terça-feira, 31 de agosto de 2021

Turma do 7º ano do Liceu Nacional de Bragança, ano 1975.

 


AUSÊNCIA

Por: Maria da Conceição Marques
(colaboradora do "Memórias...e outras coisas...")

A porta estava aberta, a casa perfumada, no quarto havia rosas e eu esperava.
Como poderia eu saber o que me aguardava?
Como poderia eu adivinhar que por traz do beijo apressado, se escondia a indiferença á minha saudade. A alma de casa estremeceu, e o peito foi inundado com ondas de incredibilidade. Nos meus olhos estavam pregados pedaços de ti.
Os teus lábios em vez de amor, mostravam pressa, pressa de ir, pressa de sair, pressa de partir.
O coração escondeu-se em parte incerta do corpo.
As lágrimas dos olhos angustiados, fizeram-se gritos abafados. 
Partiste
Hoje não me identifico na pele que me cobre. No sangue que me corre nas veias, na carne da minha carne. Penso que morri de corpo e alma.
Aguardo na margem serena da vida que este Agosto demasiado longo, passe.


Maria da Conceição Marques
, natural e residente em Bragança.
Desde cedo comecei a escrever, mas o lugar de esposa e mãe ocupou a minha vida.
Os meus manuscritos ao longo de muitos anos, foram-se perdendo no tempo, entre várias circunstâncias da vida e algumas mudanças de habitação.

CONJECTURAS À SOMBRA DA PANDEMIA DE COVID 19

Por: Antônio Carlos Affonso dos Santos – ACAS
São Paulo (Brasil)
(colaborador do Memórias...e outras coisas)

1/5

Mesmo nas piores circunstâncias e privações o Ser Humano possui uma capacidade de adaptação   Covid 19 que se interpuseram no seu caminho. Mas, em tempo de normalidade, tende a pensar que a última já se foi e que a vida é apenas o "dolce fare niente" e “uma festa sem fim”, cuja realidade é uma utopia. Parece-me que o momento atual é algo inédito, muito sério e imprevisível.

Atualmente estou aposentado e condicionado a viver de parcos recursos. A inflação voltou, e muitos se têm locupletado nesse momento, onde os quarentemados pouco podem regatear. Tento aproveitar o tempo ocioso da forma que mais me apraz; lendo os meus livros, ouvindo a minha música, escrevendo as minhas crónicas, poesias e contos ou pesquisando, ora um assunto, ora outro, às vezes quatro ou cinco concomitantemente. Percebo que quanto mais adquiro conhecimento, mais sinto a falta dele. Mas, é impossível viver setenta anos durante uma pandemia que, espero, não passe de um ou dois anos; no máximo! O Saber me ocupa a cabeça e o coração. À procura da razão do meu “existir”, tento ocupar meu tempo em sintonia com aquilo que desde muito novo desejei para mim, quando o trabalho deixasse de ser a coisa mais importante da minha vida.

Assim passei a dar atenção ao raiar da Aurora e ao Por do Sol, a tentar reconhecer quais são os pássaros que cantam no bosque aqui ao lado de onde moro. Também dou agora maior importância  à previsão meteorológica, da "media" e dos telejornais.

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B

Antes da pandemia, no início de 2020, eu estava quase contente com o meu fado; eu era apenas um aposentado que queria trabalhar para manter o ”status quo” de quem nada falta em casa. Em verdade, o ”quase contente” não deve ser levado em muita conta, pois o dinheiro que arrecado no mês sequer dá conta do condomínio e dos dois planos de assistência médica que temos. Pouco fica para o combustível do carro, uma ou outra fugidinha para comer num almoço num ”self service” localizado algo distante, à beira de uma rodovia estadual. Luxos tão simples; mordomia diminuta que, depois de um ano de quarentena, sinto-a como se fora o ápice de uma vida perfeita. Nos tempos anteriores, podiam-se abraçar as pessoas, bater-lhes nas costas, falar próximo, discutir um pouco de economia, ciência, literatura, política e de futebol, coisas banais, que agora se tornam alvos de recorrência futura. Eis que então, desaba sobre nós e sobre este mundo (pobre mundo), algo que é definido por um vocábulo quase desconhecido que dá pelo nome de Pandemia. E de repente a minha caminhada serena sofreu um percalço que pôs tudo em estado de sítio.

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C

Há mais de um ano que a abertura dos noticiários da TV ou das emissoras de Rádio, bem assim como os títulos dos jornais se faz invariavelmente com algo que passou a ser o assunto tão falado e de tal abrangência que todo o mundo desde os países mais pobres aos mais poderosos, lhe estão submetidos. E eu passei de um estado de quase Felicidade, só agora sei, para outro de Inconformismo e Angústia. Tornei-me mais ansioso; infinitamente mais... . 

Não fará sentido eu repetir o que, de tão recorrente e de todos conhecido; o ritual da informação de casos vários de Hospitais e Lares de Idosos que fazem lembrar cenas que o próprio Dante Alighieri teria dificuldade em descrever no “Inferno” da sua Divina Comédia. O caminho que era liso e que serpenteava pelo prado em Flor, onde dava prazer sentir a Natureza passou de idílico a tenebroso. Os livros trazem-me palavras ao acaso e o que dizem para mim deixou de fazer sentido, a música é agora cansativa e impertinente e a gente vagueia com os olhos sonolentos, vendo o mundo lá fora; onde casais mais jovens e seus pequenos filhos, transitam sem máscara e sem medo, pelas alamedas do condomínio: “São Paulo é uma festa”, diriam (ou pensam) eles; parece que nos estão ensinando,  enquanto nós, os idosos, nos abstemos de falar com vizinhos, entregadores ou funcionários do condomínio; e quando o fazemos, nos vestimos de astronautas; de máscara chapéu, óculos e camisa de manga comprida; nos tornamos algo que não somos; criaturas frias, desconfiadas,  estranhas  e irreconhecíveis! Somos um grupo de gente desconhecida, até para os parentes e os mais chegados, havendo casos de rejeição por falta de diálogo, posto que as máscaras impedem que nos comuniquemos, tornando-nos fantasmas vagabundos.

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D

Os políticos nunca foram um exemplo, mas agora estão também assustados e não dizem “coisa com coisa”. Pudera, a Economia está afundando e seus privilégios podem erodir-se. Talvez, por isso mesmo, travam batalhas sem quartel com inimigos políticos, visando desencorajá-los de disputar a próxima eleição maior, que será levada a efeito em 2022. Todos dizem saber mais e fazer melhor que aqueles que estão no poder; enquanto isso, meia dúzia de variantes do Covid-19 são criados diariamente no Brasil e em outras partes do mundo, do nada! E assim, continua  matando e contaminando mais intensamente e com velocidade cada vez maior, aqueles que se dedicam aos serviços essenciais, aqueles que fazem questão de participar de festas particulares em grandes aglomerações, e ainda pelos valorosos profissionais da saúde, que se dedicam, incansavelmente, todos os dias, a prosseguir, ainda que às cegas, a dar uma ajuda aos que sofrem; os entubados, os ”sem ar”, aqueles que sentem dores terríveis e aqueles que clamam aos enfermeiros e médicos, que passem recados aos seus filhos e esposa(o)s, dizendo que os ama. Sei da dureza que deve ser a vida dos profissionais de saúde em tal momento! No Brasil existe um documento, emitido pelo Ministério da Saúde, cuja edição que consultei era datada de 2014, tendo como  título “Plano de Respostas Emergenciais de Saúde Pública”, onde em seu parágrafo 5.3.2 reza que,...” durante uma atuação prolongada, deve haver procedimentos de rotina que permitam descanso conveniente às equipes de saúde, para manter a qualidade da atuação”. Obviamente o MS não tem levado à risca sua própria recomendação; ainda que essa pandemia tenha sido inesperada.

Continuam nos seus postos, os Médicos, Enfermeiros, Fisioterapeutas, Pessoal da Limpeza e o Pessoal Técnico; que têm travado um duelo de vida ou morte que nós vagamente reconhecemos. Somos uns mal-agradecidos. Deveríamos tecer mais loas a eles!

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E

Estamos em compasso de espera para tomar as duas doses de vacina que, se não nos torna imunes, tem o condão de nos fazer acreditar que o pior já passou; mesmo sem saber se passou mesmo! Dependemos, e muito, dos cientistas que puseram em marcha todas as pesquisas para se evitar a contaminação da Humanidade. Será que o vírus surgiu a partir de um descuido de um desses, ou será que foi a própria Natureza que procedeu arranjos nas peças, avarias pelo Homem, nas sua máquina Suprema? 

Seja o que for, estou (creio que todos estamos) farto da Pandemia. Urge vacinar rapidamente a população mundial e criar condições econômicas para que aqueles que não morreram da Covid, morram de fome ou de loucura. Pensar isso parece utopia, mas a mim já estragou alguns dias. 

Os Livros, aos poucos,  deixam de me encantarem, a Música soa à barulheira e o Sol, a  Lua e a Chuva, deixaram de me seduzir. Agora, minha paixão é ouvir o canto dos pássaros. Às vezes pressinto que eles sabem pelo que estamos passando; e nos aliviam da única forma que conhecem!

No telejornal, o entrevistado infectologista disse, agora, que o governo talvez tenha que declarar o Estado de Emergência, já que os números atingem cifras elevadíssimas. O Brasil agora é o país em que mais morrem vítimas da Covid 19 em todo o mundo. Os Ministros da Saúde vão se sucedendo, o presidente sente-se amarrado pelo STF, os governadores não se entendem muito com os prefeitos: e assim ”la nave vá”! É tempo de mudarmos de paradigma, mas parece-me que não teremos tal discernimento, pois quem manda no mundo quer que seja assim; e as lições que Deus nos dá, entram-lhes por um ouvido e saem-lhes pelo outro. Esta é uma crônica que rasgou meu peito e passou pelos dedos e pelo teclado. Foi impossível segurar! 

Quanto tempo poderá durar esta incerteza, este destruir da Humanidade que espera ansiosa pelos dias felizes de um passado recente que nos permitia andar de cara destapada e reconhecer as gentes que falavam sem panos na boca?

Antônio Carlos Affonso dos Santos – ACAS. É natural de Cravinhos-SP. É Físico, poeta e contista. Tem textos publicados em 9 livros, sendo 4 “solos e entre eles, o Pequeno Dicionário de Caipirês e o livro infantil “A Sementinha” além de quatro outros publicados em antologias junto a outros escritores.

D.E.P. Professor Maximino Alves


"Pare, escute e olhe" a aposta que a CP está a fazer nos comboios históricos

Tal como prometemos em julho, cá estamos de regresso aos carris para uma segunda temporada das crónicas "Próxima Estação". A volta pelos caminhos de ferro nacionais fez-se, numa primeira fase, pelas linhas da Beira Alta, Beira Baixa, Leste, Sul, Alentejo, Algarve e Oeste.


Nesta segunda etapa, voltamos a pegar nos bilhetes e a embarcar mais a Norte, pelas linhas do Vouga, Minho, Douro, Norte, Braga e Guimarães. Aqui, tal como fizemos a Sul, inevitavelmente falaremos das centenas de quilómetros de vias desativadas. Não só perderemos o olhar na imensidão do Douro Património Mundial, que é possível apreciar embarcando no histórico comboio Miradouro (do qual falaremos atempadamente) como também recordaremos as quatro vias que do Douro ramificavam e que estão, toda elas, extintas: Tâmega (até Arco de Baúlhe), Corgo (até Chaves), Tua (até Bragança) e Sabor (até Miranda-Duas Igrejas). Assim estão: extintas, umas abandonadas, com património a ruir, outras "afogadas". Em 1968, Portugal tinha uma extensão de 3.592km de linhas de comboio. O país encolheu mais de mil quilómetros de ferrovia, em 52 anos.

Ao contrário da Suíça, que manteve as suas linhas de via estreita, com comboios a rolar a 90km/h, serpenteando montanhas, atravessando desfiladeiros, rompendo túneis e chegando a altitudes que ultrapassam os 2500 metros, Portugal fechou aquelas que, em termos de paisagem e de atração turística, seriam "a galinha dos ovos de ouro". Fechou-as, justificando o encerramento com a falta de segurança, a pouca rentabilidade devido à baixa procura e as baixas velocidades atingidas. Vamos ao exemplo do Tua, na primeira parte que fechou a 17 de dezembro de 1991, entre Mirandela e Bragança. A história que conheço melhor, devido aos oito anos que trabalhei como jornalista na Rádio Onda Livre, em Macedo de Cavaleiros. Aqui, em Macedo, neste mesmo dia, foi retirado todo o material circulante que existia na estação local. Nesta linha, a do Tua, não houve qualquer investimento de fundo na manutenção desde a sua abertura em 1887 (Tua-Mirandela) e 1906 (Mirandela - Bragança). Este desleixo é a justificação para que os comboios, em alguns troços, não pudessem andar a mais do que uns meros 20 a 25km/h. Quando fechou (Mirandela-Bragança), utilizavam esta ferrovia, por ano, meio milhão de passageiros, não esquecendo que também ainda era utilizada para o transporte de mercadorias.

Quando cheguei a Trás-os-Montes para trabalhar, em 2005, apenas havia comboios entre Mirandela e a estação do Tua, assegurados pela Metro Ligeiro de Mirandela. Em 2007, noticiei aos microfones da Onda Livre o descarrilamento de uma das automotoras, que vitimou mortalmente uma pessoa e feriu cerca de 4 dezenas de pessoas. Não ia vazia, pelo contrário. Mas o desinvestimento na manutenção da via, um segundo descarrilamento que se seguiu passado pouco tempo, era sinal de que estava ditado, mais cedo ou mais tarde, o seu fim.

O potencial turístico dos comboios históricos está a fazer com que voltem aos carris um pouco por toda a Europa este tipo de composições. Portugal está a acompanhar esta aposta e a CP criou uma equipa de reparação de comboios históricos, para assegurar material circulante. É possível fazer a viagem num comboio secular na linha do Douro e em parte do que sobre da linha estreita do Vouga. Atrever-me-ia a dizer: a única linha estreita de comboio que tem resistido, contra tudo e contra todos... ou quase todos... ainda que desativada de Sernada até Viseu e parcialmente encerrada e com transbordo de táxi entre Sernada e Oliveira de Azeméis. Como é a linha que percorreremos amanhã, deixemos os pormenores para mais tarde. Por agora, a aposta da CP nos comboios históricos.

Há relativamente pouco tempo, os turistas que viajavam de comboio pelo Douro, além das tradicionais fotos à paisagem vinhateira, faziam das abandonadas carruagens napolitanas, de via estreita, na estação do Tua, o spot para umas "flashadas" à desgraça, abandono e desprezo em que estavam. O próprio José Carlos Barbosa, diretor de engenharia e manutenção da CP, falou em "vergonha e desleixo de passar no Tua e ver as carruagens assim vandalizadas, com vidros partidos". Na verdade, era esta a imagem que a CP transmitia não há assim tanto tempo e bem estaríamos nós se fosse apenas no Tua.

Atualmente, é possível fazer a viagem num comboio puxado por locomotiva a vapor na linha do Douro e em parte do que sobra da linha estreita do Vouga. Parece que a aposta no turismo ferroviário também se está a fazer por cá e, para isso, assegura José Carlos Barbosa, foi criada uma equipa para reparações, manutenção e melhoramentos, "porque o turismo ferroviário tem muito potencial em toda a Europa e aqui em Portugal ainda mais porque temos linhas fantásticas". E mais teríamos, se não tivessem sido desmantelados mais de mil quilómetros de ferrovia. Então de via estreita nem se fala... a tendência sempre foi construir linhas aproveitando os vales esculpidos pelos rios, por isso não nos faltavam paisagens bonitas para turista ver. Tivéssemos ainda as linhas de via estreita que mencionei acima e não chegava uma semana para percorrê-las e levar para fora de Portugal à velocidade de um click milhares de fotografias: a melhor publicidade que se pode fazer a um país!

Para além das carruagens napolitanas de via estreita, a CP deu nova vida às carruagens Schindler da década de 50, que vieram para a linha de Sintra e agora estão ao serviço no Douro. As janelas podem ser abertas, pouco comum nos comboios atualmente e oferecem condições ideais para apreciar a paisagem património mundial da Unesco. Assim espero fazê-lo por estes dias. Cabeça de fora, ao vento, de olhos postos na locomotiva que, a cada curva, se torna bem visível. Foi assim em 2001 quando fiz, pela primeira vez, a viagem Porto-Pocinho e espero, muito sinceramente, repeti-lo.

E o custo de voltarmos a ter comboios "com pinta" parece que é relativamente baixo, pelo menos assim assegura José Carlos Barbosa: "aquilo que fizemos foi começar a recuperar o material histórico abandonado, com custos baixos porque já tínhamos a mão-de-obra."

Esta equipa faz também recuperação de material histórico que pertence a algumas autarquias e dedica-se a estas manutenções quando abranda a carga de trabalho nas outras composições.

E a aposta neste "pacote" histórico parece começar a dar resultados. Os números indicam que "temos tido os comboios históricos do Douro e do Vouguinha esgotados e, no futuro, haverá uma mais-valia, pois muitos estrangeiros procuram a CP pelos comboios históricos que temos". Há até mesmo já um grupo de ingleses que quer fretar um comboio histórico para uma viagem exclusiva.

Atualmente, na linha do Vouga, devido às altas temperaturas e ao risco de incêndio com as locomotivas a vapor, tem havido outra solução. O recurso tem sido recorrer à locomotiva Alsthom de via estreita, igual àquelas que foram vendidas para Madagáscar. Além desta, só existem no país mais duas abandonadas em Guifões. Parece que a CP está a estudar a reparação de uma outra "para termos alguma redundância".

A ideia é boa, mas o trajeto é curto. O trajeto do comboio histórico da linha do Vouga só não é mais longo, porque outrora a ideia foi curta. O comboio histórico só vai de Aveiro a Sernada do Vouga. Daqui até Viseu a linha foi desativada em 1990 e em 2013 passou a ser impossível fazer de comboio o troço entre Sernada e Oliveira de Azeméis, por falta de condições de segurança da via. É pela linha do Vouga e pelo mítico "Vouguinha" que começamos esta nova temporada das crónicas, "Próxima Estação".

Miguel Midões

Trabalho sobre José Alberto Vergueiro vale menção honrosa a jovem com raízes no concelho

 Bernardo Sinfrósio Costa, de 13 anos, nasceu em Lisboa mas foi na terra natal de pais e avós, no concelho de Alfândega da Fé, que encontrou a inspiração para participar no Concurso História Militar e Juventude promovido pelo Instituto dos Pupilos do Exército, onde é aluno.


Este jovem, concorreu à 1º edição do concurso com o tema “A História Militar de Portugal na minha terra”. Nesta terra que também é sua, nasceu o protagonista do seu trabalho. O Capitão José Alberto Vergueiro, importante figura militar, nasceu na aldeia de Gebelim, a 8 de dezembro de 1851. A ele se deveram as modificações e inovações introduzidas na espingarda Mouser 98 que passaria a ficar conhecida como Mouser-Vergueiro.

No Concurso “História Militar e Juventude”, promovido pela Comissão Portuguesa de História Militar e pela Associação de Professores de História, com objetivo de desenvolver nos alunos o interesse pela História Militar de Portugal, Bernardo Sinfrósio Costa obteve uma menção honrosa.

O Município de Alfândega da Fé parabeniza o Bernardo pela honrosa distinção e louva a iniciativa e interesse deste jovem pela história do nosso concelho.

O trabalho pode ser visto AQUI.

Bragança é o distrito do país onde o gasóleo e a gasolina é mais caro

 Bragança é o distrito, a nível nacional, com os preços mais elevados de combustível
Segundo o mais recente boletim da Entidade Reguladora de Serviços Energéticos, são os preços mais caros do país, tanto em gasolina como gasóleo.

Por Bragança, os consumidores mostram-se conscientes da realidade e afirmam que se ficará a dever ao facto de haver pouca oferta.

“É o interior, a pouca oferta. Os combustíveis são mais caros aqui devido a estarmos no interior, mas são preços impraticáveis. Contribuem e muito pra a desertificação”, disse Lícino Castro.

 “Agora gasta-se muito mais. Passa quase do dobro. Antigamente um depósito de combustível enchia-se com 40 euros, agora para encher são para aí 60”, afirmou Nuno Correia.

Olhando para os preços praticados noutras regiões do país, os brigantinos lamentam que no distrito se pague mais pelo combustível. Contudo também veem com bastante desagrado que Portugal tenha preços muito superiores a outros países, onde os ordenados são maiores.

“Há muita diferença e, por isso, vamos a Espanha. É uma diferença de 40 cêntimos por litro. Infelizmente temos que ir dar dinheiro aos espanhóis em vez de ficar cá, mas tem que ser assim, não temos outra hipótese. Mesmo o gás de botija é uma diferença enorme”, referiu Amílcar Pires.

Os hipermercados mantêm as ofertas mais competitivas nos combustíveis rodoviários, seguidos pelos operadores do segmento “low cost”, indica ainda a Entidade Reguladora de Serviços Energéticos.

No mês de Julho, em Bragança, o litro da gasolina 95 custava, em média, um euro e 73 cêntimos. Já o preço do litro do gasóleo situava-se em um euro e cinquenta e três cêntimos.

Escrito por Brigantia
Jornalista: Carina Alves

Pintura e desenhos de utentes dos Santos Mártires expressam sentimento de estar longe da família na pandemia

 É nos claustros da igreja da antiga Sé de Bragança que agora se pode conhecer um pouco mais do que foi a o dia-a-dia de quem não pôde estar perto dos amigos e familiares durante o período de confinamento
A exposição “De Dentro Para Fora” dá a conhecer um pouco mais sobre a história dos utentes do lar residencial da Academia dos Santos Mártires, instituição que presta apoio as pessoas com deficiência.

Para tornar os dias mais leves, os utentes recriaram vários quadros de artistas de renome, assim como exprimiram, através de desenhos, o sentimento que lhes trazia a nova realidade.

“Foi engraçado. Era uma maneira de uma pessoa se distrair, como estávamos ali fechados, e para nos entretermos”, disse um utente.

O lar residencial acolhe 37 utentes. A média de idades ronda os 40 anos, o que não significa que não haja espaço tanto para as crianças como para os mais velhos. Independentemente da idade, os períodos de confinamento foram difíceis de viver.

“Foi muito difícil, porque é difícil estarmos fechados e cá foram sempre estamos ao ar livre, com as pessoas que nós amamos, com os familiares”, referiu uma utente.

Segundo Teresa Silva, directora técnica na Academia dos Santos Mártires, os trabalhos foram uma forma de cultivar a esperança, acreditando num futuro livre da doença.

“O importante era manter a esperança e a alegria e isso foi a nossa preocupação, porque a instituição residencial é um espaço de vida, e apesar deste ambiente de doença, o importante foi manter o foco no futuro e mantê-los ocupados”, frisou a responsável.

Os desenhos são da autoria dos utentes da Academia dos Santos Mártires. Já a recriação fotográfica dos quadros é um trabalho que se alargou aos utentes da CERCIMAC, a Cooperativa de Educação e Reabilitação de Cidadãos Inadaptados, em Macedo de Cavaleiros.

A exposição pode ser vista gratuitamente e está patente, nos claustros da igreja da antiga Sé de Bragança, até ao dia 1 de Outubro.

Escrito por Brigantia
Jornalista: Carina Alves

Regulamento Municipal de Teleassistência a Idosos

 Encontra-se em Consulta Pública, pelo prazo de 30 dias a contar da publicação no Diário da República (16/08/2021), nos termos dos artigos 100.º e 101.º do Código de Procedimento Administrativo, o Projeto de Regulamento Municipal de Teleassistência a Idosos do Município de Alfândega da Fé.
Durante o referido período poderão os interessados consultar, no Gabinete Jurídico, nas horas normais de expediente ou aqui o mencionado projeto e sobre ele formular quaisquer sugestões, reclamações ou observações, as quais deverão ser dirigidas, por escrito, ao Presidente da Câmara Municipal, endereçadas ou entregues pessoalmente no edifício da Câmara Municipal de Alfândega da Fé, Largo D. Dinis, 5350-014, Alfândega da Fé ou remetidos via correio eletrónico para o seguinte endereço: gabinete.presidente@cm-alfandegadafe.pt , devendo os interessados colocar como “Assunto” o seguinte texto: “Apresentação de sugestões — Projeto de Regulamento Municipal de Teleassistência a Idosos do Município de Alfândega da Fé”.

XVII RAID IBÉRICO

segunda-feira, 30 de agosto de 2021

Clube de Leitores de Alfândega da Fé - Online - 26 agosto 2021 a 30 setembro 2021

 No nosso Clube de Leitores online deste mês, convidamos-vos a ouvirem a leitura de um excerto da obra “Contos de cães e maus lobos” de Valter Hugo Mãe. Leitura efetuada pela Professora Sílvia Lamas. Assista na nossa PÁGINA DO FACEBOOK.

A OBRA – CONTOS DE CÃES E MAUS LOBOS

A escrita encantatória de Valter Hugo Mãe chega ao conto como uma delicadíssima forma de inclusão. Estes contos são para todas as idades e são feitos de uma esperança profunda.

Entre a confiança e o receio, cães e lobos são apenas um símbolo para a ansiedade perante a vida e a fundamental aprendizagem de valores e da capacidade de amar. Entre a confiança e o receio estabelecemos as entregas e a prudência de que precisamos para construir a felicidade.

O AUTOR - VALTER HUGO MÃE

Valter Hugo Mãe é um dos mais destacados autores portugueses da atualidade. A sua obra está traduzida em variadíssimas línguas, merecendo um prestigiado acolhimento em países como o Brasil, a Alemanha, a Espanha, a França ou a Croácia. Publicou sete romances: Homens imprudentemente poéticos; A desumanização; O filho de mil homens; a máquina de fazer espanhóis (Grande Prémio Portugal Telecom Melhor Livro do Ano e Prémio Portugal Telecom Melhor Romance do Ano); o apocalipse dos trabalhadores; o remorso de baltazar serapião (Prémio Literário José Saramago) e o nosso reino. Escreveu alguns livros para todas as idades, entre os quais: Contos de cães e maus lobos, O paraíso são os outros, As mais belas coisas do mundo e Serei sempre o teu abrigo. A sua poesia encontra-se reunida no volume publicação da mortalidade. Publica a crónica Autobiografia Imaginária, no Jornal de Letras, e Cidadania Impura, na Notícias Magazine. Coordena ainda a coleção de poesia elogio da sombra. Contra mim é o seu último livro, o mais pessoal e intimista.

Raid Ibérico 2021 de 4 a 9 de setembro

 O Aeroclube de Bragança e a Fundacion Cielos de León retomam este ano, depois de uma paragem em 2020 devido à covid-19, o Raid Ibérico que há 18 anos junta portugueses e espanhóis, divulgou hoje a organização.


De 04 a 09 de setembro, 50 participantes com 27 aeronaves vão passar por diversas cidades portugueses e espanholas, com partida em León (Espanha) e escala nas cidades portuguesas de Bragança, Leiria e Lagos, e as últimas etapas nas cidades espanholas de Granada e Málaga.

O programa de seis dias contempla também atividades culturais em cada região por onde passam os pilotos amadores, como indicou à Lusa o presidente do Aeroclube de Bragança, Nuno Fernandes.

O dirigente destacou que este convívio aeronáutico “é sempre uma iniciativa de promoção dos dois países, com especial incidência na província de León e no distrito de Bragança, porque desses dois territórios são oriundos os aeroclubes responsáveis pela organização”.

“Este ano contamos também com a colaboração do Aero Clube de Leiria e o Aero Clube de Lagos, que nos apoiam na organização do programa social nessas zonas do país e nos recebem”, refere Nuno Fernandes.

Em cada local de paragem o grupo de 50 elementos tem programas sociais, que incluem visitas a locais de interesse cultural, paisagístico ou patrimonial, bem como experimentação da gastronomia característica do território visitado.

Os promotores garantem que “este evento, pela sua história e pela forma como tem decorrido ao longo dos anos, é muito concorrido” e este ano a organização teve de rejeitar inscrições já que, por questões de segurança e de logística, tem o limite de 50 participantes”.

ETAPAS
1º Dia - 4/09/2021 – Leon - chegada dos participantes
2º Dia - 5/09/2021 – Leon - Bragança
3º Dia - 6/09/2021 – Bragança - Leiria
4º Dia - 7/09/2021 – Leiria - Lagos
5º Dia - 8/09/2021 – Lagos - Granada
6º Dia - 9/09/2021 – Granada - Málaga

António Pereira

Formação em Micologia | Inscrições abertas

 O Município de Miranda do Douro, em colaboração com a CoraNE, pretende dinamizar duas Unidades de Formação de Curta Duração (UFCD), no âmbito da Micologia:

6358 - Produção de cogumelos silvestres (25h)
6369 - Colheita de cogumelos silvestres (25h)


Os cursos encontram-se aprovados e homologados, bem como os programas e respetivos regulamentos aos quais se aplica o regulamento de certificação de entidades formadoras, de homologação de ações de formação, de acompanhamento e de avaliação da aprendizagem definidos no Desp. nº 8857/2014, de 9 julho.

O regime das sessões será gerido de acordo com a evolução da pandemia Covid 19. Neste sentido, os participantes deverão possuir os recursos tecnológicos recomendados, nomeadamente, internet, computador ou tablet ou smartphone, devendo os mesmos estar apetrechados de sistema áudio e vídeo, tendo em conta que, algumas das sessões, poderão ser em regime online, se as restrições vigentes o exigirem.

Datas: a definir, a partir de finais de setembro

Formador: Engº Gonçalo Martins

Inscrições: Gabinete de Apoio ao Agricultor e Desenvolvimento Rural - GAADR, Cabanais do Castelo - Miranda do Douro ou através do envio da respetiva ficha de inscrição para o email: ecomicológico.miranda@cm-mdouro.pt

As inscrições são gratuitas, mas obrigatórias, até ao dia 20 de setembro de 2021

FICHA DE INSCRIÇÃO

Exposição de Valter Hugo Mãe na Casa da Cultura até 25 de outubro

 Um pouco depois da terra, muito antes da morte” é o nome da exposição de Valter Hugo Mãe que está patente na galeria de exposições da Casa da Cultura Mestre José Rodrigues em Alfândega da Fé até 25 de outubro.


Valter Hugo Mãe é escritor, artista plástico, editor e cantor. A versatilidade é marca indelével do seu trabalho literário e artístico. Detentor de vários prémios e reconhecimentos na escrita, onde se destaca o prémio literário José Saramago com a obra O Remorso de Baltazar Serapião, é na sua vertente de artista plástico que Valter Hugo Mãe se apresenta a solo na Casa da Cultura Mestre José Rodrigues, em Alfândega da Fé.

O fascínio do artista pelos domínios de Deus, fé, vida e morte, arte, levaram-no a apresentar a exposição composta por 21 obras inéditas, no ano em que comemora 25 de carreira e 50 de existência.

Para Valter Hugo Mãe, esta sacralização da arte é “um modo de medir nossa humildade, nosso temor e nossa pretensão”.

Recorde-se que Valter Hugo Mãe fez parte do coletivo de artistas da exposição da Bienal Internacional de Arte de Gaia, no polo de Alfândega da Fé. Mostra que deu lugar ao espólio singular deste artista.

A inauguração da exposição em Alfândega da Fé teve lugar a 26 de agosto e contou com a presença do autor Valter Hugo Mãe, do curador António Franchini, de Agostinho Santos, Diretor da Bienal Internacional de Arte de Gaia e coordenador do Projeto Onda Bienal , entre outras figuras de destaque do panorama artístico nacional.

Catálogo da exposição.

Programa Cidadãos Ativ@s | CONCURSOS 2021

 Serão lançados no dia 1 de setembro novos concursos do Programa Cidadãos Ativ@s para apoiar organizações da sociedade civil no desenvolvimento de projetos de intervenção social nos seguintes Eixos de Intervenção:

Eixo 1 – Fortalecer a cultura democrática e a consciência cívica
Eixo 2 – Apoiar e defender os direitos humanos
Eixo 3 – Empoderar os grupos vulneráveis
Eixo 4 – Reforçar a capacidade e sustentabilidade da sociedade civil


Os concursos têm uma dotação total de 1,85M€. As candidaturas estão abertas para projetos com um custo total apoiável entre 20 000€ e 75 000€ e duração até 20 meses.

Com vista a garantir o mais amplo acesso das organizações aos concursos, a Fundação Calouste Gulbenkian e a Fundação Bissaya Barreto têm o prazer de convidar Vª Exª para participar no Workshop Técnico de apoio à elaboração de candidaturas a realizar no dia 7 de setembro, Escola Superior de Tecnologia e Gestão, em Bragança.

O workshop visa auxiliar as ONG na preparação de candidaturas aos concursos do Programa, contando com apresentações sobre: os concursos de 2021 e suas especificidades; o mecanismo de apoio específico; o processo de candidatura, nomeadamente o preenchimento do formulário de candidatura; o processo de desenho de projetos de intervenção social. Haverá também espaço para esclarecimento de questões dos participantes.

A participação é gratuita, sendo necessária inscrição prévia.

FORMULÁRIO DE INSCRIÇÃO

Argozelo exibe exposições sobre os minerais

 O Centro Interpretativo das Minas de Argozelo inaugurou as exposições “O mundo dos minerais em selos” e “O micromundo dos minerais e das rochas”, exposições que poderão ser visitadas até ao final do ano.


A exposição “O mundo dos minerais em selos”, consiste numa coleção de selos com ilustrações de minerais.

Segundo Maria Elisa Preto Gomes, professora e diretora do departamento de Geologia da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), a ideia desta exposição foi do professor Frederico Borges que colocou os selos sobre uma folha de acrílico, desenhou manualmente as fórmulas dos minerais e escreveu os textos com tinta da china.

De acordo com a docente da UTAD, a exposição é um curso básico de mineralogia que responde às seguintes questões: O que é um mineral? Como se designa um mineral? O que é uma azurite? O que é o polimorfismo? – as respostas a estas perguntas podem ser conhecidas através da exposição.

Os visitantes também poderão conhecer a utilidade dos minerais. Minerais, para quê? Qual é a sua utilidade? Que minerais são utilizados no fabrico de uma mó? Uma telha? Hoje em dia, para que servem os minerais? Servem por exemplo, para fabricar as alianças de ouro ou prata dos casamentos. Mas também as medalhas de cobre. Ou as tão faladas baterias de lítio para os telemóveis. Outros fins dos minerais são a fabricação de talco. Do vidro e da cerâmica. E claro, para a construção civil, com os tijolos, as telhas, etc.

A exposição em selos ainda responde às questões: como se encontram os minerais? E como se identificam? Há propriedades que permitem identificar de que material se trata. E para esta identificação são necessários instrumentos, como a lupa, a bússola, martelo, etc..

A segunda exposição intitulada “O micromundo dos minerais e das rochas”, permite ver os minerais ao microscópio. E para quem não saiba, os minerais juntos formam rochas. Por isso, na exposição há amostras de vários tipos de rochas.

E também há microfotografias dessas rochas, que são obtidas através das observações ao microscópio. Nestas micorofotografias, há imagens pouco e muito coloridas. As mais coloridas permitem identificar os diferentes minerais que compõem cada rocha.

Inspirados por esta colorida composição das rochas, os técnicos da UTAD criaram telas e juntaram-lhes um poema de autores conhecidos, como Miguel Torga, Fernando Pessoa, etc.

Na inauguração das exposições dedicadas aos minerais, o presidente da Câmara Municipal de Vimioso, Jorge Fidalgo, elogiou a professora Maria Elisa Gomes pela sua paixão pela geologia e referiu mesmo que a docente tem sido uma das grandes impulsionadoras das visitas das escolas ao Centro Interpretativo das Minas de Argozelo.

Espera-se agora que as escolas do distrito tenham a oportunidade de visitar ao Centro Interpretativo das Minas de Argozelo e simultaneamente, conhecer as duas exposições temporárias, dedicadas aos minerais.

Reportagem RTP sobre o Projeto “LANÇAR A MANTA”

ONDA LIVRE TV – Encontro Marcado no Agroturismo Casal de Castro | Avantos

Município de Miranda do Douro cria Gabinete de Apoio ao Investidor da Diáspora (GAID)

 O Município de Miranda do Douro, associado ao Gabinete de Apoio ao Emigrante, criou o Gabinete de Apoio ao Investidor da Diáspora (GAID) www.pnaid.mne.gov.pt com o objetivo de valorizar as comunidades portuguesas promovendo o investimento da diáspora, bem como as exportações e a internacionalização das empresas nacionais através da diáspora.


O Gabinete de Apoio ao Emigrante (GAE) e o Investidor da Diáspora (GAID) são uma estrutura de apoio aos emigrantes residentes ou não em Portugal, bem como aos seus familiares, mediante a celebração de um Protocolo de Colaboração entre a Direção Geral dos Assuntos Consulares e Comunidades Portuguesa (DGACCP) e o Município de Miranda do Douro.

O GAID atua em estreita coordenação com a rede diplomática e consular, www.portaldascomunidades.mne.pt assumindo a qualidade de eixo funcional e interativo entre os agentes económicos e entidades e organismos do Estado que, em função da matéria e tutelas, se integram nesta intervenção.

No mesmo sentido, opera em rede com o Gabinete de Apoio ao Emigrante nas vertentes do empreendedorismo e da promoção das potencialidades económicas locais e do desenvolvimento regional.

Este Gabinete presta um serviço gratuito aos munícipes que estejam ou tenham estado emigrados, aos que estão em vias de regresso, aos que residem ainda no país de acolhimento e que pretendam investir no território português.

Contactos:
(Marcação obrigatória)
Email: gae@cm-mdouro.pt
Telefone: 273 43 00 20
Morada:
Edifício Antigo Pólo da UTAD
R. D. Dinis, s/n.º
5210-217 Miranda do Douro
Horário:
Segunda-Feira a Sexta-Feira
9.00h - 13.00h | 14.00h - 17.00h

Trindade Coelho: "Mãe"

Ao Dr. J.C. da Moita Prego

Bela cabra, a Ruça! — posso dizê-lo aos senhores. A melhor da manada, luzida, de pêlo macio, sem saliências de ossos como as outras, altiva de porte quando à frente do rebanho parecia comandá-lo, badalando cadencialmente o seu chocalho enorme — tlão! tlão! Era no rebanho a que mais dava que fazer ao pastor, requerendo vigilâncias particulares no seu atrevimento, pois que se a deixassem livre não havia árvore a que não trepasse, oliveira especialmente, nem rebento novo que não triturasse esfomeada no seu dente acerado de roedora.

E depois, ali onde a viam, estava cara só pelas coimas, que muitas vezes iludira ela a atenção do pastor, e se ficara por hortas e quintalórios, causando estragos que os louvados depois avaliavam caro. Por isso Alípio José, pastor, a quem doíam as denúncias, ao pescoço da Ruça prendera o chocalhão, para dar do atrevido animal mais fácil rumor, pois era de timbre muito distinto dos demais, e muito mais grave.

Em pastagens pelos montados, a Ruça era de uma audácia extrema. Fazia gosto vê-la trepar às  últimas cumeadas, subir destemidamente às  arestas superiores dos rochedos, muito serena, erecta nas suas pernas delgadas, pescoço alto, ajoelhando destemida a retoiçar as ervas dos declives alcantilados e escorregadios, não medindo perigos nem se importando com abismos, enquanto as companheiras se ficavam pelas encostas e córregos, saboreando as giestas, sem se atreverem a segui-la nas suas excursões arriscadas de touriste.

Se a miravam de baixo, sentia-se orgulhosa de superiores audácias, e então cabriolava em saltos funambulescos, de rochedo em rochedo ou de garganta em garganta, pouco se lhe dando de perigos. Cobra que encontrasse por essas paragens era para ela um desespero — tamanha a fúria com que a perseguia, e a insistência com que se ficava às  marradas na lura onde se lhe acoitava. O chocalho então badalava com força, e o Alípio que dormia à sombra das azinheiras, de chapéu sobre a cara, levantava-se sobre um cotovelo e intimava para o alto, com o seu vozeirão que fazia eco:

— Toma tento, Ruça!

E depois, de ventre para baixo, estirado sobre a manta, cotovelos fincados no chão, os queixos entre as mãos espalmadas, Alípio José ficava-se a olhar a cabra, invejoso daquela facilidade em subir aos últimos pináculos, admirado dos saltos que ela fazia para salvar gargantas pedregosas e perpendiculares, onde, se caísse, a morte seria infalível. E por lá andava dias inteiros a Ruça, naquela vagabundagem por sítios inacessíveis ao resto do rebanho, resguardando-se da chuva em recôncavos de rocha, onde as águias faziam ninho.

*****

Foi num desses sítios que a Ruça teve o primeiro filho, e por lá se deixou ficar, acho que dormindo ou toda a noite velando. Ao outro dia quis ela descer, e vir para o rebanho que a aguardava. Mais de cem vezes, fitando o topo da ladeira, Alípio José gritara cá debaixo, cada vez mais desesperado:

— Volta ao rebanho, Ruça!

E, cuidando que mais lhe feria assim a atenção, punha-se a agitar com fúria o molho dos chocalhos, gritando sem cessar:

— Ruça! torna ao rebanho, Ruça!

Mas impossível! que a não deixava a quebreira em que toda ela ficara do parto, nem o pequeno poderia — pobrezinho! — descer por tais ladeiras, de pedregosas e ásperas que eram.

Mas de noite o frio era intenso naquelas alturas, e o pequeno congelava unindo-se à mãe que o bafejava para o aquecer, e a si o aconchegava mais e mais para lhe transmitir o natural calor do seu corpo enfraquecido e doente.

Por altas horas da noite, na solidão lúgubre daquele sítio, alcantilado e íngreme, entre penedias escarpadas onde o vento sibilava lugubremente, num como choro dolente e prolongado, o balido da mãe, traduzindo angústias e desesperos íntimos, respondia ao vagido fraco do filhito, cuja vida parecia ir-se apagando de hora a hora e instante a instante, inteiriçando-se-lhe com o frio os membros delicados e tenros.

Eram assim as noitadas dos desgraçados. Por tais frios e doenças, impossível dormir. Toda a noite velavam e gemiam, achegando-se mais e mais num como abraço de eterna despedida — amigos que se iam apartar para uma longa viagem de trevas, com o coração alanceado pela saudade, soluçando e gemendo, num adeus! que era infinito, como o infinito amor que os unia...

E a cada momento, como um dobre de finados, o chocalho badalava lugubremente, assustando o animalzinho, como se aquele fora o sinal para o transe derradeiro...

Para maior desgraça, as noites eram sem lua. Encravadas na abóbada, as estrelas bocejavam dormentes, numa criminosa indiferença por aquela dor suprema de que eram as únicas testemunhas.

E balando muito, e balando sempre, a pobre cabra imprecava ao céu a vida do filho, ao menos, — ora súplice em balidos de resignação que uma profundíssima dor ungia, ora desvairada e louca, em gritos que significavam blasfêmias, blasfêmias de desespero contra o céu que a não ouvia, e contra a morte que bem sentia aproximar-se para lhe estrangular o filhinho que ela amava tanto.

E a fazer-lhe mais incruenta a sua enorme dor — a ironia acerba da chocalhada longínqua das companheiras, que se iam pelos montes da outra banda, deixando-a a ela sozinha com o filho, à espera da morte que era inevitável.

Então ergueu-se por instantes! Agitou convulsamente o pescoço, e pelo ar fora o som triste do chocalho espraiou-se lentamente, num adeus! adeus! de despedida às  companheiras felizes que lá iam, num ruído longínquo de chocalhos...

*****

Naquela solidão os dias eram melhores. Com os primeiros raios do sol entravam de reanimar-se os dois; pouco a pouco os membros desentorpeciam e o sangue circulava.

E o cabritinho sem poder ainda descer!...

De pé, ao lado do filho, a pobre cabra lançava olhos compungidos para as escarpas da ladeira, ia para um lado e outro, desvairada e trêmula, como que a escolher o melhor caminho por onde levasse o filho. Mas eram todas horríveis! Silvedos e rocha viva era o que mais se via. E depois o rio, lá baixo, rugia nas cachoeiras, aumentando-lhe o receio.

Impossível! impossível!

E sentia-se enfraquecer à míngua de sustento, pois a erva, por ali, estava comida e recomida pela pastagem miserável de três dias.

Num momento de desespero, quando os gemidos do filho eram mais dolentes e crebros, refez-se de coragem a cabra, e segurando entre os dentes o chibo tentou o primeiro passo, arrastando-o pela ladeira, do lado em que o declive era menor. Mas em breve desanimou a pobre, que o filhito, assim arrastado, mais e mais gemia, convulsionado e trêmulo...

Impossível! impossível!

Nada que signifique a dor daquela mãe, e traduzir possa em linguagem toda a gama de sentimentos e emoções no seu balar expressos. Atirou-se de joelhos sobre o corpinho do filho que hirto chorava e tremia, estendido para ali, na prostração pesada do último desalento; animava-o com carícias, aproximava-lhe da boca os úberes já flácidos e amolentados, convidando-o a mamar, como se aquele leite pudesse levar ao filho a coragem que a ela própria faltava em tamanho transe aflitivo...

Mas pouco a pouco a noite ia caindo. Tinha-se já apagado a última cambiante do poente, e sobre as gargantas dos montes passavam subtilmente as primeiras névoas, alvadias e tênues. À medida que a treva se condensava, decresciam os ruídos em todo o horizonte, acentuando-se cada vez mais a melopeia sonolenta do rio nos açudes. Perpassavam pelo ar as aves para os ninhos. Bandos de pombas, como flocos voláteis de arminho, cortavam em voos mansos a profundidade calma do céu, demandando os pombais e os povoados, onde se acolhessem da noite que vinha caindo. Revoadas de perdizes e de tordos passavam por ali alegremente, num chilrear sonoro, caindo de chofre sobre o monte, a esconderem-se nos estevais e nas urzes. Pelas ervagens secas rastejavam apressados os répteis, e sob os tojais bravios a lebre buscava a cama...

...E tudo tinha ninho — pombas que voavam e perdizada sonora, quem passava no ar e quem rastejava no monte, lagartos, sardões, cobras, toda a colónia vagabunda de répteis e de aves, que passou alegremente o seu dia, e se ia recolher agora para recomeçar dia amanhã...

Só a desgraçada cabra, ali, junto do filho tenro, não mais fizera passo. Com as brumas da noite, as brumas da tristeza para o seu coração alanceado de mãe. Aí vinha o frio inclemente flagelar-lhe o filho... — o filho que já tremia a ela aconchegado — o triste pobrezinho!

Rompia de toda a banda o gri-gri sonoro dos grilos, vivo e cantante naquele silêncio que se definia. Cerrou de todo a noite. O céu era baixo e torvo de nuvens. Estrelejava a espaços a abóbada, irradiando uma luz mortiça e alvadia, que levava a pensar em últimos transes de crianças, em que a vida gradualmente se extinguisse, num latejar vagaroso de pálpebras sonolentas...

Mais álgida fazia a noite, e mais pesada de melancolias, essa torva aparência da atmosfera e do céu. Noite pior do que as outras, porém com menos balidos, pois que mãe e filho estavam extenuados de forças e nem gemer podiam. E a morte que não vinha arrancá-los do abraço em que se uniram, mal cerrara a noite!

A pequena distância, o monte era cortado de profundíssima garganta em rocha viva. Do lado oposto, e quase defronte dos moribundos, acenderam-se na treva dois pontos fosforescentes, de uma claridade esverdeada rútila. E, imóveis, esses dois olhos estoirados de lobo, a que parecia terem arrancado as pálpebras, projetavam a sua luz sinistra na direção do grupo que velava. A natureza inteira retraía-se num como pavor medonho, concentrado de íntimos terrores e silêncios lôbregos de horas altas. Cerrava-se mais no céu a falange muda das nuvens, densificando-se em tintas negras, impenetráveis e caliginosas, sem cintilas de estrelas, por fugidias e tênues que fossem...

E sempre, e constantemente imóveis na escuridão pesada, aqueles dois olhos flamejavam, de instante a instante mais vivazes, perscrutando a treva da direcção mais exata do grupo. Transida de susto, arquejando convulsamente no último paroxismo da sua enorme dor, a pobre mãe não ousava arriscar um único movimento e mais e mais cerrava contra si o corpo inanimado do filhito que parecia adormecido.

Assim durante horas que aquele atrocíssimo suplício fez enormes, quase eternas, tumultuosas de acerbos sofrimentos e de indizíveis angústias, vazias de esperança na vida do seu pequenino filho.

De repente, aqueles dois pontos brilhantes apagaram-se na treva, e de novo os viu brilhar a cabra, mas já a maior distância. Estremeceu a pobre de súbita alegria, — e no abalo que sofreu o seu corpo, até então retraído, o chocalho badalou. Voltou a correr o lobo, e então a desgraçada viu errarem na treva, como dois grandes coleópteros de asas fosforescentes, os olhos até então imóveis do inimigo. E por ali levou a noite toda, farejando e uivando, até que cansado de perscrutar o insondável, se foi ladeira abaixo, aos primeiros assomos da madrugada que vinha, docemente, alumiando píncaros e arestas.

*****

Ao romper da alva o céu era azul. Apenas de longe em longe penachos de nuvens brancas ondulavam as suas cristas alvadias, que se esfarpavam lentamente ao menor sopro da aragem. Pouco a pouco o azul ia desmaiando, diluindo-se na luz esbranquiçada que vinha do alto em gradações impercetíveis e suaves.

Começavam de animar-se os longes da paisagem, e a retina acusava já as diferenças mais salientes dos campos e herdades, pedaços esbranquiçados de restolhos, tons pardos de olivais, terras plantadas de vinhedo, e pinheirais cerrados galgando desfiladeiros e investindo com o céu no alto dos montados.

Pelas ladeiras dalém, caminhos e atalhos corriam em torcicolos até ao areal da margem. Em turbilhões de espuma alvíssima precipitava-se a água nos açudes, marulhando nos altos penedos marginais, denegridos e informes, de uma mudez contemplativa e perpétua. Do teto do moinho, lá em baixo, uma coluna azulada de fumo elevava-se tranquilamente no ar sereno e doce, até se desfazer no espaço amplo e benigno, como uma ambição ou como um sonho...

*****

Foi então que Alípio José, à frente do rebanho, de novo abordou àquelas paragens, no intuito de procurar a cabra tresmalhada.

— Ruça! torna ao rebanho, Ruça!

Mas precisamente a essa hora, a Ruça exalava o último alento, pendida sobre o cadáver do pobre filhinho morto!...

E ao pino do meio-dia, quando o sol faiscava causticando nos rochedos — passava na direção da montanha, crocitando lugubremente, a esfaimada legião dos amaldiçoados corvos...

Nota:
Trindade Coelho: "Os Meus Amores" (1891)

“Vinhais - Judeus, marranos e Inquisição”: um pouco mais sobre a presença dos judeus no nordeste transmontano

 Obra científica que, a partir de agora, permite saber um pouco mais sobre a presença dos judeus no nordeste transmontano, mais concretamente no concelho de Vinhais
O livro é de Jorge Ferreira e foi apresentado em Rebordelo, uma terra marcada pela presença judaica. Segundo explica o autor, a obra transporta-nos até ao medo que os judeus sentiam em se mostrar e assumir como tal. "Trata da presença dos judeus na região transmontana, mais concretamente no concelho de Vinhais, desde a instalação das primeiras judiarias em Portugal, no início da nossa nacionalidade, até ao século XX, quando se tentam resgatar os marranos de Trás-os-Montes, libertando-se do medo de se assumir como judeus praticantes"

Um trabalho que tem vindo a ser desenvolvido pelo escritor há alguns anos e que teve por base alguns dos 419 processos judaicos, que estão no arquivo nacional da Torre do Tombo. Jorge Ferreira diz ter ficado surpreendido com a quantidade de pessoas que foram condenadas à morte. "Há coisas impressionantes. Por exemplo, neste caso de Vinhais há um número extremamente elevado das pessoas que foram condenadas à morte. Há 30 processados que pagaram com a própria vida. Se não pagaram com a própria vida é porque fugiram, foi queimada a sua estátua".

O livro seria apresentado no IV Simpósio sobre Judaísmo, da Academia Montsefarad, da qual Jorge Ferreira faz parte, que iria acontecer em Chaves, o ano passado, mas que a pandemia impediu que se realizasse.

Escrito por Brigantia
Jornalista: Ângela Pais

domingo, 29 de agosto de 2021

A Caminhada (2016) (revisto)

 Por: Manuel Amaro Mendonça
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")

Exausto, foi com grande alívio, que o octogenário se deixou cair no banco de jardim, na entrada do parque. Aquelas caminhadas custavam-lhe cada vez mais e, pelos vistos, demoravam cada vez mais. Estava a começar a anoitecer. Fez um esforço para recordar a que horas saíra de casa, mas não conseguia.

Deixou-se ficar um pouco a restaurar as energias… noutros tempos, achava ele que não há muito, faria todo aquele percurso a correr e quase sem transpirar, mas agora… como se pusera naquele estado?

Olhou com curiosidade os sapatos de quarto, empoeirados, como se os visse pela primeira vez; os seus pés estavam “gordos” e o calçado parecia querer rebentar. "Não admira que me sinta cansado! Tenho de fazer uma dieta!" Pensou de si para si. "Recuperar a forma, esta fadiga só pode ser banhas, olha-me que patas”.

Recostou-se e esticou preguiçosamente os braços pelas costas do banco, enquanto apreciava o trânsito barulhento e apressado.

O seu olhar fixou-se no enorme edifício na esquina: "Que esquisito, não me recordo de ter sido derrubada a padaria e já ali está um prédio de uns sete andares, pronto e habitado! Não há dúvida que tudo agora é construído a uma velocidade estonteante!"

Uma carrinha branca imobilizou-se ao pé do edifício e descarregou dois fardos de jornais, antes de arrancar em grande velocidade. Estranhou a distribuição do jornal tão tardia, normalmente acontecia de madrugada. "Está tudo tão diferente…" Ainda se recordava do sinaleiro, luvas e capacete brancos a gerir o transito naquela esquina, antes da sua substituição pelo semáforo, que empoleiraram muito alto, mesmo no meio do cruzamento. Não foi assim há muito tempo… mas também o semáforo lá não está, foi substituído por um conjunto de colunas, cada esquina sua, com o seu próprio conjunto de luzes… de certeza que fora feito para a autarquia ajudar a enriquecer um qualquer fabricante amigo. Sorriu com a sua própria maledicência.

— Bom dia! — A voz masculina sobressaltou-o, fazendo-o descobrir a seu lado o jovem polícia que o mirava com curiosidade.

— Boa tarde! — Corrigiu-o.

— O senhor está bem? — Perguntou o agente.

— Eu? Sim, estou! E você? — Ele não estava a perceber a razão da abordagem.

— Eu também estou, obrigado! — O polícia endireitou-se com um sorriso e afastou-se num passo curto para a berma da rua, sem o perder de vista. Pegou no telemóvel e fez uma chamada.

Ao fim de um minuto ou dois, fitou com suspeição o agente que regressava, sempre com um sorriso nos lábios.

— Posso perguntar-lhe o seu nome? — O jovem voltava à carga.

— Posso saber porquê? — Respondeu na defensiva. — E o seu, qual é?

— Peço desculpa pela minha falta de maneiras. — A boa educação do polícia começava a ser irritante. — Meu nome é Meireles!

— E eu sou obrigado a dizer-lhe o meu? — Agora estava a ser deliberadamente insolente.

— Não, claro que não. Não está a fazer nada de mal. — O jovem exibiu um rosto triste. — Era simples curiosidade.

— A minha mãe dizia que a curiosidade matou o gato! — Atirou com um ar de triunfo, voltando o rosto para o lado, como que indicando que acabara ali a conversa. — Tenha uma boa tarde! — Rematou.

— Um bom dia, quer o senhor dizer! — O rapaz era insistente. — Ainda é de madrugada, o sol está a nascer agora. — Apontou para as silhuetas dos prédios onde um clarão avermelhado parecia querer sobrepor-se às trevas.

— Madrugada? — O rosto dele tornou-se uma máscara de espanto, enquanto a sua mente trabalhava em alta velocidade: "A que horas saíra de casa? Quanto tempo caminhara?... De onde viera?"

Um pequeno Opel Corsa parou bruscamente ao lado do passeio onde os dois se encontravam. Outro jovem, este à civil, correu para eles e olhou-o nos olhos, preocupado.

Já eram dois de volta dele, que estava naquele estado de confusão… começava a ficar assustado, quando o recém-chegado disse finalmente, numa voz estrangulada:

— Pai! Graças a Deus! Andamos a noite inteira à tua procura!

Manuel Amaro Mendonça
nasceu em Janeiro de 1965, na cidade de São Mamede de Infesta, concelho de Matosinhos, a "Terra de Horizonte e Mar".
É autor dos livros "Terras de Xisto e Outras Histórias" (Agosto 2015), "Lágrimas no Rio" (Abril 2016), "Daqueles Além Marão" (Abril 2017) e "Entre o Preto e o Branco" (2020), todos editados pela CreateSpace e distribuídos pela Amazon.
Foi reconhecido em quatro concursos de escrita e os seus textos já foram selecionados para duas dezenas de antologias de contos, de diversas editoras.
Outros trabalhos estão em projeto e sairão em breve. Siga as últimas novidades AQUI.

sábado, 28 de agosto de 2021

COMANDO DISTRITAL DE BRAGANÇA HOMENAGEOU 13 PRÉ-APOSENTADOS DA PSP

Admitindo uma "pontinha de inveja" que o futuro vos sorria e muita saúde para podermos continuar a nossa Saga de Amizade por muitos e saudáveis anos. Um forte abraço especial ao Amaral e ao Valter!
HM

O que procurar no Verão: o feto-pente

 Em Portugal Continental crescem cerca de 40 espécies de fetos e nos arquipélagos mais de 30. São plantas muito especiais que vivem no nosso planeta há milhões de anos. O feto-pente, que podemos encontrar nos nossos passeios, é uma delas.

Feto-pente. Foto: Hans Hillewaert/WikiCommons

O feto-pente (Blechnum spicant subsp. spicant) pertence a um grupo de plantas particularmente interessante, as pteridófitas, que engloba numerosas espécies bem conhecidas, como é o caso dos fetos, avencas, cavalinhas, entre outras.

As plantas deste grupo são plantas vasculares, com raízes, caules e folhas verdadeiras. Podem possuir porte herbáceo, arbustivo e até arbóreo. No entanto, e ao contrário das outras plantas, em vez de sementes usam os esporos para dar origem a um novo indivíduo.

Os fetos

Os fetos são plantas que vivem no nosso planeta desde há milhões de anos. O que muitos desconhecem é que são inúmeras as espécies de fetos que pudemos encontrar naturalmente nos nossos bosques e florestas.

A maioria desenvolve-se em locais sombrios e húmidos, em fendas de rochas, muros e taludes, frequentemente próximo de cursos de água. Algumas espécies podem também desenvolver-se como epífitas na copa e no tronco de árvores, geralmente sobre musgo e, por vezes, em telhados antigos.

Em Portugal Continental estão identificadas, como nativas, cerca de 40 espécies diferentes de fetos, distribuídas por 17 géneros pertencentes a quatro famílias botânicas. Nos arquipélagos da Madeira e dos Açores estão identificadas mais de 30 espécies diferentes, algumas das quais são endémicas dessas regiões.

O feto-pente

O feto-pente pertence à família Aspleniaceae, conhecida como sendo a família das avencas.

A designação científica desta espécie está muito relacionada com o grupo de plantas a que pertence.

O nome do género Blechnum deriva do nome grego Blechnon, nome que terá sido dado a um feto desconhecido e que terá sido usado para este feto com o propósito de preservar o nome. O restritivo específico spicant deriva da palavra latina spico, que significa como um pico, o nome escolhido para este feto pelos botânicos da época.

É uma planta perene rizomatosa, com um rizoma oblíquo e curto, densamente revestido de pequenas escamas lanceoladas, acuminadas e de cor castanho-escuras.

Feto-pente. Foto: GerritR/WikiCommons

As folhas dos fetos são, geralmente, denominadas de frondes.

O feto-pente possui frondes persistentes e coriáceas que podem medir entre 15 a 50 cm de comprimento. Os pecíolos são castanhos-avermelhados.

As frondes surgem dispostas em tufos e são de dois tipos: as estéreis, também designadas de trófilos e as férteis, conhecidas como esporófilos. As frondes estéreis são pequenas e formam-se a partir de uma roseta basal, espalhando-se horizontalmente. Os folíolos são oblongos a lineares e as margens ligeiramente onduladas. Estas folhas permanecem verdes durante todo o ano.

As frondes férteis são maiores e mais longas, em menor número, e formam-se no centro do tufo das frondes estéreis. Possuem um desenvolvimento mais erecto e folíolos oblongos a lanceolados. Estas folhas secam geralmente no outono, voltando a formar-se na primavera seguinte.

É sobre as frondes férteis que se formam os esporos, no interior de esporângios, que estão agrupados em estruturas designadas de soros. Estas estruturas surgem dispostas linearmente, de ambos os lados da nervura principal de cada folíolo, cobrindo praticamente toda a face inferior das folhas férteis.

Os esporângios são verdes e quando atingem a fase de maturação tornam-se castanhos, abrindo-se para que ocorra a libertação dos esporos. A esporulação (formação dos esporos) ocorre durante a primavera e o verão.

Em condições ambientais favoráveis, sobretudo havendo disponibilidade de nutrientes e água no solo, os esporos desenvolvem-se e transformam-se numa estrutura, geralmente muito pequena, por vezes microscópica, com forma cordiforme, denominada de protalo – um indivíduo de vida curta que mais tarde se desenvolve dando origem a uma nova planta diferenciada em raiz, caule e folha, que é um novo feto.

Origem

O feto-pente é uma espécie nativa da Macaronésia, Europa, noroeste de África, oeste da América do Norte, Sibéria e Japão. Em Portugal é frequente por todo o país, incluindo os arquipélagos da Madeira e dos Açores.

O habitat preferencial do feto-pente passa por lugares frescos, húmidos e sombreados e solos bem drenados, pobres e ácidos. É comum encontrar esta planta no subcoberto de bosques fechados, em zonas rochosas e próximo da margem de cursos de água.

Feto-pente. Foto: T. Voekler/WikiCommons

Os fetos são plantas particularmente interessantes do ponto de vista ornamental. Além da incrível variedade de texturas, cores, tamanhos e formas, os fetos são plantas que requerem pouca manutenção ao longo do ano.

Os densos tufos de folhagens verdes, criam ambientes atraentes, calmantes e até misteriosos nos jardins, em locais em que muitas outras plantas têm dificuldade em se desenvolverem, devido à falta de luz natural. Têm ainda a vantagem de manterem o crescimento ativo ao longo de todo o ano, desde que as condições ambientais sejam favoráveis. No entanto, têm um crescimento lento, que pode levar vários anos para atingir o tamanho adulto.

O feto-pente é bastante versátil e acrescenta beleza a qualquer espaço verde, sendo uma óptima solução na cobertura do solo, para canteiros com sombra, em jardins interiores, em bordaduras de canteiros, no subcoberto da sombra densa das árvores, entre outros.

Em Portugal não é usual a sua utilização culinária. No entanto, o rizoma, a raiz e os rebentos jovens cozidos, são considerados alimentos de emergência, usados quando não há mais nada. Os caules tenros também podem ser mastigados para aliviar a sede ou descascados para se comer a parte central dos mesmos.

Embora não existam registos para esta espécie em particular, vários fetos contêm substâncias cancerígenas naturais, logo é aconselhável cautela na sua utilização. Além disso algumas espécies também contêm tiaminase, uma enzima que decompõe a vitamina B1, sendo considerada um antinutriente. Se for consumida em grandes quantidades, esta enzima pode causar graves problemas de saúde. A enzima é destruída pelo calor ou secagem completa, portanto, cozinhar a planta removerá a tiaminase.

Registos etnobotânicos referem que o feto-pente já terá sido usado em medicina tradicional no tratamento de cancro interno, distúrbios pulmonares e problemas de estômago. As folhas ou frondes foram usadas externamente para tratar feridas da pele e a decocção do rizoma e da raiz terão sido usados no tratamento da diarreia.

Fósseis vivos, entre lendas e mitos

Alguns fetos, em particular os fetos arbóreos, são considerados fósseis vivos, tendo sido encontrados registos da sua presença no período Jurássico.

Durante muito tempo, estas plantas estiveram envoltas em misticismo, sobretudo pelo facto de não produzirem flores e não formarem sementes. Era enorme o mistério destas plantas.

A forma como se propagavam era estranha, tendo levado a que fossem consideradas plantas medicinais com usos mágicos. Na Idade Média, por exemplo, os fetos eram plantados em jardins para afastar os maus espíritos.

Outras lendas referem que lhes foram atribuídas propriedades mágicas amorosas, especialmente os esporos, que terão sido usados para fazer amuletos com propriedades amorosas, feitiços de amor e amavios.

Estes típicos habitantes da floresta passam completamente despercebidos, muitos de nós só os conhecemos de jardins e outros espaços verdes mais formais, mas aqui fica o desafio: procure fetos em fendas de rochas, em muros de pedra solta, em telhados de habitações antigas ou na casca das árvores e lembre-se de que este grupo de plantas existe há mais tempo do que o Homem.

Dicionário informal do mundo vegetal:

Perene – planta que tem um ciclo de vida longo e que viver três ou mais anos.
Rizomatosa – planta cujo caule é subterrâneo (rizoma).
Rizoma – Caule subterrâneo, que cresce geralmente na horizontal, com aspeto de raiz, composto de escamas e gemas, como se de um caule aéreo se trata-se.
Fronde – Folhas típicas dos fetos e de outras plantas (ex. palmeiras).
Coriáceo – que tem uma textura semelhante à casca da castanha ou do couro.
Pecíolo – pé da folha, que liga o limbo ao caule.
Trofófilo – Folha ou fronde estéril, cuja principal função é a realização de fotossíntese.
Esporófilo – Folha ou fronde fértil, cujo principal função é a reprodução e onde se formam os esporângios.
Esporângio – Estrutura membranosa ou cápsula em forma de saco, onde se formam e armazenam os esporos.
Soro – Agregados densos de esporângios.
Protalo – indivíduo de corpo simples, sem estrutura vascular, formado a partir da germinação do esporo e que ocorre em plantas que não produzem semente.

Carine Azevedo