sexta-feira, 1 de julho de 2011

...quase poema...ou do amor

Por: Fernando Calado
(colaborador do Memórias...e outras coisas...)

... Gostava de falar do amor como antigamente!
É sempre assim…no meu tempo todas as coisas sabiam a pão quente acabado de cozer…as fomes eram outras!
- A menina dança?!
- Qual é a sua graça?!
- Maria da Graça!
…o coração batia ao compasso dum Corridinho…o Tango apertava as mãos no desejo do beijo, o “Paso-Doble” trazia sangue, paixão e lágrimas dos lados de Espanha no calor da bravura dos touros mortos ao “meio dia em ponto…”enquanto Nelson Ned amorosamente deixava o recado que faltava na urgência do amor: “O que é que você vai fazer domingo à tarde, pois eu quero convidar você prá sair comigo, passear por aí numa rua qualquer da cidade, vou dizer pra você tanta coisa que a ninguém eu digo.” - Donde és!
- Posso escrever-te uma carta!…
(Cartas como campos de trigo e hortas de linho.)
…podes!
O terreiro ficou vermelho…talvez fosse do pôr do sol, ou das cores do rosto trigueiro da bailadeira.
- Queres namorar comigo?
Os olhos ficaram assustados como pássaros voando baixo num céu desconhecido e azul…sempre azul!...
…o que ela disse?!
…não sabemos!
Ninguém sabe!
…O carteiro começou a chegar todos os dias à hora da soalheira:
…espero que esta minha carta te vá encontrar de boa saúde…
O que mais diria a carta?
Não sabemos!…
O amor não se diz!
Sente-se sem palavras…ou nas palavras que ficam por dizer à beira da surpresa.

Fernando Calado
nasceu em 1951, em Milhão, Bragança. É licenciado em Filosofia pela Universidade do Porto e foi professor de Filosofia na Escola Secundária Abade de Baçal em Bragança. Curriculares do doutoramento na Universidade de Valladolid. Foi ainda professor na Escola Superior de Saúde de Bragança e no Instituto Jean Piaget de Macedo de Cavaleiros. Exerceu os cargos de Delegado dos Assuntos Consulares, Coordenador do Centro da Área Educativa e de Diretor do Centro de Formação Profissional do IEFP em Bragança. 
Publicou com assiduidade artigos de opinião e literários em vários Jornais. Foi diretor da revista cultural e etnográfica “Amigos de Bragança”.

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