quarta-feira, 30 de junho de 2021

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Encontros da Raia 2021

 Tema: (Etno)Grafias da Raia
Uma reflexão analítica sobre patrimónios raianos que partilham entre si um fundo cultural, histórico e antropológico comum. Uma abordagem prospetiva apoiada nas investigações e estudos universitários. A raia como área de interseção (etno)cultural.

O projeto procura responder ao desafio de se estabelecerem relações mais intensas e dinâmicas no contexto raiano que liga Miranda do Douro às comarcas de Salamanca, Zamora e Valladolid.

Sendo certo que são diversos os planos de interação possíveis entre estas regiões fronteiriças – com incidências económicas, turísticas e culturais, entre outras – neste projeto contemplam-se manifestações culturais com pontos de contacto que remetem para uma partilha de um fundo cultural comum com raízes históricas que permanecem na atualidade.

Esta opção, partindo justamente dessa identidade cultural repartida, tem em consideração o facto de se realizarem atividades e iniciativas cuja mais ampla divulgação será um contributo para que possam ser potenciadas do ponto de vista económico e turístico. E, por outro lado, o facto de trabalharem no terreno entidades e personalidades reconhecidas nas respetivas comunidades pelo inequívoco compromisso com o trabalho cultural.

Uma jornada de reflexão transfronteiriça a não perder...

Comemorações do Dia da Cidade 2021

 No dia em que se assinala o 476º aniversário da elevação de Miranda do Douro a cidade (10 de julho de 1545), o município tem agendadas diversas iniciativas, num dia marcado pela presença de Sua Excelência o Presidente da República, Professor Marcelo Rebelo de Sousa.


Assim, o programa do Dia da Cidade terá início às 10h00 no Largo D. João III, com o hastear da bandeira e entoar do Hino Nacional pela Banda Filarmónica Mirandesa.

Às 10h30 irá decorrer a habitual Assembleia Municipal Extraordinária, à qual se seguirá a entrega de colares de mérito e homenagem às instituições e personalidades do concelho de Miranda do Douro.

A receção oficial a Sua Excelência o Presidente da República, Professor Marcelo Rebelo de Sousa, terá lugar no Largo D. João III às 12h00, à qual se seguirão os discursos do Presidente da Câmara Municipal de Miranda do douro e de Sua Excelência o Presidente da República.

Para as 12h40, está ainda prevista uma visita à Concatedral e Paço Episcopal.

O programa prossegue durante a tarde com o lançamento das obras “Livro Institucional de Miranda do Douro” e “Lhuçmiranda” – Geografia da memória de Carlos Ferreira, às 16h00.

Cerca das 17h30, terá lugar na Biblioteca Municipal António Maria Mourinho, a inauguração da Exposição de Fotografia “Lhuçmiranda” de Luís Cangueiro. 

EXPOSIÇÃO ' TORRE DE MONCORVO VILA MEDIEVAL'

 

CENTENÁRIO DE AMÁLIA RODRIGUES - UMA HISTÓRIA DE VIDA

 

Presidente de uma junta de freguesia acusado de criar esquema para contratar as próprias empresas para construir um monumento

 O Ministério Público no DIAP Regional do Porto deduziu acusação contra um presidente de uma Junta de Freguesia do concelho de Mogadouro, imputando-lhe a prática de um crime de prevaricação.
Segundo a acusação com o objetivo de construir um monumento na freguesia, o arguido concebeu um esquema para ultrapassar o impedimento legal de, enquanto presidente da Junta, contratar com duas empresas de construção civil das quais é gerente. Os indícios recolhidos, apontam que sem qualquer procedimento contratual, o autarca abordou um empresário do mesmo ramo, com quem combinou que celebrasse o contrato de empreitada com a Junta de Freguesia no pressuposto de que o material necessário fosse adquirido às suas empresas, o que se veio a concretizar, refere o despacho de acusação divulgado pela Procuradoria-Distrital do Porto.

As empresas do arguido conseguiram, através da empresa intermediária, efetuar vendas no valor global de 16.671,47€, obtendo um benefício patrimonial, tendo o arguido lesado os interesses da Junta de Freguesia protegidos pelos princípios da legalidade, imparcialidade, prossecução do interesse público, publicidade e transparência que, enquanto presidente, lhe incumbia defender.

Para além da aplicação de uma pena principal, o Ministério Público peticionou a aplicação ao arguido da pena acessória de perda de mandato.

Glória Lopes

V Torneio de Ténis - 2021

Local: Campo de Ténis - Complexo Desportivo de Mogadouro

Já está agendado o V Torneio de Ténis, organizado pelo Município de Mogadouro, para os dias 21 e 22 de agosto 2021.

Com esta atividade pretendemos oferecer aos aficionados da modalidade dias de convivência em contexto desportivo, bem como a promoção e divulgação desta modalidade.

Que comecem os treinos!

A organização do torneio, de modo a cumprir orientações da DGS e o Plano de Contingência das instalações, implementará medidas, das quais a realização de um QUALIFYING (entre 19 de junho e 6 de agosto), de modo a realizar Um Torneio SEGURO.

Para inscrições e/ou mais informações: www.mogadouro.pt ou contacte-nos através: desporto@mogadouro.pt  | Tlm.934 661 587


𝐀𝐑𝐐𝐔𝐈𝐕𝐎 𝐃𝐄 𝐌𝐄𝐌Ó𝐑𝐈𝐀 | 𝐎𝐔𝐓𝐄𝐈𝐑𝐎 | 𝐅𝐎𝐍𝐓𝐄𝐒 𝐃𝐄 𝐌𝐄𝐑𝐆𝐔𝐋𝐇𝐎

 Testemunho de Maria Helena Geraldes e Anas Quintas Romão sobre as fontes de mergulho da aldeia de Outeiro em Bragança.

Incubadora do Tua estimula 30 novos negócios em menos de num ano

 A incubadora do Tua impulsionou 30 novos negócios em menos de um ano, no vale transmontano, entre os quais se encontra uma multinacional da área da eficiência energética, revelou hoje um dos responsáveis.


O diretor do Parque Natural Regional do Vale do Tua, Artur Cascarejo, adiantou à Lusa que a incubadora, criada em setembro de 2020, está a gerar novos projetos, a atrair outros e a fazer regressar naturais do território que se encontravam fora da região, assim como a dar oportunidades de emprego a pessoas qualificadas.

Um dos novos projetos, disse, é o de uma multinacional, sobre a qual não foram revelados mais pormenores, que irá instalar-se no Tua e que já “está a procurar jovens qualificados na Universidade de Trás-os-Montes (UTAD) e no Instituto Politécnico de Bragança (IPB)”.

Outro projeto vai fazer regressar à terra um casal de jovens de Murça emigrado na Suíça, que se propõe recuperar para agroalimentar uma quinta dos pais herdada na zona da Sobreira.

Um jovem com formação na área do teatro e artes performativas vai deslocar-se do Porto para Carrazeda de Ansiães, de onde é a família, para ali criar um projeto mais ligado à cultura e identidade territorial, segundo Artur Cascarejo.

Os novos investimentos apoiados pela incubadora abrangem ainda outras apostas como o aproveitamento dos frutos secos no Vale da Vilariça, em Vila Flor, ou o combate à violência doméstica e infantil, preconizado por uma jovem em parceria com a Universidade do Minho.

“Estamos a desenvolver parcerias com as universidades do Porto, do Minho, de Aveiro, com o IPB para, em conjunto, trazermos jovens qualificados para o território”, enfatizou, realçando que esta aposta passa também pelo novo conceito dos nómadas digitais.

“Estamos a dizer às pessoas que, se estão em teletrabalho, podem trabalhar em qualquer parte do mundo, se o trabalho deles é no computador então podem fazê-lo a partir do Vale do Tua, de cada um dos cinco municípios do Vale do Tua”, salientou.

Este território, onde os novos projetos são apoiados pelo parque e pela Agência de Desenvolvimento Regional do Vale do Tua, abrange os municípios de Alijó e Murça, no distrito de Vila Real, e Mirandela, Vila Flor e Carrazeda de Ansiães, no distrito de Bragança.

A maior parte destas candidaturas são apoiadas pelo programa Startup Voucher certificado a estas entidades do Vale do Tua que viram recentemente aprovada também uma candidatura ao Startup Visa.

Este último programa destina-se a atrair investimento estrangeiro para o território e, segundo o diretor do parque, a instalação da multinacional está a ser negociada ente âmbito.

O parque e a agência do Vale do Tua foram criados no âmbito das medidas de compensação pela construção da barragem de Foz Tua e são financiados por três por cento da faturação anual de energia.

Tribunal de Bragança começou a julgar rede de tráfico de droga com 16 arguidos

 O tribunal de Bragança começou hoje a julgar uma alegada rede de tráfico de droga, com 16 arguidos, considerada pelas autoridades das “mais visíveis e importantes” a atuar nesta cidade transmontana.
Os acusados são 11 homens e cinco mulheres, com idades entre os 19 e os 60 anos, de Bragança e Valpaços, todos acusados, em coautoria material e na forma consumada, de um crime de tráfico de estupefacientes.

O aparato policial marcou o início deste julgamento, a decorrer na sala de audiências da Associação Empresarial da Região de Bragança (NERBA), com seis dos arguidos em prisão preventiva, concretamente três homens e três mulheres.

Segundo a acusação, a alegada rede era gerida por um dos arguidos, que estava preso por outro processo, a partir da cadeia e foi investigada ao longo de 2020, tendo sido desmantelada em setembro desse ano, numa operação policial nas cidades de Bragança e Valpaços, que resultou na detenção de oito pessoas.

À fase de julgamento, que começou sem a presença de dois dos acusados, chegaram o dobro dos arguidos, a maior parte desempregados, e entre os quais se encontram também estudantes.

A acusação reclama que seja paga pelos arguidos e declarada perdida a favor do Estado uma quantia de perto de 26 mil euros, apurada como “a vantagem patrimonial obtida com a prática do crime”.

Pede ainda que sejam declarados perdidos a favor do estado os vários objetos apreendidos na operação policial de 02 de setembro, nomeadamente “telemóveis, produto estupefaciente, veículos, dinheiro, ouro, balanças, navalha, placa de vidro, cartão de cidadão, recortes e sacos de plástico”.

Nesta operação foram também apreendidas “cocaína suficiente para 400 doses individuais, heroína suficiente para 150 doses individuais” e uma quantidade “residual” de anfetaminas.

A PSP indicou tratar-se de uma “estrutura organizada de distribuição direta” de droga, que atuava “concertadamente” em Bragança e que “seria uma das mais visíveis e importantes vias de distribuição de estupefacientes aos consumidores” desta cidade.

Os arguidos são acusados de distribuírem a droga a partir do bairro da Mãe D’Água, desde sempre associado ao tráfico e onde as autoridades desmantelaram, ao longo dos anos, várias redes.

Os 16 arguidos em julgamento respondem por factos ocorridos entre janeiro e setembro de 2020, segundo a acusação, que conclui que a rede era dirigida, a partir da cadeia, por um indivíduo que se encontrava preso.

De acordo com a acusação, inicialmente, uma das arguidas deslocava-se ao Porto para adquirir a droga que distribuía pelos outros que a vendiam por si ou através de terceiros.

Outros arguidos terão passado a adquirir o produto estupefaciente também no Porto, onde chegaram a deslocar-se de táxi, e em Zamora, Espanha, e Valpaços, para vender em Bragança.

No processo estão arroladas 52 testemunhas, a maioria das quais toxicodependentes, a quem os arguidos terão vendido droga.

Grau Ouro para o Presidente da Associação dos Caretos de Podence

 António Carneiro foi ontem homenageado com medalha de Mérito Grau Ouro no dia do município, a 29 de junho, em cerimónia evocativa levada a cabo pela Câmara Municipal de Macedo de Cavaleiros.


Na nota de mérito da Câmara podemos ler “António Carneiro foi o incentivador, foi o impulsionador, teve o mérito de não deixar no esquecimento esta tradição milenar ... conseguir criar uma marca identitária do território de Macedo de Cavaleiros, que culminou em dezembro de 2019 com o reconhecimento dos Caretos de Podence como Património Cultural Imaterial de Humanidade, tendo António Carneiro sido um rosto do percurso dos caretos de Podence”.

Por proposta da Assembleia Municipal e deliberação da Câmara Municipal foi concedida a medalha de mérito grau ouro e foi entregue pelo presidente num dia em que foram também homenageados alguns funcionários e presidentes de junta.

O Presidente da Associação de Caretos de Podence, António Carneiro, no seu discurso de agradecimento na sua manifesta humildade declarou, “recebo esta distinção, que apesar de ser dirigida a mim, encara-o como o reconhecer do trabalho que as gentes de Podence têm feito ao longo do tempo”

Evocando a sua origem “comecei esta aventura, com apenas 20 anos, soube desde logo, que haveria muito caminho para desbravar e que era necessário batalhar para que Podence deixa-se de ser mais um cantinho perdido no Nordeste Transmontano e se afirmasse como uma referência cultural e turística”, “um caminho de resiliência, levando esta tradição a um símbolo nacional”, mas mais do que isso “a tradição “Caretos de Podence” revela-se na sua genuinidade a nível nacional e a nível mundial com a distinção a UNESCO”.

António Carneiro prometeu “desenganem-se aqueles que acham que vamos ficar por aqui... um objetivo passa por materializar a construção do museu Europeu da Máscara e do Chocalho”.

António Pereira


Funcionários públicos recebem incentivo se vierem trabalhar para o interior

 Os funcionários públicos que optem por trabalhar no interior do país vão receber um incentivo de 4 euros e 77 cêntimos por dia, o que corresponde à duplicação do subsídio de refeição, ou seja, mais 104,94 euros por mês
Ter mais dois dias de férias por ano é outro dos incentivos.

A portaria foi publicada ontem em Diário da República e entra hoje em vigor.

Segundo a Ministra da Modernização do Estado e Administração Pública, Alexandra Leitão, o Programa de Incentivos à Fixação de Trabalhadores do Estado no Interior prevê promover algum reequilíbrio, contribuir para reduzir as assimetrias entre o interior e o litoral e promover a coesão territorial.

Podem candidatar-se assistentes operacionais, assistentes técnicos e técnicos superiores, com vínculo de emprego público integrados nas carreiras gerais, não se aplicando, por exemplo, a médicos e professores.

No caso da mobilidade, os trabalhadores transferem-se para um local de trabalho no interior do país onde haja uma vaga para a sua categoria e funções e tem de ser uma vaga que não possa ser ocupada localmente.

No que diz respeito ao teletrabalho, também previsto, não pode ser preenchida uma vaga local, o funcionário continuará a trabalhar para o mesmo serviço onde estava, o que pode ser feito no domicílio ou num “espaço de ‘coworking’ do interior do país.

Os trabalhadores em causa terão também direito à dispensa de serviço, até cinco dias úteis, no período imediatamente anterior ou posterior ao início de funções no novo posto de trabalho e ao gozo de 11 dias úteis consecutivos do período de férias a que legalmente têm direito em simultâneo com o cônjuge ou com a pessoa com quem vivem em união de facto.

Existe ainda a garantia de transferência escolar dos filhos de qualquer dos cônjuges ou de pessoa com quem viva em união de facto, nos termos gerais do despacho das matrículas.

Os incentivos têm duração máxima de três anos, tempo de vigência do programa que será reavaliado no final desse período.

Escrito por Brigantia
Jornalista: Olga Telo Cordeiro

“Lançar a manta” é a nova estratégia do município de Vimioso para atrair turistas para o concelho

 Para além de promover o turismo, tem também como objectivo promover o artesanato e os produtos regionais


Para isso, os mais curiosos só têm que se dirigir ao PINTA, requisitar uma manta e desfrutar da natureza.

“As pessoas podem dirigir-se ao Parque Ibérico de Natureza e Aventura, deixando uma caução para levantar a manta. Queremos convidar as pessoas a poderem desfrutar de espaços magníficos a nível natural, percorrendo os percursos pedestres que temos devidamente homologados”, explicou o presidente da câmara, Jorge Fidalgo.

As mantas são feitas com sobras de tecidos e são peças artesanais utilizadas pelos agricultores. O município acredita que com esta estratégia as mantas podem ser mais divulgadas e valorizadas.

“Nós temos como lema ‘tradição e qualidade de vida’ aqui em Vimioso e, obviamente, se podermos recuperar algum do artesanato que existia noutros tempos será excelente”, salientou o autarca.

E parece que já há quem queira lançar a manta.

“Já começa a haver mantas a serem solicitadas e estamos em crer que vamos ter muita adesão”, concluiu.

Os interessados só têm que alugar uma manta no Parque Ibérico de Natureza e Aventura e é ainda dada uma merenda para poder ser degustada na natureza do concelho de Vimioso.

Escrito por Brigantia
Jornalista: Ângela Pais

terça-feira, 29 de junho de 2021

Gravuras Rupestres do Côa ganham nova visita com barco eletro-solar

 O rio Côa recebeu hoje uma embarcação com capacidade para 12 pessoas, movida a energia solar, que permitirá um novo modelo de visitas às gravuras rupestres do território, resultado de um investimento de 60 mil euros.
"Trata-se de uma embarcação de fabrico nacional, toda ela construída com recurso a materiais sustentáveis, estando em linha com uma nova estratégia que a Fundação Côa Parque [FCP] quer implementar no Parque Arqueológico do Vale do Côa [PAVC], de acordo com as orientações definidas pela Organização das Nações Unidas [ONU] através da agenda 2020-2030 ", explicou à Lusa a presidente desta Fundação, Aida Carvalho, aludindo aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, em termos socioeconómicos e ambientais.

De acordo com a responsável, todo o processo de escolha do modelo da embarcação, movida a energia solar fotovoltaica, obedeceu a critérios rigorosos já que há uma forte aposta na sustentabilidade do território do Vale do Côa e do PAVC.

"Esta nova embarcação eletro-solar vem reforçar a oferta de visitação às gravuras rupestres do Vale do Côa, porque vai acrescentar ao que já existia - como a visita em caiaque, a nado, por caminhadas ou com recurso a viaturas todo-o-terreno - uma outra forma de contemplar o património aqui existente, datado do Paleolítico Superior, a partir do leito do rio Côa", concretizou Aida Carvalho.

Segundo os responsáveis pela FCP, a leitura das gravuras rupestres, com mais de 25 mil anos, é diferente se for feita do rio para as suas margens, por causa da perspetiva. "É muito diferente".

A embarcação estará pronta a receber visitantes a partir de meados do próximo mês de julho, e vai operar num troço de rio de mais de três quilómetros, entre o novo cais da Canada do Inferno e o novo sítio de visitação, onde se encontra o maior painel de arte rupestre conhecido ao ar livre, localizado no ponto arqueológico do Fariseu.

Segundo a presidente da FCP, foi necessário capacitar um grupo de guias que vão operar esta embarcação eletro-solar, com formação específica e respetiva carta de marinheiro, exigida para este tipo de barco.

Aida Carvalho destaca ainda o potencial deste tipo de turismo, já que conjuga uma atividade ao ar livre, o uso de produtos endógenos e a descoberta de um património único, classificado como Património Mundial da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO).

Esta embarcação foi construída por uma empresa portuguesa, com sede em Olhão (Faro), com recurso a tecnologia e 'design' nacional.

"Trata-se de uma embarcação totalmente aberta e preparada para passeios fluviais e marítimos, destinados a grupos de pessoas. A construção foi feita com recurso a técnicas e materiais nacionais, com exceção dos motores e painéis solares", explicou o empresário responsável pela construção do novo barco, João Bastos.

A embarcação tem sete metros de comprimento, capacidade para 12 pessoas, é completamente autossustentável e atinge uma velocidade de cruzeiro na casa dos cinco nós (cerca de 9,2 quilómetros por hora).

"Outras das características da embarcação é que não produz ruído, estando preparada para navegar em ambientes sensíveis como é o caso do vale do rio Côa, onde nidificam espécies protegidas", indicou.

O PAVC foi criado em agosto de 1996. A arte do Côa foi classificada como Monumento Nacional em 1997 e, em 1998, como Património da Humanidade, pela UNESCO.

Idiossincrasia

Por: Manuel Amaro Mendonça
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...") 

— Sim, ouviu bem. Peço desculpa! — Humberto mostrava-se verdadeiramente contristado a falar com o Inácio, quando se encontraram casualmente ao sair do bloco de apartamentos onde ambos residiam. — Por toda a razão do mundo que eu pudesse ter, nada me dava o direito de falar consigo da forma como falei.

Ele estava consciente da expressão apatetada de Inácio, de quem era vizinho vai para dez anos, que não sabia como reagir a esta sua nova atitude completamente discordante da que sempre lhe conhecera.

 Como a maior parte dos habitantes de prédios, conheciam-se mais ou menos superficialmente, fruto de contactos esporádicos em reuniões de condomínio, ou na frequência das áreas comuns do edifício, como as garagens, átrios, escadas ou elevadores. A relação entre ambos, porém, sempre fora tensa e desagradável, devido ao péssimo feitio de Humberto, que explodia ao mínimo contratempo e partia para o insulto pessoal e a ameaça física. Não era, de resto, apenas com Inácio esta atitude, a fama dele alargava-se a todo o bloco… e à maior parte dos locais frequentados por ele.

— Mas que se passa consigo? — Interrogou o baixo e anafado vizinho, entre o receoso e o divertido. — Está doente? Alguma doença em fase terminal?

— Não, Graças a Deus que não… penso eu. — Humberto sorriu, para maior espanto do interlocutor. — Apenas estou a pôr a mão na consciência e a perceber que não tenho agido bem consigo estes anos todos e, principalmente ontem, quando discutimos por causa do seu cão a ladrar no corredor quando você entrava em casa. O barulho incomoda-me e peço-lhe por favor que evite que o animal o faça naquele local onde ecoa imenso. Tenha um bom dia.

Com estas palavras, voltou-lhe as costas e caminhou pelo passeio, deixando o vizinho olhando-o assombrado, segurando a porta da entrada com uma mão e o saco de papel da padaria na outra.

Humberto tinha consciência do seu péssimo feitio e muitas das vezes arrependia-se, algumas horas depois, das coisas que dizia ou fazia. Mas o simples relembrar da situação, trazia de volta o azedume e acabava por rematar com um sentenciador “Foi-lhe bem feita!”

Não era nenhum “hércules”. Nos seus quarenta e muitos anos, sempre fora magro, alto e seco de carnes; era a violência latente nas suas palavras e gestos, aliada à transfiguração instantânea de uma pessoa educada noutra sem qualquer filtro, que surpreendia e deixava sem reação as “suas vítimas”. Não poucas vezes, se vira envolvido em trocas de socos com alguns objetos da sua raiva, menos preparados ou educados, ou que simplesmente não aceitaram ser desaforados de ânimo leve. A coisa resolvia-se em poucos segundos; ou ficava-se, ou os presentes envolviam-se e separavam os contendores, permitindo-lhe manter a face (intacta).

A sua existência decorria num mundo onde as pessoas pareciam fazer fila para o desfeitear, desprezar, ou simplesmente aborrecer e ele fazia questão de se manifestar ruidosa e odiosamente, sempre que tal acontecia. Mesmo no emprego, a maior parte dos colegas de trabalho, temiam-no ou evitavam-no, apesar de lhe reconhecerem a diligência e eficiência profissionais. A grande exceção era Lucília, sua mulher, que conhecera no nesse mesmo emprego e com quem casara, rendido aos seus encantos e à surpreendente capacidade de dulcificar o seu comportamento. Apenas a ela aquiescia quando censurado e só a ela reconhecia o seu problema. Após a violenta discussão com Inácio na noite anterior, Lucília, cansada e envergonhada dos problemas com os vizinhos, repreendeu-o asperamente e apresentou-lhe um ultimato: Ou ele mudava de atitude, ou ela mudava de casa… sozinha.

Humberto não conseguia conceber a sua existência de regresso à solidão dos tempos antes dela. Quando discutia no emprego, bastava um vislumbre da sua presença, para que o possante dragão que cuspia fogo pelas ventas, se transformasse num dócil cordeiro, ou no mais cordial dos colegas de trabalho. Quando regressava a casa, era como se saísse de um túnel quente, escuro e sujo e entrasse num imenso vale ensolarado, fresco e florido. A sua “fada do lar” recebia-o com o “solvente de mau-humor” que só ela possuía. Por isso, decidiu que aquele dia seria o primeiro do resto da sua vida mais tolerante e afável.

Envolvido nessas doces vibrações, sonhava acordado com a admiração e alegria que esperava ver mais logo nos belos olhos da sua doce Lucília. Ignorou de forma estoica o buzinar insolente do camionista quando se demorou a atravessar a passadeira, não resmungou, como sempre fazia, pelo ruído das motos e deu os bons dias a muitos dos conhecidos, alguns dos quais se imobilizaram no passeio, para confirmar se tinham ouvido bem.

No Pão Quente, não se incomodou pelo facto do funcionário ter atendido primeiro os que estavam sentados, nem por ter três outros clientes à sua frente. Quando chegou à sua vez, sorriu e saudou o empregado, deixando-o ainda mais nervoso e confundido. Quando este pousou o saco de papel com o seu pedido em cima do balcão, um dos pães rodou para o tampo de granito e ele colocou-o rapidamente de volta à embalagem. Humberto estremeceu e arregalou os olhos, corou, mas controlou-se e expeliu ruidosamente o ar do peito.

— Meu caro. — Avisou apaziguadoramente para o jovem funcionário que parara de respirar, pois percebia ter cometido uma falta, embora não soubesse ainda qual. — Esse pãozinho, rolou num balcão duvidosamente limpo e você apanhou-o com a sua mãozinha descuidada, pois a luva ficou ali em cima da prateleira. Importa-se de o substituir?

 Como um foguete e quase em pânico, o rapaz calçou a luva de plástico, pegou novo pão da caixa e trocou-o pelo “conspurcado”. O sorriso condescendente de Humberto estremeceu e desmoronou-se quando, o solícito funcionário, arremessou a unidade recusada para a caixa onde se encontravam os restantes pães para venda.

“Lembra-te, este é o primeiro dia de uma nova vida!” Humberto recomendou para si próprio, quando virou as costas ao balcão onde deixara as moedas para pagamento, sem agradecer nem se despedir. “Pelo menos aquele pão já não será para mim.”

Regressou a casa, satisfeito consigo mesmo, enquanto contornava alguns dejetos canídeos abandonados no passeio. Evitou os seus comentários a meia voz contra os amantes de animais, porcos, ignorantes e menos inteligentes que o seu animal de estimação. Não insultou a criança que quase o atropelou com a bicicleta nem se sentiu incomodado com o cão que o veio farejar, no limite da trela do dono.

Estava realmente um belo dia de primavera, com sol e uma temperatura amena, os pássaros chilreavam nos fios elétricos e nos beirais dos telhados. Tudo para ser feliz, não percebia como podia estar sempre zangado.

Em frente à porta de entrada, com o saco do pão debaixo do braço enquanto procurava a chave no bolso, recebeu sobre o ombro os generosos dejetos de uma das pombas, “que a estúpida da velha do quinto esquerdo insistia em alimentar”. Algumas pingas, perante o olhar escandalizado dele, caíram sobre os alimentos.

Simultaneamente, a porta do prédio abriu-se e de forma intempestiva, Inácio saiu, arrastado pelo enorme e trapalhão Retriever que possuía, quase derrubando Humberto. O saco de papel estatelou-se no chão; pães rolaram pelo passeio em todas as direções.

— Grandessíssima besta! — Explodiu Humberto, descontrolado, apontando o indicador espetado diretamente aos olhos do outro. — Que tens nessa cabeça de balofo gorduroso? Não sabes controlar o “cavalo”? Em qual das pontas da trela está o animal inteligente? Devia de te rebentar essas fuças!

Manuel Amaro Mendonça
nasceu em Janeiro de 1965, na cidade de São Mamede de Infesta, concelho de Matosinhos, a "Terra de Horizonte e Mar".
É autor dos livros "Terras de Xisto e Outras Histórias" (Agosto 2015), "Lágrimas no Rio" (Abril 2016), "Daqueles Além Marão" (Abril 2017) e "Entre o Preto e o Branco" (2020), todos editados pela CreateSpace e distribuídos pela Amazon.
Foi reconhecido em quatro concursos de escrita e os seus textos já foram selecionados para duas dezenas de antologias de contos, de diversas editoras.
Outros trabalhos estão em projeto e sairão em breve. Siga as últimas novidades AQUI.

Detido por caça com meios proibidos em Vila Flor

 A GNR deteve, no passado sábado, um homem de 70 anos por crime de caça de espécies protegidas e por fazer uso de meios proibidos no exercício da caça, no concelho de Vila Flor.
No decorrer de uma acção de patrulhamento, os elementos do Núcleo de Protecção Ambiental viram o indivíduo no momento em que capturava aves de espécies protegidas, nomeadamente pintassilgos, fazendo uso de chamarizes electrónicos.

O homem foi detido e foram apreendidos quatro chamarizes electrónicos, uma gaiola, uma rede apanha-pássaros, treze aves de espécie protegida e outro material utilizado na captura de aves.

Os factos foram comunicados ao Tribunal Judicial de Vila Flor e as aves foram restituídas ao seu habitat natural. 

Escrito por Brigantia

JÁ ONTEM ERA TARDE PARA QUE BRAGANÇA DISSESSE EM UNÍSSONO: - OBRIGADO DR. SOBRINHO!

 Antes de ver HOMENAGEAR, nesta terra ingrata para os seus filhos, mais alguém que nada nos tenha trazido. Gente certamente com valor, mas que NÃO É GENTE NOSSA e só passou aqui porque sim... porque lhe pagaram para "atuar", reponho duas linhas que escrevi há uma dúzia de anos (e não retiro nem acrescento nada) aquando das comemorações das Bodas de Ouro Sacerdotais do Padre Sobrinho Alves.

BRAGANÇA, tem obrigação de mostrar, ATEMPADAMENTE, reconhecimento e agradecimento aos "filhos da terra" que dedicaram e dedicam a vida a servir as Nossas Causas. A servir BRAGANÇA e os seus Homens e Mulheres.

JÁ ONTEM ERA TARDE PARA QUE BRAGANÇA DISSESSE EM UNÍSSONO: - OBRIGADO DR. SOBRINHO!

Parabéns Padre Sobrinho

Há homens que passam pela vida e deixam marcas. Uns deixam marcas porque gerem (mal ou bem) o dinheiro de todos, dos outros. Esses, deixam paralelos, alcatrão, tijolos, betão, pontes e estradas, elefantes brancos e...coisas, coisas que o tempo se encarrega de desgastar e de fazer esquecer.

Outros, como o PADRE SOBRINHO ALVES, deixam ensinamentos, deixam comportamentos, deixam saudades, deixam memória e essas coisas perduram no tempo e passam de geração em geração...O Padre Sobrinho Alves é um grande homem! As gerações que tiveram o privilégio de com ele partilhar momentos sabem bem o que eu quero dizer.

Do F.A.O.J. ao Coral Brigantino, ao Movimento Associativo, de tudo este homem fez. Com sapiência, muita paciência e acima de tudo empatia. É, sempre foi, um mestre em entender as diferenças. Teve sempre ao seu lado aqueles que entendia serem os melhores para a missão, independentemente de serem de esquerda, de direita, do centro.

Nos tempos conturbados, pós revolução, o Padre Sobrinho aglutinou sinergias de todas as áreas e fez por Bragança e pelas suas gentes aquilo que eu não vi ninguém fazer, depois dele.

Aprendam com quem sabe seus politiqueiros de meia tijela.

Parabéns pelas Bodas Sacerdotais Padre Sobrinho.

E...obrigado por me ter ajudado a mim e à minha geração a sermos homens melhores.

Também sei, convictamente, que nunca o desiludimos, apesar dos nossos cabelos compridos, calças à boca de sino e de não irmos à missa aos Domingos!!! Mas a culpa também era sua...marcava-nos sempre "trabalho" para os fins-de-semana...

Grande abraço Dr. Sobrinho.

HM

“A PANDEMIA OBRIGOU-ME A PASSAR PARA O ONLINE E A CONSEGUIR CHEGAR AO PAÍS TODO E ATÉ AO MUNDO”

 Rafael Santos tem 35 anos e é natural de Grijó, Macedo de Cavaleiros. Há anos que dá aulas de guitarra. Em 2013 abriu a sua primeira escola em Macedo e dois anos depois abriu outra em Bragança. A pandemia obrigou-o a fechar os estabelecimentos e a entrar pelo mundo do online. Foi assim que surgiu a escola de guitarra online

Já regressou às aulas presenciais?

Neste momento não. Neste momento, a escola de guitarra online é tudo o que eu faço. Tivemos um crescimento muito grande e muito rápido e a verdade é que estou completamente dedicado ao projecto da escola de guitarra online.

A pandemia obrigou-o a reinventar-se?

É verdade. Às vezes nós precisamos de um empurrão ou que alguém nos corte as pontas para poder pensar noutras coisas. Quando uma porta se fecha abre-se uma janela. E a pandemia foi aquele marco que obrigou a passar para o online e a conseguir sair de Macedo de Cavaleiros e de Bragança para chegar ao país todo e até ao mundo.

E quando tentou entrar no mundo do online sentiu alguma limitação?

No início foi complicado, porque eu tive que começar por perceber como é que eu podia apresentar o meu produto. Nós podemos ser os melhores professores do mundo e ter o melhor produto do mundo, mas se ninguém nos conhecer acabamos por ser uma moeda de ouro no fundo do mar.

Mas já tinha alguns clientes das aulas presenciais que depois foram para as online?

Não, começámos do zero no online. Nós acabámos por mudar o nosso público-alvo. Quando eu tinha as aulas físicas e presenciais eu ensinava, na maior parte, crianças e jovens e por algum motivo quando começámos a fazer o marketing e a espalhar esta mensagem da escola de guitarra online, começámos a atrair as pessoas da terceira idade ou as pessoas já com tempo ou reformadas, que tinham o sonho de aprender a tocar guitarra durante a vida toda e faltava aquele clique para começar. O público-alvo anda ali entre os 45 e os 60 anos. O que tem acontecido, até em Bragança, é que os pais se inscreveram e depois acabam por passar o bichinho para os filhos e acabam por aproveitar o curso e aprender juntamente com os filhos e avós a aprenderem com os netos, o que tem sido incrível.

E com o online há também uma flexibilidade maior nos horários e no tempo?

Uma flexibilidade total. A escola de guitarra online foi criada com esse pensamento, de o aluno poder aprender a partir do conforto de casa e poder dedicar o tempo que tem para dedicar. Não há um horário fixo. O programa tem neste momento 160 aulas gravadas e as pessoas podem fazer uma aula por semana ou cinco. Mas também temos acompanhamento por videoconferência, que é o que diferencia o programa de outros, porque nós temos sempre um professor, várias horas por semana, para tirar dúvidas.

E os alunos nunca sentiram que o facto de estarem longe, de não terem alguém fisicamente para os ajudar no momento, pode ser uma limitação?

Acredito que não, porque essas aulas são muito específicas e eu mostro ao pormenor, mas se as pessoas ficarem com dúvidas podem ir ao plantão de dúvidas, ligam a câmara do computador e mostram ao professor e o professor corrige. Temos também um grupo privado de alunos no Facebook, com mais de 700 pessoas, e as pessoas publicam vídeos das coisas que estão aprender e motivam-se uns aos outros. Os benefícios de aprender online têm-se mostrado muito superiores em relação ao presencial.

Este projecto começou do zero, quantos alunos já conseguiu?

Neste momento temos oito turmas e mais de 800 alunos. Começámos com uma turma de 14 alunos, em Março do ano passado, neste momento a nossa turma maior é de 191. Tem sido um crescimento constante. O feedback tem sido incrível e os próprios alunos vão passando a palavra. Temos alunos na Suíça, na França, em Angola, no Brasil, temos alunos espalhados pelas comunidades portuguesas.

E onde é que as pessoas o podem encontrar?

Nós apenas abrimos inscrições algumas vezes por ano, o programa não está sempre aberto, abrimos até agora oito turmas. Mas as pessoas podem procurar ‘Rafael Santos Escola de Guitarra Online’ e podem receber as informações sobre o que fazemos diariamente.

Quando criou o projecto, imaginou que tivesse esta dimensão?

Não, de todo. Aqueles 14 alunos que eu tive na primeira abertura foi uma grande vitória, para uma pessoa que de um momento para o outro ficou sem qualquer tipo de rendimento. Passados dois meses, na segunda abertura tive 94. Foi uma evolução muito grande, que me tem surpreendido e continua a surpreender. O ano passado, em termos de facturação foi muito superior a qualquer outro que tive anteriormente e este ano, a meio do ano, já bati a previsão que tinha em termos de facturação.

Este é um projecto que nunca teria surgido se a pandemia também não surgisse ou estava na gaveta e só precisava de um empurrão?

Por exemplo, o primeiro módulo do curso estava já gravado, mas quando nós estamos acomodados a alguma coisa acabamos por pensar que não vai ser hoje, não vai ser amanhã, ou no próximo mês e por vezes precisamos destes empurrões. Foi de facto a pandemia que deu esse empurrão.

Foi uma coisa que foi acontecendo naturalmente ao longo do tempo?

Sim, tanto que nem tem dado muito para pôr os pés no chão e para tentar perceber o que está acontecer, porque estou completamente surpreendido com a quantidade de alunos, mas principalmente com o feedback das pessoas. Por exemplo, o nosso aluno mais velho tem 90 anos. Eu tenho uma página ‘escoladeguitarraonline.com/ testemunhos’, onde se podem ver dezenas e dezenas de testemunhos dos alunos e neste caso de uma pessoa com 90 anos, que veio agradecer. Ele disse ‘eu não estou à espera de aprender, de ser um profissional da guitarra, mas eu estou muito feliz por me ter inscrito e com o que tenho conseguido’.

Com as coisas a poderem voltar ao normal no próximo ano, pode ser um entrave ao projecto, ou uma vez no digital, para sempre no digital?

Eu acredito que a pandemia veio acelerar um processo que o mundo estava a viver mais lentamente. Muitas vezes os preços que se praticam conseguem ser mais baratos, porque não exigem a componente pessoal ou tanto do nosso tempo e eu acredito que a pandemia veio acelerar, e muito, esse processo de evolução para o digital. Nós já fizemos aberturas de turmas em época de confinamento e já fizemos há duas ou três semanas e os nossos números não baixaram.

E qual é que é o próximo objectivo? Chegar a um público mais novo?

Sim. Na próxima abertura de turma vamos tentar ver qual é a aceitação de um público mais novo. Mas também fazer crescer o programa, neste momento a nossa oferta vai desde uma pessoa que nunca pegou numa guitarra ao nível intermédio, portanto falta-nos do intermédio ao avançado e perceber também nos públicos mais novos qual é a aceitação.

Jornalista: Ângela Pais

ARRANCADOS DA TERRA

 Por toda a sorte de travejamentos históricos, antropológicos, teleológicos e filosóficos presto atenção e estudo à civilização judaica, mesmo correndo o risco de desproporcionado e bazófia a empregar o vocábulo civilização. 
Não sendo judeu, julgo possuir algumas gotas de sangue a correr nas veias dos sefarditas vindos para a Península Ibérica após a destruição do Templo de Jerusalém, num percurso eriçado de cardos, abrolhos, silvas, sarças e pedras dos tortuosos caminhos cruzados e atravessados por mil armadilhas de caça aos judeus. 
Os itinerários da diáspora até chegarem à Península são conhecidos estando publicados em Atlas a possibilitarem-nos a real/realidade de com rigor formularmos o viver aperreado até chegarem a terras nas quais podiam esticar os braços, as mãos modelarem utensílios e artefactos, conceber comeres e beberes conforme os preceitos dietéticos consagrados no Talmude. Os agora raros e famosos cuscos foram concebidos no deserto em fogões portáteis de cerâmica pelos fugitivos judeus a par dos berberes, outras preparações culinárias tiveram a mesma génese (os renitentes em aceitarem a paternidade judaica consultem os receituários da religião mosaica), bem como o precioso beijinho da farinha do qual emanavam os ditos cuscos que ao contrário do propalado por gente inimiga de ler crónicas, cronicões e documentação de letra esgroviada requerem imensa oficina caseira, dias solarengos, colchões adequados e destreza manual. Judeus em Bragança? 
Não vou citar a bibliografia existente bebedouro sempre ao dispor, refiro Mendes dos Remédios, o Abade de Baçal e os processos perpetrados pela sinistra Inquisição, prefiro lembrar acção feia e involucrada na catequese de baixo do olhar do Senhor da Cana Verde, os claustros da Sé que me levou a correr ao lado dos demais meninos a estudarem e receberem o sacramento do Crisma, até à oficina de um sapateiro avô do António Eugénio e gritarmos JUDEU. O homem sentado na tripeça esboçou o gesto de se levantar, nós fugimos, no entanto fui travado pela senhora Dra. Margarida Machado, farmacêutica muito respeitada a qual censurou asperamente a nossa conduta. 
Dada a influência da Mãe do Tony, logo pensei na mão pesada do meu progenitor, logo esqueci a ganga da catequista a nomear malefícios atribuídos aos marranos e restantes judeus. Na rua Direita existiam marcas e métricas de cunho judaico, a Sinagoga, os próprios crentes a demandavam nos dias de culto. 
Na Bragança dos anos cinquenta do século passado existia o acentuado atavismo tolerante, do vive e deixa viver, daí o anti- -semitismo ser subterrâneo ou desprovido de significado social e político, no entanto, os termos judeu e acusa Cristos, eram casquinhados em tons jocosos depreciativos, porque ao fim e ao cabo judeus éramos «todos», por isso irmãos em Cristo. Na semana passada chegou à minha mesa de leitura e cogitação a obra Arrancados da Terra, do investigador brasileiro Lira Neto, no qual em escrita fluente escorada em fontes documentais rigorosas dá ênfase a um grupo de judeus sefarditas de peregrinação em peregrinação, 23 deles estão na génese de Nova Iorque. 
Os sefarditas da Península Ibérica correram Mundo, os nascidos e obrigados a abandonarem a vetusta Bragança muito contribuíram para tal, na sinagoga de Amesterdão o bragançano Oróbio de Castro terçou argumentos doutrinais com o, igualmente famoso Spinoza, ali repousam os seus restos mortais. No Arrancados da Terra, o autor descreve com minúcia o sistema totalitário da Inquisição, a cupidez dos seus membros, a resistência e angústia das suas vítimas, o crapuloso duplo jogo das Cortes as quais no «tapa-destapa» da utilização de cristãos-novos nunca existiu uma réstia de bondade relativamente aos seus financiadores, sim a ânsia pelo dinheiro destinado a suportar extravagâncias, pulsões militares e comerciais da nobreza de sangue azul, hereditária e perdulária. 
Os sefarditas ibéricos lograram levar a bom porto os seus objectivos apesar das tentativas do abafamento de pensamento e ideias provindas do seu labor, importa nos dias correntes não desperdiçarem energias nas bagatelas do quotidiano, continuarem fiéis a si próprios e orgulhosos do seu passado dos dias de dor, também dos momentos de regozijo e glória.

Armando Fernandes

SECTOR DOS EVENTOS AINDA LONGE DA RECUPERAÇÃO

 Depois de, no primeiro Verão condicionado pela pandemia, muitas festas de casamento, baptizados ou outros eventos familiares terem sido adiados, havia a expectativa de que o sector iria recuperar e que muitas das festas iriam acontecer este ano, mas tendo em conta que as condições sanitárias ainda não permitem que estas celebrações decorram como antes, muitas estão a ser novamente adiadas.
A incerteza quanto à evolução da pandemia, as regras de restrição de lotação dos espaços ou a obrigatoriedade de realização de testes são alguns dos factores que têm levado a desmarcação ou adiamento destes eventos. 
Carlos Sá e a noiva tinham pensado casar em 2020, mas com a pandemia adiaram para este ano, estando reagendado para meados de Agosto. “Já tínhamos a data marcada para o ano passado, mas como estava ainda mais complicado do que agora, decidimos adiar para este ano, agora voltamos a pensar em anulá-lo, não sei”, afirma, porque “depende de como as coisas evoluírem nos próximos dias”. Também a necessidade de realização de testes está a levar o casal a ponderar adiar a boda mais uma vez. “Vamos ter 100 pessoas no casamento, se cada teste custa 30 a 50 euros, não compensa, não vale a pena estar a fazer um evento com este custo acrescido”, refere e queixa-se de falta de informação em relação ao processo. “Não sabemos que testes têm de ser feitos, se é à chegada à igreja, acho que deviam ser mais claros nessa matéria”, sublinhou. 
Naturais de Bragança, os noivos moram em França e já estão vacinados, bem como a maioria dos convidados, nomeadamente os que também vêm do estrangeiro, tendo ficado, por isso, mais tranquilos com a decisão de implementação em breve de um passe sanitário. Mas a lotação do espaço é outra das preocupações, porque “entre estar a retirar pessoas convidadas ou adiar, é preferível adiar” para o próximo ano, afirma. Carlos diz que já têm tudo organizado há muito tempo e conta que se forem obrigados a adiar mais um ano “aquela vontade de realizar o casamento já passa um bocadinho”. 
Viriato Lico, proprietário da Quinta Pata da Moura, no concelho de Bragança, conta que muitos clientes “já marcaram do ano passado para este e já estão a remarcar para o próximo ano”, porque “ainda não sentem confiança para fazer o evento”. Este Verão há poucas marcações, mas diz que tem tido muitas reservas para 2022. “Há mais de seis meses que estão a marcar é para o próximo ano, estão a abdicar deste e a marcar para o próximo. As pessoas querem estar à vontade com a família e amigos e não sentem ainda confiança para isso”, sublinhou o empresário. Este ano, ainda só fez um evento na quinta localizada na freguesia de Meixedo, mas com apenas cerca de duas dezenas de pessoas. Nos meses de Julho e Agosto costuma ter a agenda cheia, com mais de 20 marcações, mas nos próximos meses tem cerca de 6 a 7 eventos, por isso, agora está a apostar noutra vertente do negócio, o turismo rural, que garante “está a pegar moda”. “Nessa parte, as coisas vão funcionando, é o que me tem de pé, porque a vertente dos eventos continua a ser um fiasco”, refere. 
O empresário conta que algumas das marcações não estão certas. Ainda recentemente, Viriato viu adiado mais uma vez um evento. “Ia ter um casamento no dia 8 de Agosto e acabaram por desmarcar há uns dias, porque os padrinhos tinham as vacinas marcadas para dois ou três dias depois, na Suíça, e havia muitos convidados que não podiam vir por razões relacionados com a covid”, conta. Noutro caso foi mesmo cancelado um casamento que seria realizado juntamente com um baptizado. “Entretanto, decidiram fazer o baptizado em casa, só com as pessoas da família e abdicaram do casamento, porque só iriam fazer o casamento porque iam juntar ao baptizado”, contou. Quanto à necessidade de realizar testes em eventos familiares, como casamentos e baptizados, com mais de 10 pessoas, refere que ainda não está bem a par do que terá de ser feito, mas garante que se vai informar para saber quais as exigências, mas se o processo for demasiado complexo admite que prefere não realizar os eventos. “Vamos cumprir as regras, mas não vou arriscar”, referiu. 
Paulo Gomes, da Quinta das Queimadas em Bragança, confirma que, no último ano, no espaço que gere se realizaram menos eventos e “mais pequenos”, alguns “de 50 a 80 pessoas passaram para 15 a 20 pessoas”. “Os que não quiseram adiar, viram o evento ser muito mais pequeno”, referiu, dizendo que “são os próprios convidados que muitas vezes acabam por não se sentirem prontos para irem a determinadas festas familiares”. Segundo o empresário, este ainda não é o ano de recuperação do sector. “Em 30 anos de actividade nunca passei por uma crise como esta”, frisa. “Houve no início alguma esperança que este ano fosse melhor que o anterior, o que acabou por suceder é que praticamente não mudou muito. Os eventos continuam a ser pequenos e poucos”, referiu. 
Paulo Gomes conta também que alguns casamentos remarcados do ano passado voltaram este ano a ser adiados para 2022. “Acabam por ver que não estão reunidas as condições ideias para fazer a festa e adiam”, constata. Também aqui a vertente do alojamento cresceu, “houve uma afluência bastante grande de turistas que vieram para Bragança passar umas férias”, mas em termos de eventos “houve realmente muito menos e as marcações que tinha foram adiadas”. 
Quanto aos testes, entende que não devem ser obrigatórios nestas festas. “Acho que as pessoas têm de ter alguma responsabilidade, quando vão a determinados eventos têm de ter consciência que para estarem presentes têm de tomar algumas precauções”, referiu. Também o fotógrafo Rui Pereira diz que a tendência é o adiamento das festas por mais um ano. “O ano passado houve uns três casamentos, os outros foram cancelados. Este ano estão a adiar outra vez e ninguém está a marcar de novo”, conta. Alguns do ano passado estão marcados, mas ainda há incerteza de que se vão realizar. 
“Já há alguma recuperação, alguns vão realizar-se, agora outros estão com medo e a adiar”, avança. Uma decisão que se prende com o facto de os familiares não virem. Por outro lado, afirma que tem agendados trabalhos para muitos baptizados. “Nestes casos, os convidados são poucos, por isso estão a marcar mais”, o que significa uma facturação mais baixa. 
“A nível de trabalho ocupa quase o dia todo e claro que os lucros são muito menores”, referiu.

Jornalista: 
Olga Telo Cordeiro

Guerra Junqueiro: "O fato novo do sultão"

 Era uma vez um sultão, que despendia em vestuário todo o seu rendimento.

Quando passara revista ao exército, quando ia aos passeios ou ao teatro, não tinha outro fim senão mostrar os seus fatos novos. Mudava de traje a todos os instantes, e como se diz de um rei: Está no conselho; dizia-se dele: Está-se a vestir. A capital do seu reino era uma cidade muito alegre, graças à quantidade de estrangeiros que por ali passavam; mas chegaram lá um dia dois larápios, que, dando-se por tecelões, disseram que sabiam fabricar o estofo mais rico que havia no mundo. Não só eram extraordinariamente belos os desenhos e as cores, mas além disso os vestuários feitos com esse estofo, possuíam uma qualidade maravilhosa: tornavam-se invisíveis para os idiotas e para todos aqueles que não exercessem bem o seu emprego.

- São vestuários impagáveis, disse consigo o sultão; graças a eles, saberei distinguir os inteligentes dos tolos, e reconhecer a capacidade dos ministros. Preciso desse estofo!

E mandou em seguida adiantar aos dois charlatães uma quantia avultada, para que pudessem começar os trabalhos imediatamente.

Os homens levantaram com efeito dois teares, e fingiram que trabalhavam, apesar de não haver absolutamente nada nas lançadeiras. Requisitavam seda e ouro fino a todo o instante; mas guardavam tudo isso muito bem guardado, trabalhando até à meia noite com os teares vazios.

- Preciso saber se a obra vai adiantada.

Mas tremia de medo ao lembrar-se que o estofo não podia ser visto pelos idiotas. E, apesar de ter confiança na sua inteligência, achou prudente em todo o caso mandar alguém adiante.

Todos os habitantes da cidade, conheciam a propriedade maravilhosa do estofo, e ardiam em desejos de verificar se seria exato.

- Vou mandar aos tecelões o meu velho ministro, pensou o sultão; tem um grande talento, e por isso ninguém pode melhor do que ele avaliar o estofo.

O honrado ministro entrou na sala em que os dois impostores trabalhavam com os teares vazios.

- Meu Deus! disse ele consigo arregalando os olhos, não vejo absolutamente nada! Mas no entanto calou-se. Os dois tecelões convidaram-no a aproximar-se, pedindo-lhe a sua opinião sobre os desenhos e as cores. Mostraram-lhe tudo, e o velho ministro olhava, olhava, mas não via nada, pela razão simplicíssima de nada lá existir.

- Meu Deus! pensou ele, serei realmente estúpido? É necessário que ninguém o saiba!... Ora esta! pois serei tolo realmente! Mas lá confessar que não vejo nada, isso é que eu não confesso.

- Então que lhe parece? perguntou um dos tecelões:

- Encantador, admirável! respondeu o ministro, pondo os óculos. Este desenho... estas cores... magnífico!... Direi ao sultão que fiquei completamente satisfeito.

- Muito agradecido, muito agradecido, disseram os tecelões; e mostraram-lhe cores e desenhos imaginários, fazendo-lhe deles uma descrição minuciosa. O ministro ouviu atentamente, para ir depois repetir tudo ao sultão.

Os impostores requisitavam cada vez mais seda, mais prata e mais ouro; precisavam-se quantidades enormes para este tecido. Metiam tudo no bolso, é claro; o tear continuava vazio, e apesar disso trabalhavam sempre.

Passado algum tempo, mandou o sultão um novo funcionário, homem honrado, a examinar o estofo, e ver quando estaria pronto. Aconteceu a este enviado o que tinha acontecido ao ministro: olhava, olhava e não via nada.

- Não acha um tecido admirável? perguntaram os tratantes, mostrando o magnífico desenho e as belas cores, que tinham apenas o inconveniente de não existir.

- Mas que diabo! eu não sou tolo! dizia o homem consigo. Pois não serei eu capaz de desempenhar o meu lugar? É esquisito! mas deixá-lo, não o deixo eu.

Em seguida elogiou o estofo, significando-lhes toda a sua admiração pelo desenho e o bem combinado das cores.

- É de uma magnificência incomparável, disse ele ao sultão. E toda a cidade começou a falar desse tecido extraordinário.

Enfim o próprio sultão quis vê-lo enquanto estava no tear. Com um grande acompanhamento de pessoas distintas, entre as quais se contavam os dois honrados funcionários, dirigiu-se para as oficinas, em que os dois velhacos teciam continuamente, mas sem fios de seda, nem de ouro, nem de espécie alguma.

- Não acha magnífico? disseram os dois honrados funcionários. O desenho e as cores são dignos de vossa alteza.

E apontaram para o tear vazio, como se as outras pessoas que ali estavam pudessem ver alguma cousa.

- Que é isto! disse consigo mesmo o sultão, não vejo nada! É horrível! serei eu tolo, incapaz de governar os meus, estados? Que desgraça que me acontece! Depois de repente exclamou: “É magnífico! Testemunho-vos a minha satisfação.”

E meneou a cabeça com um ar satisfeito, e olhou para o tear, sem se atrever a declarar a verdade. Todas as pessoas de seu séquito olharam do mesmo modo, uns atrás dos outros, mas sem ver cousa alguma, e no entanto repetiam como o sultão: “É magnífico!” Até lhe aconselharam a que se apresentasse com o fato novo no dia da grande procissão. “É magnífico! é encantador! é admirável!” exclamavam todas as bocas, e a satisfação era geral.

Os dois impostores foram condecorados e receberam o titulo de fidalgos tecelões.

Na véspera do dia da procissão passaram a noite em claro, trabalhando à luz de dezesseis velas. Finalmente fingiram tirar o estofo do tear, cortaram-no com umas grandes tesouras, coseram-no com uma agulha sem fio, e declararam, depois disto, que estava o vestuário concluído.

O sultão com os seus ajudantes de campo foi examiná-lo, e os impostores levantando um braço, como para sustentar alguma cousa, disseram:

“Eis as calças, eis a casaca, eis o manto. Leve como uma teia de aranha; ó a principal virtude deste tecido.”

- Decerto, respondiam os ajudantes de campo, sem ver coisa alguma.

- Se vossa alteza se dignasse despir-se, disseram os larápios, provar-lhe-íamos o fato diante do espelho.

O sultão despiu-se, e os tratantes fingiram apresentar-lhe as calças, depois a casaca, depois o manto. O sultão tudo era voltar-se defronte do espelho.

- Como lhe fica bem! que talhe elegante! exclamaram todos os cortesãos. Que desenho! que cores! que vestuário incomparável!

Nisto entrou o grão-mestre de cerimônias.

- Está à porta o dossel sobre que vossa alteza deve assistir à procissão, disse ele.

- Bom! estou pronto, respondeu o sultão. Parece-me que não vou mal.

E voltou-se ainda uma vez diante do espelho, para ver bem o efeito do seu esplendor. Os camaristas que deviam levar a cauda do manto, não querendo confessar que não viam absolutamente nada, fingiam arregaçá-la.

E, enquanto o sultão caminhava altivo sob um dossel deslumbrante, toda a gente na rua e às janelas exclamava: “Que vestuário magnífico! Que cauda tão graciosa! Que talhe elegante!” Ninguém queria dar a perceber, que não via nada, porque isso equivalia a confessar que se era tolo. Nunca os fatos do sultão tinham sido tão admirados.

- Mas parece que vai em cuecas, observou um pequerrucho, ao colo do pai.

- É a voz da inocência, disse o pai.

- Há ali uma criança que diz que o sultão vai em cuecas.

“Vai em cuecas! vai em cuecas!” exclamou o povo finalmente.

O sultão ficou muito aflito porque lhe pareceu que realmente era verdade. Entretanto tomou a enérgica resolução de ir até ao fim, e os camaristas submissos continuaram a levar com respeito a cauda imaginaria.

Fonte:
Guerra Junqueiro: "Contos para a Infância", Publicado originalmente em 1877.

BRAGANÇA : A NAÇÃO JUDAICA EM MOVIMENTO - 12 ANA PIMENTEL AO SÁBADO IA PARA A VILA EM VISITAS AOS PARENTES

 Antes de falarmos de Francisca Henriques e sua filha Ana Pimentel, como prometemos no texto anterior, voltemos a Vinhais, à onda de prisões ali efetuadas na sequência da “visitação” do inquisidor Jerónimo de Sousa, em 1582. Entre os prisioneiros contou-se o casal constituído por Pedro Manuel, mercador, e Beatriz Nunes. De seguida foi presa Catarina Nunes, irmã de Beatriz, ambas filhas de Francisco Rodrigues e Violante Nunes. Catarina era casada com Manuel Pimentel, e estes foram os pais das citadas Francisca Henriques, Josefa Pimentel, Maria Nunes e outros irmãos de que não falamos. De referir que a profissão de Francisco Rodrigues era a de ourives da prata, profissão que seguiram muitos dos seus descendentes, nomeadamente o filho, António Nunes. Francisca Henriques foi casada com Álvaro Vaz de Castro, castelhano, natural da vila de Nos, termo de Zamora, mercador, o qual era já falecido por 1646.
O casal viveu em Bragança e Ana Pimentel é a única filha do casal de que temos notícia. Ao início da década de 1660, quando a cidade de Bragança conheceu nova onda de prisões do santo ofício, Ana Pimentel andava nos 30 anos e estava casada com Manuel Mendes Henriques, mercador. Possivelmente receando ser preso, Manuel Mendes havia-se internado por Castela e em Bragança ficou a mulher e o filho, Álvaro Vaz Castro, de 17 anos, ourives da prata. E também um sobrinho e uma sobrinha, que ficaram a seu cargo. 
Em 7 de Janeiro de 1661, quando os brigantinos promoveram o abaixo-assinado de que falamos em texto anterior, dizendo que tinham culpas referentes ao santo ofício que desejavam confessar e pediam para ser ouvidos em Bragança, Ana Pimentel foi um dos signatários. Por isso, chegado a Bragança o inquisidor Manuel Pimentel de Sousa, acompanhado do escrivão Pedro Saraiva de Vasconcelos, ela foi recebida em audiência, no dia 31.3.1661, autuando-se as suas declarações que começaram deste modo: - Disse que haverá 16 anos, em Bragança, em casa de seus pais, Álvaro Vaz, mercador e Francisca Henriques, naturais e moradores em Bragança, agora defuntos; e estando só com a sua mãe, então já viúva, disse a mesma sua mãe a ela confitente se queria salvar sua alma, cresse na lei de Moisés, que era só a boa (…) e outrossim, depois que faleceu a dita sua mãe, fez pela alma da mesma o jejum judaico que lhe havia encomendado (…) fazendo tudo em observância da lei de Moisés; e a crença lhe durou até haverá 4 meses em que, alumiada pelo Espírito Santo, resolveu apresentar-se e o fez por petição… 
Aparentemente, tudo ficou resolvido e Ana ficou em Bragança tocando a vida para a frente, ela o filho, Álvaro Vaz Castro, de 18 anos, ourives da prata, já que o marido terá falecido pouco depois Porém, ao início de Junho de 1670, Ana Pimentel recebeu ordem para se apresentar no tribunal de Coimbra, sendo reconciliada em auto particular, no dia 1 de Julho seguinte. Vejam como ela descreveu mais tarde a cerimónia: - Em uma das casas da dita inquisição onde foi posta ela declarante de joelhos, um dos inquisidores lhe lançou água benta com um hissope sobre a cabeça e ela declarante, segundo sua lembrança, lhe parece que tomou o juramento dos santos Evangelhos (…) e a mandaram para a sua terra. De novo em Bragança, assistiu ao casamento do filho, com Josefa Pimentel, neta de outra Josefa, tia materna de Ana, de quem já se falou. Filho e nora ficaram morando com ela. Na casa em frente, do outro lado da rua, morava o padre José Fernandes de Meireles que sentia ser seu dever espiar os vizinhos. 
Em 8.2.1686, apresentou-se em casa do comissário da inquisição Martim Carneiro de Morais, abade de Gondezende, a denunciar, nos seguintes termos: - Disse que uns seus vizinhos de fronte, que é Ana Pimentel e sua filha (sic), mulher de Álvaro Vaz, prateiro, nos sábados iam de manhã para a vila, para casa de seus parentes; que 4 ou 5 sábados fez reparo nisso, haverá mais de um ano, por irem naquele dia sempre, sem trabalharem neles; e que ele testemunha tanto fez reparo nisso que o disse algumas vezes a suas irmãs; em cada sábado que iam para a vila e que iam estas e a mulher de Alexandre Pimentel e algumas vezes a de Alexandre da Costa, cujos nomes são sabe e que estão lá até à noite e nos outros dias as não via ir. Claro que o comissário mandou a denúncia para a inquisição, a qual foi registada no caderno 8º do promotor, a fl. 97. Aliás, esta era já a segunda denúncia. 
É que, um outro comissário do santo ofício, Belchior de Sá Cabral, de Alfândega da Fé, enviado a Bragança a fazer um sumário de averiguações, registara, em 14.6.1683, uma denúncia do tecedor João Gomes dizendo: - Sabe que Ana Pimentel e a sua nora, Josefa Pimentel, que mora com ela em sua casa, todos os sábados se compõem e andam em visitas. Não trabalhar ao sábado e andar composta e em visitas aos parentes indiciava que Ana continuava na prática da lei mosaica. A prova não seria conclusiva e os inquisidores eram pacientes, aguardando melhor prova. Repare-se, contudo, no paradoxo: enquanto o padre José Fernandes Meireles servia o santo ofício espiando os comportamentos da vizinha, Ana Pimentel, depois de ser presa, apresentá-lo-ia como testemunha primeira de defesa, em prova de seu bom comportamento cristão! Entretanto a vida em casa de Ana continuava animada, com o filho singrando na carreira profissional, alcançando o grau de mestre ourives. E um dos que ele acolheu em casa como aprendiz de ourives foi Ambrósio de Saldanha Sória, natural de Chacim, que depois se foi para Castela, fixando morada em Ciudad Real. 
A família também crescia, com o nascimento de 3 netos, filhos de Álvaro Vaz e Josefa Pimentel: Francisca Xaviela, Luísa Maria e Feliciano Albuquerque. Ao findar da década de 1680, em circunstâncias que não pudemos apurar, terá falecido Álvaro Vaz e a vida complicou-se para as duas mulheres que rumaram a Lisboa onde tinham parentes, nomeadamente alguns irmãos de Josefa, os quais as ajudariam e, inclusivamente, haveria já contratos concertados para casar os netos. Aliás, é a própria Ana Pimentel que nos informa, confessando para os inquisidores, em 10 de Setembro de 1696: - Viveu em Bragança e há 3 anos que veio para Lisboa acompanhar uma neta sua que veio para se casar; e daqui passou à vila de Aldeia Galega aonde atualmente assistia quando foi presa; e ali vendia tabaco por ordem de Alexandre Pimentel, contratador do estanco. 
No próximo texto falaremos da prisão de Ana Pimentel.

António Júlio Andrade / Maria Fernanda Guimarães