O PERIGO DAS TROTINETES

Por: Humberto Pinho da Silva 
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")

Quando estou na cidade de São Paulo, fico estupefacto com o movimento atordoador das viaturas. São filas intermináveis de ciclistas e motociclos, que sem respeito se enfiam, quase entalados, a grande velocidade, pelos estreitos intervalos dos automóveis, fazendo autênticas e perigosas habilidades circenses.
Sempre tive alma de montesino. Aprecio a calma da minha modesta casa; e dentro dela, a paz do meu quarto – apesar de viver no centro da cidade, – quiçá por isso, o transito da Pauliceia, estonteava-me.
Nunca entendi como é possível conduzir, com segurança, nessa balbúrdia, e chegar a casa (depois de um dia de trabalho) sem ter os nervos em frangalhos.
Talvez, por isso, adorava a minha pacata cidade onde sempre residi: paz, concórdia e respeito.
Desgraçadamente, para meu infortúnio, a sossegada e quase familiar cidade do Porto, está, agora, transformada num saricoté endiabrado.
Não falo dos turistas, que chegam aos montes, com malas, malinhas e maletas, param e conversam nos passeios, desesperando o portuense apressado, mas as malfadadas motos e as impertinentes trotinetes.
De início pareciam brinquedos engraçados, quase infantis, transformados num rápido e simples transporte citadino, prático e económico.
Mas, rapidamente se tornaram indesejáveis e ameaçadoras.
Adolescentes irresponsáveis, quase crianças, correm de trotinetes, pelas ruas, passeios, jardins e até pelas estradas, a alta velocidade, algumas vezes em perigosas competições.
Circulam sem seguro, sem licença, sem capacete, sem regras, sem conhecerem os sinais de trânsito, sem ordem, como se fossem donos da via pública.
O que era um brinquedo, pratico, útil e económico, passou a ser praga, um perigo para todos nós.

Humberto Pinho da Silva
nasceu em Vila Nova de Gaia, Portugal, a 13 de Novembro de 1944. Frequentou o liceu Alexandre Herculano e o ICP (actual, Instituto Superior de Contabilidade e Administração). Em 1964 publicou, no semanário diocesano de Bragança, o primeiro conto, apadrinhado pelo Prof. Doutor Videira Pires. Tem colaboração espalhada pela imprensa portuguesa, brasileira, alemã, argentina, canadiana e USA. Foi redactor do jornal: “NG”. e é o coordenador do Blogue luso-brasileiro "PAZ".

A lógica do mercado

Por: Manuel Eduardo Pires
(colaborador do Memórias...e outras coisas...)

Pelos vistos há falta de professores. Milhares de alunos têm passado anos inteiros sem algumas disciplinas do currículo. Há dias um jornal titulava: número dos que estudam para ser professor caiu setenta por cento em vinte anos. Como seria de esperar aqueles que militam no pensamento dominante dão explicações mais ou menos fantasiosas: ora a falta de vocação por parte dos mais jovens, ora as exigências de uma profissão desgastante, ora a ausência de incentivos para os que tem que se deslocar, etc. e tal. Ao contrário dos universitários que olham para o mercado de trabalho, o preconceito não lhes permite atingir as verdadeiras causas.
Quem as conhece de sobra são as dezenas de milhar de almas que trabalham nas escolas. Mas essas procuram disfarçá-las por se sentirem culpadas daquilo que não são e porque, como estão ali a ganhar a vida, não querem levantar muita poeira. Ora eu já me pirei, não estou atracado a direitas ou a esquerdas e pensar fora da caixa dá-me algum gozo. Além disso sei bem do que a casa gasta. Esbracejei nela para não ir ao fundo nada menos que quarenta e três anos, o que não é pouco, e a experiência diz-me que quem agora poderia decidir ser professor não o faz por outras razões. 
O doutor freud dizia que educar consiste no difícil trabalho de domar os instintos, o truque que permite a vida social. Dá-se o caso de andarmos há muito a fazer o contrário, isto é, a soltar o selvagem que está latente em cada ser humano. As causas são várias e complexas. Lembro-me de que já os morangos com açúcar recriavam aulas que tiravam seriedade a uma coisa que de si tinha pouca, transformando-as em anedotas e aceitando com leveza a má conduta da ganapada. E de dois programas que parodiavam situações idênticas: os batanetes, da sic, e a turma dos chanfrados, da globo. Os sketches de uns e outros até podem ter alguma piada para quem ignore que se trata de um retrato fiel do que se passa na maioria das salas reais. Os restantes, é mais certo que arrepelem os cabelos.
Porém a nossa desgraça é anterior. As ideologias de raiz jacobina, percebendo que o que se mete nas cabeças infantis fica para sempre e vai mais tarde dar forma à própria sociedade, para além de outros métodos subversivos investiram em força na escola do estado, razão pela qual ela hoje se recusa a responsabilizar os miúdos pelos seus atos, não sabe o que fazer com a indisciplina, a violência, a delinquência, o crime e deforma mais do que forma. Na generalidade das salas de aula é o caos. Regem-se pela mais desenfreada parvoíce, vai nelas uma festa rebaldeira onde os profes são os bombos e que todos escondem com vergonha. É justamente o que se pretende:  dali passa-se para as ruas e é a doer. 
Ninguém sabe isso melhor do que quem passou doze anos a limpar o pó daqueles bancos. Como lhes resta alguma autoestima não querem ser enxovalhados e fazem o manguito à ideia de regressar. Com algum jeito até terão assistido a entradas alucinadas dos próprios progenitores por ali adentro maltratando quem tentava dar o seu melhor para lhes educar os cachopos, coisa que nem saberiam o que fosse. Aconteceu-me na parte final da carreira assistir a cenas do estilo, e um belo dia, dando conta de ter andado a cantar a grândola vila morena cheio de fé a pensar no bem de gente como aquela, tive vontade de dar com a cabeça nas paredes.
E depois ai jesus que os jovens não escolhem o ensino… Pois não… Às tantas, como os seus papás, desprezam e abusam de tudo o que é de borla. Quando lá andaram talvez se tenham apercebido da vida facilitada em termos de exigência e avaliação dos colegas de carteira com necessidades educativas especiais e fingido ser tontos para terem as mesmas regalias. E não é que tinham?!... Quem sabe se agora o pudor e a dignidade que lhes restam não os afastarão daquilo tudo…
Eu não tenho dúvidas. Ter gramado a comédia da escola comuno-socialista autoriza-me a declarar sem aspas que nunca nos dias da vida a aconselharia a alguém de quem gostasse. Indicava-a sim a indivíduos que busquem desportos radicais, masoquistas que não prezem a saúde da mente ou alguém a quem deseje má vida. Fora isso, a falta de docentes não tem que ser negativa. Vai piorar, mas há males que vem por bem e espero sinceramente que um dia se lhes aplique a lei mercantil da oferta e da procura, segundo a qual a abundância de um produto o deprecia e a escassez o valoriza.

(Nordeste - mar. 2020)


Manuel Eduardo Pires
. Estes montes e esta cultura sempre foram o meu alimento espiritual, por onde quer que andasse. Os primeiros para já estão menos mal, enquanto a onda avassaladora do chamado progresso não decidir arrasá-los para construir sabe-se lá o quê, mas que nunca será tão bom. A cultura, essa está moribunda, e eu com ela. Daí talvez a nostalgia e o azedume naquilo que às vezes digo. De modo que peço paciência a quem tiver a paciência de me ir lendo.

Caçarelhos: XXI edição da Feira do Pão com muita animação

 No fim-de-semana de 1 e 2 de abril, a aldeia de Caçarelhos, vai organizar a XXI edição da Feira do Pão, um evento que tem crescido ao longo dos anos, graças à animação das lutas de touros mirandeses, do festival de gaita-de-foles e das danças dos pauliteiros e do rancho folclórico de Vimioso.


Segundo o presidente da freguesia de Caçarelhos, Licínio Martins, a Feira do Pão de Caçarelhos começou por ser um evento de pequena dimensão, em que participavam sobretudo os produtores locais, expondo os produtos mais caraterísticos da aldeia, com destaque para o pão.

“Com o passar dos anos, a Feira do Pão de Caçarelhos cresceu sobretudo graças ao investimento na animação do certame, com as lutas de touros mirandeses, a dança dos pauliteiros e o festival dos gaiteiros”, explicou.

Este ano, a programação da XXI Feira do Pão de Caçarelhos volta a dar muito destaque aos grupos, às tradições e ao património existente na localidade.

“A aldeia de Caçarelhos tem um conjunto de monumentos de muito valor arquitetónico e de interesse cultural e religioso, como são as capelas de Santo Cristo, de São José, de Santa Luzia, a igreja matriz e o cruzeiro”, indicou.

Na localidade existem ainda os cabanais, uma construção de século XIX, que foi construída para a feira mensal, que continua a realizar-se no dia 19 de cada mês.

“Hoje em dia, a feira mensal já não tem a pujança económica de outros tempos, dado o despovoamento da nossa região. Por esta razão e para manter a tradição, decidimos organizar a feira anual, dedicada ao pão”, explicou.

Assim sendo, a XXI Feira do Pão vai realizar-se no dias 1 e 2 de abril. No sábado, dia 1 de abril, o destaque da feira é o IV Festival da Gaita de Foles que vai trazer cerca de 250 gaiteiros a Caçarelhos.

Este ano, o certame tem como grande novidade a atuação dos Grupos Etnográficos e Tunas do Orfeão Universitário do Porto.

“No Domingo, dia 2 de abril, o Coro do Orfeão Universitário do Porto vai animar musicalmente aa Missa de Domingo de Ramos”, avançou.

As lutas de touros mirandeses e as atuações dos pauliteiros de Palaçoulo e do rancho folclórico de Vimioso vão animar e encerrar a Feira do Pão deste ano, em Caçarelhos.

HA

Castelo de Miranda do Douro foi decisivo na história de Portugal

 A cidade de Miranda do Douro acolheu esta quarta-feira, dia 29 de março, a apresentação do livro “Castelos e Fortalezas na Raia Luso-Espanhola”, uma obra que tem por finalidade dar a conhecer e valorizar o património histórico edificado ao longo da fronteira com Espanha, como é o Castelo de Miranda do Douro.


A apresentação do livro decorreu na Casa da Cultura Mirandesa, em Miranda do Douro e contou com a participação da presidente do município de Miranda do Douro, Helena Barril. Nesta sessão, participaram ainda o autor do livro, Augusto Moutinho Borges, o ilustrador, Martin Garcia e os representantes da empresa CTT – Correios de Portugal, que editou a obra.

Na sua intervenção, a presidente do município de Miranda do Douro, Helena Barril, expressou a sua alegria por ver a história do castelo, inscrita neste livro de história.

“Após a leitura e consulta do livro “Castelos e Fortalezas na Raia Luso-espanhola” estou certa de que muito mais pessoas terão interesse em visitar e conhecer Miranda do Douro”, disse.

Recorde-se que o castelo de Miranda do Douro foi edificado no reinado de D. Dinis (1261-1325). Segundo a história, o monarca terá visitado a cidade, aquando da assinatura do Tratado de Alcanices, em 1297.

De acordo com informações do património arquitetónico, o castelo de Miranda do Douro tem uma arquitetura militar, medieval e seiscentista.

“Povoação muralhada de planta octogonal, com reduto defensivo, sendo as muralhas protegidas por caminhos de ronda e rasgadas por três portas em arco apontado (…) Uma das portas, de maiores dimensões, é tutelada por Nossa Senhora do Amparo, tendo pintura alusiva à mesma. Nas muralhas rasgam-se várias seteiras e acede-se ao caminho de ronda por escadas encravadas nas faces dos muros”, pode ler-se.

Para o autor do livro “Castelos e Fortalezas da Raia luso-espanhola”, Augusto Moutinho Borges, os castelos e fortalezas fazem parte do património cultural e da identidade nacional.

“Neste livro procuro dar a conhecer o património edificado, que foi decisivo para a defesa de Portugal, ao longo de séculos. Entre os castelos e fortalezas na raia luso-espanhola, incluem-se o castelo de Caminha, no Minho, passando por Bragança, Miranda do Douro, Almeida, Marvão, Elvas até Castro Marim, no Algarve”, explicou.

O livro “Castelos e Fortalezas da Raia luso-espanhola” é ilustrado com imagens de vários fotógrafos e desenhos do espanhol, Marín García.

Esta é mais uma iniciativa dos CTT – Correios de Portugal, que contou com o apoio de vários municípios, entre os quais o município de Miranda do Douro.

Decorrente desta colaboração, o Castelo de Miranda do Douro passou a estar representado num selo dos CTT – Correios de Portugal.

HA

🚂 𝐂𝐨𝐦𝐛𝐨𝐢𝐨 𝐓𝐮𝐫𝐢́𝐬𝐭𝐢𝐜𝐨 𝐯𝐨𝐥𝐭𝐚 𝐚 𝐜𝐢𝐫𝐜𝐮𝐥𝐚𝐫 𝐩𝐞𝐥𝐚𝐬 𝐫𝐮𝐚𝐬 𝐝𝐞 𝐌𝐢𝐫𝐚𝐧𝐝𝐚 𝐝𝐨 𝐃𝐨𝐮𝐫𝐨 𝐝𝐮𝐫𝐚𝐧𝐭𝐞 𝐚 𝐅𝐞𝐢𝐫𝐚 𝐝𝐚 𝐁𝐨𝐥𝐚 𝐃𝐨𝐜𝐞

 ➡ Entre 6 e 8 de abril, junte os amigos e a família e descubra a magnífica cidade de Miranda do Douro numa viagem mágica de comboio turístico elétrico dentro dos limites da cidade.
As viagens ocorrerão nos seguintes horários:
📆 De 6 a 8 de abril, com saídas às 11h00, 12h00, 15h00, 16h00 e 17h00
As saídas ocorrerão junto ao Recinto da Feira da Bola, no Largo do Castelo

*𝐕𝐢𝐚𝐠𝐞𝐦 𝐠𝐫𝐚𝐭𝐮𝐢𝐭𝐚

Corrida e Caminhada da Liberdade - 2023

 Macedo de Cavaleiros vai receber, no próximo dia 25 de abril, a 5.ª edição da Corrida da Liberdade, promovida pelo Município de Macedo de Cavaleiros, com o apoio e condução técnica da Associação de Atletismo de Bragança e ainda, a Caminhada da Liberdade.
A prova de Corrida é aberta a atletas filiados na Federação Portuguesa de Atletismo (FPA) em representação de clubes inscritos na AABr, bem como a atletas populares e atletas inscritos na ANDDI e a caminhada é aberta a todos.

A Corrida e a Caminhada carecem de inscrição pessoal e intransmissível, tendo de ser realizada, até ao dia 23 de abril, através do preenchimento DESTE formulário.

Museu da Memória Rural ensina a fazer queijo artesanal

 Todos o anos a estrutura museológica do concelho de Carrazeda de Ansiães promove esta iniciativa com o objetivo de preservar e difundir entre a comunidade, e particularmente entre os mais jovens, um saber-fazer ancestral, como é a confecção do queijo artesanal.



Dezenas de pessoas participaram em mais um workshop do queijo artesanal promovido pelo Museu da Memória Rural, em Vilarinho da Castanheira, no passado dia 26 de março de 2023.

Todos os anos, a estrutura museológica gerida pela Câmara Municipal de Carrazeda de Ansiães promove esta iniciativa com o objetivo de preservar e difundir entre a comunidade, e particularmente entre os mais jovens, um saber-fazer ancestral, como é a confecção do queijo artesanal.

Fazer queijo é uma autêntica arte que faz parte de uma tradição muito antiga e enraizada no concelho de Carrazeda de Ansiães. No Museu da Memória Rural, em Vilarinho da Castanheira, cerca de 20 participantes aprenderam no passado domingo essa arte, os truques e as dicas passados pelos mais velhos da aldeia, que todos os anos participam no evento e ensinam as técnicas e saberes que ao longo da sua vida aprenderam para produzir este manjar tão típico das zonas rurais do nosso país. Além do queijo propriamente dito, aprendeu-se ainda a fazer outros subprodutos como o requeijão e o soro. Manter esta arte viva é um dos objetivos desta atividade anual.

As inscrições foram limitadas a 20 participantes, os únicos que puderam meter as mãos na massa para usufruírem do sabor do seu trabalho, mas muitas dezenas de outras pessoas visitaram o museu nesse dia, para fazer uma visita, mas também para poderem assistir à iniciativa que este museu de território tem levado a cabo desde há vários anos, e que de ano para ano tem registado um crescente interesse, quer entre a comunidade local, quer entre um público externo, fundamentalmente jovem, que vem do litoral, nomeadamente do Porto, para assistirem e aprenderem a fazer o queijo da forma tradicional.

Miranda do Douro e Vimioso são os concelhos do distrito onde se perde mais água

 Em Miranda 71,4% da água não é facturada e em Vimioso a percentagem de água perdida é de 70,4%


A antiga canalização de Miranda do Douro coloca este município no topo da lista dos concelhos do distrito com mais água não facturada. De acordo com o relatório da Entidade Reguladora dos Serviços de Águas e Resíduos, referente a 2021, cerca de 71,4% da água não é contabilizada. A presidente da câmara, Helena Barril, explica que as perdas se devem à canalização e sem financiamento, não pode ser substituída. “É uma conjugação de factores mas as canalizações estão envelhecidas. Tínhamos muita necessidade de as renovar e não há apoios nos fundos comunitários. Isso tem-nos trazido algum entrave. Estamos na câmara há um ano e meio e ainda mantemos a esperança de conseguir colmatar estas perdas, não na totalidade mas, pelo menos, desagravar”.

Em Outubro do ano passado, o município implementou um sistema de telegestão das redes de abastecimento de água, que detecta avarias. Há equipas sempre disponíveis para reparar fugas de água e evitar grandes desperdícios de água. Assim, Helena Barril acredita que isso se vai fazer notar nos relatórios da ERSAR. “Não é uma situação que se resolva de um dia para o outro. Tínhamos uma perda de cerca de 70% e, neste momento, sabemos que está a diminuir muito. O trabalho está a ser feito”.

Vimioso também é dos concelhos que mais água não facturada, são 70,4%. Mas o autarca, Jorge Fidalgo, esclarece que se deve edifícios municipais não terem contadores. Um investimento que admite que tem que ser feito, mas que o município não consegue suportar de uma vez. “Será menos de metade do que essa que é apontada pela ERSAR. Como isto implica um investimento significativo, obviamente que não conseguimos fazer tudo ao mesmo tempo. Temos que ir fazendo um esforço. Se não tivermos fundos comunitários ou ajudas para o fazer não vamos conseguir”.

Por outro lado, Macedo de Cavaleiros que já chegou a registar perdas acima dos 80%, agora vê o cenário mudar. Em 2021, as perdas rondavam os 66%, mas o presidente da câmara, Benjamim Rodrigues, adiantou que em 2022 será apenas de 56%, devido às medidas adoptadas pelo município. “Modernização de contadores e zonas de controlo mais restritas e alguma melhoria no sistema de intervenção mais rápida”.

Com a diminuição das perdas, nos últimos cinco anos, Macedo de Cavaleiros conseguiu uma poupança anual na ordem dos 200 mil euros.

Escrito por Brigantia
Jornalista: Ângela Pais

Escola de Negócios do IPB, em Macedo, vai ter uma pós-graduação em Agrobusiness

 Vai começar brevemente na Escola de Negócios do IPB, sediada em Macedo de Cavaleiros, uma pós-graduação em agronegócios (agrobusiness).


As inscrições estão abertas até ao final deste mês e a previsão é que atraia alunos de todo o país, refere o vice-presidente do Politécnico de Bragança, Albano Alves:

“Temos já abertas as inscrições e trata-se de uma pós-graduação desenvolvida em conjunto com a APPITAD (Associação dos Produtores em Proteção Integrada de Trás-os-Montes e Alto Douro), sendo que as inscrições terminam no final do mês de março e estamos a pensar iniciá-la no mês de abril.

A APPITAD está a colaborar connosco na própria promoção e o que pretendemos, dado que esta pós-graduação de agrobusiness vai funcionar em sistema misto, ou seja, vamos ter algumas aulas online e outras em regime presencial, é ter alunos não só da região mas de todo o país.”

Recentemente terminaram na Escola de Negócios do IPB a primeira pós-graduação em Gestão Pública e a terceira em Transformação Digital.

O vice-presidente da entidade faz um balanço positivo de ambas as ofertas formativas:

“Foram feitas numa parceria muito frutífera com a CIM-TTM, sendo que, até pelo que tenho ouvido da parte dos alunos, correu muito bem, acima de tudo porque fazemos questão de fazer pós-graduações que vão de encontro às necessidades dos municípios, com os quais foram desenvolvidas em conjunto.

O feedback que tenho é que correu de forma excelente.”

O presidente da autarquia de Macedo de Cavaleiros, Benjamim Rodrigues, refere que a procura tem sido elevada:

“Foram duas turmas altamente concorridas e até teve de haver algumas restrições de inscrições porque havia candidatos a mais. Para manter a qualidade da pós-graduação têm de se restringir as turmas.

É sempre importante termos esta possibilidade de podermos dar competências e formação em áreas tão importantes. São áreas de pertinência da comunidade e da inovação dentro dos municípios.

Foi dirigida essencialmente aos municípios e, como tal, tivemos uma afluência muito grande.”

As inscrições para a Pós-Graduação em Agrobusiness, ou seja, agronegócio, estão abertas até ao final do mês de março.

Escrito por ONDA LIVRE

Cinco municípios de Bragança expõe produtos em Nanterre

 Os municípios de Vila Flor, Macedo de Cavaleiros, Bragança, Torre de Moncorvo e Mirandela vão participar na décima oitava Feira de Nanterre, em França


É já a partir de amanhã que estes cinco concelhos do distrito de Bragança vão levar àquele país o que de melhor produzem.

O presidente da câmara de Vila Flor, Pedro Lima, assume que a feira é um verdadeiro mercado da saudade, dado o número de emigrantes portugueses que ali vivem. “Vila Flor ali vai mostrar os produtos pelos quais é mais conhecida e aquela feira, que é um mercado da saudade, é onde os nossos emigrantes conseguem adquirir produtos que matam a saudade. Os principais frequentadores, por assim dizer, são emigrantes portugueses, residentes ali ou perto, que ali vão para adquirir produtos. Não é propriamente uma feira de demonstrações”.

Esta não é a primeira vez que Vila Flor participa na feira. Vão vender-se os produtos identitários do concelho. “Vamos levar quatro produtores porque o espaço é limitado. É o máximo que conseguimos levar. Vamos alternando. No ano passado foram determinados produtores e este ano vão outros, com produtos variados, que vão desde o azeite, ao mel e às amêndoas. São esses os principais produtos que vão ali estar à venda”.

Esta é também uma forma de o concelho se dar a conhecer, potenciando ser visitado por emigrantes de fora do distrito. “Ali há uma confluência muito grande de emigrantes de variadíssimos concelhos, de Trás-os-Montes, muitos minhotos, da Beira alta, enfim, de muitas origens geográficas que vão ali a Nanterre porque já é um mercado muito conhecido. Evidentemente que tem a vertente de mercado, venda de produtos, mas também tem a vertente de representação institucional. É muito importante levar o nome de Vila Flor a este certame como instituição, concelho e produtor mais vasto ainda, não só daquele demostração que levamos connosco”.

A feira começa amanhã e decorre ao longo de todo o fim-de-semana, em Nanterre. É organizada pela Associação Recreativa e Cultural de Originários de Portugal, a Arcop de Nanterre.

Escrito por Brigantia
Jornalista: Carina Alves

Viagens — 24 - Os dois papões

 O aldeão de outros tempos — este de que as contas falam — levava uma existência prenhe de inquietações e medos, quando não de terrores, a bem dizer, do berço à tumba.
Desde logo, atormentavam-no as dúvidas sobre o que encontraria quando fechasse de vez os olhos. Não é que duvidasse de que existe um além. Mas esse além era-lhe muito mal explicado nas homilias. O medo das labaredas eternas do inferno sobrepunha-se à esperança de conseguir um lugar à mão direita de Deus. Por muito que se esforçasse por ganhar o céu, a poder de missas, hóstias, orações e esmolas, restava sempre a incerteza sobre o seu destino além-túmulo. Na idade avançada, visões do inferno povoavam-lhe a noite de terrores. O infalível altar das almas, na igrejinha do lugar, e as pregações cominatórias na missa da festa anual encarregavam-se de lhe mostrar o fogo pavoroso e inextinguível que o esperava ali ao dobrar da esquina que já não vinha longe.  
Mas não precisava de subir à esfera da metafísica para se inquietar e sofrer. As contingências terrenas apertavam-lhe também o cerco: ele era a fome, ele era o frio, ele era a doença, ele eram as desgraças que lhe fustigavam os dias, mormente aquelas sobre as quais sentia não ter qualquer espécie de domínio e perante as quais se sentia indefeso. Entre estas, estava — ora, quem mais havia de ser? O senhor escrivão, que acordava já com a prece na boca: “Deus desavenha quem nos mantenha.» O escrivão, que em sentido próprio era o funcionário judicial que o citava para julgamento, está aqui no significado expandido de todo e qualquer agente das duas instituições humanas que o aldeão mais temia: a fazenda e a justiça. Os dois papões.
A fazenda alimentava-se dos impostos e os impostos eram dinheirinho muito chorado, que lhe era extorquido à má-fila. Pagava a décima — termo que ainda se vai ouvindo — com a mesma boa vontade e entusiasmo com que as ovelhas se prestam à tesoura do tosquiador. Não deixava de ter razão para a má vontade, já que não via aplicado na sua aldeia o dinheiro das tributações e continuava a viver em condições sanitárias muito problemáticas. Lá de longe a longe, quando o rei fazia anos, a câmara inaugurava um melhoramento: uma bica ou um tanque de lavar ou o calcetamento duma rua, e viva o velho. De forma que, contrariado embora, pagava a décima e não bufava, ou então, se bufava, bufava baixinho, com medo de que, ouvindo-o, o senhor escrivão lhe dobrasse a dose.
 Quanto a justiça, ficaria tudo dito com uma praga definitiva: ‘Oxalá te caia a justiça em casa.” A justiça é vista como uma calamidade em que ninguém se quer ver envolvido, com a possível excepção do velho Leonardo — personagem dum conto de Miguel Torga, justamente intitulado “Justiça” — que passou a vida em contendas de tribunal. Miguel Torga dá ao conto um desfecho magistral. Ora leiam:

 − Quer vir, tio Leonardo?
 − Não tenho pernas. Se não, bem gostava! Está um dia bendito.
 − Bom para semear batatas...
 − Quais batatas! Bom mas é para ir pôr uma demanda. Com um sol destes, eram favas contadas...

 O aldeão execrava a justiça por mais de um motivo. Em primeiro lugar, talvez, porque lhe reprimia e disciplinava os instintos, cerceando-lhe a liberdade para — é só um exemplo —espancar ou mesmo esfaquear um vizinho com quem andasse em litígio.  
 Depois, havia sempre aquele temor dos erros judiciários, que podiam atirar com um inocente para as Pedras Negras — símbolo sinistro do desterro em terras de Angola.
 Por fim, era bem conhecida a venalidade de muitos juízes e funcionários judiciais, cujas sentenças eram proporcionadas às peitas recebidas. 
 Este respeito quase supersticioso deve vir de tempos muito antigos, anteriores mesmo àqueles em que almotacés e beleguins demandavam as terras para depenar o contribuinte e executar no delinquente as justiças d'el-rei. Ambas as coisas — impostos e justiça — eram discricionárias e irascíveis, conforme rezam pelo menos dois ditados — “Lá vão leis onde querem reis” e “A lei tem mangas e manguitos” —, que satirizam a fragilidade e a ductilidade das leis..
  Com o rodar dos anos, a prepotência de reis e senhores atenuou-se. Hoje já não é possível aceitar poderes discricionários. Mas mantém-se o reflexo atávico de antipatia do povo pelos escrivães, aqueles que mais de perto acolitam o doutor juiz e evocam as ameaças da justiça. Segundo o povo, a oração matinal dos escrivães é: ‘Deus desavenha quem nos mantenha.’ E de um dia muito tempestuoso diz-se: ‘Hoje nasceu algum escrivão!’ E está tudo dito, creio, quanto à sapeira do rústico pelo honrado cargo de escrivão. Quanto ao advogado de acusação, o povo chamava-lhe ‘atarrador’, que provavelmente estará por ‘aterrador’, de ‘aterrar’, isto é meter medo. As manhas dos advogados nos julgamentos; a facilidade com que confundiam testemunhas e réus; a gravidade ritual de todos aqueles senhores vestidos de preto a trocarem vénias; a sobranceria com que era tratado pelos oficiais de diligências eram outros tantos motivos de aflição do pobre aldeão que algum dia se visse entalado na camisa de onze varas que é a justiça. 
Há dicionários de pragas, onde se pode ler, por exemplo, “Perseguido da justiça te eu veja até que a tua própria sombra te meta medo”, praga corrente, nestes precisos termos ou equivalentes. Outra praga recorrente em terras de Carção era “Oxalá te caia a justiça em casa”. E o uso do verbo ‘cair’ não é casual: traz consigo a ideia de devastação e ruína. O aldeão considera que casa onde entrou a justiça é como se tivesse ardido. Curiosamente, esta imagem da casa ardida encontra-se também noutro contexto bem diferente. Ouve-se com frequência dizer que quando um homem casa uma filha é como se lhe tivesse ardido a casa.
E basta de  considerações. Terminemos esta longa viagem de 24 etapas com um conta em que o povo mostra os seus sntimentos para com os escrivães e quejandos.
 Diz que um dia o São Pedro disse ò Criador que não era abantaije niúma ter criado o home e que apostaba em como ele tamém era capaz de fazer um.
 − Atão bá, bamos lá a ber essa hab’lidade − disse Nosso Senhor.
 E o São Pedro toca a pegar num cibo de barro e a fazer um macareno. Stava tal e qual, mas Nosso Senhor, reparando melhor, disse assim, de caçoada:
 «− Olha que bem stá! E atão o coração, onde lo pusestes? 
 «− Ah, alvidei-me do coração! Não faz mal: faço-lhe um buraco no peito e meto-lho lá.
 «− Não, não − atalhou Nosso Senhor. − Deixa-o ficar sem coração. Guarda-se para escrivão ou fiscal.
 Quod erat demonstrandum.
E acho que vamos ficar por aqui...
Foi um prazer, Ciao!

A. M. Pires Cabral

Nota de Imprensa | Alfândega da Fé participou na Assembleia Internacional das Cidades Educadoras

O Município de Alfândega da Fé esteve presente na Assembleia Internacional das Cidades Educadoras, que decorreu em Sevilha nos dias 22 e 23 de março. A autarquia, que integra esta rede desde 2019, foi o único Município de Trás os Montes a marcar presença no encontro.

Alfândega da Fé participou na Assembleia Internacional das Cidades Educadoras

O Município de Alfândega da Fé esteve presente na Assembleia Internacional das Cidades Educadoras, que decorreu em Sevilha nos dias 22 e 23 de março. A autarquia, que integra esta rede desde 2019, foi o único Município de Trás os Montes a marcar presença no encontro.

A Assembleia Internacional reuniu membros de todo o mundo, aproveitando o momento para partilha de experiências e práticas no âmbito da promoção da educação.

A Associação Internacional das Cidades Educadoras (AICE), foi fundada em 1994. É uma Associação sem fins lucrativos constituída como uma estrutura permanente de colaboração entre governos locais que se comprometem a reger-se pelos princípios inscritos na Carta das Cidades Educadoras. Qualquer governo local que aceite este compromisso pode converter-se em membro ativo da Associação, independentemente das suas competências administrativas. No início do ano 2020, o seu número de membros ascendia a mais de 500 cidades de 36 países distribuídos por todos os continentes.

Durante a Assembleia foi escolhido o lema para o próximo Dia Internacional da Cidade Educadora (30 de novembro). Nesta ocasião, a celebração será realizada sob o lema “Cultura, fonte de criação e aprendizagens na Cidade Educadora”. A rede Cidades Educadoras vai trabalhar num programa conjunto de atividades para continuar a promover a educação.

O Mundo Pula e Avança - Na Madrugada dos Tempos – Parte 8

 Eles não sabem nem sonham
Que o sonho comanda a vida
E que sempre que o homem sonha
O mundo pula e avança
 
António Gedeão (pseudónimo de Rómulo Vasco da Gama de Carvalho)
Professor e poeta português
(1906-1997)

Por: Manuel Amaro Mendonça
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")


Apesar do choque inicial, a maioria das pessoas achou que as cabeças dos homens-macaco seriam uma boa oferenda aos deuses e não foram por isso removidas dos postes onde foram empaladas.
O inverno avançava em passos largos e os grupos de caça já regressavam com presas cada vez mais pequenas ou mesmo de mãos vazias. A neve caía, por vezes durante dias sem interrupção e havia um manto branco mais ou menos permanente a cobrir toda a paisagem.
Os cereais começavam a reduzir drasticamente e as frutas armazenadas comeram-se ou tiveram de se deitar fora por se estragarem. Temendo a fome no clã, Erem mandou convocar aqueles cuja opinião tinha em maior conta, embora o acesso fosse livre e frequentado pela maior parte dos aldeões. Em volta de uma enorme fogueira que derretera toda a neve e gelo em volta, os enregelados vizinhos foram-se acumulando, mantendo-se encostados para conservar ao máximo o calor corporal.
Na sua voz grave, Erem expôs o problema que todos tinham conhecimento; corriam o risco de não ter alimentos suficientes para sobreviver à época dos grandes frios e necessitavam de arranjar soluções.
Depois de várias vozes que se limitaram a apresentar queixas ou sublinhar as dificuldades já sentidas, pediu a palavra Alim, o mais velho dos nómadas, cujo grupo estava já completamente integrado na comunidade.
Ele começou por abordar o frio que todos sentiam nestas reuniões, que, aliás, deveriam repetir-se mais vezes sobre outros assuntos. Sugeriu que fosse construído um edifício maior onde coubessem de forma confortável os membros de um conselho que debateria o futuro do clã. Necessitariam de menos lenha para se aquecerem e os problemas das pessoas teriam um lugar onde serem apresentados para se obterem soluções.
Imediatamente se levantaram um conjunto de vozes discordantes que alegavam a incapacidade de se construir um espaço grande o suficiente, duvidavam da necessidade do mesmo ou até se queixavam do tempo que levaria a construir. No entanto, havia muitos rostos sorridentes que aprovavam a ideia.
Erem foi um dos que se interessou e pediu silêncio, fazendo sinal ao outro para continuar.
Alim explicou que era o que se fazia em muitas das localidades por onde passaram e que a construção de espaços maiores do que as pequenas casas redondas que erguiam não era muito complicada. O seu filho Beki ajudara por várias vezes nessas construções que juntavam madeira encaixadas e pedras, tudo unido por lamas endurecidas. Estava certo de que conseguiriam construir algo suficientemente digno recorrendo a esses conhecimentos. O tempo para o fazer; não há caça, nem agricultura, nem frutas, de certeza que se arranjará sempre uns pares de mãos para se avançar com a obra. A necessidade da mesma era outra questão: todos sentiram uma vez ou outra dificuldade ou um assunto que deveria ser trazido ao conhecimento da comunidade e que por vezes até nem o fazia porque chovia, ou estava muito frio, ou até muito calor.
Lemi, Erem e Zia conferenciaram entre eles em voz baixa enquanto Fikri ridicularizava a ideia, secundado por alguns outros. Naci, que chegara tarde e indolentemente, aproveitou o desdém do amigo para afirmar que quem decidia o que devia ou não ser apresentado ao clã era o seu chefe e não um estrangeiro qualquer.
Uma vez mais, Erem ergueu as mãos a pedir silêncio. Reafirmou que a ideia tinha interesse e iria ser discutida com ele mais em pormenor… via muitas possibilidades para essas “casas grandes” nomeadamente para um melhor armazenamento dos víveres do clã, em vez de estarem distribuídos por várias pequenas casas. O problema que os trouxe ali, no entanto, continuava sem sugestões de resolução, mas também nesse tema Alim alegava ter algo a sugerir e o chefe fez-lhe sinal para que continuasse, enquanto Lemi exigia silêncio às vozes discordantes.
A sugestão do homem ia no sentido de se iniciar uma atividade por demais conhecida por ele e o seu grupo: o comércio; tinham pouca comida, mas havia peles e ossos trabalhados, alguns tecidos, ou mesmo um, ou outro animal. Visitariam as aldeias em redor e fariam trocas por outros itens mais vantajosos e comida. Asil poderia dar algumas das estatuetas que esculpia, Enis os tecidos que produzia, até mesmo algumas das mezinhas de Nehir se podiam tocar.
Uma vez mais, Naci fez-se ouvir acima dos outros alegando que ninguém no seu juízo perfeito trocaria comida em pleno inverno, o outro, porém, tinha a resposta na ponta da língua; lembrou terem peles curtidas e arranjadas e que haveria quem trocasse animais vivos por elas, que consomem muito tempo e necessitam habilidade para ficar prontas.
Mas Alim tinha mais uma surpresa; aproveitando ter deixado o seu oponente sem resposta, informou ter um presente para o chefe da tribo, enquanto se aproximava e ofertava Erem com um objeto comprido, quase do seu tamanho, enrolado em pele.
Erem desenrolou rapidamente o objeto, revelando ser um elegante arco recurvado, totalmente diferente daqueles grosseiros que quase não utilizavam devido ao pouco alcance e força obtidos. Observou cuidadosamente a obra, perante os olhares admirados da assistência e apreciou como era composto por osso, madeira e couro endurecido, formando um elemento só mantido sob tensão por uma corda de tendão. O estrangeiro sorriu-lhe e explicou, enquanto lhe entregava uma seta, que levou muito tempo a fazer aquele trabalho, porque a cola utilizada precisava secar por muitos dias. Também a seta era habilmente trabalhada, resultando numa haste direita, lisa, com algumas penas na parte de trás e uma reluzente ponta de cobre.
A assistência abriu um caminho, sem que fosse preciso pedir, assim que o chefe em gestos lentos preparou-se para disparar a elegante arma.
Erem apreciou a tensão obtida no arco e esticou o máximo que pode, sempre pronto para ouvir o conhecido estalo que significava a destruição por esforço do utensílio. Não conseguiu, porém, que o objeto se partisse; estava já a ficar sem força para esticar muito mais quando soltou a corda e um velocíssimo projétil voou com um silvo pelo espaço aberto pela comunidade, desaparecendo de vista depois das últimas casas da aldeia. Algumas crianças saíram a correr a persegui-lo, apesar dos gritos de dissuasão das mães, para que não se afastassem, pois começava a escurecer.
Um clamor de espanto e admiração ecoou por toda a assistência, enquanto falavam entusiasticamente uns com os outros. Aquela era uma arma fantástica; poderiam caçar animais de distâncias maiores, antes que eles se apercebessem nem sequer da sua presença. Entre a alegria e excitação, ninguém se apercebeu do olhar rancoroso de Naci, que abandonou a reunião logo seguido por Fikri.
As novas ideias eram bem recebidas pelo chefe do clã e pela maior parte dos seus elementos, ajudava a isso a presença de estrangeiros das outras aldeias, que começava a ser frequente, fruto da admiração pela construção do santuário. Começavam a ser encarados com alguma naturalidade os grupos que vinham ajudar na construção por um ou dois dias, trazer oferendas ou simplesmente rezar aos deuses. Alguns fixavam-se em tendas nos arredores, com autorização do chefe, embora com o aviso de que teriam de respeitar as determinações do chefe, não teriam a palavra nas reuniões do clã, nem teriam acesso à distribuição de alimentos que era feita aos doentes, velhos e órfãos. Mas mesmo assim, isso representava uma ofensa para Naci e um reduzido rol de descontentes que desprezavam os estrangeiros e os seus conhecimentos.
As sugestões de comércio de Alim produziram o resultado necessário e poucos dias após partir com mais três homens e dois trenós carregados de bens, ele regressou com várias cabras, ovelhas e cereal. Ficou muito feliz ao deparar com a construção de um grande edifício a decorrer no extremo do casario. O progresso chegara a Barinak, que quer dizer santuário, o nome pelo qual começava a ser conhecida a aldeia nas redondezas.
O inverno estava no seu pico. A neve depositava-se sobre neve tornando as deslocações difíceis, alguns dos estrangeiros que visitavam o santuário, procuravam Asil pelas suas estatuetas em madeira que trocavam por objetos decorativos e até já havia encomendas para objetos de maior tamanho que seriam pagos com algumas cabras ou mesmo meio javali. Alguns queixavam-se de serem atacados e roubados no caminho para Barinak, outros diziam ter conhecimento da morte de um ou outro “peregrino”. Além de penosas, as viagens tornavam-se perigosas.
O Clã do Leão das Montanhas florescia em pleno inverno, quando a maioria apenas sobrevivia, mas os velhos inimigos não dormem. Uma noite, envolvido na escuridão, um estranho bando invadiu a aldeia e matou dois dos estrangeiros que residiam nos arredores, feriu com gravidade uma mulher do clã e roubaram toda a carne pendurada a secar. Entraram numa das casas onde estava armazenado cereal e levaram o que puderam, espalhando e espezinhando o restante pelo chão. Os homens-macaco haviam chegado.

Manuel Amaro Mendonça
nasceu em Janeiro de 1965, na cidade de São Mamede de Infesta, concelho de Matosinhos, a "Terra de Horizonte e Mar".
É autor dos livros "Terras de Xisto e Outras Histórias" (Agosto 2015), "Lágrimas no Rio" (Abril 2016), "Daqueles Além Marão" (Abril 2017) e "Entre o Preto e o Branco" (2020), todos editados pela CreateSpace e distribuídos pela Amazon.
Foi reconhecido em quatro concursos de escrita e os seus textos já foram selecionados para duas dezenas de antologias de contos, de diversas editoras.
Outros trabalhos estão em projeto e sairão em breve. Siga as últimas novidades AQUI.

Norte de Portugal e Galiza avançam com cluster turístico transfronteiriço

 Apresentação dos resultados do projeto «Facendo Caminho» para desenvolvimento e promoção dos Caminhos de Santiago na euro-região. Aprofundada cooperação para dinamizar Caminhos de Santiago.


Um destino dois países. É sob este lema que o Norte de Portugal e a Região da Galiza pretendem aprofundar relações em torno do turismo, estando em desenvolvimento a criação de um cluster que potencie todos os recursos culturais, patrimoniais e paisagísticos dos dois lados da fronteira.

A revelação foi feita por Luís Pedro Martins, presidente do Turismo do Porto e Norte, durante a sessão de apresentação dos resultados do projeto «Facendo Caminho», lançado em dezembro de 2019 e tendente a desenvolver uma estratégia para a estruturação, proteção e valorização das rotas portuguesas dos Caminhos de Santiago.

O sucesso da iniciativa levou à decisão de todas as instituições envolvidas (Turismo do Porto e Norte de Portugal, Direção Regional da Cultura do Norte, Turismo da Galiza e AECT Galiza/Norte de Portugal) a apresentar nova candidatura no sentido de estender o projeto, e executar um «Facendo Caminho II». Com o objetivo de desenvolver ainda mais o potencial turístico dos Caminhos de Santiago e todas as mais-valias socioeconómicas e de coesão territorial que este produto turístico estratégico significa para as populações e economias locais.

“A grande novidade é que pretendemos fazer promoção externa conjunta, pois existe uma grande vontade de cooperar em torno da dinamização dos Caminhos de Santiago, que são prioridade absoluta”, garante Luís Pedro Martins.

Durante os três anos de execução do programa, que conheceram constrangimentos por força do período pandémico, foi possível uniformizar informação que se encontrava difusa, participação conjunta em feiras internacionais, disponibilizar mais informação digital e desenvolver estudos para melhor traçar o perfil do visitante e aquilo que este mais procura na sua experiência enquanto peregrino.

Os dois caminhos portugueses certificados, o Central/Primitivo e o da Costa, foram percorridos em 2022 por quase 125 mil pessoas, gerando um volume de receitas estimado em 16 milhões de euros, representando 38% do total do número de peregrinos.

Do lado da Galiza esteve presente na cerimónia Ildefonso de La Campa, da Axencia de Turismo da Galiza, que lembrou todo o potencial que ainda está por desenvolver neste segmento turístico, lembrando “os oito patrimónios mundiais existentes na euro-região” e o sucesso do projeto na promoção dos caminhos portugueses, “aqueles que mais cresceram no último ano com o trabalho de mapeamento, proteção e valorização que foi feito”.

Laura Castro, diretora regional de Cultura do Norte, congratulou-se com o trabalho desenvolvido e com os estudos agora realizados, ressalvando que há ainda informação que é preciso compilar. “Há uma vertente de espiritualidade muito presente em quem faz os Caminhos de Santiago, mas são cada vez mais os que o fazem sem motivações religiosas, só para conhecer o património cultural”, sublinha a responsável.

O diretor do Agrupamento Europeu de Cooperação Territorial da Euro-Região Galiza Norte de Portugal, Nuno Almeida, enfatizou o sucesso do projeto na consolidação e melhoria infraestrutural e na sinalização das rotas de peregrinação.

Desde dezembro de 2019 foi possível ainda trabalhar conjuntamente nos processos de certificação, melhorar a capacidade daqueles que integram a cadeia de valor, monitorizar o impacto dos fluxos turísticos na economia, instituir um manual de boas práticas e reforçar as questões relacionadas com a segurança dos peregrinos.

A sessão foi encerrada pelo Presidente da CCDRN, António Cunha, dirigindo um elogio a todas as entidades envolvidas no projeto e reforçando que o caminho com a Galiza é mesmo o da cooperação. Destacou a importância que o turismo pode neste desígnio, quer seja através dos Caminhos de Santiago, do Enoturismo ou dos Patrimónios Unesco.

IVA zero sem impacto e receio de perda de consumidores no azeite transmontano

 O setor do azeite em Trás-os-Montes considera que o impacto do IVA zero será nulo neste produto e nos receios para a produção da perda de consumidores devido à crise dos preços.


O cenário foi descrido hoje à Lusa por Artur Aragão, produtor de azeite e vice-presidente da Associação de Olivicultores de Trás-os-Montes e Alto Douro (AOTAD), que não antevê uma redução do preço deste produto tão depressa, devido à soma de vários fatores.

O azeite é dos produtos que mais peso económico tem na região transmontana, a segunda maior produtora portuguesa depois do Alentejo, e a organização representativa do setor teme “tempos difíceis” com a quebra na produção causada pela seca, o aumento dos custos de produção e a redução de consumidores devido à crise dos preços.

O azeite consta no cabaz de 44 bens alimentares essenciais que beneficiarão da medida IVA a 0% anunciada pelo Governo, que “não vai ter impacto nenhum”, na opinião do vice-presidente da AOTAD.

“Estamos a falar, num preço/litro de cinco a seis euros, em 30 cêntimos por litro o que não é significativo”, concretizou, antecipando que o preço do azeite continuará alto.

Segundo esclareceu, a redução do imposto não anulará os impactos do mau ano agrícola, com quebras na produção de azeite na ordem dos “70%” devido à seca, “o que faz com que o preço se tenha elevado”, segundo disse.

“O azeite é pouco, prevê-se que em setembro já não haja azeite para vender, não havendo azeite para vender o consumidor também não tem como comprar, então os preços acabam por aumentar mais ainda”, apontou.

O preço está a gerar outra preocupação no setor, já que, “a partir do mês de dezembro e, nomeadamente, janeiro notou-se uma quebra no consumo bastante grande”.

“Nas grandes redes aponta-se para uma quebra na faixa dos 40%”, concretizou.

Este ano, os produtores receberam mais pelo azeite, seis euros contra os três do ano anterior, mas, como realçou, o aumento não compensou devido à quebra de “70% na produção”.

“Vai ser um ano terrível. Há muita gente, este ano, que não recebe um único cêntimo, porque teve apenas azeite para consumo próprio”, afirmou.

Os maiores produtores, como a Casa Aragão de Alfândega da Fé, de que é proprietário, também sentem as consequências nos “contratos renegociados” para redução dos volumes, com clientes, nomeadamente na exportação.

“Tem havido entendimento entre as duas partes, nós não temos tanto para vender, mas eles também não querem comprar tanto como tínhamos acordado”, indicou.

Este produtor transformou este ano menos de metade (2,8 milhões) dos 6,3 milhões de quilos de azeitona transformados na campanha anterior.

O maior medo de Artur Aragão é “quanto tempo vão demorar a voltar, as pessoas que migraram do consumo do azeite para o consumo de outras gorduras”.

“Com o tempo vai-se tudo equilibrando e os preços vão voltar a cair, no entanto, eu temo que, com este aumento de preço do azeite, em que o consumidor não tenha capacidade financeira para adquirir azeite, depois fazer o retorno ao azeite vá demorar mais tempo”, referiu.

O vice-presidente da AOTAD não perspetiva, ainda que aumente a produção, que a próxima campanha possa trazer já boas notícias ao setor, para o qual defende água como prioridade, em termos de ajuda.

“O ano passado ficou nítido que o clima está a mudar e que é preciso fazer alguma coisa, nós não podemos continuar a ver a água ir para o mar , nós temos que reservar a água e saber utilizá-la e para isso é preciso investir em regadio e na formação do agricultor para utilização dessa própria água”, defendeu.

O que “devia ser feito também”, continuou “era baixar os combustíveis”, porque baixavam também os transportes e, consequentemente, o preço de “todos os produtos, não só aqueles que têm o IVA de 6%”.

A proposta de lei do Governo que isenta de IVA uma lista de produtos alimentares foi hoje enviada para a Assembleia da República, com o diploma a detalhar que a medida inclui legumes, carne e peixe nos estados fresco, refrigerado e congelado. Nas gorduras estão incluídos o azeite, óleos vegetais e manteiga.

HFI (ALYN/LT)//LIL
Lusa/fim

Município de Torre de Moncorvo promove mais uma edição dos Jogos Desportivos Concelhios

 Nesta edição são disputadas as modalidades de futsal, basquetebol, dominó, sueca, pesca desportiva, BTT, caminhada Rota das Belas Vistas Variante Lobo, jogos populares e ténis de mesa.


De 27 de março a 25 de abril, a Câmara Municipal de Torre de Moncorvo promove os Jogos Desportivos Concelhios.

Nesta edição são disputadas as modalidades de futsal, basquetebol, dominó, sueca, pesca desportiva, BTT, caminhada Rota das Belas Vistas Variante Lobo, jogos populares e ténis de mesa.

Os Jogos Desportivos Concelhios iniciam com o torneio de futsal, no dia 28 de março, que conta com a inscrição de oito associações nomeadamente, Associação Cultural, Desportiva e Recreativa de Carviçais, Sporting Clube de Moncorvo, Grupo Desportivo de Moncorvo, Grupo Desportivo do Peredo dos Castelhanos, Associação de Mordomia de Nossa Senhora do Amparo, Associação de Amigos de Sequeiros, GNR e Juvecolina Clube.

Esta iniciativa decorre, anualmente, durante o mês de abril e tem já muita tradição no concelho de Moncorvo, caracterizando-se pela forte participação dos munícipes e associações do concelho.

Homem espanhol detido por roubar idoso em Bragança

 Um homem, de 41 anos, de nacionalidade espanhola, foi detido, ontem, por suspeita da prática de um crime de roubo na via pública, com recurso à força física, ocorrido no passado sábado, em Bragança

O homem terá seguido e abordado a vítima, um homem, 76 anos, após este ter levantado dinheiro numa caixa multibanco, exigindo-lho. Depois ter-lhe-á retirado violentamente a carteira do bolso do casaco, projectando a vítima para o chão e fugiu num carro.

Segundo esclareceu a PSP, o homem é conhecido pela prática de diversos ilícitos, normalmente associados a crimes contra a propriedade, sendo que também foi indiciado, pela prática de um crime de furto em estabelecimento comercial, ontem, em Bragança.

Em Espanha, onde reside alternadamente com Portugal, já terá cumprido pena de prisão.

O detido será presente a tribunal para aplicação das medidas de coacção.

Escrito por Brigantia