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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

sábado, 2 de julho de 2022

.... e diz-lhe para assentar…

 - Henriiiiiiiiiique… ó Henriiiiiqueeee anda cá depressa!!!

-Já vooouuu Mãe.

Fogo, é sempre assim…

- Já vooooooou... Mãe.

… Parece que adivinha, logo agora que me ia a isolar.

Paaaaaassaaaaa!

Tenho que ir fazer mais um recado. Lá ficamos a jogar com menos um… 2 contra 3.

- Henriiiiiiiiiiiiiiiique, és surdo ou quê?

- Já vooooooou... Mãe.

- Tenho que ir, esperai por mim, já volto.

- Sim Mãe!

- Vais à Senhora Antoninha e trazes 1 quilo de açúcar, do escuro, duas caixas de fósforos e meio litro de petróleo. Diz-lhe para assentar.

- Está bem Mãe.

Corda aos patins até ao Loreto. O António Teixeira e o Pedro, com menos um, deviam estar a “levar no pelo”.

- Bom dia Senhora Antoninha. Quero 1 quilo de açúcar do escuro, duas caixas de fósforos e meio litro de petróleo e é para assentar.

- Aqui tens, hoje não levas dois rebuçados de troco.

- Pois não, é para assentar…

- Mas levas este, toma.

- Obrigado Senhora Antoninha.

Mais corda aos patins, desta vez a subir, para casa levar a encomenda.

- Já posso ir Mãe?

- Podes! Não te esqueças de não vires a horas para o jantar. Ai de ti se não estiveres em casa quando o teu pai chegar. Se ele tiver que ir saber de ti já sabes que comes pela medida grossa.

- Tá bem, só vou acabar o jogo.

- Como estamos Teixeira?

- A perder 7 x 3. Com menos 1… só assim nos ganham.

- Vamos p´ra cima dos gajos.

Já não se vê a bola, já escureceu. Ainda dá, dizia eu…

Não acabou o jogo, só acabava aos 10. Estamos a perder 8 x 5. Amanhã continuamos.

… Cá para mim, quando um de nós tivesse que ir fazer um recado, o jogo devia ser interrompido e recomeçar quando estivesse a equipa completa… Fazem as regras assim porque lhes convém, aos mais velhos.

- Vai lavar essas bentas e essas mãos que metes nojo… se o teu pai te vê assim… já sabes…

Os dias corriam devagar, não havia pressa de chegar a lado algum, tínhamos tempo para tudo… penso que éramos muito felizes sem termos essa noção… nem o dinheiro nos fazia falta desde que houvesse uma bola, a luz do dia… um anzol, um metro de sediela, remisga, ou casquete… e um naco de pão com um cibo de… qualquer coisa. Não havia nenhum bairro que não tivesse quatro pedras a servirem de balizas.

Eu, tenho saudades! De tudo... até da sagacidade da Senhora Antoninha e da paz, pacatez e simplicidade do Senhor Antoninho!

HM

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