte, nomeadamente em Bragança, Macedo de Cavaleiros, Miranda do Douro, Mirandela, Vila Flor e Vimioso, no distrito de Bragança.
Na mesma altura serão assinados os acordos com outros municípios do Norte, como Amares, Arcos de Valdevez, Cinfães, Melgaço, Mondim de Basto, Paredes de Coura, Terras de Bouro, Valpaços, Vila Nova de Cerveira, Vila Pouca de Aguiar e Vila Verde.

Tratam-se de espaços, disponibilizados pelas autarquias, que vão estar devidamente equipados com computadores, impressoras e acesso à internet e vão ser divididos em áreas de diferentes tipologias, de forma a disporem de bancadas livres para diferentes períodos de ocupação, zonas privadas para videochamadas, áreas para reuniões e locais para a realização de apresentações ou ações de formação. Vão localizar-se em espaços centrais, próximos de serviços, espaços culturais ou destinados à prática de desporto.

Glória Lopes

quarta-feira, 28 de abril de 2021

A CALUNIA E A INVEJA

Por: Humberto Pinho da Silva 
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")

Em: “ Olhai os Lírios do Campo”, o escritor gaúcho, Erico Veríssimo, apresenta-nos a personagem: Eugénio Fontes, médico, que desprezou a vida fácil de genro de homem rico, para se entregar à medicina quase como sacerdote.
De médico respeitado, graças ao sogro, após o divórcio, passa a clínico da classe média e da gente pobre.
Um dia, o amigo, igualmente médico, o Dr. Seixas, diz-lhe: - ” Você está a tornar-se importante! …”
Apanhado de surpresa, pergunta: Porquê?
-“ É que começam, os colegas, a dizer mal de si.”- Responde-lhe o Dr. Seixas.
Quando, em qualquer profissão, alguém começa a ser atacado justamente ou não, é sinal, quase sempre, que está a subir na escala social; a tornar-se conhecido.
A maledicência, tem raiz na inveja. Miguel Ângelo, queixava-se que os males entendidos, como Papa, tinham origem em Bramonte e Rafael, devido à inveja.
Já o Padre António Vieira, dizia:” “ Sabeis porque vos querem mal vossos inimigos? Ordinariamente porque vêm em vós algum bem que eles quiseram ter e lhes falta.
“ A quem não tem bens, ninguém lhe quer mal.”
                   Pateadas e calúnias, são resultantes, quase sempre, do mesmo mal.
É o caso de Anita Ekberg, que foi atacada, no palco, com tomates, lançados pela cantora Evelyn, porque aquela abandonara a sala, enquanto cantava.
O escritor, ao ser conhecido, logo é vítima de inveja e da calúnia.
Camilo, em: “ Noites de Lamego”, refere-se que o vulgo costuma enxovalhar, por maldade, o homem distinto: “ A canalha urra triunfalmente a cada homem distinto que sopesa e recalca no seu esterquilino.”
Entre os intelectuais, basta alguém do seu meio, ter sucesso ou ter sido premiado, para os confrades e amigos, espalharem boatos desagradáveis.
Está nesse caso a “ zanga” entre o pintor Júlio Dupré, grande amigo de Teodoro Rousseau; quando Júlio recebeu o grau de Cavalheiro da Legião de Honra, Teodoro, afasta-se, por inveja e ressentido.
Helena Sacadura Cabral, referindo-se à calúnia, declara ao: “ Diário de Notícias”: “ Em Portugal há uma longa tradição de murmúrio, de inveja, de cobiça e de preguiça, também. Os valores raramente são reconhecidos e os inteligentes constituem o repasto ideal para a calúnia.” - “ O Dia” – 09/09/02.
A calúnia costuma andar de braço dado com a inveja. Sempre que se alcança, em qualquer profissão, lugar de destaque, logo surge o boato mesquinho -  “o dizem…que dizem…”
Mesmo entre figuras da ciência, a inveja, existe. É conhecida a disputa ridícula entre dois lentes de Coimbra: o Brites e o Ferrer, no final do século XIX, por antagonismo de doutrina.
Entre os intelectuais, há o costume de criar “ capelinhas”, por ideologias.
Chianca Garcia, disse ao “ Século” (18/01/1959,) depois do sucesso do filme: “ A Aldeia da Roupa Branca”, teve que ir para o Brasil, porque sentia má vontade de muitos, de a excluir das “ capelinhas” e de contratos.
Criada a tertúlia, cria-se a “ capelinha”, elogia-se mutuamente; se o neófito pretende ingressar no reduto, logo é corrido, a não ser que tenha “ padrinho forte”, na “ capela”.
Que o digam os que se iniciam na difícil e ingrata Arte das Letras, a dificuldade que sentem em serem acolhidos. Os próprios editores, em geral, sofrem do mesmo mal.
O medo de serem destronados do pedestal, que elegeram, leva-os apartar todos, que podem vir a fazer-lhes sombra.

Humberto Pinho da Silva
nasceu em Vila Nova de Gaia, Portugal, a 13 de Novembro de 1944. Frequentou o liceu Alexandre Herculano e o ICP (actual, Instituto Superior de Contabilidade e Administração). Em 1964 publicou, no semanário diocesano de Bragança, o primeiro conto, apadrinhado pelo Prof. Doutor Videira Pires. Tem colaboração espalhada pela imprensa portuguesa, brasileira, alemã, argentina, canadiana e USA. Foi redactor do jornal: “NG”. e é o coordenador do Blogue luso-brasileiro "PAZ".

Florbela Espanca: "Mamã"

Noite negra e tempestuosa! No céu não luzia uma estrela, o   vento soprava com violência, e flocos de neve envolviam, como  em alva mortalha, a aldeia adormecida. Só ao longe milhares de   luzes ardiam no soberbo castelo. Perfumes, flores, sedas, rendas e cá fora, numa humilde choupana à beira da estrada, fome, miséria e lamentos. Vivia ali uma pobre camponesa com dois filhinhos. Magros, doentes, pediam esmola pelos casais.  Agora choravam. Tinham fome e não tinham pão, os míseros   pequeninos.  

 No único aposento via-se apenas uma enxerga onde, com a cabeça  entre as mãos, a pobre mãe pensava, talvez, no futuro bem   negro dos filhinhos.  

 A contrastar, porém, singularmente com a miséria do casebre, via-se um berço elegante e lindo. Envolviam-no rendas e arminhos. Dentro um pequeno gentil dormia, com a linda cabecita emoldurada nos anéis doirados do seu cabelo loiro. Nos lábios pairava-lhe um sorriso meigo de anjo dormente.   

 Abre-se a porta de repente. Uma mulher divinalmente formosa,   envolta em ondas de rendas e sedas, arrastando altiva a longa   cauda, entra na choupana.

A camponesa ergue-se admirada, enquanto a fidalga adulada,  invejada, que tinha a seus pés um mundo de adoradores, não receando amarrotar as rendas caras do seu opulento vestido de   baile, ajoelhou humilde ante o bercito do filho do crime, que  tinha de beijar furtivamente; inclinou a cabeça, e duas lágrimas brilhantes como gotas de orvalho se desprenderam dos olhos, resvalando-lhe pelas faces, que foram cair nas do pequenito que, a sorrir no seu sorriso de anjo, balbuciou   mimoso:

 - Mamã!

Nota:
Florbela Espanca: "Dominó Preto" (1982)  

Empresa que investiu em parque fotovoltaico em Mogadouro avança para segundo projecto de 15 milhões de euros

 Foi criado, em Mogadouro, um parque fotovoltaico com mais de 65 hectares e 120 mil painéis solares. É o maior projecto nesta área no Norte do país e tem capacidade para produção de cerca de 85 gigawatts de energia por ano, o suficiente para servir 30 mil habitações
O empreendimento em energia renovável localiza-se na aldeia de Tó e representou o maior investimento no concelho nos últimos anos, rondando os 25 milhões de euros.

Segundo Fernando Ribeiro, director de construção da Smart Energy Portugal, empresa responsável pela instalação do projecto, explica que foram as condições técnicas que levaram à escolha da localização. “A escolha é sobretudo técnica, a proximidade com a rede eléctrica nacional. Na altura também foi uma aposta porque este é o maior projecto no norte de Portugal e era uma zona pouco trabalhada ainda. Experimentamos e tentámos o investimento”.

Esta foi a primeira fase do projecto que está concluída e a enviar energia para a rede, mas a empresa vai continuar a investir no concelho e as obras da segunda fase da central fotovoltaica, na qual serão investidos mais 15 milhões de euros, começam em breve. “Tivemos recentemente o licenciamento do segundo projecto, Mogadouro 2, que se vai desenvolver contíguo a este. Iniciaremos a construção ainda este ano, em Maio/Junho entraremos no terreno com a obra”.

No pico da instalação chegaram a trabalhar 250 pessoas, sendo que pelo menos 50 eram do concelho. Segundo o presidente da câmara de Mogadouro, Francisco Guimarães, o projecto teve um importante impacto na economia do concelho em particular nesta fase menos boa. “Numa altura de pandemia foi uma alavanca para a económica local e para o concelho. Foi um investimento muito importante nesta época tão má. Ajudou, em muito, não só famílias como empresas e a própria hotelaria e restauração”.

O presidente da junta de freguesia de Tó, António Marcos, diz que no projecto trabalharam cerca de uma dúzia de habitantes da aldeia e que o investimento foi um verdadeiro achado. “Foi a melhor coisa que podia ter aparecido para a aldeia. Numa altura em que os rendimentos cada vez são menores, nada como encontrar um achado destes. A nível monetário foi muito bom”.

O município de Mogadouro e a empresa assinaram ainda ontem um protocolo para a instalação de painéis fotovoltaicos, junto às piscinas Municipais, que permitirão fornecer energia a vários edifícios municipais, como o complexo desportivo e o centro escolar, levando a uma poupança no valor despendido em energia eléctrica pela câmara municipal.

Escrito por Brigantia
Jornalista: Olga Telo Cordeiro